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Relativamente ao período que se segue à “Restauração”, damos a palavra ao Doutor M. Lopes d’Almeida:
“Na segunda metade do século XVII e na primeira do século XVIII... pode dizer-se que não houve modificações importantes na orientação dos estudos superiores em Portugal ... A corporação académica desviara-se do seu trilho normal e deixara tornar regulares e frequentes certos abusos prejudiciais às boas normas do ensino e à atividade docente.”
... A Universidade tinha então um avultado número de estudantes, que só o eram, os mais deles, por assim se designarem, e a atividade discente empregava-se sobretudo no jogo dos partidos e nas questões extraescolares.
O estudante limitava-se a escrever as “postilas” ditadas e rubricadas pelo mestre de modo a poder provar a sua frequência, mas esta formalidade era iludida frequentemente com a aquisição das “postilas” e a atestação de assiduidade comprovada por dois condiscípulos.
A assistência nas aulas tornou-se por vezes tão rara que no primeiro quartel do século XVIII se deixara quase totalmente de ler nas escolas, chegando os estudantes teólogos a preferir as lições nos seus colégios às da própria Universidade. Houve que obrigá-los a frequentar os gerais.
Uma grande parte dos estudantes só vinha a Coimbra para se matricular acostumados a provar os seus cursos ‘os mais deles sem residir nem cursar’ (as matrículas realizavam-se três vezes por ano: na abertura da Universidade a 18 de Outubro, a meio do ano escolar, e finalmente a 15 de Maio). O mal era já bastante antigo, pois que em Novembro de 1640 Filipe IV... entendia que a ‘causa principal de os estudantes serem menos curiosos procede da falta que os lentes proprietários fazem na lição de suas cadeiras’.
Como só havia exames nos últimos anos e a matéria sobre que versavam era conhecida muitas vezes com antecedência, faziam-se então os estudantes lecionar para esse efeito por um graduado, na generalidade um doutor. Assim, ‘qualquer estudante, por mais ignorante que fosse, podia aspirar ao doutoramento’.
Para obviar à falta de residência dos estudantes ordenou-se que se fizessem duas matrículas incertas... medida não resultara... É que aos estudantes chegava sempre notícia do primeiro dia de tais matrículas, e prevenidos por pressurosos correios pagos apresentavam-se no momento preciso.
Esta irregularidade de frequência escolar corria parelhas com as turbulências provocadas pelos estudantes na cidade, que se agrupavam para cometer os maiores excessos, cuja repressão teve de ser violenta e tenaz.
Em 1648, 1651 e 1671, várias provisões tentaram expungir os escândalos originados pela vida ociosa e libertina dos estudantes, que persistiam ainda na primeira metade do século XVIII, em andar de dia e de noite com capotes por toda a parte, com espadas e outras armas debaixo do braço.
... ‘que todo e qualquer estudante que por sua obra ou por palavra ofende a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos’
Ribeiro, A. 2004. As Repúblicas de Coimbra. Coimbra, Diário de Coimbra. Pg. 36 a 38
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