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Quando este Inventário [dos Ornamentos e Joias da Igreja de Sant’Iago de Coimbra, em 1697] foi feito, acabavam de ter lugar as transformações do edifício, se é que não decorriam ainda as obras finais.
Igreja de Santiago, capela gótica
Igreja de S. Tiago, capitel da abside
Ao tempo era a paróquia de Sant’Iago uma das mais prósperas da cidade, em franca ascensão demográfica e económica. De 1528 a 1640 os batismos não cessam ali de apresentar um «crescimento de pendor acentuado», o que bem exemplifica o seu aumento populacional. É a freguesia de Coimbra que maior número de contribuintes apresenta.
Igreja de Santiago, interior
…. Seria portanto, talvez a mais rica igreja paroquial da cidade, participando no fervilhar de vida que se desenrolava em torno da velha praça, o que necessariamente se refletiria no número e qualidade de alfaias litúrgicas e outros objetos ou peças próprias do mobiliário de um templo sede de freguesia.
É isso o que parece depreender-se deste inventário de 1607, que se pode considerar exaustivo e merecedor de inteira fé. Porém, uma análise atenta do documento em breve levará à conclusão de que a riqueza se fica mais pela quantidade do que pela qualidade. Com efeito, apesar da quantidade de panos, algumas pratas e outros pertences aqui arrolados, que riqueza era a de uma igreja onde apenas havia duas caldeirinhas, sendo uma de latão e outra de barro, uma cruz processional, uma naveta …? E se assim era numa das paróquias mais abastadas de Coimbra, como seria nas mais pobres, nas paróquias rurais?
…. Aliás, e como é natural, as peças mais utilizadas nas funções de culto são aquelas que se encontram representadas em maior quantidade. Tal é o caso dos sete cálices que deveriam ser todos lisos, à exceção de um «com flores no pé» e outro porventura o mais interessante, com «o vaso a modo de pinha, obra antiga» … tinha quatro [custódias], das quais uma era do tipo de custódia-cálice. Também as coroas de imagens, fechadas ou abertas, são motivo para delicado trabalho … Em maior número são, porém, os relicários. Estes podiam assumir os mais diversos formatos e composições.
…. Extensa é a informação fornecida pelo inventário no que toca a tecidos, abarcando todo um acervo de fatos de imagens, toalhas, paramentos e outras peças de uso litúrgico …. Abundam cortinas, véus de altar e outros panos … O tecido mais utilizado nestas peças é, sem dúvida, o tafetá e o damasco, logo seguido pelo veludo. Mas havia também muitos outros desde a estopa e estopinha ao chamalote, à bombazina, damascos e damasquilhos, brocados, brocatéis e brocadilhos. Não faltam os panos da Índia – sedas, damasquilhos, brocadilhos, tafetás – nem alguns com nomes pitorescos, como o bertangil, o bocaxim e a primavera.
…. Um dos aspetos mais interessantes do inventário é o que diz respeito às variadas peças e móveis da guarnição da igreja. Por ele sabemos que existia um órgão de cinco registos, no coro alto … Não faltam as campainhas, estantes de altar, sacras, alâmpadas e galhetas, nem os castiçais, tocheiros e candeeiro das Trevas.
Arco de Santiago
O Arco de Santiago, mostrado no desenho de Jorge da Cruz Jorge, foi erguido no final do séc. XVIII e demolido nos últimos meses de 1858, por ocasião do alargamento e retificação da antiga rua do Coruche, hoje rua Visconde da Luz. Ligava o edifício da Misericórdia, construído sobre a Igreja de Santiago, aos antigos “açougues da Praça”, incendiados pelas tropas francesas aquando da terceira Invasão. A reconstrução do arco aconteceu pouco antes do seu arrasamento.
Para eventuais interessados: o trabalho aqui citado termina com a transcrição do Livro do Tombo, no qual são enumerados e descritos todas as propriedades e bens da Igreja de S. Tiago, no final do século XVI.
Borges, N.C. 1980. O Inventario dos Ornamentos e Joias da Igreja de Sant’Iago de Coimbra, em 1697. Coimbra, Instituto de História da Arte. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
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