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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 14.07.16

Coimbra: O estudante de Coimbra e as suas tradições 1

No âmbito da Academia de Coimbra e naquilo que comummente dela se diz, desde sempre foi usada uma terminologia muito peculiar, como que procurando definir em conceitos formais algo que talvez não seja tão facilmente definível.

... um pequeno estrato da obra de Borges de Figueiredo:

“A Academia de Coimbra parece-se, em geral, com todas as academias do mundo; em particular, porém, não se parece com outra ... Nesta academia nunca houve distinções por línguas ... Mas houve sempre, mais ou menos a natural separação, em grupos, de estudantes da mesma província, formando os corpos mais unidos os ilhéus e os brasileiros

... O aluno da Universidade dizia: “Eu sou estudante de Coimbra”; estas palavras constituíam a sua divisa.

... na palavra de Antão de Vasconcelos e de José do Patrocínio ... O fidalgo e o plebeu, o rico e o pobre, igualmente uniformizados, entram na comunhão da vida académica, com o mesmo direito, com a mesma alegria, com o mesmo sentimento de posse ... Na igualdade que a capa e batina estabeleceu entre a mocidade universitária, reside o segredo do viço espiritual perpétuo de Coimbra.

... Um exemplo, dos muitos que poderemos enunciar, é a Sociedade Filantrópica Académica ... surgiu ... pela intuição solidária de um estudante madeirense, Feliciano Augusto de Brito Correia, quando este, corria o ano de 1849, implorou a proteção dos seus contemporâneos em favor daqueles a quem a falta de meios tolhesse o estudo.

... diz Antão de Vasconcelos “Era uma associação exclusivamente de estudantes e que formava por ano um certo número de colegas pobres, concorrendo com matrículas, mesadas, e demais despesas ... Não poucos se formaram em Portugal a expensas dessa associação.

... Ajudava os “Broeiros” ... estudante pobre das imediações de Coimbra, que recebia de casa em pequenas parcelas a alimentação: feijão branco, broa, orelha de porco, linguiça, etc., por mesada uns magros pintos para cigarros. Moravam sempre juntos e faziam bolsa com aqueles comestíveis para o mês ou semana.

A associação os socorria nas ocasiões de abrir e fechar matrículas.

Seus benefícios iam até ao que “andavam à lebre”.

Quando o estudante por estroina, jogador ou vagabundo perde as mesadas ... fica ‘à pauperibus’, como ali se diz. Então explora as repúblicas amigas. Almoçando aqui, jantando acolá, ceando além, dormindo com alguns amigos ou algures embrulhado na capa, até que melhorem os tempos e sopre a bonança.

Este estado é ali denominado ‘andar à lebre’,

Quando chegava ao conhecimento da Associação que algum companheiro ‘andava à lebre’, mandavam-lhe pequena quantia e logo abria uma subscrição, sem nunca declinar o nome do ‘caçador’. Era assim:

Um pegava no gorro, abeirava-se dos grupos ao cavaco e dizia: ‘Oh, coisas; deitai aqui o que quiserdes’. Toda a gente dava ... Feita a coleta, embrulhava-se a quantia em um papel; espreitava-se o tipo e logo que era encontrado, o portador descia o gorro pela cara abaixo, mascarando-se, e entregava-lhe o embrulho sem balbuciar palavra ... o ‘caçador’ não sabia quem lho dava e os académicos não sabiam para quem davam, mas sabiam a que fim se destinava.

Ribeiro, A. 2004. As Repúblicas de Coimbra. Coimbra, Diário de Coimbra. Pg. 79 a 85

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por Rodrigues Costa às 23:35


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