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Na anterior entrada referimos o recente trabalho do Professor Doutor José Amado Mendes, intitulado O património industrial e os museus: que relação?
Vamos seguir esse texto, a fim de compreender o que se entende por património industrial.
O património industrial é um novo bem cultural e um dos patrimónios emergentes. A sua grande relevância corresponde ao significado dos fenómenos históricos a que está indissociavelmente ligado, isto é, a Revolução Industrial, o processo de industrialização e o desenvolvimento da tecnologia.
… O património que nos foi legado pela industrialização é imenso … A sua diversidade é enorme e passa, entre outras, pelas seguintes modalidades: estruturas… equipamentos … aquivos, fotografias e relatos orais … meios de transportes e comunicações.
… Álvarez Areces: «A arqueologia industrial como matéria que estuda, investiga e defende a preservação do património industrial está-se convertendo num movimento cultural e social que amplia, dia a dia, o marco estrito de uma disciplina académica»
… O património industrial tem dado um excelente contributo à museologia, em especial à chamada nova museologia, intimamente associada à profunda renovação dos museus, à “criatividade renovada”, iniciada nos anos de 1970 e que se acelerou na década de 1980.
Texto que é ilustrado com as seguintes imagens.
Op. cit. Pg. 68
Op. cit., pg. 69
Op. cit., pg. 70
O Autor prossegue para, no final do artigo, apresentar as seguintes conclusões:
A evolução política, socioeconómica e cultual das comunidades, desde meados do século XX, induziu os decisores, investigadores, professores e agentes culturais a prestarem mais atenção aos vestígios e testemunhos do desenvolvimento económico, ao longo do tempo. Consequentemente, a noção de património cultural ampliou-se de forma significativa, passando a englobar novos aspetos da realidade, de entre os quais se tem destacado exatamente o património industrial.
… Simultaneamente com a valorização e preservação do dito património industrial foi criada, a partir dos anos de 1950, um novo “território” de pesquisa e ensino-aprendizagem, a Arqueologia Industrial. Esta, cujo objeto é precisamente o mencionado património industrial, tem por função o estudo e divulgação, bem como a sua salvaguarda, requalificação e reutilização de bens culturais de índole industrial, no sentido genérico da expressão e sem restrições cronológicas rígidas.
As repercussões desse novo olhar para os bens culturais de índole industrial fizeram-se sentir, por exemplo, no mundo académico – investigação, ensino-aprendizagem e publicações especializadas –, no turismo, especialmente no turismo cultural, e nas políticas e estratégias de gestão cultural, urbanística e ambiental.
No âmbito da museologia – sobretudo na “nova museologia” – os efeitos foram de grande monta e muito contribuíram para a criação ou atualização de elevado número de instituições museológicas, designadamente museus, ecomuseus e centros de interpretação. Em muitas circunstâncias, tem-se também optado pela musealização e preservação in situ de ambientes industriais, mineiras ou relacionados com os transportes e comunicações.
Importa reter esta conclusão e, pensamos, as fotografias que seguidamente publicamos encontram-se em consonância com os conceitos atrás enunciados.
A primeira mostra as primitivas instalações, onde, na Rua da Alegria, os elétricos eram reparados e, inicialmente, guardados.
Primitiva oficina e recolha dos elétricos, nas instalações da R. da Alegria
A segunda apresenta a fachada exterior dessas mesmas instalações, quando ali funcionava o Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra.
Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, exterior
Por último, reproduz-se um pequeno desdobrável do Museu, então elaborado.
Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, desdobrável. Col. Vítor Rochete
Tudo o que ficou dito permite-nos colocar uma questão: a musealização e a preservação dos carros elétricos e da oficina onde eles eram reparados “in situ” é, ou não adequada? Tanto uns, como a outra, fazem parte do património histórico da cidade.
A resposta é, para nós, óbvia.
Rodrigues Costa
Mendes, J.A. 2022. O património industrial e os museus: que relação? In: Revista Memória em Rede, Pelotas, v.14, n.27, Jul/Dez 2022. Pg. 59-84.
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