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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 02.07.24

Coimbra: Albertino Marques, Sacrário do Seminário Maior 2

A estrutura de acesso ao interior do Sacrário da Capela do Seminário insere-se numa moldura e surge decorada com elementos relacionados com a Paixão de Cristo. No interior de um friso dourado retangular, rematado superiormente em hemiciclo pode observar-se a Cruz, que tem uma forte carga simbólica, sobrepondo a coroa de espinhos e os cravos.

Cruz, coroa de espinhos e cravos.jpgCruz, coroa de espinhos e cravos

A tradição cristã engrandece prodigiosamente o simbolismo da Cruz ao condensar nesta imagem a história da Salvação e da Paixão do Salvador e a iconografia utiliza-a tanto para expressar o suplício do Messias, como a sua presença. Onde está a Cruz, está o Crucificado.

Abaixo da Cruz podem ver-se duas palmas cruzadas que, de alguma forma, envolvem o crismon.

Palmas e crismon.jpgPalmas e crismon

A palma simboliza a vitória, a regeneração, a imortalidade e, para os cristãos, representa a Ressurreição de Cristo depois da Paixão. Por seu turno, o crismon é um importante símbolo da Igreja primitiva formado pelas letras gregas do nome de Jesus Cristo, isto é, XP. Na Idade Média foi substituído pelas três primeiras letras do seu nome IHS.

Enjunta e alfiz.jpgEnjunta a alfiz

A zona superior do Sacrário, a enjunta, ou seja, a zona triangular compreendida entre o friso semicircular superior e o alfiz (moldura que rodeia a frente da estrutura) encontra-se decorada com duas rosas estilizadas. Na iconografia cristã, a rosa simboliza tanto o cálice que recolhe o sangue de Cristo, como a transfiguração das gotas deste sangue, ou ainda se pode assumir como símbolo das chagas de Cristo.

Fechadura.jpgFechadura

No centro da porta, rodeia a fechadura uma fina grinalda.

Em suma, Mestre Albertino Marques bem podia sentir-se orgulhoso com o Sacrário que havia forjado e cinzelado, na sua oficina da Rua João Machado, para a Capela do Seminário Maior de Coimbra.

 

Sacrário da Capela do Seminário Maior de CoimbraSacrário da Capela do Seminário Maior de Coimbra

Anacleto, R. Albertino Marques. Sacrário do Seminário Maior de Coimbra. 2024. Texto inédito.

 

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por Rodrigues Costa às 19:08

Quinta-feira, 27.06.24

Coimbra: Albertino Marques, Sacrário do Seminário Maior 1

Albertino Marques também bateu, para a capela do Seminário Maior de Coimbra, um Sacrário. De acordo com a notícia saída no Correio de Coimbra de 13 de outubro, em 1948, o Tabernáculo, já se encontrava forjado e cinzelado.

Sacrário da Capela do Seminário Maior de CoimbraSacrário da Capela do Seminário Maior de Coimbra

Na notícia do periódico, que transcrevo, pode ler-se: “Nas oficinas do conceituado artista conimbricense sr. Albertino Marques foi agora construído um Sacrário em ferro forjado e cinzelado que bem pode considerar-se uma obra prima daquele distinto serralheiro. O aludido Sacrário, que se destina à capela do Seminário, foi construído segundo as regras da Liturgia e pode bem considerar-se um autêntico cofre de segurança pelas condições que presidiram à sua execução. Com a construção deste augusto tabernáculo são já em número de doze os sacrários que Albertino Marques tem executado para esta diocese, gravando-se em todos eles o apurado gosto artístico e raras aptidões que distinguem os trabalhos daquele nosso amigo, exímio artista que tão distintamente fez ressurgir entre nós a joalharia do ferro no período áureo da sua mais bela renascença”.

Esta notícia levanta-me dois problemas, pois leva-me a questionar qual o pontificado em que teria sido encomendado. Como refere a notícia, o “cofre de segurança” e qual a razão que levou à feitura, naquela época, de tantos Sacários em ferro destinados a guardar o Santíssimo Sacramento, bem como as localidades que os acolheram.

D. António Antunes.jpgD. António Antunes

Examinando a listas dos Bispos que se sentaram na cadeira episcopal conimbricense chega-se à conclusão que D. António Antunes (Cumeira, 1875.11.18-Coimbra, 1948.07.20), que foi o 59º bispo de Coimbra, toma posse da diocese em 1936 e governa-a até à sua morte, acontecida em julho de 1948. Por seu turno, D. Ernesto Sena de Oliveira (Funchal, 1892.04.30-Coimbra, 1972.10.13) entra a 2 de fevereiro de 1948 e encontra-se à frente da diocese aeminiense, onde entrou em 13 de março de 1949, até 12 de agosto de 1967, data em que resignou. Foi o 50º Bispo da diocese e o 25.º conde titular de Arganil, de juro e herdade, entre 1948 e 1967 e veio a falecer a 13 de outubro de 1972.

A partir desta análise pode concluir-se, com grande margem de certeza, que o Sacrário destinado à Capela do Seminário de Jesus, Maria e José, foi encomendado a Mestre Albertino na liderança de D. António Antunes.

A notícia do Correio de Coimbra refere que “com a construção deste augusto tabernáculo são já em número de doze os sacrários que Albertino Marques tem executado para esta diocese”. A quantidade de Sacrários que o Mestre cinzelou para a diocese não pode deixar de me levar a questionar qual a razão de um tão vultuoso número de encomendas, até porque era normalmente referido tratar-se de verdadeiros cofres fortes, providos na porta de duas fechaduras com segredo, e colocados sobre o altar ou na banqueta, a fim de guardar a píxide ou a custódia.

A porta destes pequenos cofres era, quase sempre, decorada com iconografia relativa à eucaristia, o que não se verifica no presente caso.

Anacleto, R. Albertino Marques. Sacrário do Seminário Maior de Coimbra. 2024. Texto inédito.

 

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por Rodrigues Costa às 16:21

Terça-feira, 25.06.24

Coimbra: Albertino Marques, peças de cariz religioso

Albertino Marques, verdadeiro burilador do ferro, ao longo da vida, na sua oficina da Rua João Machado, local onde passou a trabalhar a partir de 1929, bateu diversas peças de cariz religioso encomendados por variadas instituições.

A título de exemplo, e como mera nota de rodapé, recorde-se que, em 1931, bateu para a capela do Colégio da Rainha Santa, então ainda instalado no edifício do antigo Colégio da Trindade, a lâmpada do Santíssimo e a impropriamente denominada banqueta, composta por seis castiçais e pelo respetivo crucifixo. E digo impropriamente, porque a banqueta é um pequeno degrau colocado na retaguarda da mesa de altar, destinado a servir de apoio à cruz e aos seis castiçais. O conjunto, por assimilação, passou a ser, normalmente, designado por banqueta. E é na aceção comummente aceite que vou continuar a usar esta designação.

Banqueta.jpgBanqueta

Em 1939, a Madre Superiora do Colégio Missionário de S. José de Cluny, sito em Nogueiró (Braga), encomendou também, ao mestre, uma banqueta.

A Confraria da Rainha Santa, em 1944, mandou executar um Sacrário destinado ao templo.

Entre 1947-1948, por encomenda do Dr. Santos Costa, então Ministro da Guerra, e sob a direção do P. Luís Lopes de Melo (capelão militar e pároco da Sé Velha), que muito se interessou pela boa execução dos trabalhos e pela sua obediência aos preceitos litúrgicos, Albertino Marques bateu, para a Capela do Colégio Militar (Lisboa) uma banqueta, as Sacras, uma estante para missal e um Sacrário.

As Sacras, que normalmente integram três peças, uma central, maior do que as duas laterais, são painéis escritos em latim e emoldurados, contendo alguns dos textos imutáveis da missa, a fim de serem utilizados pelo celebrante como auxiliares de memória.

Sacrário da Rainha Santa.jpgSacrário do templo da Rainha Santa

Acerca do Sacrário que se destinava ao templo conimbricense da Rainha Santa, o Correio de Coimbra, de 15 de julho de 1944, escrevia: “Com destino à igreja da Rainha-Santa, acaba de ser executado na acreditada oficina do conceituado artista Sr. Albertino Marques, um sacrário de ferro forjado e cinzelado, cofre precioso onde aquele distinto serralheiro revela toda a competência que o celebriza como um dos melhores joalheiros de ferro do nosso país e onde vincou, com relevante mestria, todas as suas aptidões na execução de tão maravilhoso cofre sagrado. Este sacrário, construído com todas as regras da liturgia, é dotado de duas fechaduras de segredo, ostentando na sua portada o brasão de Portugal e Aragão sobreposto no emblema da confraria da Rainha-Santa”.

Anacleto, R. Albertino Marques. Sacrário do Seminário Maior de Coimbra. 2024. Texto inédito.

 

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por Rodrigues Costa às 11:19

Quinta-feira, 20.06.24

Coimbra: Albertino Marques, ourives do ferro

Iniciamos hoje a divulgação de dois textos inéditos, que dividimos por quatro entradas, da autoria de Regina Anacleto e que têm como objetivo a divulgação sumária da vida de Mestre Albertino Marques e o estudo de uma peça que ele cinzelou para a Capela do Seminário Maior de Coimbra.

Albertino Marques que nasceu em Coimbra, na freguesia de Santa Cruz, a 27 de abril de 1890, é um dos artistas que, na primeira metade do século XX, trabalhavam o ferro forjado na cidade do Mondego.

Albertino Marques.jpg

Albertino Marques (Coimbra, 1890-Coimbra, 1966)

O artífice frequentou a Escola Industrial Brotero e quando, em 1907, apenas com 14 anos, terminou o curso iniciou o seu percurso como obreiro do ferro com o serralheiro António Maria da Conceição (Rato) e, posteriormente, em 1918, na oficina de Francisco Nogueira Seco, localizada no Quintal do Prior.

Após a morte deste artista sucedeu-lhe na sociedade, de parceria com os descendentes do industrial e com Daniel Rodrigues. A sociedade girava sob o nome de “Seco, Graça & Marques”. Contudo, Daniel, em 1919, separou-se e inaugurou a sua serralharia no Terreiro da Erva, n.º 36, local onde permaneceu até ao fim da vida e Albertino, a partir de 1929, instalou a sua oficina na Rua João Machado.

Albertino Marques, que jamais deixou de estudar, com o desejo de melhorar a sua formação, passou a frequentar a Escola Livre das Artes do Desenho e a ter como mentor mestre João Machado.

A sua capacidade de saber fazer falar o ferro tosco, tornando-o delicado, introduziu o seu nome entre os mais conhecidos artistas que, em Portugal, se dedicaram à arte de forjar.

A serralharia artística constituiu o objetivo primacial de toda a vida de Albertino Marques, mas, nomeadamente por questões de ordem económica, tornou-se-lhe impossível colocar à margem outros trabalhos mais vulgares.

Lanterna do Parque de Santa Cruz.jpg

Lanterna do Parque de Santa Cruz

Ativista das antigas organizações operárias, cedo compreendeu a importância da publicidade na difusão da arte do ferro, facto que, de algum modo, lhe permitiu espalhar as peças saídas da sua oficina por todo o país; os artefactos passavam por tocheiros, em estilo gótico, renascentista ou ‘modernizado’, por lâmpadas cinzeladas ou por portas e grades para jazigos e campas.

Publicidade.jpg

Publicidade

No meio artístico conimbricense, sobretudo no ligado ao ferro forjado, a partir de 1933, instalou-se uma grave crise que se foi prolongando até meados da centúria, agravada por vicissitudes várias, a passarem pela falta da encomenda de trabalhos importantes que ajudassem os artistas a preservar a sua arte e pelo panorama económico da sociedade, que dificilmente permitia às pessoas dispor de numerário passível de possibilitar a compra de obras já que estas não se assumiam como bens necessários à sobrevivência.

Albertino Marques, antes de, em 1955, por razões de saúde, ter encerrado, definitivamente, a sua oficina, realizou várias obras em serralharia artística para instituições religiosas.

Posteriormente, passa a entreter as horas de ócio escrevendo sobre coisas de Coimbra e da sua arte. Nesses escritos, publicados no jornal «O Despertar», revela o gosto e o conhecimento das várias formas de arte, bem como o seu interesse por tudo o que diz respeito à sua cidade natal. 

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Caricatura de Albertino Marques

 A 27 de abril de 1966, com 76 anos de idade, depois de ter dedicado 62 à arte do ferro forjado, morre em Coimbra na sua residência, sita na Rua João Machado, o artista Albertino Marques.

Anacleto, R. Albertino Marques (Coimbra, 1890-Coimbra, 1966). Breves notas soltas. 2024. Texto inédito.

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por Rodrigues Costa às 19:31

Quinta-feira, 06.07.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 11, Albertino Marques

Albertino Marques trabalhava muito e jamais deixou de estudar, o que lhe permitiu, a par com a sua capacidade de saber fazer falar o ferro tosco, tornando-o delicado, introduzir o seu nome entre os mais conhecidos artistas que, em Portugal, se dedicaram à arte de forjar.

RA 11. Albertino Marques.jpgAlbertino Marques

Os primeiros ensinamentos técnicos colheu-os na oficina de António Maria da Conceição, e depois, ainda muito novo, terminou o curso de desenho ornamental e de modelação da Escola Industrial Brotero, obtendo o diploma com distinção; frequentou também o curso de aperfeiçoamento do mesmo estabelecimento de ensino. Foi sempre um sócio empenhado e assíduo da Escola Livre, bem como da Associação dos Artistas, onde, em 1926, ocupou o lugar de tesoureiro.

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Tocheiro. Fundação e Restauração de Portugal

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Já em 1924, o desamor pelo estudo era notório, e Albertino Marques lamentava-se de não ter ninguém de confiança que o pudesse ajudar, pois os serralheiros de então pouco ou nada sabiam de desenho e nem frequentavam a escola. Bem gostaria de empregar toda a sua criatividade na serralharia artística, mas, infelizmente, para além de se ver sozinho, também lhe não era permitido, certamente por questões de ordem económica, desprezar os trabalhos vulgares.

RA 11. Ferragens para um fog├úo de sala.jpgFerragens para um fogão de sala

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 Lanternas para o Jardim da Sereia

De entre a sua produção individual mais representativa salientem-se as lanternas e serpentinas, batidas ao gosto da Renascença, encomendadas pelo presidente, para a câmara de Coimbra e quatro candeeiros de parede, do mesmo estilo, destinados ao vestíbulo que dá acesso ao salão nobre; o cofre para o Doutor Bissaia Barreto (com desenho de António Augusto Gonçalves), exposto na montra de A Portugal, na rua Visconde da Luz; e o lampadário para o túmulo da Rainha Santa.

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Cofre para o Doutor Bissaia Barreto

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Albertino Marques é o responsável por uma importante coleção de trabalhos, quase sempre composições decorativas de dimensões restritas; mas as peças saídas da sua oficina espalham-se por todo o país e passam por tocheiros, em estilo gótico, renascentista ou ‘modernizado’, por lâmpadas cinzeladas ou por portas e grades para jazigos e campas.

RA 11. Sacr├írio para a capela do Semin├írioSacrário para a capela do Seminário de Coimbra

Mestre Albertino, para quem a forja não tinha segredos, dispunha de invulgares recursos no afeiçoamento do ferro, sempre domado sob o influxo do seu temperamento de artista.

RA 11. Escritório para a Câmara Municipal

Escritório para a Câmara Municipal de Coimbra

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021.Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-292.

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por Rodrigues Costa às 11:11

Terça-feira, 20.06.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 7, o Palácio da Justiça

Uma outra obra conjunta e de grande envergadura, a envolver quase todos os artistas mondeguinos do ferro, encontra-se relacionada com o edifício do Palácio da Justiça, a finalizar-se na inacabada morada dos condes do Ameal.

Fig. 3 - Portão central do Palácio da Justiça.

Tímpano do portão principal da fachada do Palácio da Justiça. Obra coletiva.

O titular comprou, antes de 1895, o antigo colégio de São Tomás, que se erguia na zona cabeira da rua da Sofia e introduziu-lhe modificações tendentes a transformá-lo na sua residência. Chamou para dirigir as obras o arquiteto Silva Pinto que lhe foi indicado pelo seu amigo lisboeta, o arquiteto José Luís Monteiro.

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Antigo Colégio de S. Tomás.

Após a morte do conde, a sua incompleta habitação foi posta à venda, tendo sido, depois de atribuladas negociações e por ordem do então ministro da Justiça, Dr. Manuel Rodrigues, adquirida, entre 1926 e 1928, a fim de aí ser instalado o Palácio de Justiça mondeguino. Para superintender nas obras do edifício, o governo nomeou uma Comissão Administrativa e como o diretor das obras públicas do Distrito de Coimbra não podia desempenhar o cargo, indicou o engenheiro Manuel de Abreu Castelo Branco, que passou a ser o responsável, saindo do seu lápis o projeto do acrescentamento das duas alas, Nascente e Norte, que ainda não tinham sido construídas.

RA. 7. Port├Áes principais 01.jpg

Portões de ferro forjado da fachada principal do Palácio da Justiça.

Aquele técnico teve um certo cuidado, respeitando, minimamente, o estilo e a harmonia que vinham a ser utilizados, sobretudo no que respeita a interiores, porque alterou profundamente o projeto da fachada.

O edifício da Domus Justitiae foi inaugurado a 6 de maio de 1934 e, durante vários anos, funcionou como ex-libris do Ministério da Justiça.

Na sessão de 29 de agosto de 1929, a Câmara Municipal de Coimbra apreciou um requerimento do Juiz Presidente do Tribunal da Relação, pedindo licença para proceder à vedação do Palácio da Justiça, com um muro e gradeamento. Mas, quase em simultâneo com o pedido, a imprensa noticiava que tinha sido aprovada a proposta conjunta dos serralheiros Lourenço Chaves de Almeida, António Maria da Conceição, Daniel Rodrigues, José Domingos Baptista e Albertino Marques, para a feitura de 106 metros de grade, 2 portões e várias pilastras destinadas à parte exterior das traseiras do imóvel. Os trabalhos eram realizados sob a direção do engenheiro Castelo Branco e constava que outras obras, como lustres, grades interiores, portões, etc., lhes iriam ser encomendadas.

RA. 7. Portão da vedação do Paláci

Portão da vedação do Palácio da Justiça.

RA. 7. Portão da vedação do Paláci

Portão da vedação do Palácio da Justiça. Desenho existente no espólio de Daniel Rodrigues.

A vedação que, em agosto de 1930, se andava a assentar, de ferro batido era considerado pela imprensa da época como um dos mais artísticos trabalhos “que se têm executado nos últimos tempos em Coimbra, obedecendo à arquitectura do renascimento do século XVI, tão notável e abundante na nossa região e que tem servido de escola aos artistas contemporâneos”.

Mas as encomendas para a Casa da Justiça, tal como havia sido anunciado, continuaram a acudir às oficinas dos serralheiros e, no ano seguinte (1931) Albertino Marques forjava, para o Palácio da Justiça, um novo portão em estilo renascença; concomitantemente, os “ourives do ferro” executavam, no mesmo gosto, quatro candeeiros, destinados à iluminação do claustro superior.

Na mesma altura, para o salão nobre do tribunal, Albertino Marques e Daniel Rodrigues, coadjuvados por João Machado Júnior que modelou os bustos destinados a ser, posteriormente, executados em ferro forjado, bateram um lustre.

RA. 7. Lustre central da Sala das Audiências.j

Lustre central da Sala das Audiências.

Terminados em fins de junho de 1934, foram executados nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques quatro artísticos lampiões e as respetivas gárgulas de suporte, que se destinavam, obviamente, ao imóvel em causa.

RA. 7. Lampião e gárgula de suporte.jpg

Lampião e gárgula de suporte.

RA. 7, Lampião e gárgula de suporte. Desen

Lampião e gárgula de suporte. Desenho existente no espólio de Daniel Rodrigues.

Numa entrevista feita aos artistas conimbricenses do ferro, levada a cabo por um jornal local, revela-se que os portões do Palácio da Justiça tinham sido executados “a meias”, porque o trabalho fora arrematado por Daniel Rodrigues, que resolveu dividi-lo com Albertino Marques e com António Maria da Conceição. Como se depreende, Daniel é o responsável e dirige os trabalhos executados nas três oficinas, todas elas pequenas e ruidosas; contudo, a do mestre serralheiro, era a mais pequena de todas, “baixa, com tecto abobadado em arcos, quase um cubículo”.

Daniel Rodrigues, em 1915, era sócio da antiga oficina de Francisco Nogueira Seco que se situava no Quintal do Prior, mas, em 1919, inaugurou a sua serralharia no Terreiro da Erva, n.º 36, local onde permaneceu até ao fim da vida.

É ainda sediada no Quintal do Prior que, em 1818, Daniel, talvez de parceria com Albertino Marques e com os descendentes do acreditado industrial Francisco Nogueira Seco, constituíram uma sociedade que girava sob o nome de “Seco, Graça & Marques”. Nessa oficina, um deles, ou ambos, faz ou fazem, a jogo, uns ferros para o fogão estilo Luís XV esculpido por João Machado, destinado à casa de Álvaro Castanheira Esteves, Filho. Não será de excluir a possibilidade de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques, sócios da dita manufatura, se terem desentendido, talvez até por via destes suportes, uma vez que as peças, posteriormente, surgem com a paternidade atribuída ora a um, ora a outro. Como quer que seja, Albertino Marques, gerente da firma que explorava a oficina do Quintal do Prior, transfere o seu local de trabalho para o Terreiro da Erva, onde, já em 1922 se encontrava sediado. Embora dois anos mais tarde ainda ali permanecesse a laborar, em 1925, era dono da serralharia que se situava no Adro de Santa Justa e, quatro anos volvidos, transfere-se, definitivamente, para a rua João Machado.

Apesar de a citada entrevista apontar como autor do risco dos portões do Palácio da Justiça o engenheiro Castelo Branco, a verdade é que tanto informações orais, como as notícias dos periódicos o atribuem, sem margem para qualquer dúvida, a paternidade dos mesmos a Daniel Rodrigues.

As grades de ferro que fecham as três aberturas e dão acesso ao interior do Palácio de Justiça deviam ser colocadas no princípio do ano de 1936 ou ainda antes; utilizam uma gramática neorrenascentista, onde avultam medalhões, enrolamentos e grutescos. Daniel Rodrigues, à boa maneira antiga, deixou nos portões, que pesam três toneladas, um testemunho, colocando uma moeda de prata de 10$00 em cada um dos medalhões do corpo central.

RA. 7. Portão principal da fachada do Palá

Portão principal da fachada do Palácio da Justiça.

O arco do meio, de volta inteira, apresenta, como se de um tímpano se tratasse, uma monumental bandeira que, ao centro, ostenta a figura simbólica da justiça, rodeada por gentes desavindas, representadas por dragões que olham assustados para a figura central, temendo a sua ação; os animais mostram uma atitude de contendores furiosos, mas as cabeças, porque os seus olhos avistam a justiça, voltam-se para trás, temerosos da balança da verdade. A rodear e a compor o motivo, encontram-se elementos ornamentais renascentistas.

RA. 7.Figura simbólica da justiça. Tí

Figura simbólica da justiça. Tímpano do portão principal.

Para a mesma Casa da Justiça, do cinzel de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques, individualmente ou de parceria, mas quase sempre com desenho do primeiro, saíram a grade do tribunal do crime, os lustres da sala da Relação, os dos gabinetes do Presidente e do Procurador, lanternas para o claustro baixo e três portões para o interior, estes da inteira responsabilidade de Marques.

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021.Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-292.

 

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por Rodrigues Costa às 10:20

Quinta-feira, 01.06.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 6, os portões da Faculdade de Letras

Os artistas conimbricenses do ferro iam batendo as mais diversas peças, trabalhando quase sempre isoladamente, mas expondo-as coletiva ou individualmente, tanto em mostras locais, como nacionais; contudo, quando elaboravam algum artefacto mais requintado, não se eximiam de o apresentar no Museu Machado de Castro, na Faculdade de Letras, ou na montra de algum estabelecimento comercial da Calçada.

Uma, talvez a primeira grande apresentação pública dos seus trabalhos fora da cidade, aconteceu em 1905, na exposição que o Grémio Artístico ou a Sociedade Nacional de Belas-Artes (as fontes divergem) anualmente realizava em Lisboa. Estiveram aí presentes trabalhos de Daniel Rodrigues, de Lourenço Chaves de Almeida, de Manuel Pedro de Jesus, de António Craveiro e de António Maria da Conceição.

António Craveiro. Porta de jazigo.jpgAntónio Craveiro. Porta de jazigo

Pode ficar-se com uma ideia desta mostra através da leitura do artigo que Quim Martins publicou, em 1906, na “Illustração Portugueza”.

A Resistencia, por seu turno, informa que Chaves de Almeida expôs as ferragens (tenaz, suporte e pá) que se destinavam a fazer conjunto com um fogão que João Machado esculpira para a casa de José Relvas, em Alpiarça. “As peças foram batidas em estilo renascença e o ferro está torcido como o dos pequenos balaústres que essa arte requintada deixou espalhada por palácios e jardins de Coimbra. A obra foi feita segundo um croquis de António Augusto Gonçalves, como os ele sabe fazer, apontamento ligeiro destinado apenas a sugerir, a excitar a actividade criadora dos seus discípulos. Os dois monstros que o enfeitam estão poderosamente martelados e esculpidos em ferro. Toda a obra revela excepcionais aptidões para a arte de trabalhar o ferro que, depois do período atormentado do ferro fundido, hoje renasce por toda a parte”.

Chaves de Almeida. Ferros para uma chaminé da Cas

Chaves de Almeida. Ferros para uma chaminé da Casa dos Patudos

Mas, a primeira obra coletiva de vulto surgiu quando foi necessário dar resposta aos trabalhos de ferro, destinados ao edifício da Faculdade de Letras, que havia sido projetado, em 1913, pelo arquiteto António Augusto da Silva Pinto.

Faculdade de Letras projetada pelo arquiteto Antó

Faculdade de Letras projetada pelo arquiteto António Augusto da Silva Pinto

Um pouco estranhamente, ou talvez não (a falta de dinheiro pode ser uma das explicações viáveis), só em 1927 vieram a ser assentes, na fachada principal do edifício, os grandes portões de ferro forjado, obra dos artistas Manuel Pedro de Jesus, António Maria da Conceição (Rato), Daniel Rodrigues, Albertino Marques. A direção do trabalho e o desenho dos portões é da responsabilidade de Silva Pinto.

Portão da antiga Faculdade de Letras sem a bandei

Portão da antiga Faculdade de Letras sem a bandeira

Aliás, a Faculdade de Letras, pode bem dizer-se, manteve uma avença com o ferro forjado, porque, dois anos antes, em 1925, Albertino Marques tinha em mãos uma grade que se destinava àquela casa e em 1928 e 1929 executou quatro artísticos candelabros para serem colocados na escadaria, bem como dois monumentais tocheiros, pesando, cada um 70 quilos e medindo 1,80 metros, para o vestíbulo. Além disso, no mesmo estilo dos candelabros, também com desenho e sob a orientação de Silva Pinto, bateu dois portões de ferro forjado para a entrada do museu da Faculdade. Numa linha mais prosaica e utilitária, foi entregue a mestre Albertino a feitura de 39 metros de estantes de ferro.

Portão da antiga Faculdade de Letras. Pormenor.JP

Portão da antiga Faculdade de Letras. Pormenor

Mas as encomendas da Faculdade de Letras não se ficaram por aqui, pois em 1930, nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques estavam a executar-se umas artísticas ferragens para a porta do salão nobre do edifício e seis anos depois aquele imóvel ia ser rodeado com uma grade de ferro, cuja execução fora confiada a Albertino Marques, a Daniel Rodrigues e a Jesus Cardoso.

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.

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por Rodrigues Costa às 11:14

Quinta-feira, 25.05.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 5, O coreto do Passeio Público

A serralharia artística de Coimbra renasceu com António Augusto Gonçalves e com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, na intimidade Mestre Gonçalves e Mestre Quim Martins, como lhe chamava a plêiade de artistas do ferro que foram seus discípulos: António Maria da Conceição (Rato), Albertino Marques, António Craveiro, Daniel Rodrigues, Lourenço Chaves de Almeida, Manuel Pedro de Jesus, José Domingues Baptista e Filhos, José Pompeu Aroso, e tantos outros. Das mãos dos ‘ferreiros’ saíram obras notáveis, capazes de marcar o ressurgimento daquela arte rude e maravilhosa que, em Coimbra, a partir de meados do século XIX, tanto tinha decaído, limitando-se, a bem dizer, ao fabrico de camas e de lavatórios, como se verificou na exposição, realizada em 1869, no salão da Associação dos Artistas.

Joaquim Martins Teixeira de Carvalho 01.jpegJoaquim Martins Teixeira de Carvalho

Nesse renascimento, para além dos citados Gonçalves e Quim Martins, podem ainda referir-se os nomes de Manuel Pedro de Jesus e de João Augusto Machado, este também a tentar o ferro e o primeiro que, a partir de certo momento, lhe dedicou todo o seu saber e criatividade; por isso, os podemos apelidar de precursores da serralharia artística aeminiense.

A Câmara Municipal, logo em 1903, entendendo que devia encorajar a nova indústria, abriu concurso para a construção de um coreto destinado a ser colocado no novo Passeio Público que se iniciava no Largo das Ameias. Manuel José da Costa Soares, o artista que emprestara os utensílios a João Machado e o ensinara a bater o ferro, concorreu, a par com algumas firmas industriais sediadas no Porto.

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Coreto no Passeio Público

Costa Soares era dono de uma alquilaria, sita à Rua da Sofia, na inacabada igreja de S. Domingos, onde, ao fundo, um pouco afastado da entrada, montara a forja. Mas os seus trabalhos de ferro já eram conhecidos, porque foi ele que arrematou a parte metálica do então Teatro-Circo e também é da sua autoria a cúpula metálica da Penitenciária, feita em 1887.

A comissão nomeada para apreciar as propostas que haviam sido apresentadas acabou por dar o seu aval à do referido industrial, porque, para além do mais, o seu projeto não era uma obra de catálogo, de fabrico em série, mas tratava-se de uma construção inédita. Contudo, foi “o modesto artista sr. João Gaspar, que na officina do sr. Manoel José da Costa Soares forjou as peças do corêto que a camara municipal mandou construir na Avenida Emygdio Navarro”.

Passeio Público. Coreto 2.jpgCoreto. Manuel José da Costa Soares com desenho de Silva Pinto

 A estrutura, posteriormente transferida para o Parque Dr. Manuel Braga, foi adjudicada a 18 de fevereiro do ano seguinte, e sabe-se, apenas através do que se encontra escrito em jornais publicados na cidade, que o arquiteto Silva Pinto, “um dos mais calorosos apóstolos do novo culto”, executara o seu desenho e que a edilidade tinha todo o interesse em entregar a obra a um artista da cidade, porque podia, deste modo, implementar a indústria nascente.

Coreto 09.jpgO coreto depois de transferido para a Parque Dr. Manuel Braga

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.

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por Rodrigues Costa às 11:09

Quinta-feira, 06.09.18

Coimbra: Mata de S. Bento ou do Jardim Botânico

Há já algum tempo utilizei o pequeno autocarro que liga o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha à Universidade, passando pela Mata do Botânico, a fim de desfrutar a beleza que tal deslocação (devia) proporciona(r), mas, na passada quarta feira (29 de agosto) percorri a pé parte da Mata, partindo do belíssimo portão que se encontra na Rua da Alegria até ao Reservatório, adossado ao que resta da muralha que ainda se pode visualizar num pequeno troço da Couraça de Lisboa.  

Tive então ocasião de analisar mais pormenorizadamente todo o percurso e, se vi coisas de que gostei, outras houve que me causaram tristeza e me desgostaram.

Começando pelas primeiras.

 - Portão da Rua da Alegria

Antiga Faculdade de Letras.jpg

 Antiga Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Portão da Rua da Alegria.JPG

 Portão da Rua da Alegria, antes do recente restauro

Portão da Rua da Alegria. Pormenor 01.JPG

 Portão da Rua da Alegria. Pormenor

A peça pertenceu a uma das entradas da primitiva Faculdade de Letras que se erguia no local onde atualmente se encontra a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Projetou o edifício, em 1912, o arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto. O desenho dos portões, colocados apenas em agosto de 1927, também lhe pertence e foram batidos por Manuel Pedro de Jesus, António Maria da Conceição (Rato), Daniel Rodrigues e Albertino Marques, todos eles saídos da plêiade dos serralheiros artísticos de Coimbra. Depois da intervenção na zona da Alta, que acabou por transformar o edifício em causa, um dos portões foi transferido para a Rua da Alegria, enquanto os outros e as bandeiras das aberturas levaram sumiço. Como se comprova estamos perante mais uma muito boa obra de serralharia saída das oficinas coimbrãs a merecer um olhar atento.

 - Recuperação do caminho pela Mata

O caminho percorrido pelo miniautocarro atravessa parte da mata e, para além de ser muito belo, está bem conseguido; passa, nomeadamente, junto ao bambuzal, provavelmente o maior da Europa. O número de turistas que utilizam aquele transporte, bem como os que se deslocam a pé e que encontrei tanto a descer como a subir podem fruir da beleza da mata. Realidades que justificam a existência da carreira e a necessidade de a manter a funcionar.

 - Reservatório

Embora ainda não esteja completa a recuperação do reservatório de água existente na Mata do Botânico e que serviu para, outrora, abastecer do precioso líquido a parte baixa da cidade, aquilo que já foi feito – como se constata a partir da entrada publicada na passada 3.ª feira – permitiu alertar para a existência de um património de interesse que se encontrava completamente esquecido e cuja reabilitação importa terminar dando-lhe uma conveniente utilização, quiçá de índole cultural. Talvez seja de equacionar, por nos parecer uma boa utilização deste espaço, a instalação de um polo do Museu da Água.

 Passo a referir, a partir daqui, os aspetos que me causaram tristeza e me desgostaram.

 - Fonte da Mata de S. Bento

Capela.jpg

 Fonte da Mata de S. Bento

Magnificamente enquadrada na Mata o Professor Nelson Correia Borges carateriza-a como sendo uma fonte típica das “cercas monásticas, que, juntamente com sítios de fresco, capelas e tanques de água se assumiam como locais de recreio, de meditação e de oração situadas sempre em contacto com a natureza”.

A imagem fala por si mesma, mostrando que a estrutura se mostra carecida de urgente recuperação antes que os homens, o tempo e a Natureza a façam desaparecer.

 - Capela de S. Bento

Capela de S. Bento.jpg

 Capela de S. Bento

Seguindo as placas de orientação chega-se a um local paradisíaco. Um dossel de árvores abriga a capela de S. Bento, onde a reflexão em profunda interação com a Natureza por certo acontecia.

Como os trabalhos de desmatação levados a cabo no local se tornam evidentes, pensamos que, sem grandes custos, se podia ter ido mais longe e limparem-se as paredes exteriores e isto sem prejuízo das obras de maior envergadura de que a capela, por certo, necessita.

 - Muralha de Coimbra

Ao prosseguir no caminho de acesso ao Reservatório passámos por um local onde outrora existiu um miradouro e de onde nos foi possível recolher as imagens que seguidamente publicamos.

Muralha. Couraça de Lisboa 1.JPG

 Muralha. Couraça de Lisboa 1

Muralha. Couraça de Lisboa 2.JPG

 Muralha. Couraça de Lisboa 2

Muralha. Couraça de Lisboa 3.JPG

 Muralha. Couraça de Lisboa 3

Muralha. Couraça de Lisboa 4.JPG

  Muralha. Couraça de Lisboa 4

Ao longo dos séculos a cidade e as suas gentes não quiseram, ou não puderam, evitar o desmantelamento da Muralha de Coimbra.

É verdade que a valorização do pouco que resta já se iniciou, mas urge prosseguir para fielmente, e assente em dados concretos, se escrever a História de cidade e valorizar dignamente o que subsiste dessa estrutura.

É hoje inquestionável que a valorização de uma cidade passa pelo progresso, mas este deve assentar no respeito que os seus habitantes e os seus autarcas mostrarem (e demonstrarem) tanto pelo passado, como pela História da urbe.

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por Rodrigues Costa às 10:40

Terça-feira, 11.04.17

Coimbra: Ourives Conimbricenses do Ferro 3

Os artistas conimbricenses do ferro iam batendo as mais diversas peças, trabalhando quase sempre isoladamente, mas expondo-as coletiva ou individualmente, tanto em mostras locais, como nacionais; contudo, quando elaboravam algum artefacto mais requintado, não se eximiam de o apresentar no Museu Machado de Castro, na Faculdade de Letras, ou na montra de algum estabelecimento da Calçada.

Uma, talvez a primeira grande apresentação pública dos seus trabalhos fora da cidade, aconteceu em 1905, na exposição que o Grémio Artístico anualmente realizava em Lisboa. Estiveram aí presentes trabalhos de Daniel Rodrigues, Lourenço Chaves de Almeida, Manuel Pedro de Jesus, António Craveiro e António Maria da Conceição.

Mas, a primeira obra coletiva de vulto surgiu quando foi necessário dar resposta aos trabalhos de ferro, destinados ao edifício da Faculdade de Letras ... em 1927 vieram a ser assentes, na fachada principal do edifício, os grandes portões de ferro forjado, obra dos artistas Manuel Pedro de Jesus, António Maria da Conceição (Rato), Daniel Rodrigues, Albertino Marques.

Albertino Marques. Portão da antiga Faculdade de

Albertino Marques. Portão da antiga Faculdade de Letras

 Aliás, a Faculdade de Letras, pode bem dizer-se, manteve uma avença com o ferro forjado, porque, dois anos antes, em 1925, Albertino Marques tinha em mãos uma grade que se destinava àquela casa e em 1928 e 1929 executou quatro lindos e artísticos candelabros, para serem colocados na escadaria, bem como dois outros monumentais tocheiros que se destinavam ao vestíbulo. Além disso, no mesmo estilo dos candelabros, também com desenho e sob a orientação de Silva Pinto, bateu dois portões de ferro forjado para a entrada do museu da Faculdade.

E as encomendas da Faculdade de Letras não ficaram por aqui, pois em 1930, nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques estavam a executar-se umas artísticas ferragens para a porta do salão nobre do edifício e umas grades em estilo pombalino para as escadas do vestíbulo da reitoria. Anos mais tarde, em 1936, aquele imóvel ia ser revestido com uma grade de ferro, cuja execução fora confiada a Albertino Marques, a Daniel Rodrigues e a Jesus Cardoso.

Uma outra obra conjunta e de grande envergadura, a envolver quase todos os artistas mondeguinos do ferro, encontra-se relacionada com o edifício do Palácio da Justiça, a erguer-se na antiga e inacabada morada dos condes do Ameal.

Na sessão de 29 de Agosto de 1929, a Câmara Municipal de Coimbra apreciou um requerimento ... pedindo licença para proceder à vedação do Palácio da Justiça, com um muro e gradeamento. Mas, quase em simultâneo com o pedido, a imprensa noticiava que tinha sido aprovada a proposta conjunta dos serralheiros Lourenço Chaves de Almeida, António Maria da Conceição, Daniel Rodrigues, José Domingos Baptista e Albertino Marques, para a confeção de 106 metros de grade, 2 portões e várias pilastras destinadas à parte exterior das traseiras do imóvel.

Palácio da Justiça 01 Grade c.tif

Palácio da Justiça. Portão pormenor

... A vedação, que se andava a assentar em Agosto de 1930, é em ferro batido e a imprensa da época considerava-a como um dos mais artísticos trabalhos “que se têm executado nos últimos tempos em Coimbra, obedecendo à arquitetura do renascimento do século XVI, tão notável e abundante na nossa região e que tem servido de escola aos artistas contemporâneos” ... no ano seguinte (1931) Albertino Marques forjava, para o Palácio da Justiça, um novo portão em estilo renascença; concomitantemente, executava, no mesmo gosto, quatro candeeiros, destinados à iluminação do claustro superior ... para o salão nobre do tribunal, Albertino Marques e Daniel Rodrigues, coadjuvados por João Machado Júnior que modelou os bustos destinados a ser, posteriormente, executados em ferro forjado, bateram um lustre .

Conhecendo conclusão em fins de Junho de 1934, foram executados nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques quatro artísticos lampiões e as respetivas gárgulas de suporte.

Anacleto, R. 1999. Ourives Conimbricenses do Ferro na primeira metade do século XX. Conferência nas I Jornadas da Escola do ferro de Coimbra. In publicado Munda, n.º 40, p. 14-21

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por Rodrigues Costa às 18:32


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