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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 20.12.18

Coimbra: Personalidades Augusto de Carvalho Silva Pinto

O arquitecto Augusto de Carvalho da Silva Pinto nasceu em Lisboa a 7 de Maio de 1865 .... Depois de ter frequentado o “Instituto Industrial e Comercial de Lisboa”, matriculou-se, em 1882 … na “Escola de Belas Artes” e, seguidamente, inscreveu-se na especialidade de Arquitectura Civil, que integrava o curriculum daquela escola lisboeta.
Durante algum tempo leccionou no estabelecimento de ensino onde se havia formado e onde fora aluno brilhante, mas logo de seguida partiu para Paris, a fim de se valorizar e tomar contacto com as novas correntes estéticas … Regressou em 1895 e, logo depois, veio fixar residência em Coimbra, terra que adoptou como sua.

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Augusto de Carvalho Silva Pinto

Este facto revestiu-se de grande significado para a cidade, que se encontrava afastada dos grandes centros, fechada sobre si mesma, sem possibilidade de se desenvolver, e passou a dispor de um homem com concepções arquitectónicas modernas, capaz de colocar o seu saber ao serviço da comunidade.
Logo após a chegada e acumulando com outras tarefas, entra como professor para a Escola Industrial Brotero onde permaneceu, ensinando gerações, até atingir o limite de idade; além disso, integra-se na vida artística do burgo, que quase se reduzia só à Escola Livre das Artes do Desenho, fundada por Mestre António Augusto Gonçalves em 1878, e por todos os artistas e artífices que gravitavam em torno dela.
…Em 1904 o engenheiro Augusto Barbosa é encarregado pela municipalidade de elaborar o projecto [de urbanização da Quinta de S. Cruz]. Silva Pinto desenha a casa do Doutor Ferrand Pimentel de Almeida, a construir na Avenida Dias da Silva.
… A Universidade, a Câmara Municipal e alguns particulares utilizam os seus serviços. A primeira, a partir de 28 de Outubro de 1913, passa a pagar-lhe mensalmente 5$00 “por ser o superintendente das obras” , mas a municipalidade adiantara-se e no derradeiro ano do século XIX encomendou-lhe “o projecto de um mercado público destinado ao local onde se vê o de D. Pedro V”, cuja construção ocorrera em 1867 … Foi este, sem dúvida, o edifício mais ousado que Silva Pinto projectou para Coimbra. Todo em ferro, tijolo e vidro, seguia os moldes europeus …No entanto, apesar de se tratar de uma construção bem dentro dos parâmetros utilizados na época, embora dentro de proporções modestas, mas de acordo com os orçamentos disponíveis, a verdade é que … um dos jornais citadinos não se eximia de, para atacar o arquitecto, apelidar de “aquário” o pavilhão da venda do peixe.

Mercado D. Pedro V.jpg

Projeto não concretizado do Mercado D. Pedro V

… A primeira notícia conhecida e que nos fala da possibilidade de criar uma Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra remonta ao tricentenário da morte de Camões, ocorrido em 1880 … só trinta anos após a primeira tentativa, já então num quadro político e mental bem diverso, se veio a concretizar aquilo que o Doutor António Ribeiro de Vasconcelos considerava “uma necessidade urgente e inadiável”.
… O problema das instalações colocou-se de imediato à nova direcção; como consequência solicitou ao governo a cedência do terreno onde se andava a construir o edifício destinado ao Teatro Académico e que ocupava o sítio do antigo Colégio S. Paulo … Para riscar a nova casa universitária encarregaram o arquitecto Augusto de Carvalho da Silva Pinto … O Conselho da Faculdade aprovou as plantas e alçados do novo edifício a 31 de Julho de 1913 … Silva Pinto projectou uma fábrica que patenteava uma fachada equilibrada e harmónica, onde os volumes e o movimento provocado pelas aberturas, pilastras e colunas jogavam com a luz.
O espaço exterior do edifício apresentava uma forma entre o rectangular e o trapezoidal; quanto ao interior, embora ajustando-se ao fim a que se destinava, aproveitava algumas fundações do inacabado, ou melhor, mal começado, Teatro Académico.
… Bem ritmado, com o piso térreo de silharia de junta fendida e torreões marcados nas extremidades, a zona central do primeiro andar apresenta as aberturas vazadas no paramento e separadas por pilastras adossadas à parede ou por colunas duplas. A parte superior do vão das janelas oscila entre o arco de volta perfeita e o frontão triangular, para, numa liberdade criativa total, mostrar o lado inferior das ventanas colocadas nos pseudo-torreões a acompanhar os degraus da escada interior. Bem ritmado, com o piso térreo de silharia de junta fendida e torreões marcados nas extremidades, a zona central do primeiro andar apresenta as aberturas vazadas no paramento e separadas por pilastras adossadas à parede ou por colunas duplas. A parte superior do vão das janelas oscila entre o arco de volta perfeita e o frontão triangular, para, numa liberdade criativa total, mostrar o lado inferior das ventanas colocadas nos pseudo-torreões a acompanhar os degraus da escada interior.
… Lamentavelmente o projecto não se realizou tal como havia sido concebido. Construído ao longo de duas dezenas de anos, cedo mostrou a exiguidade de espaço. O arquitecto viu-se na necessidade de, no decorrer das obras, criar uma área maior dentro da estrutura prevista.

Antiga Faculdade de Letras. Início dos anos 40.jp

Antiga Faculdade de Letras da UC no início dos anos 40 do século XX

…De qualquer forma, a primeira Faculdade de Letras, no seu conjunto, expressava um maior gabarito do que a actual fachada da Biblioteca Geral, que, ao fim e ao cabo e despudoradamente, ainda se apoderou de grande parte das estruturas interiores.
… O amplo salão de leitura e a cúpula elíptica, de arrojado traçado, que o encimava, foram reaproveitados, embora a contextura de um mal amanhado tecto disfarce aquela composição; o mesmo aconteceu com o elegante vestíbulo e escadas de acesso.
Nem sequer tiveram dó dos belos portões de ferro forjado, dos magníficos lustres do mesmo material, dos lindos artefactos de talha que se encontravam portas a dentro e do grande vitral de manufactura italiana existente na vasta sala do Museu.
… O então Director da Faculdade de Letras, Doutor António de Vasconcelos, a 12 de Dezembro de 1914, escreveu-lhe uma carta a comunicar “que o Conselho da Faculdade de Letras, (...) em sessão hoje celebrada para inauguração da parte já concluída do seu edifício em construção, resolveu por unanimidade que se lançasse na acta um voto de louvor pelo zelo, saber, competencia e desvelado carinho com que VEx.ci fez o estudo da modificação e adaptação, para instalação da Faculdade de Letras, do antigo projécto do teatro académico, aproveitando quasi toda a obra que já se achava realizada; e com que tem dirigido superiormente os trabalhos de construção do mesmo edifício.
… Silva Pinto, ao longo dos anos que permaneceu em Coimbra não se desligou do quotidiano. Relacionado com a vida artística, pois, para além da sua actividade profissional esteve intimamente ligado com a Escola Livre das Artes do Desenho, com Mestre Gonçalves, com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, mais conhecido por Quim Martins, e ainda com os numerosos artistas saídos desses dois alfobres que foram as escolas da Torre de Almedina e a Brotero, andou também de braço dado com a política.
Pertenceu ao executivo municipal, exerceu o cargo de Governador Civil Substituto e, mais tarde, por discordar do sistema vigente instaurado após 1928, conheceu mesmo as agruras da prisão. Republicano convicto acabou por ser preso a 6 de Maio de 1930 e, embora libertado onze dias depois, foi-lhe imposta residência fixa em Tentúgal, até Agosto do mesmo ano.

Anacleto, R. e Policarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, Vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário, Coimbra, 1991, p. 327-346.

 

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por Rodrigues Costa às 10:44


2 comentários

De Anónimo a 20.12.2018 às 21:24

Que pena ter sido demolido.

De Anónimo a 20.12.2018 às 22:03

Inteiramente de acordo. Para mim, no que concerne à destruição da Alta a demolição da antiga Faculdade de Letras foi o pior do que já era, por si mesmo, mau.

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