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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 02.05.24

Coimbra. Jardim Botânico 2

Segunda e última entrada sobre um texto do meu Mestre, Jorge Paiva.

O Jardim tem uma área de 13,5 hectares, estando admiravelmente traçado à maneira italiana, com socalcos, escadarias e alamedas, cercado por um opulento gradeamento de ferro e bronze, do lado da Alameda Júlio Henriques e Rua Vandelli.

img20240120_17095172.jpgPlanta do Jardim Botânico, Op. cit., pg. 42

Tem três majestosos portões, sendo o mais aparatoso o de leste. com oito grandes colunas monolíticas rematadas por volutas e pináculos, num conjunto barroco multo decorativo.

Jardim Botânico. Bilhete Postal.jpgPortão principal do Jardim Botânico. Executado por António Bernardes Galinha. Acervo RA

António Bernardes Galinha. Portão principal do J

 Pormenor do portão principal do Jardim Botânico. Acervo RA

Percorrendo o Jardim, logo se nota que o acidentado do terreno favoreceu multo o bom gosto do talhe dos socalcos e arruamentos, todos gradeados.

Pode considerar-se dividido em duas zonas fundamentais: uma superior, onde se inicia um vale por onde corre um regato, e outra inferior. A primeira consiste na zona mais formal do Jardim, e é constituída por alguns terraços em socalco. O mais inferior, o Quadrado Grande, com um fontenário, constituiu a parte primitiva do Jardim. Nele ainda existem três árvores que datam dos primórdios do Jardim e, portanto, do tempo em que Brotero foi Diretor (1791-1811): Cunninghamia sinensis R. Br.; Cryptomeria japonica (L.f.) D. Don; e Erythrina crista-galli L..

No primeiro socalco, junto ao portão principal, está a estátua de Brotero, do escultor Soares dos Reis, Inaugurada em 1 de Abril do 1887.

Jardim Botânico. Avelar Brotero 01.JPG

Estátua de Brotero da autoria de Soares dos Reis. Acervo RA.

Além da estátua de Brotero, existe ainda a de Júlio Henriques, no primeiro terraço, junto ao Instituto, e um medalhão de Luiz Carrlsso, em frente ao pórtico de D. Maria (1791) do «Quadrado Grande».

Estes monumentos, assim como mutos outros melhoramentos do Jardim (por ex. fonte-cascata do lago principal. estufa fria, etc.). foram efetuados entre 1942 e 1954 pela CAPACUC sob a orientação do então diretor Prof. Dr. Abílio Fernandes. No ângulo Nordeste, o mais exposto ao sol, existe um pujante recanto de vegetação tropical e subtropical, com fetos arbóreos, cicadáceas, palmeiras e Strelizla augusta Thunb., que o vulgo confunde com a bananeira.

Do lado oposto (Sul) fica a frondosa «Avenida das Tílias».

img20240120_17080333.jpg

Alameda Central com prolongamento da rua das tílias. Op. cit., pg. 40

… Anexo ao Jardim está o Instituto Botânico, instalado em parte do edifício do antigo Colégio de S. Bento, fundado em 1555 por Diogo de Minca. então reitor da Universidade. Nesse edifício encontram-se os Herbários. Laboratórios, Biblioteca e Museu.

As aulas de Botânica eram inicialmente ministradas no Museu de História Natural e no próprio Jardim, ao ar livre, transitando depois para uma casa mandada construir para o efeito no Jardim.

Durante a direção do Dr. Júlio Henriques, o Jardim foi muito beneficiado com a cultura de muitas plantas novas, particularmente da flora australiana, sendo hoje o Jardim Botânico da Europa com a maior e melhor coleção de Eucalyptus. Isto porque o Dr. Júlio Henriques se correspondia com o Barão Von Muller, que lhe enviava sementes da Austrália.

Durante a vigência do Dr. Luís Carriço, o Jardim foi enriquecido com plantas das antigas colónias africanas, resultantes das explorações efetuadas a Angola.

Só a partir de 1868 foi entregue à Faculdade de Filosofia parte do edifício de S. Bento, onde se instalou o que é hoje designado por Instituto Botânico Dr. Júlio Henriques.

A Biblioteca tem cerca de 111.000 volumes, sendo a Biblioteca de Botânica mais importante no País. Os Herbários têm cerca de 700.000 espécimes e constituem os maiores de Portugal. Editam-se três revistas periódicas (Anuário. Boletim e Memórias da Sociedade Broteriana), que servem de material de permuta com 1.231 bibliotecas congéneres no globo, além de colaborar ou ter colaborado na elaboração das segu]ntes obras: Conspectus Florae Angolensls, (editados já 8 volumes); Flora Europaea (publlcação de 5 volumes); Floia Zambesíeca (editados até agora 7 volumes); lconographla Selecta Florae Azoricae (editado o 1.° volume em 1980) e Flora de Moçambique (editados 44 volumes).

Permutam-se sementes com cerca de 1.100 lnstituições botânicas estrangeiras enviando-se por ano cerca de 40.000 pacotes de sementes, correspondendo a 500-600 solicitações, o recebendo.se geralmente cerca de 2.000 para trabalhos de investigação em curso no instituto Botânico.

Permuta-se material de herbário com cerca de 150 outros herbários, enviando-se por empréstimo 4.000 a 5.000 exemplares por ano e recebendo-se a mesma quantidade. Além destes serviços e do estudo da Flora de Portugal. fazem-se anualmente várias explorações florísticas. Estuda-se a cariologia da flora vascular do País e fazem-se ainda estudos citológicos.

…. Além destes estudos e serviços, o Jardim Botânico de Coimbra presta colaboração, sempre que solicitada, a outras lnstituições. Universitárias ou não, como por exemplo à Medica Legal (fito-envenenamentos), Hospitais, Escolas Secundárias e Primárias. Museus e lnstituições de Arqueologia, Proteção da Natureza, apoio e auxílio a programas de investigação de laboratórios de produtos farmacêuticos nacionais e estrangeiros, e a programas de investigação a nível mundial.

Paiva, J.A.R. Jardins Botânicos. Sua origem e importância. In: Munda, n.º 2 novembro de 1981, pg.35 a 43.

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por Rodrigues Costa às 10:48

Segunda-feira, 08.02.16

Coimbra, a “cidade das grades” 1

Coimbra, a “cidade das grades”, como lhe chamou Vergílio Correia, tinha produção de ferro própria, embora insuficiente, para certas necessidades

… Com o intensificar do uso do ferro fundido, a partir de meados de Oitocentos, não surpreende que as oficinas localizadas em Coimbra se tivessem dedicado mais à obra em ferro fundido do que em ferro forjado. Contudo, ainda na segunda metade daquela centúria, se encontram algumas referências ao ferro forjado. Assim, José Bernardes Galinha apresentou, na Exposição Distrital de Indústria, Agrícola e Fabril e de Arqueologia (Coimbra, 1869), vários objetos de ferro fundido (fogões, inclusive um para trabalhar com gás, panelas, compassos, etc.), mas também «dois varões de ferro sextavados, e só forjados, para amostra».
Aquele, falecido em 1873, fez parte de uma dinastia célebre de artistas do ferro que, ao longo de quatro ou cinco gerações (desde Manuel Bernardes Galinha, autor do conhecido portão do Jardim Botânico, que falecera em 1864, e o seu descendente, Joaquim Ferreira Galinha, que viria a morrer em 1924), se dedicaram, em Coimbra, às artes do ferro.
Já no que concerne a outras oficinas, além de se mencionarem diversos tipos de objetos ou utensílios produzidos, em vários casos se refere, expressamente, a existência de fundição. Vejamos alguns exemplos:
- Oficina de carruagens, na rua da Sofia, de Manuel da Costa Soares (1876).
- José Alves Coimbra e seu irmão, António Alves Coimbra, com estabelecimento no Largo das Ameias, de fronte do Hotel Mondego (1879), onde faziam qualquer obra de ferro fundido (panelas, testos, fogareiros, fornalhas), encontrando-se, alguns anos mais tarde (1888), a produzir para o mercado de Lisboa.
- Oficina de serralharia, de António Bernardes Galinha (Rua de Quebra Costas, 29), na qual, além do mais, se produziam «camas de ferro, de novo gosto, superiores às de Lisboa e do Porto».
- Joaquim Augusto das Neves Eliseu (morador na Rua das Figueirinhas, 21), com a produção de vários objetos, em folha maneável ou por fundição.
. Oficina de Serralharia a Vapor, de Eduardo & Almeida (Rua da Madalena) que, além de outros artigos, produzia máquinas a vapor (de 1 a 15 cv.).

Pelos exemplos que acabo de referir, pode deduzir-se que, a avaliar pela oferta de diversos artigos, a “civilização do ferro” também ia chegando a Coimbra. Isto não obstante a lentidão com que, nas construções, a madeira ia cedendo o lugar ao metal. Assim, numa fonte dos finais do século (1894), pode ler-se: «Compreende-se que as construções civis ainda não deem entre nós um grande consumo ao aço, sob a forma de vigas, por exemplo, em que preenche o uso da madeira; começa-se a notar, no entanto, que algumas das mais cuidadas edificações, a despeito do sistema tradicional e tido entre nós como o melhor para prevenir os efeitos de certos acidentes, têm já empregado o vigamento metálico».

Em 1920, duma escritura de partilhas de bens, situados na Baixa de Coimbra, constam cinco serralharias localizadas, respetivamente, nas ruas do Arnado (3), da Nogueira (1) e da Madalena (1). Na Rua do Arnado situava-se ainda uma fundição.

Mendes, J.A. 2000. O Ferro na História: Das Artes Mecânicas às Belas-Artes. In Gestão e Desenvolvimento, 9 (2000), 301-318. Pg. 308 a 310

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por Rodrigues Costa às 12:27


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