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A igreja foi sofrendo alterações e nos finais do século XIX encontravam-se a ladear o arco cruzeiro ornamentações de estuque e madeira, além de dois retábulos de talha dourada em que se veneravam respetivamente as imagens de Nossa Senhora da Conceição e S. João Baptista, orago da freguesia.
No ano de 1898 a junta de Paróquia, depois de obtida autorização superior, uma vez que os altares haviam sido mandados retirar do local em que se encontravam, leiloou-os em hasta pública a 2 de Outubro desse mesmo ano ... Ignoramos o local para onde foi vendido um dos altares laterais e pensamos que o outro se encontra na Capela de Nossa Senhora da Apresentação, na Vimieira, concelho da Mealhada. Se tal se confirmar, no que respeita a este último, estaríamos perante um retábulo dos finais do século XVII que mostra colunas salomónicas decoradas com parras.
... João Machado, que já nessa altura se começava a destacar no meio artístico coimbrão, riscou em 1899 o projeto de dois altares laterais destinados ao majestoso templo de Santa Cruz ... Não me foi possível concluir como se organizou o processo que culminou na feitura dos colaterais de Santa Cruz, mas ao consultar os livros de Receita e Despesa de João Machado deparou-se-me a seguinte nota relacionada, sem sombra de dúvida, com o altar de Nossa Senhora da Conceição:
«Em dezembro de 1905, justo com a Junta de Parochia da freguezia de Santa Cruz, um altar para o lado direito do arco cruzeiro, pela quantia de 650$000 reis, para estar pronpto em 29 de novembro de 1906».
O artista deve ter começado de imediato a fazer as moldagens em gesso e a desbastar a pedra ... O altar esculpido em pedra de Ançã atinge a altura de seis metros e poderia parecer, a quem o visse na oficina, de um tamanho exagerado, mas, integrado no respetivo contexto, a harmonia do conjunto é evidente.
Os nichos da predela que representam a Anunciação, a Assunção e a Virgem da Cadeira, têm a separá-los, assentes sobre pedestais em que se encontram esculpidos medalhões e sob baldaquinos adossados, os Doutores da Igreja, Santo Agostinho, São Gregório, São Jerónimo e Santo Ambrósio. A ladear as edículas, de entre lavares renascentistas, destacam-se os bustos do Papa que então pontificava, Pio X e o do seu antecessor, Leão XIII. «A composição na linha geral e nos detalhes, a disposição das figuras dos doutores, os baixos-relevos, a riqueza dos baldaquinos, a variedade dos capiteis, a delicadeza dos medalhões, a belleza com que a Renascença vestia a admiração pelos camapheus antigos, os frisos decorados, o corte das molduras, a sua disposição, as suas penetrações» revelam bem como João Machado se encontrava totalmente imbuído do estilo que escolheu para cinzelar o seu altar.
O segundo corpo é formado por um grande nicho e flanqueado por duas colunas-balaústres. Remata este corpo uma arquitrave. Dois pequenos nichos embutidos na moldura albergam as imagens de São Pedro e São Paulo; os medalhões de São João e São Marcos ladeiam a parte superior da edícula coroada por dois anjos tenentes que sustentam uma coroa.
Remata todo o conjunto um relevo representando o Padre Eterno em Glória.
Notório se torna que a escultura de Nossa Senhora da Conceição, demasiado vultosa, se ajusta mal ao conjunto tirando-lhe harmonia, mas não nos podemos esquecer que a imagem então exposta ao culto era de roca e bem mais pequena; consequentemente, para apreciar toda a beleza da pedra esculpida por Mestre Machado, é imprescindível abstrair da figura central.
O altar, que foi dourado nas suas linhas decorativas por António Eliseu, está lavrado como se se tratasse de uma joia e não há cantinho, por mais pequeno que seja, de onde não saia um medalhão, um enrolamento, uma cartela, um animal fantástico ou uma deliciosa figurinha, de atitudes graciosas e ágeis, sugerindo aves em rápido movimento; «é bem uma obra da Renascença, pelo espírito, pela linha, pela belleza e pela harmonia».
Anacleto, R. 1984. A obra de João Machado na Igreja de Santa Cruz de Coimbra. In Santa Cruz de Coimbra do século XI ao século XX. Estudos, Coimbra, p. 195-208.
Coreto que em 1904 se estava a erguer no Cais (atual Avenida Emídio Navarro) e que esperava o resultado da comissão nomeada para apreciar os projetos que haviam concorrido à empreitada.
Aquela deu o seu aval ao apresentado em primeiro lugar pela Fundição do Ouro e ao do industrial Costa Soares … mas manifestou-se, contudo, a favor do último, embora sugerindo pequenas alterações … Adjudicado a 18 de Fevereiro, sabemos, só através dos jornais que foi debuxado pelo Arq. Silva Pinto e que a Câmara Municipal tinha todo o interesse em o entregar a um artista conimbricense … O coreto começou logo a ser forjado e Silva Pinto encarregou-se não só de dirigir os trabalhos, mas também de, quando necessário, apor o seu aval a qualquer alteração … Também foi ele que, depois da obra concluída, a inspecionou e deu o seu parecer a 20 de Julho de 1904.
A estrutura metálica do coreto começou a ser assente na última quinzena de Maio … No entanto a câmara verificou que a pintura não satisfazia … e resolveu substituí-la. Encarregou-se dessa tarefa… o pintor António Eliseu.
Apesar desta segunda empreitada ainda se não encontrar terminada o coreto foi inaugurado com a atuação da Banda de Infantaria 14, de Viseu, a 7 de Julho de 1904
… António Maria da Conceição, mais tarde, em 1907, foi encarregado de executar uma grade de ferro batido … para resguardar o maciço de verdura e flores que iam ser plantadas em volta do coreto da música …
Durante largos anos, tanto as bandas citadinas, como as que aqui se deslocam, quando se exibiam utilizavam o coreto.
Anacleto, R., 1983. O Coreto do Parque Dr. Manuel Braga em Coimbra. Coimbra, Separata de Mundo da Arte, 14, pg. 17 a 30
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