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O vendedor de Cristos (Cliché de Joaquim Olavo)
O Homem dos Cristos passeava todas as ruas e becos da cidade sobraçando uma enorme quantidade de Cristos, trabalhados em barro, muito toscos, mas que conseguia vender depois ele os ter lambido todos, de alto a baixo, para provar que não largavam a tinta, que eram fixes como ele dizia. E quantas e quantas vezes nos atirava com o Cristo quase à cara e bradava num misto de raiva e de troça: quem me compra este diabo?!...
Poeta Maximiano Veiga (Cliché de Joaquim Olavo)
Maximiano Veiga, irmão do grande poeta operário Adelino Veiga, era um impagável ratão que se dedicava a compor guarda-sóis e a trabalhar em metal amarelo. Nunca lhe deu na bolha para fazer versos, troçava até do irmão nas
suas horas de bom humor, mas uma vez, como o Adelino Veiga não dispusesse de ocasião para escrever uma poesia que lhe tinha sido pedida pelo António Portugal, mais tarde o tenor Portugal, que fez parte da companhia do teatro da Trindade e foi morrer ao Pará, o Maximiano quis suprir a falta e saiu-se todo ancho com esta versalhada que ainda hoje corre de boca em boca:
Do rio Zêzere o Barão
É cunhado da liberdade;
Os soldados são fenómenos,
São filhos da santidade.
Vou cantar de Mahomerio,
Qu'as trombas do rhinoceronte
Cantigas do Oriente
Nas barbas do despautério,
Nas campas do cemitério
Norbargue de Norbão
Terrónicos do trovão
Famílicos da humanidade
E' um machucho da maldade
Do rio Zêzere o Barão.
…………………………………
…………………………………
?!...
O Pedra do Pifano
Agora mesmo acabo eu de ler que morreu o Pedro do pifano, supondo-se que envenenado pela mulher com quem vivia. Era galego e mudava de nome à medida que as gerações académicas lho trocavam. Para uns foi o Manuel da Sanfona, quando apanhou um par de bofetadas do lente dr. Pedro Penedo por se lhe pôr á porta cantando versos alusivos á sua pessoa, feitos expressamente pelos discípulos. Para outros foi o homem do realejo, por trazer um instrumento que há anos deixou numa tasca de Dameiras empenhado por meio litro de vinho... Agora era o Pedra do pifano, por se fazer acompanhar desse instrumento que tocava por qualquer preço. Como tivesse um grande reportório, o Pedro perfilava-se e perguntava com uma certa pose: – O que quer Vossa Senhoria que eu toque?! O Hymno dos Caloiros... diziam-lhe, por ser uma coisa que não existe... O Hymnodos Caloiros... dos caloiros... dos caloiros... começava ele entoando numa voz cantarolada que vinha a terminar com meia dúzia de sons arrancados desalmadamente do pifano e pronto… eis como executava todas as músicas que lhe pediam... Era um pobre diabo este Manuel Fortunato Lopes, usando do seu verdadeiro nome!
E julgo terminada assim a vasta galeria dos mortos.
– Se, entre eles, nos aparecem tipos interessantes, entre os vivos, que apontarei a largos traços, não os há, decerto, menos curiosos e menos dignos de estudo ...
O Manuel das Barbas (Cliché de Silva e Sousa)
É ver o velho litógrafo de sebentas, o conhecido Manuel das Barbas, que figurou no Centenário da Sebenta, e a quem com uma louvável antecedência fizeram já o epitáfio:
Aqui jaz Manuel das Barbas,
Trabalhou muito e bebeu…
Litografava «sebentas»,
Mas foi feliz…nunca as leu…
Monteiro, M. Typos de Coimbra, In Illustração Portugueza, 40, Série II, Lisboa, 1907.01.28.
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