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A' Cerca de Coimbra



Quarta-feira, 25.08.21

Coimbra: Hino dos Quintanistas de Direito do ano de 1876 a 1877

O Arquivo da Universidade de Coimbra apresenta mensalmente um documento do seu vasto e riquíssimo espólio.

No Boletim do mês de agosto deu a conhecer a interessante folha do rosto do Hymno dos Quintanistas de Direito do anno de 1876 a 1877.

Hino.jpg

PT/AUC/COL/SG – Salema Garção (COL); Documentos Relativos a Coimbra (SR) - cota AUC – VI-3.ª-1-2-28

A imagem do documento é enriquecida com o seguinte texto explicativo:

A despedida dos alunos da Faculdade de Direito, no seu último ano de curso, 5.º ano, em 1876-1877, foi marcante no conjunto de todas as manifestações congéneres. Foi assinalada por uma récita de despedida e por um hino em cuja autoria participaram os dois condiscípulos, o elvense António Simões de Carvalho Barbas e o brasileiro, natural do Rio de Janeiro, António Cândido Gonçalves Crespo1.

Ambos os autores, um na colaboração musical e outro em colaboração poética, manifestavam já o que haveria de ser a sua vida futura, em que não singraram tanto pela carreira do direito, mas sim pela artes.

Efetivamente Simões de Carvalho que adotaria o nome de Carvalho Barbas, viria a ser professor da cadeira de Música que estava anexa à Capela da Universidade, lecionando a partir de 1888, sendo também o fundador, nesse ano, da Estudantina Académica.

Estudantina de Coimbra em 1888 (Photo Moderna. Por

Estudantina de Coimbra no ano de 1888 (Photo Moderna. Porto)

Quanto a Gonçalves Crespo, que já era casado com a poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho, quando estudante, percorreria junto com sua mulher uma carreira literária e a animação do seu próprio salão literário, até falecer tísico, prematuramente, tendo apenas 37 anos, em 1883. Neste salão conviveram escritores ilustres como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, etc.

Muitas das récitas de finalistas2 tinham lugar no Teatro Académico que existia no local onde hoje se encontra a Biblioteca Geral e onde antes estivera edificada a antiga Faculdade de Letras.

Alçado Norte.jpg

Colégio real de S. Paulo Apóstolo. Fachada norte (Des. de Giacomo Azzolini)

Teatro Academico. Palco.jpg

Sebastião Sanhudo, apontamento de «As festas do Centenário de Camões em Coimbra», in “O Sorvete”, Porto, nº 157, 14.05.1881.

Mas os alunos deslocavam-se também para Teatros fora de Coimbra, no sentido de angariar pecúlio que lhes permitisse organizar as suas festas de finalistas ou contribuir para atos de filantropia. Não esqueçamos que foi com o contributo de donativos angariados com récitas do Orfeão Académico que, em 1882, foi possível inaugurar a construção do primeiro Jardim Escola João de Deus, em Coimbra.

Jardim Escola em construção.jpg

Jardim Escola João de Deus em construção

Este bifólio, de quatro páginas, do qual se apresenta a folha de rosto, contém a partitura para piano, com indicação das vozes e coro, que foi regido por Simões Barbas. É hoje um raro exemplar, pois estes folhetos apenas sobreviveram na posse de bibliófilos e amantes das tradições coimbrãs, como é o caso do colecionador Eng.º Salema Garção que o doou ao Arquivo da Universidade, integrado num acervo conimbricense3.

Por último, uma chamada de atenção para o belo trabalho litográfico, com motivos vegetalistas e grinaldas de flores pendentes, muito ao gosto da época. É visível uma pasta de estudantes, fitada, e decorada, podendo interpretar-se que seja a “pasta de luxo” que começou a ser usada, no final do séc. XIX.

Hino. Pormenor.jpg

PT/AUC/COL/SG – Salema Garção (COL); Documentos Relativos a Coimbra (SR) – cota AUC – VI-3.ª-1-2-28. Pormenor

Pasta de luxo 03 a.jpg

Pasta de luxo de um quartanista de Direito. 1934 (Coleção particular)

1 Foi já divulgado um exemplar desta récita de sua autoria, existente na BGUC. Foi representada no Teatro Académico, intitulada Phantasias do Bandarra, e ficou registada na exposição A Universidade de Coimbra e o Brasil: percurso iconobibliográfico. Coimbra: IUC, 2010. p. 176.

2 SILVA, Armando Carneiro da – «As Récitas do V ano». Arquivo Coimbrão (1955), vol. 13, pp. 149-281.

3 PAIVA, José Pedro (coord.) - Guia de Fundos do Arquivo da Universidade de Coimbra. Coimbra: IUC, 2015, pp. 150-151.

Hymno dos Quintanistas de Direito do anno de 1876 a 1877 / Música de A. Simões de Carvalho; Poesia de A. Gonçalve[s] Crespo. Coimbra: Lith. Academica, 1877.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 19:15


14 comentários

De Anónimo a 26.08.2021 às 21:46

Um artigo sobre um tema da
cidade de Coimbra, que é muito interessante, bem elaborado e ilustrado.

De Anónimo a 26.08.2021 às 22:19

Obrigado pelo seu comentário.
Rodrigues Costa

De Anónimo a 03.10.2021 às 10:13

Já ao longo de alguns anos, quando procuro algo sobre Coimbra, o buscador acaba por me trazer a este blog. É incrivel... seja em imagens seja em informação. Tanta informação! Tanta! Mesmo sobre pequenos pormenores, que não são do conhecimento geral, aqui estão certos e precisos. Quem sabe sobre Simões Barbas? Por acaso eu sei. Mas é claro que quase ninguém.
Por várias vezes me tentei em escrever para saber se me poderia tirar alguma curiosidade de um assunto ou de outro. Mas não sei como contacta-lo.
Quem é na verdade o autor deste Blog?
Sinto muita curiosidade, confesso.

De Anónimo a 03.10.2021 às 10:38

Bom dia
Obrigado pelas suas palavras.
Sou Rodrigues Costa. Resumindo. Comecei a trabalhar na Biblioteca Municipal aos 16 anos, a secretariar o Dr. José Pinto Loureiro. Fui Diretor de Departamento de Cultura da Câmara de Coimbra, Diretor de Marketing da ESTA-Gestão de Hotéis e consultor das Organização Mundial de Turismo.
Os últimos 20 anos da vida ativa foram dedicados ao Ensino Superior, tendo publicado três livros sobre gestão hoteleira. Depois de reformado dediquei-me ao blogue e à investigação histórica, voltando ao princípio da minha vida profisional. Publiquei nestes últimos anos Enxofães. Mais de mil anos de história (a aldeia onde vivo) e Murtede. O concelho que foi a freguesia que é.
Agora estou a trabalhar na história da Casa dos Pobres. No blogue vou respigando textos das minhas leituras sobre a minha cidade de Coimbra. Espero ter satisfeito a sua curiosidade.
Rodrigues Costa

De Anónimo a 03.10.2021 às 11:37

Sim Senhor! Obrigada :-)

Já agora, vou abusar um bocadinho: O Colégio Moderno de Coimbra, inicio do sec.XX, na Quinta da Cumeada. Por acaso tem ideia onde seria? Vi no seu blog que a Cumeada sería na zona da rua Gil VIcente...

De Anónimo a 03.10.2021 às 13:27

Boa tarde de novo
Confirmo o que refere sobre o Colígip Moderno. Se passar pelo Bairro da Cumeada, ainda o pode ver, perto da cantina da Faculdade de Economia.
Rodrigues Costa

De Anónimo a 03.10.2021 às 15:10

É um edificio grande a ficar em ruinas?

De Anónimo a 03.10.2021 às 17:06

Boa tarde
Julgo que é esse edifício.
Rodrigues Costa

De Anónimo a 03.10.2021 às 11:39

Esqueci-me de identificar: Ana Amado

De Anónimo a 03.10.2021 às 13:28

Obrigado Ana Amado
Com consideração, o
Rodrigues Costa

De Anónimo a 03.10.2021 às 11:21

Bom dia!

Também sou fã da "cerca" :)

Existe outro exemplar deste Hino no Museu Académico de Coimbra que fotografei e coloquei em notação electrónica, pode ouvir aqui:

https://galaxiasonoracoimbra.blogspot.com/2020/02/hymno-dos-quintanistas-de-direito-de.html

O prof de música da UC e maestro da Tuna ficou mais conhecido como "Simões Barbas" ... Há já várias coisas online sobre ele no tauc.net >> https://tunauc.wordpress.com/arquivo/bau-de-memorias/arquivo2/antonio-simoes-de-carvalho-barbas/

Eu creio que a construção do primeiro Jardim Escola João de Deus em Coimbra foi com o Orfeon do Joyce em 1910 (entre os dois orfeons passaram 27 anos).

Abraço
A. Caetano

De Anónimo a 03.10.2021 às 13:24

Caro A. Caetano
Agradeço as suas achegas.
Visitei o blogue que me fez o favor de indicar e penso que é uma excelente entrada.
Na realidade o Orfeon Académico foi determinante para a construção do primeiro Jardim Escola João de Deus.
Orfeon que também teve um papel importante na Casa dos Pobres.
Com consideração, o
Rodrigues Costa

De Anónimo a 04.10.2021 às 20:27

Sim mas não foi o Orfeon de Arroyo em 1882. Na construção do 1.º Jardim Escola João de Deus foi o Orfeon de António Joyce - pós 1909.

Alfredo Fernandes Martins (1893 -1965)
https://tunauc.wordpress.com/2020/11/25/alfredo-fernandes-martins-1893-1965/
foi orfeonista e tuno nos anos 20 e anos mais tarde creio que esteve ligado à casa dos pobres e a TAUC tambem participou em espectáculos de beneficência...

Abraço
A. Caetano

De Anónimo a 04.10.2021 às 22:04

Caro A. Caetano
Tem razão. Aliás existem fotografias da inauguração do Jardim Escola João de Deus.
Alfredo Fernandes Martins foi, nomeadamente: enquanto estudante e republicano um dos principais responsáveis pela “Tomada da Bastilha”; Presidente da Associação Académica e da Tuna Académica. Depois: Administrador do Concelho de Coimbra, Comissário da Polícia, Presidente da Comissão de Defesa e Propaganda de Coimbra. Advogado, poeta e um orador de excelência.
Esteve ligado à Casa dos Pobres desde o seu início em 1935 e foi Presidente da Direção desde 1940 até à sua morte em 1965.
Tenho dúvidas quanto à data do seu nascimento. Encontrei um auto de polícia que refere 1885. Se puder destrinçar entre 1983 e 1985, agradeço a ajuda.
Rodrigues Costa

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