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A opção mais fácil seria tratar apenas o Condado Portucalense, desde o momento em que o imperador das Hispânias, Afonso VI (1096-1109), atribuiu o governo desse território a seu genro, Henrique de Borgonha, em 1096 ... Mas na verdade, a anterior ocupação do território e a sua perceção como unidade sociopolítica de contornos específicos tem origens em tempos mais antigos, remontando às presúrias dos séculos IX e X e à forma como as famílias a quem o território foi concedido para povoar e aquelas a quem a gestão «direta» desse mesmo território seria entregue viriam a relacionar-se, quer entre si, quer com o poder real asturo-leonês.
... Os tempos em que Portucale e Coimbra eram apenas terras concedidas em presúria a condes curialistas já nos alertam para um relacionamento muito próximo destas famílias com a monarquia vigente, dominando a região e os que nela se encontravam, consolidando unidades políticas embrionárias nas quais o reino de Leão viria a decalcar os futuros condados.
... A política de Afonso III parece ter encontrado os seus primeiros ensaios nas regiões da Galiza, Entre Minho e Douro e entre Douro e Mondego, provavelmente fruto da rapidez com que, nessas regiões, o esforço da conquista progredia no último quartel do século IX.
É assim que o encontrarmos, entre 868 e 878, acompanhando os progressos dos sucessos militares, a distribuir territórios de forma quase sistemática àqueles que virão a ser considerados os «fundadores» do domínio senhorial dos condados portucalense e conimbricense ... em 878, depois da conquista de Coimbra, entrega a região conimbricense a Hermenegildo Guterres, a quem se juntariam Godesteu, Ero e Diogo Fernandes, que acabariam, em conjunto, por marcar o condado conimbricense de forma indelével e por, união quase sistemática a mulheres da família de Vimara Peres, de Afonso Betotes e da monarquia asturiense, dominar muitos dos sucessos políticos daqueles anos, sobretudo os que se passavam junto da corte régia.
Este conjunto de famílias da alta nobreza dominaria consistentemente a região por quase século e meio ... Porto e Coimbra e as regiões circundantes assumiram então um papel importante como polos de atração de gentes, das populações vindas do Norte, num primeiro momento, e das que a eles se juntavam logo a seguir, chegadas do termo desses núcleos populacionais e suas regiões adjacentes.
A fundação de mosteiros e a dotação de igrejas constituíram outras importantes fontes de poder e de colonização.
... O crescente protagonismo destes nobres encontrou um dos seus expoentes máximos no envenenamento do rei Sancho I por Gonçalo Moniz, então conde de Coimbra e descendente de Hermenegildo Guterres ... as famílias condais de Coimbra acabaram por estabelecer alianças matrimoniais com as famílias de Entre Douro e Minho de tal maneira próximas que, fruto de acasos biológicos, acabam por predominar sobre as primitivas fundadores e aglomerar num só espaço de dominação social aquilo que começara por estar cindido em dois. O Condado Portucalense e o conimbricense, por força das alianças entre as famílias condais dos primitivos pressores, acabariam por se fundir insensivelmente num grande território dominado pelas mesmas famílias.
Branco, M.J. Antes da independência de Portugal. In Portugal e Espanha. Amores e desamores. Volume I. Coordenação de Matos, A.T., Costa, J.P.O. e Carneiro, R. 2015. Lisboa. Círculo de Leitores. Pg. 17 a 19, 28 a 32
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