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Como seria, porém, internamente, o orgulhoso alcácer? Não é fácil sabê-lo, por enquanto, atento o carácter limitado, em especial justamente no que respeita às áreas a norte da muralha, das intervenções realizadas no «Pátio das Escolas». Mas é certo que este flanco parece revelar a presença de estruturas habitacionais, ao mesmo tempo que a conservação dos rebocos no intradorso do trecho mural exumado sob o gigante da Capela … sugere, também aí, a existência de espaços habitados. Outro tanto sucederia a norte, provavelmente, como indicia a pequena «cloaca» da fachada (mesmo que a natureza da relação topográfica, entre o «ninho das águias» e o plano mais elevado, obrigassem certamente os construtores do alcácer a providenciar sistemas de drenagem)
… Por outro lado, no que respeita ao lanço de entrada, de acesso direto, como indicam os cubelos de flanqueio e porta dupla, seguramente, na tradição califal do séc. X, como impunha a existência de dispositivos internos de defesa, não parecem os «encontros» garantir aí espessura adequada à implantação de dependências … Porém, estrutura “marcadamente militar”, erguida numa cidade «submetida», confiada às ordens de um «qa’id» - como afirma o relator da conquista de Fernando Magno – e não, por certo, de um «governador», muito dificilmente ostentaria, em anos apesar de tudo recuados, a tipologia dita de «governo», palacial, mas essa outra, essencialmente «funcional», assente no pátio único central, em torno ao qual, apoiadas na muralha, se alinhavam as diversas dependências, característica, de facto, dos palácios omíadas, em cujo modelo se inspirava e dos «rubut» dos místicos guerreiros da «djihad» que, em fim de contas, na sua própria essência, fundamentalmente configuraria. Mas talvez, na verdade, se não assemelhasse a qualquer deles. De facto, persiste ainda, em redor do «alcácer de Qulumryya», a enigmática aproximação feita por Vergílio Correia e Nogueira Gonçalves entre o seu aparelho construtivo e o da própria cintura das muralhas urbanas, tradicionalmente atribuídas ao período romano. E talvez também por essa via seja possível precisar melhor o verdadeiro recorte da construção que nos ocupa.
Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 193 e 194
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