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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 22.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 16

A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz

Na Praça da República, verdadeiro nó viário, convergem vários arruamentos e uma dessas artérias é a Rua Oliveira Matos, antes apelidada de Rua da Escola Industrial.

Fig. 22. Planta do Bairro de Santa Cruz. [AHMC. Di

Fig. 22 – Planta do Bairro de Santa Cruz. [AHMC. Diversos, maço 3, documento 2].

No começo da via, à esquerda de quem sobe, pode observar-se um edifício de dois pisos, caracteristicamente coroado por um friso de onde sobressaem merlões e ameias de inspiração árabe.

Casa neoárabe. [Foto RA]..JPG

Casa neoárabe. Foto RA.

Na zona cimeira, as aberturas apresentam a forma de arco ultrapassado e encontram-se inscritas em retângulos decorados com arabescos de gosto orientalizante; as janelas do andar térreo, que ladeiam a porta de entrada, embora geminadas, decorativamente, assemelham-se às do piso superior; por cima da porta evidencia-se uma varanda com gradaria de pedra lavrada no mesmo gosto. A completar a ornamentação da fachada sobressaem painéis de azulejo que imitam os sevilhanos.

Ignora-se o autor do risco, mas sabe-se que José de Mello Santos, o proprietário, é que solicita à Câmara a autorização para construir o imóvel e que, a 13 de janeiro de 1913, o vereador F. Vilaça, servindo de Presidente, aprova o projeto.

Fig. 23. Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA].jpg

Fig. 23 – Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA].

Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA] 02.JPG

Casa neoárabe, pormenor. Foto RA.

Comprova o que atrás se disse relativamente à utilização do gosto neoárabe na cidade o facto de, no perímetro abarcado por este trabalho, apenas encontrarmos este exemplar e o do início da Rua Lourenço de Almeida Azevedo.

Logo a seguir, afastando-se do tipo arquitetura Escola Livre e introduzindo um cunho de modernidade, Maximiano Augusto da Cunha, fundador do colégio de S. Pedro e professor na Escola de Santa Cruz que, como se referiu, fora riscada por Adães Bermudes, pouco depois de 1913, tomando como modelo uma vivenda semelhante existente no sul da França, faz erguer uma casa que se encaixa na gramática utilizada pela Arte Nova.

Casa Arte Nova.[Foto RA].JPG

Casa Arte Nova. Foto RA

A rodear a moradia, mesmo por baixo do beiral, desenvolve-se um friso pintado e decorado com lírios; este motivo repete-se no guarda-vento existente a fechar uma não muito grande caixa de escada com as paredes revestidas a escaiola.

Fig. 24. Casa Arte Nova. Caixa da escada. [Foto RA

Fig. 24. Casa Arte Nova. Caixa da escada. [Foto RA].

João Machado é o responsável pelas cantarias e pelo ferro forjado da sacada, provavelmente desenhados, tanto umas, como o outro, por António Augusto Gonçalves. O projeto do imóvel jamais foi encontrado e a família também desconhecia a sua existência ou paradeiro, mas trata-se de uma moradia a inserir-se como se disse, no gosto Arte Nova, cosmopolita e inusual na cidade, pois foge aos cânones vigentes e não se conhece, em Coimbra, arquiteto, engenheiro ou mestre-de-obras capaz de, naquela época, produzir um tal risco, a não ser Silva Pinto que nunca qualquer fonte apontou como responsável pelo projeto.

Fig. 25. Casa Arte Nova. Pormenor. [Foto RA].JPG

Fig. 25 – Casa Arte Nova. Pormenor. [Foto RA].

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

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por Rodrigues Costa às 11:41

Quinta-feira, 11.03.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 10

O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)

 Um pouco mais acima ergue-se a Escola de Santa Cruz.

Em 1904, quando o arquiteto Adães Bermudes veio propositadamente à cidade, a fim de estudar a possibilidade de alargar a escola de S. Bartolomeu e de ver o local onde, na então Rua Sá da Bandeira, se devia edificar a nova escola primária, não era a primeira vez que se pensava em fazer erguer, naquela área, um complexo escolar, pois a Câmara Municipal, na sessão de 25 de abril de 1889, dera o seu aval à planta do “grandioso edifício” que se projetava construir no novo Bairro de Santa Cruz para esse fim, embora pensasse em o levantar num largo que já estava terraplenado em frente ao jogo da bola, virado para os Arcos de S. Sebastião, ou seja, num dos lados da atual Praça da República.

O local apontado para edificar a chamada Escola de Santa Cruz, ao tempo da estada de Bermudes em Coimbra, situava-se na esquina da Sá da Bandeira com a Rua da Manutenção Militar; mas, para isso, tornava-se necessário, demolir “a casa esqueleto para exercicio dos bombeiros municipaes, e onde se encontra a estação principal do material de incendios”, estruturas construídas, como referi, havia muito pouco tempo. Além disso, tratava-se de um terreno que se localizava na freguesia da Sé Nova e se destinava a ali ser levantada a escola da freguesia de Santa Cruz. Ingredientes mais que suficientes para não tornar o assunto pacífico.

 

Adães Bermudes.jpg

Adães Bermudes

 O arquiteto Arnaldo Redondo Adães Bermudes (Porto, 1864.10.01-Sintra, 1948.02.18) é que se encarregou de elaborar, tanto o projeto da escola Central (escola de Santa Cruz), como o da ampliação da de S. Bartolomeu e acompanhou de perto os trabalhos, não só porque era inspetor das construções escolares, mas também porque havia sido galardoado com uma medalha de ouro na parisina Exposição Universal de 1900, onde expusera “umas magníficas plantas para escolas da instrução primária de ambos os sexos, conjunta ou isoladamente”; o alarife, de acordo com o que consta no seu processo [AHMOP], é responsável pelos projetos de cento e oitenta edifícios de escolas primárias construídas por todo o país.

Escola de Santa Cruz.jpg

Escola de Santa Cruz, 1922 c.

 … O edifício insere-se, apenas na zona central da fachada, dentro de um estilo neorromânico, fugindo aos posteriores massificados projetos de escolas riscados pelo arquiteto e que enxameiam o país. As arquivoltas que rodeiam o tímpano hemicircular, onde se inscreve um relógio aposto sobre vistosos azulejos decorativos atribuíveis, por comparação, ao ceramista conimbricense Miguel Costa, são interrompidas pelo escudo real rematado pela coroa que, talvez pela altura a que se encontra, escapou intacta aos ventos da implantação da República.

A colocação de relógios nas estações de caminho-de-ferro, nos grandes armazéns, nas fábricas, nas escolas e em espaços semelhantes tornou-se, no século XIX e nos inícios do seguinte, tão carismática como a utilização do ferro; eram eles que mantinham a disciplina, propagando a religião da hora exata e contrapunham um tempo tradicional, celeste e solar a um tempo pagão e tecnológico.

Fig. 15. Escola de Santa Cruz. [Foto RA].jpg

Fig. 15 – Escola de Santa Cruz. [Foto RA].

Escola de Santa Cruz. Pormenor. [Foto RA].jpg Escola de Santa Cruz, pormenor. Foto RA

 Em dezembro de 1907 o edifício já se encontrava terminado há cerca de um mês e sendo “o primeiro do paiz no seu genero, veio rematar lindamente as amplas ruas de Sá da Bandeira e Manutenção Militar, dando belleza e realce ao local onde se acha construido” e “ao empreiteiro sr. Manoel Alexandre Sellada, cabem louvores, por isso que, apesar de ter luctado com falta de recursos pecuniarios pela demora dos pagamentos, nos apresenta esse bello edificio com execução fiel da planta feita pelo distincto architecto sr. Adães Bermudes”. A Escola Central Primária de Santa Cruz recebeu os primeiros alunos em 1908.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 20:11

Terça-feira, 15.05.18

Coimbra: Hotel Astória 2

A Companhia de Seguros “A Nacional” ocupou ou seu edifício-sede até finais de outubro ou inícios de novembro de 1925 altura em que Alexandre de Almeida assina uma escritura de arrendamento com a seguradora, a fim de ali vir a instalar um luxuoso hotel. O contrato, com início no dia 1 de janeiro do ano seguinte, prolongava-se por 19 anos com a renda mensal de quatro mil escudos, reservando, a seguradora, três divisões no primeiro andar, a fim de lhe servirem de sede.

O jornal “O Despertar” escrevia na sua edição de 11 de novembro desse ano que “Coimbra fica agora ricamente servida de bons hotéis, nenhuma outra cidade havendo, além de Lisboa e Porto, que os possua em melhores condições de luxo e conforto”.

O conhecido empresário, a fim de “fazer a aquisição de mobiliário e outros artigos para o referido hotel” deslocou-se à Alemanha, embora tenha encomendado no Porto, à Casa Venâncio do Nascimento as cadeiras e as mesas e adquirido na mesma cidade os revestimentos de madeira das paredes, os apliques e o pavimento.

Mas a verdade é que o interior de um edifício que fora construído para servir de escritório não podia acolher, sem adaptações vultuosas, um hotel e, além disso, o espaço disponível não se mostrava suficiente para responder às necessidades.

Espaço a ser anexado.jpg

Espaço a ser anexado ao Hotel Astória

 O arrendatário recorreu, então, aos serviços do conhecido arquiteto portuense Francisco de Oliveira Ferreira, a fim de organizar e ampliar o futuro hotel que pretendia vir a colocar à disposição do público mondeguino, e não só.

Oliveira Ferreira nasceu no Porto em 1885 e faleceu em Miramar no ano de 1957. Diplomou-se em arquitetura na Academia Portuense de Belas Artes e exerceu uma intensa atividade naquela área ao mesmo tempo que se interessava por assuntos de arte e de arqueologia. Viajava frequentemente pela Europa, a fim de aprofundar os seus conhecimentos e marcou significativamente, com alguns dos trabalhos saídos do seu lápis, principalmente, as cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia. O artista “ficará, certamente, na história da nossa arquitetura como um caso de coerência no ofício e na arte de ser arquiteto em Portugal”.

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Edifício do Hotel Astória depois da intervenção de Oliveira Ferreira

 Obviamente que, para responder ao desafio de Alexandre de Almeida, não passou pela cabeça, nem pela mão de Oliveira Ferreira imitar, no exterior e na zona que ia acoplar ao edifício de “A Nacional”, o gosto eclético do pré-existente, mas conseguiu, utilizando embora uma linguagem completamente diferente, que o todo se mostrasse harmonioso e não chocasse.

A 28 de março de 1926 o Hotel Astória foi, finalmente, inaugurado e, tal como “O Despertar” noticiara podia considerar-se, “na altura como a catedral dos hotéis nacionais e internacionais”, porque a existência de uma central telefónica, do elevador, do aquecimento central ou do requintado e luxuoso mobiliário, o permitiam.

Da festa inaugurativa, abrilhantada pelo sexteto "Jazz Band César Magliano", constava um banquete (almoço) e um chá dançante (jantar). O evento foi considerado um verdadeiro acontecimento social.

O Hotel Astória que ainda na atualidade conserva o aspeto romântico da época da abertura e contém no recheio artístico e arquitetónico verdadeiras relíquias tornou-se, quase desde a sua inauguração, num ex-líbris de Coimbra e o edifício projetado a duas mãos, saiu, comprovadamente do lápis de Francisco Oliveira Ferreira e, com grande margem de segurança, do de Adães Bermudes.

 

Lisboa. Monumento aos Restauradores.jpg

 Lisboa. Monumento aos Restauradores. “Génio da Independência”. Alberto Nunes

 Ao longo dos tempos conheceu diversas campanhas de obras, com destaque para as realizadas em 1945, 1980, 1990 e 2002, esta última a contemplar também o exterior do hotel.

As intervenções de 1990 foram levadas a cabo na sequência da escolha do hotel para albergar Mário Soares, então Presidente da República, e a sua comitiva durante a “Presidência Aberta” que aconteceu na cidade; é que, durante 10 dias “a Presidência da República ficou instalada na Reitoria da Universidade de Coimbra (instituição a comemorar 700 anos)”, enquanto a comitiva pernoitou no Hotel Astória, então chamado pela população citadina de «Palácio de Belém da Portagem».

 

O Génio da Independência.jpg

 O “Génio da Independência”, emblema da Companhia de Seguros “A Nacional” decorou durante quase cem anos a fachada do Hotel Astória, mas sumiu…

 A Companhia de Seguros “A Nacional” tinha por emblema o “Génio da Independência”, escultura que se pode observar no monumento da Praça dos Restauradores, em Lisboa. O padrão, inaugurado a 28 de abril de 1886, consagra a Revolução de 1640 e Eça de Queirós, em «Os Maias», descreve-o como sendo “um traço cor de açúcar na vibração fina da manhã de Inverno”.

O Génio da Independência”, esculpido por Alberto Nunes (1838-1912) representa um jovem alado a quebrar as cadeias que o manietavam e a transportar a bandeira; a peça bastava, por si só, para fazer a reputação de um artista.

Durante quase um século, uma réplica em bronze do “Génio da Independência”, símbolo da companhia seguradora, ornamentou a fachada do conimbricense Hotel Astória, mas aquando de uma das obras de conservação, provavelmente das de 2002, levou sumiço, ou porque incomodava os donos do imóvel, ou porque a sua venda tornava passível minorar os custos da intervenção! Seria interessante conhecer o seu paradeiro…

Em 2011 o edifício do Hotel Astória passou a integrar a lista de monumentos de interesse público, classificados pelo Ministério da Cultura e foi-lhe fixada uma Zona Especial de Proteção.

 

Bibliografia:

ANACLETO, Regina, Neoclassicismo e romantismo, em História da arte em Portugal, vol. 10, Lisboa, Alfa, 1986.

Arquitectura, pintura, escultura, desenho. Património da Escola Superior de Belas Artes do Porto e da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Porto, Universidade do Porto, 1987.

BAIRRADA, Eduardo Martins, Prémio Valmor (1902-1952), Lisboa, Manuela R. de A. Martins Bairrada, 1988.

Construcção Moderna (A), Ano VII, 20, Lisboa, 212, 1907.02.01.

Despertar (O), 882, Coimbra, 1925.11.11.

Gazeta de Coimbra, 1823, Coimbra, 1925.11.19.

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/09/hotel-astoria-em-coimbra.html

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/09/companhia-de-seguros-nacional.html

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por Rodrigues Costa às 09:41

Quinta-feira, 10.05.18

Coimbra: Hotel Astória 1

Tendo, ultimamente, surgido nas redes sociais algumas notícias menos corretas sobre o edifício do Hotel Astória, iniciámos a publicação de uma série de 2 entradas que procuraram fazer luz sobre o mesmo.

 

O Largo da Portagem, bem como as atuais ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz nem sempre se apresentaram como atualmente as visualizamos. Já em 1813, Joaquim José de Miranda, arquiteto da Universidade, riscara algumas alterações destinadas a transformar o Largo (as mudanças deste espaço foram uma constante ao longo do tempo) e, anos depois, em 1857, o arquiteto João Ribeiro da Silva projeta a retificação da Calçada e da Rua de Coruche.

O Banco de Portugal, no âmbito dos princípios que norteavam aquela instituição, criara em Coimbra, a 03 de fevereiro de 1891, uma agência, mas pretendia fazer construir de raiz, a fim de a instalar, um edifício condigno.

Depois de analisados diversos locais onde o imóvel poderia ser erguido, a que se seguiu a costumeira polémica, os responsáveis optaram pelo Largo Príncipe D. Carlos, batizado, após a implantação da República, com o nome de Miguel Bombarda, para, finalmente, em 1942 virar definitivamente (espera-se) Largo da Portagem.

De riscar o projeto da sucursal bancária encarregou-se, em torno de 1907, o arquiteto Arnaldo Redondo Adães Bermudes (1864-1948) mais conhecido por Adães Bermudes, artista e que já apusera a sua assinatura na conimbricense escola de Santa Cruz construída, a partir de 1905, na Avenida Sá da Bandeira.

Não cabe, nesta entrada, analisar a problemática da construção nem a arquitetura da agência do Banco de Portugal. Fica para outra ocasião; e se a elas aludimos é porque pensamos que o arquiteto deste imóvel e o de parte do edifício onde se encontra instalado o Hotel Astória poderá ser o mesmo, como vamos tentar provar. Estamos a referir-nos à zona que ocupa a esquina da Avenida Emídio Navarro com a Rua da Sota, o mesmo que, num primeiro momento, foi construído para servir de sede à Companhia de Seguros “A Nacional”.

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 Largo da Portagem. Banco de Portugal e antiga Companhia de Seguros “A Nacional”

 A conhecida associação mutualista, apenas nacionalizada em 1975, foi fundada a 17 de abril de 1906 e tinha como objetivo principal fomentar a adesão aos seguros de vida. Com sede em Lisboa, primeiro na esquina da Rua do Alecrim com a Praça Duque da Terceire e, depois, na Avenida da Liberdade, iniciou em 1919 a construção da sua filial na cidade do Porto, na Avenida dos Aliados, com projeto do arquiteto José Marques da Silva.

A filial aeminiense julgamos que se ergueu um pouco antes, no Largo da Portagem, quase paredes meias com o Banco de Portugal.

Não conhecemos qualquer notícia relacionada com a construção do imóvel, nem com a sua inauguração, mas parece (e apenas apontamos a data, porque não a podemos fundamentar) que a sucursal conimbricense da Companhia de Seguros foi construída entre 1915 e 1919.

Analisando sumariamente a vastíssima produção artística de Adães Bermudes concluímos que este riscou, em 1907, para o dr. Guilherme Augusto Coelho, o projeto de um prédio construído em Lisboa, no ângulo da Avenida D. Amélia (atual Almirante Reis) com o Largo do Intendente; o edifício mereceu mesmo ser reconhecido com o prestigiado Prémio Valmor de 1908.

Lisboa. Confluência da Avenida.jpg

 Lisboa. Confluência da Avenida Almirante Reis com o Largo do Intendente. Adães Bermudes. Prémio Valmor 1908

 

Coimbra. Confluência da Avenida Emídio.jpg

 Coimbra. Confluência da Avenida Emídio Navarro com a Rua da Sota. Antiga sede da Companhia de Seguros “A Nacional”

 Ao compararmos a sede conimbricense da Companhia de Seguros “A Nacional” e o referido imóvel constatamos analogias irrefutáveis e não se torna credível que, estando ainda Adães Bermudes vivo qualquer outro artista, arquiteto ou não, se tenha atrevido a apor o seu nome num projeto que, obviamente, viria a ser considerado um plágio.

Atrevemo-nos, dadas as semelhanças existentes entre os dois imóveis, o lisboeta e o mondeguino, e pensando quer na vizinhança do Banco de Portugal, quer na escolha de renomados arquitetos para riscar as filiais da Companhia de Seguros, a atribuir a paternidade de uma parte do atual Hotel Astória a Adães Bermudes. Mas não passamos da atribuição, embora fundamentada.

 Bibliografia:

ANACLETO, Regina, Neoclassicismo e romantismo, em História da arte em Portugal, vol. 10, Lisboa, Alfa, 1986.

Arquitectura, pintura, escultura, desenho. Património da Escola Superior de Belas Artes do Porto e da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Porto, Universidade do Porto, 1987.

BAIRRADA, Eduardo Martins, Prémio Valmor (1902-1952), Lisboa, Manuela R. de A. Martins Bairrada, 1988.

Construcção Moderna (A), Ano VII, 20, Lisboa, 212, 1907.02.01.

Despertar (O), 882, Coimbra, 1925.11.11.

Gazeta de Coimbra, 1823, Coimbra, 1925.11.19.

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/09/hotel-astoria-em-coimbra.html

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/09/companhia-de-seguros-nacional.html

 

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por Rodrigues Costa às 09:17


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