Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
… o casamento de D. Dinis com D. Isabel seria um laço de felicidade, porque não há quem duvide de que os dois se tenham amado intensamente.
Ela, «em suas palavras mui mansa – descreve o cronista – em suas obras mui conforme ha toda humildade, sem algum alevantamento de soberba, de maneira que a graça do Espirito Santo, de que era acesa de todo, causava em sua alma um louvado assossego …»
Se, quanto à formosura do corpo, apareceu pela primeira vez ao soberano, «como se fosse o sol» - tal foi a sua exclamação em Trancoso -, quanto às qualidades do espirito, atravessou um reinado como «aparição de mística transparência».
Também em D. Dinis não eram minguados os dotes. Baixo e másculo, já aos dezoito anos possuía numa formação excecional. Com precetores da melhor têmpera – Américo d’Ébrard, ilustradíssimo clérigo francês, e Domingos Anes Jardo – muito cedo tomou contacto com o mundo das ciências e das artes, na certeza que será o culto à lealdade, à justiça, e o amor à terra que lhe permitirão o cumprimento pleno do seu dever de monarca … Mas o Rei era poeta … E o coração dos poetas é volúvel … As endechas amorosas do Rei trovador, que ele próprio recitava nos célebres serões de amor realizados no paço, brotavam repassadas de tanta vida e enlevo e saudade, em acordes de tão estranha delicadeza, que bem testemunhavam as leviandades do seu autor … Murmúrios de escândalos corriam frequentemente pela Corte, com indicação de nomes e lugares … Nove filhos bastardos conheceu a Rainha Santa, cada qual de sua mulher.
E docemente, a esposa enganada inquiria da vida dessas mulheres que o Rei abandonava, procurando dar remédio à situação dos filhos de seu marido, com amas e casas perto do Paço.
Ela, cujo ventre Deus abençoara, concedendo-lhe dois filhos: D. Constança aos dezoito anos, e D. Afonso aos vinte, aos quais dava todo o seu coração, não esquecia os nascidos do pecado, amimando-os como aos seus … O próprio Rei, ao ver que ela dava valor tão diminuto aos seus desvarios … chegou a prestar atenção à voz do ciúme, interpretando a resignação como desamor. Elucidativa a lenda do escudeiro lançado ao forno de cal.
Duarte, U. 1983. Rainha Santa. Padroeira de Coimbra. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, Caderno Municipal n.º 1, pg. 7 a 9.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.