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João Batista Ribeiro, no seu Inventário do Museu Portuense de 1839, regista «um estojo que contem um tinteiro de tartaruga marchetado d’ouro e madrepérola, que foi do uso de Fr. Bartholomeu dos Martires».
Escrivaninha, c. 1720-1747, tartaruga, madrepérola, liga de cobre e ouro. Museu Nacional
de Soares dos Reis (fot. José Pessoa IMC/ MC)
Mas já em 1838, no periódico O Panorama (1838: 122), se fizera referência a esta peça com essa associação ao nome do Arcebispo de Braga, acrescentando a menção a uma pena «com que se asignaram os decretos do concilio tridentino, monumentos curiosos doados a Sancta Cruz por D. Fr. Bartholomeu dos Martyres».
Igreja de S. Cruz. Santuário, onde a peça estava guardada
Dessa pena não volta a encontrar-se notícia, tão pouco do estojo a que alude João Batista Ribeiro. Trata-se de uma peça de produção italiana do século XVIII, construída em tartaruga, ornamentada com incrustações de motivos “chinoiserie” em ouro e elementos “rocaille”, grotescos e figuras alegóricas em madrepérola. Não é assinada, mas tem paralelos muito estreitos com peças da autoria de Gennaro e Giuseppe Sarao.
Foi apresentada na exposição de Arte Ornamental de 1882, sem classificação, mas já com a indicação de ter sido oferecida por Benedito XIV à Academia Litúrgica Pontifícia fundada em Coimbra em 1747.
Joaquim de Vasconcelos dedicou-lhe, em 1914, um breve estudo onde a classifica como trabalho francês, da corte de Luís XV e onde definitivamente deita por terra a associação ao concílio de Trento e a Frei Bartolomeu dos Mártires. Em 1998, a sua classificação foi revista por comparação com paralelos de outros museus, designadamente da Wallace Collection, tendo então sido datada do século XVIII e aproximada à produção da família Sarao.
A escrivaninha integra-se, desde 2001, no circuito da exposição permanente do Museu em articulação com peças de ourivesaria do Século XVIII.
Machado, A.P. A propósito de três itens de inventário. In: O Património Artístico das Ordens Religiosas entre o Liberalismo e a atualidade, n.º 3. 2016. Pg. 161-172.
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