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A Escola Industrial Brotero deambula pela cidade 1
Ao subir a Avenida Sá da Bandeira voltamos a deter-nos para pensar no grandioso edifício, nunca construído, destinado a nele funcionar a Escola Industrial e Comercial Brotero. Mas, para tal, forçoso se torna recuar no tempo e compreender a filosofia que envolveu a criação daquele estabelecimento de ensino.
A monarquia estava, no final de Oitocentos, a investir na instrução, com particular ênfase na vertente industrial, até porque chegara à conclusão que este tipo de desenvolvimento, já posto em prática noutros países, funcionara como mola impulsionadora do progresso.
É no contexto da ideologia subjacente que António Augusto de Aguiar assina, a 03 de janeiro de 1884, o decreto que criava, em Coimbra, a Escola de Desenho Industrial, ‘batizada’ de Brotero, em dezembro do mesmo ano.
Fig. 38 – O refeitório dos crúzios albergou, conjuntamente com a Associação dos Artistas de Coimbra, a Escola Brotero. [BMC.I, Bmc_b231].
Para albergar o novo estabelecimento de ensino a Câmara cedeu a igreja do Colégio da Trindade, mas a escola jamais se alojou no templo e, para que o novo estabelecimento de ensino iniciasse as suas funções, a Associação dos Artistas que, como vimos, ocupava o refeitório crúzio, em 1885, ofereceu, de forma parcial, as suas instalações, para que as aulas se pudessem iniciar.
Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Coimbra. Diploma
Refeitório dos crúzios, hoje Sala da Cidade
Dois anos volvidos, em 1887, os vereadores republicanos António Augusto Gonçalves e Manuel Augusto Rodrigues da Silva apresentaram uma proposta no sentido de transformar a Brotero numa escola industrial. A sugestão justificava-se porque, na cidade, a indústria mais vultuosa era a da cerâmica e porque se perfilava a hipótese de que a Escola Nacional de Cerâmica “que andava na mente do Sr. ministro das obras públicas”, se localizasse em Coimbra.
A alteração veio a acontecer quando Emídio Navarro, através de decreto publicado no Diário do Governo de 10 de janeiro de 1889, transforma a “Escola de Desenho Industrial” em “Escola Industrial” Brotero.
Três anos antes (1886), sendo diretor António Augusto Gonçalves, a escola passou a utilizar, para além da parte da sala cedida pela Associação dos Artistas, o espaço pertencente à Câmara Municipal situado por cima do refeitório crúzio; contudo, em meados de 1889, o estabelecimento de ensino, então ‘provisoriamente’ instalado, continuava a usufruir os mesmos espaços.
Como consequência, procedeu-se a adaptações que passaram por lhe anexar, num primeiro momento, o andar superior da ala oeste do claustro da Manga (atual Jardim da Manga), a antiga capela do noviciado e, mais tarde, o segundo piso da fachada sul, bem como o próprio claustro e os pisos térreos das duas mencionadas alas.
Fig. 39 – Claustro da Manga. [Revelar Coimbra, 31].
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
A Brotero é uma escola de tradições. Uma escola que nasceu do nada e cresceu, valorizando o Coimbra e o País ... Atenta à evolução do mundo exterior, sempre foi uma escola de vanguarda ... Uma escola-Escola, de todos os tempos, de sempre, porque sempre em luta consigo própria. Para servir.
... Desde o século XVIII que o ensino profissional – até aí quase inteiramente da responsabilidade das corporações de artes e ofícios e de organismos religiosos – mereceu a atenção dos governantes nacionais. Contudo, só após o Liberalismo e face à necessidade de resposta ao avanço da Revolução Industrial foram tomadas as primeiras medidas sérias com vista à sua implementação.
...Em Coimbra, este estado de coisas fez surgir, em 1851, a «Sociedade de Instrução dos Operários» e, em 1862, a «Associação dos Artistas de Coimbra», que, sob o patrocínio de Olímpio Nicolau Rui Fernandes, visava «a difusão do Ensino Geral e Técnico das Artes e Ofícios, propagando os conhecimentos de economia, industrial e doméstica, necessários ao aperfeiçoamento dos métodos de trabalho, e promovendo em tais atividades o uso e introdução de novos maquinismos», e deu origem ... em 1878, a criação da «Escola Livre das Artes do Desenho», por iniciativa de António Augusto Gonçalves, a qual obteve da Câmara Municipal a cedência da antiga Casa do Senado, no andar superior da Torre do Arco de Almedina.
... por Decreto de 3 de Janeiro de 1884, o Ministro ... António Augusto de Aguiar, criou oito Escolas de Desenho Industrial, verificando-se com agrado que uma delas era em Coimbra – a atual Escola Secundária de Avelar Brotero.
... A 20 de Fevereiro de 1885, ou seja, cerca de um ano depois da sua criação a Escola de Desenho Industrial Brotero, ainda equipada com mobiliário emprestado pela Associação dos Artistas e sem material didático, encomendado na Alemanha ... iniciou atividades ... Matricularam-se cento e cinquenta e dois alunos (cento e quarenta e nove do sexo masculino e três do sexo feminino), com idades compreendidas entre os seis e os quarenta anos e, na sua maioria, profissionais: «alfaiates, canteiros, carpinteiros, empregados, funileiros, marceneiros, ourives, paliteiros, pedreiros, pintores de louça, sapateiros, segeiros, serralheiros, tipógrafos». A única disciplina lecionada no primeiro ano de funcionamento foi a de «Desenho Elementar». E apenas no período noturno, dado que, por falta de alunos, a Escola não teve aulas diurnas, tal como pelo menos nos seis anos subsequentes.
... Em 1889 ... o ministro Emídio Navarro elevou a Escola de Desenho Industrial Brotero a Escola Industrial.
... em 1914, ano a partir do qual a Escola passaria, em consequência, a Escola Industrial e Comercial.
... Nos finais do ano (1918) ... a Secção Comercial existente na Brotero foi-lhe retirada, para formar uma escola independente – a Escola Comercial de Coimbra, que, por não ter sede própria se estabeleceu no edifício da Escola (novamente apenas) Industrial, de Outubro de 1919 até Junho de 1920, data em que, por escassez de espaço, foi transferida para um andar na Rua da Sofia.
... em 1926 ... a 4 de Setembro ... foi decretada a integração da Escola Comercial de Coimbra na Escola Brotero, adotando esta – e por largos anos – a denominação de Escola Industrial e Comercial de Brotero .
... Em suma, a «Brotero», de início uma escola de modestas dimensões, foi ampliando e diversificando ao longo dos tempos o seu efetivo curricular com a introdução sucessiva de cursos profissionais tecnológicos e artísticos ... ligados a variadíssimas áreas, como Comércio, Serralharia, Mecânica, Serralharia Artística, Carpintaria, Talha (em madeira) e Marcenaria, Cerâmica, Vitrais, Eletrotecnia, Mecanotecnia, Construção Civil, Costura e Bordados, Mecânica de Automóveis.
Figueira, M. L. 2012. Escola Brotero. Memórias de Sempre. 2.ª edição revista e actualizada. Coimbra, Escola Secundária Avelar Brotero, p. 13, 17-20, 25, 28, 32
No ... ano de 1984, a Escola Brotero de Coimbra, comemora o seu primeiro centenário. Com efeito, foi criada, pelo então Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, António Augusto de Aguiar, como Escola de Desenho Industrial, por Decreto de 3 de Janeiro de 1884, sendo batizada com o nome de «Brotero» por Decreto de 5 de Dezembro desse mesmo ano.
… Por Despacho de 4 de Dezembro de 1884, foi colocado na Escola Brotero, o professor António Augusto Gonçalves, diretor da «Escola Livre das Artes de Desenho» … Para instalação da Escola, a Câmara Municipal de Coimbra … cedeu a antiga Igreja da Trindade … Sendo, porém, necessário fazer obras de adaptação … a Associação dos Artistas de Coimbra, para que a abertura da Escola não fosse adiada, ofereceu uma sala de que, desde 1866, dispunha no mosteiro de Santa Cruz – o antigo refeitório. Aí abriu a Escola Brotero, em 20 de Fevereiro de 1885, lá se mantendo, em condições precárias, até Dezembro de 1887.
… O material didático … foi obtido, em parte, na Alemanha, na Inglaterra e na França e, em parte, no nosso País. Tendo o da Escola Brotero vindo da Alemanha … O ensino do desenho divide-se em elementar e industrial; o primeiro é diurno e o segundo é noturno … As aulas abriram efetivamente em 20 de Fevereiro de 1885, estando matriculados 84 alunos (81 do sexo masculino e 3 do sexo feminino … Em poucos dias, mantendo-se embora estacionário o número de alunos do sexo feminino, esse número subiu para 152. Esse alunos, cujas idades oscilavam entre os 6 e os 40 anos, ou se distribuíam por um leque bastante amplo de profissões – alfaiates, barbeiros, canteiros, carpinteiros, fabricantes de doce, fundidores, latoeiros, marceneiros, oleiros, ourives, pedreiros, pintores, tipógrafos.
… No começo do ano letivo de 1886-1887, em Dezembro, a Escola Brotero deixou de funcionar na sala da Associação dos Artistas e passou … no corredor por cima do antigo refeitório. Nesse corredor, ladeado de celas, foram feitas obras de adaptação, que consistiram fundamentalmente em unir as celas de um dos lados corredor para formar uma sala grande.
… Emídio Júlio Navarro, então, Ministro das Obras Públicas, por Decreto de 10 de Janeiro de 1889, transforma a Escola de Desenho Industrial de Coimbra em Escola Industrial «destinada a ministrar o ensino teórico e prático apropriado às indústrias predominantes na mesma cidade» … Em 4 de Janeiro de 1890 começou a funcionar como Escola Industrial … em 15 de Maio de 1889, o italiano Leopoldo Battistini foi nomeado professor de «Desenho ornamental» e o austríaco Emil Jack, professor de «Desenho de máquinas» … o austríaco Hans Dickel … professor de «Desenho arquitetónico» … o francês Charles Lepierre … professor de «Química industrial» … Albino Augusto Manique de Melo … professor de «Aritmética e geometria elementar» e Eugénio de Castro e Almeida … professor de «Língua francesa».
… A Câmara Municipal cedeu à Escola, nesse ano letivo (de 1890-1891) «a parte baixa do antigo cerco do noviciado do convento de Santa Cruz”.
Durante o ano letivo de 1890-1891, foram feitas obras «na parte inferior dos edifícios que bordam o jardim da Manga, a fim de adaptar esta parte do edifício ao estabelecimento de oficinas de serralharia, carpintaria e marcenaria, de modelação e cerâmica, com que vai ser dotada aquela escola, bem como para melhorar as instalações da oficina de gravura e ornamentação de metais que este ano já funcionou».
Gomes, J. F. Apontamento para o estudo das origens da Escola Brotero de Coimbra. In 1.º Centenário da Exposição Distrital de 1884. Coimbra. Simpósio. 30 de Junho e 1 de Julho de 1984. Coimbra, Edição do Secretariado das Comemorações, p. 30 a 41
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