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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 29.09.22

Coimbra: Silva Pinto e o Mercado D. Pedro V

…. a municipalidade no derradeiro ano do século XIX encomendou-lhe “o projeto de um mercado público destinado ao local onde se vê o de D. Pedro V”, cuja construção ocorrera em 1867.

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Mercado D. Pedro V, inícios do séc. XX

Verdade seja que o referido mercado nasceu em má hora; da obra completa, mais tarde retomada, mas nunca efetivada, passou-se apenas ao pavilhão destinado à venda do peixe e mesmo este arrastou-se penosamente, pois só veio a ser inaugurado a 8 de março de 1908.

A velha praça, ainda hoje ao serviço do público [1991] quase sem ter recebido nenhuma obra de beneficiação, merecia já, em 1917, [por parte do jornal “O Despertar”] este irónico comentário: “Também faz hoje 50 anos (já meio século!) que foi inaugurado o mercado D. Pedro V. Está a pedir museu das raridades”.

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Mercado D. Pedro V, projeto de Silva Pinto

 

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Mercado D. Pedro V, pavilhão do peixe fachada nascente

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Mercado D. Pedro V, interior do pavilhão do peixe

Foi este, sem dúvida, o edifício mais ousado que Silva Pinto projetou para Coimbra. Todo em ferro, tijolo e vidro, seguia os moldes europeus. Não se pode esquecer que o arquiteto havia regressado de França onde as estruturas de ferro apareceram esporadicamente no final do século XVIII e conheceram uma verdadeira expansão nos anos quarenta de Oitocentos. Utilizadas indistintamente em edifícios utilitários ou não e ainda como material auxiliar nalgumas construções, surgem nos teatros, estufas, mercados, pontes, palácios de cristal, para atingir o delírio, em 1889, na famosa Torre Eiffel.

A estética da metalurgia é descoberta e afirma-se através das finas colunas metálicas e da plasticidade do ferro fundido.

Até mesmo John Ruskin, em 1849, embora sendo contra todo o tipo de industrialização, não deixava de afirmar que “provavelmente se avizinha uma época em que se desenvolverá um novo sistema de leis arquitetónicas, adaptadas por inteiro à construção metálica”.

No entanto, apesar de se tratar de uma construção bem dentro dos parâmetros utilizados na época, embora dentro de proporções modestas, mas de acordo com os orçamentos disponíveis, a verdade é que aquando da polémica havida, por volta de 1921, em torno da intervenção levada a cabo na igreja crúzia de S. João, transformada em “Café de Santa Cruz”, obra reprovada por Silva Pinto, como o foi por António Augusto Gonçalves e outros, um dos jornais citadinos não se eximia de, para atacar o arquiteto, apelidar de “aquário” o pavilhão da venda do peixe.

Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.

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por Rodrigues Costa às 21:51

Quinta-feira, 29.07.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 29

Os obreiros das novas arquitecturas (continuação)

Mas não foram só os projetistas a imporem a sua marca na cidade, porque as arquiteturas que bordejam estes novos arruamentos apresentam, genericamente, uma matriz comum que passa pela utilização de cantarias lavradas, de azulejos e de ferros forjados. Trata-se da chancela que homens formados na Escola Livre das Artes do Desenho (ELAD) aplicavam nos imóveis que, obviamente não riscavam, mas decoravam.

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João Machado

Era esta a modernidade aposta na arquitetura que então se praticava numa cidade do interior, onde os artistas se viam impedidos, por inexistência, de frequentar uma Escola de Belas Artes. Se se compararem estas construções com as erguidas na capital, para já não falar com as das grandes metrópoles europeias, nota-se um atraso considerável. Contudo, a especificidade verificada na cidade do Mondego e patente na maior parte dos edifícios então edificados, permite-me rotular essas construções com o nome de ARQUITETURA ESCOLA LIVRE.

Fig. 51. António Augusto Gonçalves com um grupo

Fig. 51 – António Augusto Gonçalves com um grupo de alunos da ELAD numa visita de estudo.

É verdade que existem em Coimbra muitas obras deste período a caber no âmbito do ecletismo, mas todas elas apresentam a mesma matriz, baseada no gosto dos proprietários ou no saber dos canteiros que nelas trabalhavam. Ao fim e ao cabo, podem considerar-se o produto visível de uma cidade de província, fechada sobre si mesma, sem outros horizontes artísticos a não ser aqueles que a Escola Livre e também a Escola Industrial lhes proporcionavam.

Tem, frequentemente, sido feita referência à ELAD, isto é, à Escola Livre das Artes do Desenho. Como não havia em Coimbra uma escola de Belas Artes, António Augusto Gonçalves, homem dotado de grande capacidade de iniciativa e de vasta cultura, em 1878, acabou por fundar a Escola Livre, alfobre de muitos lavrantes que marcaram o panorama artístico de Coimbra, e não só, até cerca dos finais da terceira década de Novecentos.

A criação desta escola obedeceu “ao desejo de reunir todos os indivíduos que manifestavam aptidões artísticas, de propagar o estudo do desenho nas suas múltiplas aplicações às artes e às artes industriais, de tornar fácil e acessível a aquisição de conhecimentos sobre a forma de trabalhar os diversos materiais ensinando os princípios de estética indispensáveis à compreensão e interpretação das obras de arte”.

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‘Tugúrio de Almedina’

No ‘Tugúrio de Almedina’, onde as relações entre professores e alunos se estreitavam e confundiam, formaram-se serralheiros, canteiros, escultores, marceneiros, entalhadores, ceramistas e pintores, que procuraram colher ensinamentos válidos no campo da história da arte e que os utilizavam nas construções onde plasmavam o produto do seu labor.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

 

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por Rodrigues Costa às 21:28

Quinta-feira, 22.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 16

A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz

Na Praça da República, verdadeiro nó viário, convergem vários arruamentos e uma dessas artérias é a Rua Oliveira Matos, antes apelidada de Rua da Escola Industrial.

Fig. 22. Planta do Bairro de Santa Cruz. [AHMC. Di

Fig. 22 – Planta do Bairro de Santa Cruz. [AHMC. Diversos, maço 3, documento 2].

No começo da via, à esquerda de quem sobe, pode observar-se um edifício de dois pisos, caracteristicamente coroado por um friso de onde sobressaem merlões e ameias de inspiração árabe.

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Casa neoárabe. Foto RA.

Na zona cimeira, as aberturas apresentam a forma de arco ultrapassado e encontram-se inscritas em retângulos decorados com arabescos de gosto orientalizante; as janelas do andar térreo, que ladeiam a porta de entrada, embora geminadas, decorativamente, assemelham-se às do piso superior; por cima da porta evidencia-se uma varanda com gradaria de pedra lavrada no mesmo gosto. A completar a ornamentação da fachada sobressaem painéis de azulejo que imitam os sevilhanos.

Ignora-se o autor do risco, mas sabe-se que José de Mello Santos, o proprietário, é que solicita à Câmara a autorização para construir o imóvel e que, a 13 de janeiro de 1913, o vereador F. Vilaça, servindo de Presidente, aprova o projeto.

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Fig. 23 – Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA].

Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA] 02.JPG

Casa neoárabe, pormenor. Foto RA.

Comprova o que atrás se disse relativamente à utilização do gosto neoárabe na cidade o facto de, no perímetro abarcado por este trabalho, apenas encontrarmos este exemplar e o do início da Rua Lourenço de Almeida Azevedo.

Logo a seguir, afastando-se do tipo arquitetura Escola Livre e introduzindo um cunho de modernidade, Maximiano Augusto da Cunha, fundador do colégio de S. Pedro e professor na Escola de Santa Cruz que, como se referiu, fora riscada por Adães Bermudes, pouco depois de 1913, tomando como modelo uma vivenda semelhante existente no sul da França, faz erguer uma casa que se encaixa na gramática utilizada pela Arte Nova.

Casa Arte Nova.[Foto RA].JPG

Casa Arte Nova. Foto RA

A rodear a moradia, mesmo por baixo do beiral, desenvolve-se um friso pintado e decorado com lírios; este motivo repete-se no guarda-vento existente a fechar uma não muito grande caixa de escada com as paredes revestidas a escaiola.

Fig. 24. Casa Arte Nova. Caixa da escada. [Foto RA

Fig. 24. Casa Arte Nova. Caixa da escada. [Foto RA].

João Machado é o responsável pelas cantarias e pelo ferro forjado da sacada, provavelmente desenhados, tanto umas, como o outro, por António Augusto Gonçalves. O projeto do imóvel jamais foi encontrado e a família também desconhecia a sua existência ou paradeiro, mas trata-se de uma moradia a inserir-se como se disse, no gosto Arte Nova, cosmopolita e inusual na cidade, pois foge aos cânones vigentes e não se conhece, em Coimbra, arquiteto, engenheiro ou mestre-de-obras capaz de, naquela época, produzir um tal risco, a não ser Silva Pinto que nunca qualquer fonte apontou como responsável pelo projeto.

Fig. 25. Casa Arte Nova. Pormenor. [Foto RA].JPG

Fig. 25 – Casa Arte Nova. Pormenor. [Foto RA].

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

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por Rodrigues Costa às 11:41

Quinta-feira, 15.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 15

Ao lado do Parque de Regalo dos crúzios rasga-se a Rua Lourenço de Almeida Azevedo

Pouco depois de ser aberta, em 1891, a Rua Lourenço de Almeida Azevedo começa a povoar-se de moradias: logo no início duas casas inserem a sua gramática decorativa num revivalismo medieval que se relaciona com a ideologia romântica e, simultaneamente, evidenciam uma forte ligação com os canteiros da ELAD.

A primeira, patenteia um pseudominarete a apontar para construções mouriscas, quase inexistentes na região de Coimbra, e o seu risco saiu, de acordo com a tradição oral e sem qualquer documento que o outorgue, da mão do arquiteto Silva Pinto. Contudo, devido à mais que dúbia qualidade dos modelos existentes ou, com uma maior margem de probabilidade, pelo gosto se encontrar desenquadrado no contexto citadino, a verdade é que o neomudéjar não teve grande impacto no ambiente artístico local.

A outra, de autor desconhecido, com a fachada decorada dentro do gosto românico (interiormente a forma como a casa se encontra programada nada tem a ver com o período medieval) aponta para o segundo romantismo que busca a “nossa arquitetura” na época da fundação de Portugal e, consequentemente, no estilo românico. Além disso, deve estar intimamente relacionada com a intervenção levada a cabo, mais ou menos por essa altura, na Sé Velha e que não podia deixar de influenciar o mundo artístico mondeguino.

António Augusto Gonçalves bateu-se com firme determinação para que o restauro do templo se transformasse de utopia em realidade e os artistas que frequentavam a Escola Livre, e à sua volta gravitavam, permitiram-lhe concretizar o sonho, obviamente com a aquiescência do bispo da diocese, D. Manuel Correia de Bastos Pina. A influência do templo restaurado é de tal forma notória no edifício que esta moradia passou vulgarmente a ser conhecida pelo nome de “Casa da Sé”. A sua fachada ostenta um corpo central mais avantajado e ameado; o piso superior é rompido por cinco portas, sendo a central mais larga e trabalhada do que as restantes; quatro gárgulas dão vazão às águas que escorrem do telhado.

Fig. 21. Casa da Sé. Pormenor. [Foto Daniel Tiago

Fig. 21 – Casa da Sé. Pormenor. [Foto Daniel Tiago]

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Casa da Sé, pormenor. Foto RA.

Casa da Sé. Pormenor. [Foto RA] 02.jpg

Casa da Sé, pormenor. Foto RA

Face à semelhança verificada entre esta moradia e o velho templo catedralício aeminiense atrevo-me a apontar o nome de António Augusto Gonçalves como sendo o autor do risco, pois não olvido que foi da sua mão que saiu o projeto documentado e datado, do templo do Divino Senhor da Serra, de Semide.

A construção de casas que saíssem da vulgaridade e atestassem o poder económico dos seus donos estava, como já se referiu, dentro dos parâmetros mentais de então.

Um pouco mais acima, com desenho de Raul Lino, ergue-se uma outra moradia que também merece ser referenciada. Infelizmente ignoro o nome do encomendante, desconheço o projeto e a data da sua construção.

 

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Casa riscada por Raul Lino. Foto RA

Casa riscada por Raul Lino. Pormenor [Foto RA].jpg

Casa riscada por Raul Lino, pormenor. Foto RA

A Rua Lourenço de Almeida Azevedo desdobra-se à esquerda de quem, a partir da Praça da República, olha para o Jardim da Sereia, local onde os frades crúzios, outrora, viviam momentos de lazer e no lado oposto, isto é, à direita do observador, abre-se a via que permite unir o Largo D. Luís à Rua de Tomar: trata-se da Rua Almeida Garrett. Logo no início desta via existe uma casa que tem a ornamentar os aventais das janelas vistosos frisos cerâmicos da autoria de Miguel Costa.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes.

 

Tags: Coimbra séc. XIX, Coimbra séc. XX, Alargamento do espaço urbano, Rua Lourenço de Almeida Azevedo, Silva Pinto arquiteto, Casa da Sé, Raul Lino arquiteto, António Augusto Gonçalves, Jardim da Sereia, Largo D. Luís ver Praça da República, Rua de Tomar, Rua Almeida Garrett,

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por Rodrigues Costa às 21:33

Terça-feira, 16.03.21

Coimbra: Evolução do Brasão do Concelho 1

Formulado o parecer sobre a evolução porque tem passado as armas da cidade de Coimbra e sobre a forma de as ordenar presentemente, colhendo do estudo feito os dados que mais salientam o brilho histórico e sentimental de tão notável cidade, apresentei-o à Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, que o aprovou em setembro de 1930, sendo imediatamente enviado à Câmara Municipal daquela cidade, que também concordou com o mesmo parecer, conseguindo do Governo a seguinte confirmação:

«Portaria n.º 6956 - Manda o Governo da Repüblíca Portuguesa, pelo Ministro do Interior, que a constituição heráldica das armas daquele município seja a seguinte: De vermelho com uma taça de ouro realçada de púrpura, acompanhada de uma serpe alada e um leão batalhantes, ambos de ouro, armados e lampassados de púrpura. Em chefe, um busto de mulher coroado de ouro, vestido de púrpura e com manto de prata, acompanhado por doís escudetes antigos das quinas, Colar da Torre e Espada.

Brasão de Coimbra.png

Brasão de Coimbra. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbra#/media/Ficheiro:CBR.png

Bandeira com um metro quadrado, quarteado de amarelo e de púrpura. Listel branco com letras pretas, Cordões e borlas de ouro e púrpura. Lança e haste de ouro

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Bandeira de Coimba. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbra#/media/Ficheiro:CBR.png

Regulado o assunto por esta forma e baseado nos elementos que constitulrarn o referido parecer, posso hoje confirmar que um dos principais argumentos que fortalecem o critério da representação do busto de mulher nas mesmas armas, nada tem com a taça que em certa altura começou a aparecer na composição do selo de Coimbra.

No n.º 3 do ano 1.º da Revista do Conselho de Arte e Arqueologia, vêm incluídos dois interessantes artigos, a que me vou referir:

O primeiro intitula-se «O brasão da cidade apôsto em casas foreiras» e é da autoria do ilustríssimo arqueólogo Antonio Augusto Gonçalves, tão notável por variados méritos.

Começando por relatar o facto criminoso de no primeiro terço do século XIX ter sido permitido pela Câmara Municipal de Coimbra que um sonhador de tesouros escondidos escavacasse uma escultura existente no arco de Almedina, que representava o busto de mulher coroada que sempre apareceu nas armas de Coimbra, por supor ali escondido um rico tesouro,

Torre de Almedina, sendo perceptíval a mutilaçã

Torre de Almedina, sendo perceptíval a mutilação do brasão. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Porta_e_Torre_de_Almedina.

passa a citar o facto interessante de já vigorar em 1503 a obrigação dos enfiteutas colocarem frontaria dos prédios Ioreiros à cidade.

A propósito deste facto, refere-se aos 12 exemplares destas esculturas existentes actualmente no Museu de Machado de Castro, dos quais reproduz 10, tendo todos o busto de mulher sainte duma taça.

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Pedra colocada sobre a porta de uma foreira da Câmara. © DGPC| Arquivo do MNMC. 708, E587

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Pedra colocada sobre a porta de uma foreira da Câmara. © DGPC| Arquivo do MNMC. 6348, E598.

Estas referências são da maior importância para o estudo das armas de Coimbra, pois que estando determinado que os enfiteutas colocassem uma lápide com as armas da cidade na frontaria do prédio foreiro, ficamos sabendo que essas armas eram esculpidas por qualquer artista medíocre, que trabalhasse mais barato, e então, desde que um pôs o busto de mulher sainte duma taça, é natural que, inconscientemente, todos o copiassem, e, por tal forma este processo foi repetido, que o costume quási passou a ser lei.

O Senhor Antônio Augusto Gonçalves, referindo-se aos autores dessas esculturas, diz:

Pertencem à produção desses grupos de artifices desalumiados, a que se atribuem as obras destituídas de intenção e de carácter, sem rumo e sem norte, à mercê das sugestões do momento. Por isso a classificação cronológica não é fácil, visto que lhe faltam lndtcíos definidos e acentuados. Com raras excepções, só hipotetícamente se poderão descobrir lnflüências de estilo.

… Vendo as reproduções das ingénuas esculturas citadas, e não se sabendo que houve tempo em que nas armas de Coimbra apareceu uma taça, qualquer pessoa dirá que se trata apenas de um busto com seu pedestal e não de uma taça tendo um busto de mulher sainte.

A ligação do peito da mulher à taça, foi feita inconscientemente, e naturalmente os diferentes artistas estavam convencidos de que se tratava efectivamente de um busto com o respectivo pedestal para se colocar sôbre um móvel.

Vejamos agora o segundo artigo publicado no citado número da revista intltulada «Arte e Arqueologia»: «Brasões de Coirnbra no Museu Machado de Castro pelo erudito escritor Augusto Mendes Simões de Castro, que tantos trabalhos já tem sôbre o selo e armas da histórica cidade de Coimbra.

Começo por transcrever o 3.° período deste interessantíssimo artigo:

No «Indice Chronologíco dos Pergaminhos e Foraes existentes no archivo da Camara Municipal de Coimbra» por João Correia Ayres de Campos, 2.ª edição (1875), pags. 57 e 58, vem citada uma sentença datada de 29 de Maio de 1503, [onde é referido] «dentro de dous meses da Ieitura d'este em diamte poer na parede sobre ho portall da dita casa hua pedra de dous palmos de lomguo e dous de larguo q sera assy emlleuada ê que sse ponhã as armas da dita cidade E teera letras q dlguã esta casa he da cydade de Coimbra …»

O Sr. Dr. Sirnões de Castro transcrevendo esta interessantíssima referência sôbre a utilidade da heráldica de domínio, trata, no seu artigo, das esculturas existentes no Museu de Machado de Castro, e referentes à sinalização dos prédios foreiros à cidade de Coimbra, dando a entender que, nas armas de Coimbra, a taça não tem outra representação que não seja a de servir para dela sair o busto da mulher.

Dornelas, A. Os Selos da Cidade de Coimbra. In: O Instituto, Vol. 88.º. 1935. Pg. 5-16. Acedido em https://digitalis-dsp.uc.pt

Em ordem às imagens das pedras estavam colocadas sobre as portas das casas foreiras da Câmara de Coimbra e hoje estão guardadas no Museu Nacional de Machado de Castro, agradecemos aos Técnicos daquele Museu, Drs. Pedro Ferrão e Jorge Venceslau, a ajuda na sua localização.

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por Rodrigues Costa às 11:22

Quinta-feira, 16.01.20

Coimbra: O Tesouro da Sé de Coimbra, em 1906 3

 

Illustração Portugueza. p. 85 01.jpgIllustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, p. 85

Do século XII, a croça do báculo de S. Bernar¬do, em cobre dourado, e o belo cálice românico que na orla da base tem a legenda: «Geda Menendiz me fecit in onorem sci michaelis e MCLXXXX»;

Cálice românico.jpgCálice românico

Do século XIV, o relicário de coral e prata, a imagem da Virgem com o Menino ao colo e a cruz de ágata, objetos que pertenceram á Rainha Santa, e todos eles marcados com as armas de Portugal e de Aragão;

Relicário de coral e prata 01. Pertenceu à RainhRelicário de coral e prata que pertenceu à Rainha Santa

Do século XV, a grandiosa cruz processional cuja reprodução acompanha estas linhas;

Cruz gótica(1).jpgCruz processional

Do século XVI, a custódia tão sumptuosamente decorativa de D. Jorge d'Almeida, uma caldeirinha de prata com o brasão do mesmo Prelado, uma riquíssima coleção de cálices, e a bacia e gomil também aqui reproduzidos em gravura; do século XVII, a grande custódia e a cruz-relicário do Bispo D. João Manuel, o relicário de Santa Comba e uma grande cruz de azeviche; finalmente, do século XVIII, o jogo de sacras em prata e lápis-lazúli.
Na secção dos paramentos, figura, em primeiro lugar, a capa da abadessa de Lorvão, com sebastos soberbamente bordados, e na das tapeçarias um pano flamengo, representando Marte o Vénus surpreendidos por Vulcano, e uma alcatifa persa, em seda, verdadeira maravilha de brilho e cor.
Referindo-se ao Tesouro da Sé, escrevia há meses o sr. Joaquim de Vasconcelos: «Quem subscreve «estas linhas teve ensejo de visitar repetidas vezes os museus capitulares de alguns dos cabidos mais ricos da Europa; pode comparar sem prevenções e julgar do valor das obras expostas por experiência própria e por algum estudo, adquirido durante longos anos de pacientes investigações; não hesita, contudo, em afirmar que o Museu de Coimbra rivaliza com os mais opulentos».
O mesmo ilustre crítico escrevera também na «Arte e Natureza em Portugal»: «A criação do Museu é um exemplo preclaro, dado aos restantes prelados portugueses, que podem e devem abrir, os tesouros das catedrais ao estudo. O senhor Bispo-Conde soube achar em Coimbra o artista erudito, competente para a difícil obra da Sé Velha. Temos fé que encontrará, sem sair de Coimbra, o arqueólogo sagaz e bem informado, que deve inventariar num índice impresso, luminoso, manuseável o barato as incomparáveis riquezas do museu diocesano».

Castro, E. O Thesouro da Sé de Coimbra. In Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, Lisboa, 1906, p. 84-87.

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por Rodrigues Costa às 09:48

Quinta-feira, 09.01.20

Coimbra: O Tesouro da Sé de Coimbra, em 1906 2

Illustração Portugueza. p. 86 01.jpg

Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, p. 86

A primitiva instalação constava apenas de duas salas: na primeira, estavam as tapeçarias e os paramentos; na segunda, as peças de ouro e prata.

Capa da Abadessa de Lorvão.jpg

Capa da Abadessa de Lorvão

No entanto os últimos conventos iam acabando, e, à proporção que acabavam, ia a coleção crescendo. Não sem o obstáculo de alguns respeitáveis pedregulhos, cuja remoção não foi das mais fáceis, de Lorvão, de Semide, de Santa Clara, de Tentúgal e de Vila Pouca vinha correndo para o Tesouro da Sé uma rutilante enxurrada de alfaias preciosas, relicários, cibórios, turíbulos, cálices, gomis, frontais e dalmáticas, numa estranha confusão em que o ouro, a prata, as pedrarias e os esmaltes se misturavam com o veludo, a seda, a tartaruga, o coral e a malaquite.

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Exposição de vários objetos religiosos

A acumulação tornara-se excessiva. Ousadamen¬te, se rasgou en¬tão uma ampla galeria contigua às duas salas, e ao longo dela se dispuseram, em vitrines, os objetos mais preciosos. Entro estes, alguns há que lu¬ziriam como estrelas de primeira grandeza nos mais ricos museus do estrangeiro. Dadas as di¬mensões naturalmente estabelecidas para este ar¬tigo, apenas mencionarei as peças mais notáveis pe¬la beleza e pelo valor histórico.

Castro, E. O Thesouro da Sé de Coimbra. In Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, Lisboa, 1906, p. 84-87.

 

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por Rodrigues Costa às 09:26

Quinta-feira, 04.04.19

Coimbra: Edifício na Alameda Júlio Henriques

Um leitor do blogue A’Cerca de Coimbra questionou-me acerca do edifício onde atualmente funciona a Administração Regional de Saúde do Centro. Indagando, consegui reunir algumas informações relacionadas com o mesmo.

Elemento destacado no largo de São João, a que se junta a fachada da igreja de São João de Almedina, o paço episcopal é digno de referência em diferentes autores nos finais do século XIX, que enaltecem a sua qualidade estilística maioritariamente assente no período maneirista. No «Roteiro Illustrado do Viajante em Coimbra», publicado nos finais de 1894 António Augusto Gonçalves … aponta os efeitos negativos de uma «moderna e insensata renovação do lanço norte», e aponta [o] preocupante estado de conservação do edifício, aludindo-o nos seguintes termos «O palácio está em ruína; parte do interior inhabitavel e a reforma é instante»

Paço episcopal. Finais do XIX.JPG

Paço episcopal, fotografia do Álbum de Jorge Oliveira

A presente citação de Gonçalves revela uma alusão, ainda que de modo subtil, às vicissitudes do recinto nos finais de oitocentos, alvo de uma polémica reforma que marcou de forma irreversível o bloco norte do paço episcopal. A referida centúria trouxe períodos conturbados ao referido edifício … Após a saída de D. Joaquim de Nossa Senhora da Nazaré, a 7 de Maio de 1834, a residência episcopal sofreu as intempéries de um espaço desocupado, como mais tarde historiou António de Vasconcelos: «A soldadesca e a populaça invadiram o paço episcopal desabitado, e principiaram a roubar e a estragar tudo, arrombando portas, escalando janelas, etc.

Paço episcoal e arco.jpgPaço episcopal. Finais do XIX

… O Estado tomou posse do imóvel … e um regimento de cavalaria chegou a usufruir dos seus espaços até aos primeiros anos da década de 1850, época em que a mitra voltou aos antigos aposentos, através dos esforços levados a cabo pelo bispo D. Manuel Bento Rodrigues da Silva.

D. Manuel Correia de Bastos Pina (O Occidente, 190

D. Manuel Correia de Bastos Pina

No início da vigência do prelado D. Manuel Correia de Bastos Pina foi tomada a decisão de desocupar o palácio episcopal e reconstruir um novo edifício, destinado às mesmas funções, nas proximidades do mosteiro de Santa Ana. Esta solução apresenta-se no periódico «O Conimbricense», a 21 de outubro de 1873, como uma ideia salutar. Adjetivando o paço de «indecoroso pelo estado em que encontra».
… No mesmo sentido, foi levada a cabo uma proposta de lei, apresentada, a 20 de fevereiro de 1874, pelo governo à câmara dos deputados, consentindo ao prelado diocesano a venda do velho paço episcopal e a aplicação dos lucros obtidos nas expensas necessárias à edificação do novo.
… A edificação do novo edifício na cerca do mosteiro de Santa Ana iniciou-se nos finais da década de 1870, a partir de um projeto de Matias Cipriano Pereira Heitor de Macedo. A constante paragem das obras por falta de verba e o desagrado de D. Manuel Correia de Bastos Pina em relação a diversos aspetos do plano (1) levaram à desistência por parte do antístite, da ocupação do novo paço e, mais tarde, à consequente reconversão deste, sob expensas do Estado, no intuito de albergar um hospital para coléricos.

Edificio a ARS.JPGEdifício da Administração Regional de Saúde do Centro. Fachada principal

Nos dias-de-hoje são visíveis as marcas da função original, através das insígnias do citado bispo insculpidas no frontão triangular da fachada principal do edifício que alberga a Administração Regional de Saúde do Centro.

Frontão com as armas episcopais.JPGEdifício da Administração Regional de Saúde do Centro. Fachada principal, frontão com as armas epicopais de D. Manuel Correia de Bastos Pina

XXX

Porque o governo se tinha apoderado do paço episcopal, que viria a ser ocupado como museu, foi no seminário que se instalou o prelado quando, no final de 1912, voltou a Coimbra.

2017-09-05 14.25.06.jpgResidência episcopal no Seminário de Coimbra

(1) Segundo Milton Pedro Dias Pacheco, «Paira ainda hoje na memória dos eclesiásticos diocesanos … que Dom Manuel recusara o edifício por um simples motivo: o facto de lhe ter sido sempre negada a participação na traça arquitetónica do edifício, principalmente na organização interna das várias dependências e que viria a culminar na inadequação para receber os vários serviços da chancelaria episcopal.»

Freitas, D.M.R. 2014. Memorial de um complexo arquitectónico enquanto espaço museológico: Museu Machado de Castro (1911-1965). Tese de doutoramento em Letras, área de História … apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Vol. I, pg. 208-210 [policopiado]
Ramos, A.J. 1995. O Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina. Dissertatio ad Doctoratum in Facultate Historiae Ecclesiasticae. Ponttificiae Universitatis Gregorianae. Coimbra, Gráfica de Coimbra

Nota: Temos memória de neste edifício ter funcionado, durante muitos anos a Maternidade dos HUC e, posteriormente, o serviço de Ortopedia e simultaneamente ou posteriormente, algumas outras enfermarias, uma das quais a de Urologia.

 

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por Rodrigues Costa às 18:40

Quinta-feira, 12.07.18

Coimbra: Edifício da Agência do Banco de Portugal 3

Adães Bermudes, em 1907, conhecia bem a arte desenvolvida pelos artistas de Coimbra, sobretudo pelos que se encontravam ligados à Escola Livre das Artes do Desenho (ELAD) fundada em 1897 por Mestre António Augusto Gonçalves; fazia-lhes os mais rasgados elogios e entregava-lhes trabalhos destinados a embelezar os edifícios erguidos sob a sua responsabilidade. Era, por isso, “de esperar que o novo edifício construído num belo local [fosse] ao mesmo tempo que um monumento da mais fina arte, uma prova também das extraordinárias aptidões dos artistas conimbricenses, cujos esforços para levantar a arte industrial portuguesa são conhecidos e vistos com aplauso por todo o país”.

O arquiteto, no projeto que riscou, deixou-se influenciar pela arquitetura tradicional coimbrã que ficou, desde o século XVI, impregnada pelo espírito da renascença, mas, no dizer do articulista do Resistencia é necessário “que se não entregue a obra ás mãos do primeiro sucateiro, e que se faça do novo edifício, colocado no melhor local de Coimbra, obra para honra e não para desdouro dos nossos artistas”. 

Fig. 9 - João Machado.jpg

 Fig. 9 - João Machado

 Os responsáveis pela Agência do Banco de Portugal conheciam bem a capacidade e as aptidões dos artistas mondeguinos e, por isso era de esperar que entregassem a empreitada a alguém credenciado.

Das notícias então publicadas em jornais citadinos deduz-se que o alarife encarregado de riscar o edifício da agência do Banco de Portugal “elaborou, ou pretende elaborar o projeto dentro das tradições da arte local, escolhendo para estilo do novo edifício o da Renascença” e o diretor do Resistencia acrescenta na sua folha que, quanto à concretização daquele tipo de decoração apenas João Machado seria capaz de o executar com a qualidade desejada.

Fig. 10 - A Agência do Banco de Portugal em fase

Fig. 10 - A Agência do Banco de Portugal em fase de conclusão

 Os outros cinzeladores da pedra a trabalhar na cidade reagiram desagradados à referência inserta no jornal, pensando, quiçá, que ela representava o eco de palavras proferidas por João Machado ou, dizemos nós, movidos por uma “doença” chamada inveja. Machado, seriamente desgostado, reagiu enviando uma carta ao periódico onde referia que “quando soube que um colega [seu], depois de ter conhecimento de que f[ora] convidado para executar esse trabalho” contactou os diretores do Banco, oferecendo os seus serviços, declarara que jamais se encarregaria de tal trabalho. E se bem o disse, fielmente o cumpriu, apesar do dr. Quim Martins em posterior edição afirmar que “se o sr. João Machado abandona a obra, o sr. João Machado falta à consideração que deve a quem justamente lhe aquilata o valor” e que o artista “não tem só a contar consigo, tem de contar também com a cidade que lhe festeja o talento que o enobrece”.

O artista manteve-se irredutível e o trabalho de cantaria acabou por ser entregue a Francisco António dos Santos, Filho, “canteiro que vem conseguindo créditos de artista em várias obras a seu cargo”.

Como normalmente acontece, o prazo estipulado para a construção do edifício sofreu uma derrapagem, até porque quando se começaram a abrir os alicerces as obras tiveram de parar, a fim de ser resolvido o problema originado pela existência de um vasto lençol de água que se torno necessário drenar.

Finalmente, com a presença de Adães Bermudes, a 24 de outubro de 1912 foi feita a entrega do novo edifício da Agência do Banco de Portugal, inaugurada a 1 de novembro desse mesmo ano.

Fig. 11 - A Agência do Banco de Portugal já conc

 Fig. 11 - A Agência do Banco de Portugal já concluída

 No dia da inauguração os diretores da nova agência, Manuel Inácio Palhoto e Henrique Ferreira acompanharam a direção do Gazeta de Coimbra numa visita às instalações e estes “fica[ram] perfeitamente impressionados com as comodidades e o bom gosto ali reunidos, transpirando em todas as suas dependências um tom de modernismo que muito [lhes] agrad[ou]”.

Neste contexto, os visitantes cumprimentavam “os ilustres agentes desta nova agência” ao mesmo tempo que felicitavam “o público de Coimbra pelo excelente edifício agora inaugurado e que vem imprimir à cidade uma nota caraterística do seu progresso e desenvolvimento”.

Fig. 12 - Selo do Banco de Portugal. 1846. Desenho

 Fig. 12 - Selo do Banco de Portugal. 1846. Desenho de Domingos António de Sequeira

 

ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

 

OBRAS DE CONSULTA

OBRAS DE CONSULTA

DAMÁSIO, Diogo Filipe Monteiro, Arquitetura do Banco de Portugal. Evolução dos projetos para a sede, filial e agências do Banco de Portugal (1846-1955), Coimbra, 2013. [Policopiado]

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/banco-de-portugal-em-coimbra.htmll

https://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_de_Portugal

https://www.bportugal.pt/page/historia

Relatorio do Conselho de Administração do Banco de Portugal. Gerencia do anno de 1905. Balanço, documentos e parecer do Conselho Fiscal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906, p. 21.

 https://www.bportugal.pt/sites/default/files/anexos/pdf-boletim/relatorioca1905.pdf.

 

PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS

Architectura Portugueza (A), 4, Ano VI, Lisboa, 1913.04.00.

Gazeta de Coimbra, Coimbra, 1912.10.26; 1912.11.02.

Jornal de Coimbra, Coimbra, 1911.08.05; 1912.01.31; 1912.10.30.

Defeza, Coimbra, 1910.03.25.

Noticias de Coimbra, Coimbra, 1908.01.18; 1909.10.02.

Construcção Moderna (A), 273, Ano IX, n.º 9, Lisboa, 1908.10.10.

Resistencia, Coimbra, 1903.05.03; 1906,07,01; 1907.07.02; 1907.08.25; 1907.09.20; 1907.10.03; 1907.10.06; 1908.11.15.

Conimbricense (O), Coimbra, 1906.07.05.

Tribuno Popular (O), 4893; 5211, 6907, Coimbra, 1903.05.06; 1906.06.30; 1907.06.08

 

 

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por Rodrigues Costa às 09:12

Quinta-feira, 26.04.18

Coimbra: Teatro Avenida, uma saudade 1

O “Teatro-Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, [num primeiro momento apenas Theatro-Circo] após 5 de outubro de 1910 renomeado de Teatro Avenida, na Avenida Sá da Bandeira em Coimbra, propriedade de António Jacob Júnior, Moraes Silvano e Mendes d'Abreu [e outros], foi projetado pelo arquiteto Hans Dickel, e inaugurado em 20 de janeiro de 1892.

Teatro Avenida (Principe Real) a.jpg

 Teatro-Circo a seguir à sua inauguração

Enquadramento do Teatro.jpg

 Enquadramento do Teatro na Avenida Sá da Bandeira

 A sua construção, em terrenos cedidos pela Câmara Municipal de Coimbra, teve início em 1891 e nela trabalharam cerca de 100 operários. Dos estuques encarregou-se Francisco António Meira. As grades dos camarotes, as colunas que os sustentam e as cadeiras para a prateia foram fundidas na oficina de Manuel José da Costa Soares.

Este Teatro, oferecia: 28 camarotes de uma só ordem, 8 frisas, 28 lugares de balcão, 450 cadeiras e 450 lugares de geral.

A inauguração do, então, “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, contou com a atuação de uma «companhia equestre, gymnástica, acrobática, cómica e mimíca, do Real Coilyseo, de Lisboa, de que é director o sr. D. Henrique Diaz»

A sala de espetáculos, com um «pano de boca» pintado por mestre António Augusto Gonçalves, tinha capacidade para 1.700 espectadores e o seu custo ultrapassou os 20 000$000 réis. Podiam lá realizar-se espetáculos equestres, de declamação e canto. Embora os espaços de receção e hall de entrada fossem construídos em alvenaria de pedra, o espaço central e cúpula tinham estrutura metálica, vinda de um Teatro mais antigo, o «Teatro-Circo Do Arnado». [Esta informação não nos foi confirmada por uma historiadora deste período]

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 Projecionista do “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, em 1902

 «Para qualquer companhia é o theatro alugado por 80$000 réis. O actual emprezario, que procura sempre variar os espectaculos com peças escolhidas das melhores companhias e que é fiel cumpridor dos seus deveres, é o sr. Manoel Francisco Esteves. Tem o theatro orchestra e banda, sob a direcção do habil e intelligente professor Dias Costa. É esta casa de espectaculos muito elegante e tem commodidades. Na epocha propria é muito frequentado pelos academicos.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” - Sousa Bastos - 1908.

Sarau Acdémico.jpg

 Sarau académico

 

Nota – Para completar e corrigir estas informações, consultar a entrada publicada neste blogue em 2016.12.26, com o título Coimbra: o desaparecido Teatro Avenida.   

Restos de Colecção (blogue). Teatro Avenida em Coimbra. Acedido em 2018.04.12, em

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2017/11/teatro-avenida-em-coimbra.html

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por Rodrigues Costa às 22:13


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