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Prosseguindo na divulgação do texto do Professor Doutor Amado Mendes, inserido na brochura Abastecimento de água a Coimbra: Reservatório do Botânico, dedicamos esta entrada à referida estrutura, conhecida de muitos poucos.
Aquando dos primórdios do abastecimento domiciliário de água a Coimbra, cujo sistema primitivo foi instalado em 1888 e entrou em funcionamento em meados de 1889, como se disse já, foram construídos dois reservatórios: um na Cumeada (considerado o principal e que se mantém em funcionamento), destinado ao abastecimento da zona mais elevada da cidade; o outro (especial, segundo os termos do contrato), na Cerca de São Bento / Jardim Botânico, que desde há anos se encontra desativado.
Reservatório do Jardim Botânico, na atualidade. Foto RC
O primeiro, localizado a uma cota de108 m, era o principal e enquadra-se na classificação de grande, pois a sua capacidade ultrapassa os 5000 m3. Por seu lado, o segundo, a uma cota de 50 m, era de média dimensão, pois tinha a capacidade de 3000 m3.
Reservatório do Jardim Botânico (desativado) Op. cit., pg. 7
Como são raros os reservatórios enterrados desativados, o do Jardim Botânico é um belo exemplar do património industrial da água, pelo que se reveste da maior relevância histórica e científica, suscetível de despertar interesse no âmbito do turismo cultural, a nível não só local, mas também nacional e internacional.
No que toca à sua localização, verificou-se uma certa hesitação inicial, não só pela natureza da respetiva área (parte integrante do Jardim Botânico, com toda a carga histórica e científica), mas também pela pouca adequação do terreno ao fim em vista. Aliás, praticamente na altura em que o sistema de abastecimento de água a Coimbra estava prestes a entrar em funcionamento (primeira metade do ano de 1889), já se manifestavam preocupações acerca da consolidação da estrutura. Com efeito, pode ler-se em ata camarária, acerca de alguns aspetos do empreendimento:
«Consolidação dos terrenos, na cerca de S. Bento, junto à casa das máquinas, que ameaçavam desmoronar-se; colocação de um portão de ferro no Arco da Traição, para serventia do reservatório das águas das zonas média e baixa da cidade»". Numa outra ata volta a focar-se o assunto, apontando as deficiências: «não foram construídos anexos da casa das máquinas; os reservatórios perdem quantidades de água assinaláveis; o reservatório das zonas média e baixa [Reservatório do Botânico] está ameaçado por desabamento de terras; o terreno vizinho ameaça escorregar por não ter sido drenado; não funcionam os indicadores elétricos de níveis de água».
Op. cit., pg. 8
… Uma observação atenta do Reservatório do Botânico permite-nos observar, «in loco», parte do que geralmente é referido nas publicações da especialidade e, bem assim, na própria legislação que enquadra este género de estruturas.
Comecemos pelo exterior.
Aqui destaca-se uma pequena construção (em alvenaria e tijolo e com janelas), à qual o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra se referia como a "casa das máquinas", na qual estava instalado o equipamento de controlo do Reservatório. Embora de pequenas dimensões, uma vez que já não alberga equipamento e que acaba de beneficiar de obras de consolidação, manutenção e restauro, esta pequena “casa” pode ser utilizada pra diversas funções culturais: espaço de exposições permanentes ou temporárias), centro de interpretação (sobre o património hidráulico da cidade e do próprio Botânico, local de realização de atividades lúdico-pedagógicas, etc.).
No amplo espaço envolvente, de terreno com alguma vegetação e que pode bem ser ajardinado, para ali também se efetuarem eventos adequados, entre os quais exposições sobre temáticas diversas, observam-se pequenas estruturas, partes integrantes dos ventiladores / chaminés ou respiradouros. No total são 10, quatro um pouco maiores e seis mais pequenos.
A ventilação tem uma função importante na qualidade da água, processo muito antigo e que antecedeu. inclusive, o uso do cloro (começado a utilizar nos Estados Unidos da América em 1908 e que chegou a Portugal (a Coimbra e a Lisboa), em finais dos anos 1920", e para manter a pressão atmosférica.
Acerca do assunto, e como alerta dc prevenção, já foi escrito: «As coberturas dos reservatórios devem ser providas de uma ou mais chaminés de ventilação, a fim de que o nível da água fique sempre sob pressão atmosférica.
Interior do Reservatório do Jardim Botânico (desativado). Op. cit., pg. 9
Da casa das máquinas, por duas escadas íngremes e com espaço reduzido (inclusive na altura, relativamente à estrutura superior o que obriga a fazei algum exercício para as utilizar), tem-se acesso às duas células ou câmaras, simétricas e que ocupam uma área considerável, cujas dimensões apenas são devidamente perspetivadas quando se acede ao seu interior. Aquelas encontram-se em estado razoável de conservação, não obstante no teto já se notarem certas fendas que podem denotar alguma fragilidade, em termos de futuro.
As paredes laterais assim como a parede divisória entre as duas células são em alvenaria rebocada. Em cada célula ou câmara se encontram 6 pilares, também de alvenaria, sendo o de uma das células (a do lado direito, quando se entra pela porta principal da casa das máquinas) reforçado.
Em termos de tecnologia, pouco se encontra no local, salvo algumas canalizações e equipamento metálico de regularização do fluxo de água,
…. Em suma: trata-se de um espaço amplo que, caso venha a ser devidamente restaurado e consolidado, bem poderá servir não só para visita turística mas também para eventos culturais, como espetáculos de teatro, música ou dança, exposições, oficinas de atividades pedagógicas, etc.
Mendes, J.A. Abastecimento de água a Coimbra: Reservatório do Botânico. Sem data. Coimbra, Águas de Coimbra E.M.
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