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No âmbito do estudo da simbologia heráldica de D. Jorge de Almeida consideramos relevante atentar no seguinte excerto de António de Vasconcelos a propósito do cortejo deste prelado à saída do paço episcopal para a Sé:
Armas de D. Jorge de Almeida no retábulo da Sé Velha de Coimbra
“Era espectaculosa e digna de se ver (…) acompanhado de uma guarda militar, o alferes de D. Jorge, vestindo huma cota darmas forrada de setim roixo, com as armas do bispo sobre damasco branco e cremezim, aprumado no seu cavalo, hasteava o balsão – hum estandarte de damasco verde alionado branco e cremezim, com uma cruz douro e armas do bispo.(…) cercado dos seus familiares e creados e seguido da sua gente de armas, montado em formosa e nédia mula branca, quase inteiramente coberta pelas ephíppias e strágula pontifícias de cor violácea, e vistosa pelos belos arreios guarnecidos de seda aveludada, brochados e chapeados de prata, onde se divisavam finamente buriladas e muitas vezes repetidas as armas dos Almeidas e dos Silvas, encimadas de uma mitra ou pelo chapéu pontificial.
Trazia o bispo-conde sôbre a sotaina rôxa um comprido roquete de finíssimo linho, que lhe descia abaixo dos joelhos; aos ombros a capa-magna de cameloto violáceo com o capelo forrado de alvíssimas peles de arminhos, afagadas pela cabeleira do prelado; na cabeça o chapéu solene, de lã preta, com a parte inferior forrada de seda verde, e longos cordões da mesma côr a descerem dos lados do chapeu, caindo sôbre o peito, a cuja altura se bifurcavam uma, outra e outra vez, elaçando-se e enxadrezando-se, ornados de borlas ou frocos de seda verde em todos os pontos de união (…)”
Selo heráldico de D. Jorge de Almeida retirado de Abrantes, Marquês de. O estudo da sigilografia medieval Portuguesa
A partir deste excerto é evidente todo o aparato heráldico que rodeava este prelado, cuidadoso na composição, cor e simbologia de todas as peças que tanto ele como a sua comitiva ostentavam. Não poderia haver uma mensagem de poder mais manifesta e é interessante ver aqui a perpetuação da mitra enquanto símbolo episcopal. Conforme se mencionou, no caso português esta peça terá um protagonismo acentuado durante um maior período de tempo que noutros locais da Europa, sendo símbolo episcopal por excelência. Ainda assim, o chapéu eclesiástico tem já um papel preponderante, inclusive como elemento envergado pelo antístite no decorrer do cortejo. Uma vez mais confirmamos também, a propósito do gallerum, a utilização do negro forrado a verde, mais uma particularidade portuguesa, uma vez que já aqui se verificou ser unicamente o verde, a cor designada para representar os bispos. O efeito desta exibição de poder associado à imagem do prelado era avassalador para quem observava, algo patente na continuação do excerto acima transcrito:
Armas de D. Jorge de Almeida na Pia Batismal da Sé Velha de Coimbra onde se verifica, alternadamente, a utilização da mitra e do chapéu eclesiástico
… “À passagem do prelado toda a gente se ajoelhava, e ele de olhar meigo, de sorriso bondoso nos lábios, ergendo a dextra com o dedo indicador ornado de hum anel que tinha duas esmeraldas, quatro rubis e uma çafira, abençoava lentamente, com os dois dedos estendidos, os seus súbditos devota e humildemente prostrados numa quase adoração.”
Santos, M.M.D. 2010. Heráldica eclesiástica - Brasões de Armas de Bispos-Condes. Dissertação de Mestrado em História da Arte, Património e Turismo Cultural apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Acedido em 2918.05.22, em
https://www.academia.edu/1118570/Heráldica_eclesiástica_Brasões_de_armas_de_bispos-condes
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