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Nesta entrada e nas duas seguintes, voltamos ao trabalho do Doutor Francisco Pato de Macedo, Professor Aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no qual é contada, não só a história do retábulo-mor da Sé Velha de Coimbra, bem como feita uma pormenorizada descrição do mesmo.
O interior da Sé Velha de Coimbra revela a quem transpõe o seu portal. um contraste entre as pedras nuas e frias da construção do séc. XII e o brilho dourado do retábulo-mor que, como peça de ourivesaria, refulge no ponto para onde, invariavelmente, converge o olhar.
…. O primitivo retábulo da capela-mor da Sé Velha de Coimbra, dedicado à Virgem. foi mandado executar pelo Bispo D. Miguel Salomão, nos finais do séc. XII, e era composto por uma alma de madeira revestida a prata dourada.
Três séculos depois. o bispo-conde D. Jorge de Almeida não considerou este retábulo digno de uma Sé, com a ascentralidade e a importância da de Coimbra, nem dele próprio, enquanto seu bispo já que é sempre referido pela historiografia como verdadeiro príncipe da Renascença.
…. Enriqueceu a Sé com inúmeros objetos de ourivesaria sacra …. Dentre todos, destaca-se a magnífica custódia, de prata dourada, em estilo gótico, destinada às procissões do Corpo de Deus. Deve-se ainda a D. Jorge de Almeida a introdução do gosto pelos azulejos mudéjares, que mandou comprar em 1508, em Sevilha, e com que mandou revestir totalmente, pilares e muros do interior da Sé Velha. Aí se mantiveram, a deslumbrar os fiéis com o seu brilho, até que as obras de restauro, levadas a efeito de 1893 a 1902, com critérios hoje discutíveis, os retiraram.
…. A construção do retábulo revelou-se de tal modo dispendiosa que o bispo, por carta, de 9 de Novembro de 1499, instituiu uma confraria destinada a obter esmolas para esta obra. A fábrica da igreja catedral, não tinha, como afirma, rendas suficientes e a contribuição que, conjuntamente com o Cabido, havia dado, não era suficiente.
Esta carta determina a concessão de «privillegios, perdões e indulgencias» a todos aqueles que entrassem para a confraria.
…. Para o retábulo-mor da Sé Velha, optou D. Jorge de Almeida pelo gótico flamejante que a época considerava «moderno», por oposição ao novo estilo que se estava a introduzir que se denominava de «antigo» ou «romano».
…. [ao artista flamengo] Jean d'Ypres, vai ficar a dever-se o sumptuoso retábulo-mor da Sé Velha de Coimbra, hoje único entre nós, cuja data de início se desconhece, mas que deve ter sido concluído entre 1502 e 1508.
Os retábulos colocados em locais interditos aos fiéis e tornados invisíveis pela penumbra dos altares não se destinavam a ser contemplados, mas como afirma Germain Bazin «a constituirem como que uma oração permanente, fixa em imagens de que os fiéis só percebiam, ao longe, o brilho vago dos dourados e das cores».
Interior da Sé Velha de Coimbra. Imagem acedida em https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9_Velha_de_Coimbra
Para a Sé Velha de Coimbra foi executado um retábulo do mesmo tipo dos da Europa do Norte.
Retábulo-Mor da Sé Velha de Coimbra. Op. cit.
Macedo, F. P. O retábulo-mor da Sé Velha de Coimbra In: Actas do IV Simpósio Luso-Espanhol de História da Arte - Portugal e Espanha entre a Europa e Além-Mar. 1988. Coimbra, Universidade de Coimbra.
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