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O Arquivo da Universidade de Coimbra apresenta mensalmente um documento do seu vasto e riquíssimo espólio.
No Boletim do mês de agosto deu a conhecer a interessante folha do rosto do Hymno dos Quintanistas de Direito do anno de 1876 a 1877.
PT/AUC/COL/SG – Salema Garção (COL); Documentos Relativos a Coimbra (SR) - cota AUC – VI-3.ª-1-2-28
A imagem do documento é enriquecida com o seguinte texto explicativo:
A despedida dos alunos da Faculdade de Direito, no seu último ano de curso, 5.º ano, em 1876-1877, foi marcante no conjunto de todas as manifestações congéneres. Foi assinalada por uma récita de despedida e por um hino em cuja autoria participaram os dois condiscípulos, o elvense António Simões de Carvalho Barbas e o brasileiro, natural do Rio de Janeiro, António Cândido Gonçalves Crespo1.
Ambos os autores, um na colaboração musical e outro em colaboração poética, manifestavam já o que haveria de ser a sua vida futura, em que não singraram tanto pela carreira do direito, mas sim pela artes.
Efetivamente Simões de Carvalho que adotaria o nome de Carvalho Barbas, viria a ser professor da cadeira de Música que estava anexa à Capela da Universidade, lecionando a partir de 1888, sendo também o fundador, nesse ano, da Estudantina Académica.
Estudantina de Coimbra no ano de 1888 (Photo Moderna. Porto)
Quanto a Gonçalves Crespo, que já era casado com a poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho, quando estudante, percorreria junto com sua mulher uma carreira literária e a animação do seu próprio salão literário, até falecer tísico, prematuramente, tendo apenas 37 anos, em 1883. Neste salão conviveram escritores ilustres como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, etc.
Muitas das récitas de finalistas2 tinham lugar no Teatro Académico que existia no local onde hoje se encontra a Biblioteca Geral e onde antes estivera edificada a antiga Faculdade de Letras.
Colégio real de S. Paulo Apóstolo. Fachada norte (Des. de Giacomo Azzolini)
Sebastião Sanhudo, apontamento de «As festas do Centenário de Camões em Coimbra», in “O Sorvete”, Porto, nº 157, 14.05.1881.
Mas os alunos deslocavam-se também para Teatros fora de Coimbra, no sentido de angariar pecúlio que lhes permitisse organizar as suas festas de finalistas ou contribuir para atos de filantropia. Não esqueçamos que foi com o contributo de donativos angariados com récitas do Orfeão Académico que, em 1882, foi possível inaugurar a construção do primeiro Jardim Escola João de Deus, em Coimbra.
Jardim Escola João de Deus em construção
Este bifólio, de quatro páginas, do qual se apresenta a folha de rosto, contém a partitura para piano, com indicação das vozes e coro, que foi regido por Simões Barbas. É hoje um raro exemplar, pois estes folhetos apenas sobreviveram na posse de bibliófilos e amantes das tradições coimbrãs, como é o caso do colecionador Eng.º Salema Garção que o doou ao Arquivo da Universidade, integrado num acervo conimbricense3.
Por último, uma chamada de atenção para o belo trabalho litográfico, com motivos vegetalistas e grinaldas de flores pendentes, muito ao gosto da época. É visível uma pasta de estudantes, fitada, e decorada, podendo interpretar-se que seja a “pasta de luxo” que começou a ser usada, no final do séc. XIX.
PT/AUC/COL/SG – Salema Garção (COL); Documentos Relativos a Coimbra (SR) – cota AUC – VI-3.ª-1-2-28. Pormenor
Pasta de luxo de um quartanista de Direito. 1934 (Coleção particular)
1 Foi já divulgado um exemplar desta récita de sua autoria, existente na BGUC. Foi representada no Teatro Académico, intitulada Phantasias do Bandarra, e ficou registada na exposição A Universidade de Coimbra e o Brasil: percurso iconobibliográfico. Coimbra: IUC, 2010. p. 176.
2 SILVA, Armando Carneiro da – «As Récitas do V ano». Arquivo Coimbrão (1955), vol. 13, pp. 149-281.
3 PAIVA, José Pedro (coord.) - Guia de Fundos do Arquivo da Universidade de Coimbra. Coimbra: IUC, 2015, pp. 150-151.
Hymno dos Quintanistas de Direito do anno de 1876 a 1877 / Música de A. Simões de Carvalho; Poesia de A. Gonçalve[s] Crespo. Coimbra: Lith. Academica, 1877.
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