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A participação na vida política da Cidade
A vivência plena da cidadania e das responsabilidades que ela implica levaram-no mais tarde a ser consequente consigo próprio e a candidatar-se às eleições autárquicas, tendo sido logo eleito pelos seus concidadãos para desempenhar o cargo de presidente da Câmara Municipal de Coimbra, entre Janeiro de 1983 e Dezembro de 1985.
Mendes Silva, campanha autárquica. 1982, autocolante. Acervo Braga da Cruz
Nesta altura, Mendes Silva imprimiu ao poder local democraticamente eleito a sua forma peculiar de estar no mundo e de liderar a autarquia, sob o lema significativo: “Por Coimbra Tudo – Mãos à Obra”.
Mendes Silva, campanha autárquica. 1982, entrevista. Acervo Braga da Cruz
A rotina de trabalho diário que desenvolveu à frente dos destinos do município ficou célebre e era impressionante, uma vez que introduziu o hábito de ser o presidente da Câmara o primeiro a chegar às instalações municipais para começar a trabalhar.
Mendes Silva, campanha autárquica. 1982, na baixa coimbrã. Acervo Braga da Cruz
No entanto, sigamos as suas declarações numa entrevista que prestou à revista do semanário Expresso: “Entro aqui pela seis, seis e um quarto da manhã. O porteiro chega às sete com as mulheres da limpeza e a primeira equipa de trabalho vem às oito. A essa hora já tenho tudo orientado, as reuniões preparadas.
Mendes Silva, Presidente da Câmara, no gabinete de trabalho. Acervo Braga da Cruz
Depois é o dia todo, com dezenas de encontros e, muitas vezes, almoço apenas um prego. À noite, invariavelmente, volto depois do jantar para estar ou com a vereação ou com a papelada.
Mendes Silva, Presidente da Câmara, numa inauguração com o Presidente da República, Ramalho Eanes. Acervo Braga da Cruz
O horário de deitar é (era) marcado pelo noticiário do Pedro Cid. Aliás, nem ao domingo este meu hábito muda: vou então às freguesias.” Assim sendo, podemos afirmar que à visão europeia que há muito possuía de cidade deve ser acrescentada uma extraordinária capacidade de trabalho, de tal forma que sabemos hoje que Coimbra lhe deve imensas iniciativas e projetos de obra que não cabem elencar no âmbito do objeto e da restrita economia deste texto, as quais só não foram concretizadas no seu mandato devido aos enormes constrangimentos, políticos e financeiros, do Portugal anterior ao processo de integração europeia. Com efeito, é justo recordar que Mendes Silva exerceu o seu mandato autárquico até ao final de 1985, o que significa que só no ano seguinte é que Portugal aderiu à então designada Comunidade Europeia. Neste sentido, só a partir de 1986 é que os municípios passaram a ter facilitado o acesso ao financiamento europeu em condições únicas, e de um modo quase ilimitado, para os municípios com capacidade de apresentar e concretizar projetos. Não obstante, entregou a coordenação de um novo plano-Diretor para a cidade a Costa Lobo, então um dos maiores especialistas portugueses em urbanismo. Pretendeu também impulsionar um “novo 'plano de água' para o Mondego, frente à cidade, da reconstituição da Académica à reconstrução das indispensáveis infraestruturas hoteleiras da cidade, da preservação do património da 'baixa' ao crime que foi a construção da Cidade Universitária...” Mas voltemos a apreciar, uma vez mais, o seu estilo de liderança e o fervilhar da sua criatividade política e, sobretudo, a procura de perspetives diferentes para equacionar e resolver os problemas de Coimbra: “No outro dia meti-me numa avioneta e fui sobrevoar a cidade. Lá em cima vieram-me à cabeça uma dúzia de projetos. Agora, no papel, estou a concretizá-los, a ver onde são possíveis ou não. Depois, hei de voltar à avioneta.” (cf. José Manuel Fernandes – O Presidente de Coimbra, in Expresso, Lisboa, 13 de Agosto de 1983, p. 19).
Jorge Manuel Pais de Sousa. Cidade e Académica, em Fernando Luís Mendes Silva. Ensaio sobre um perfil de um dirigente desportivo. Texto inédito preparado para as comemorações dos 120 anos da AAC.
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