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Já tivemos ocasião de chamar a atenção dos nossos leitores para a obra do Doutor Marco Daniel Duarte, atualmente, diretor do Museu do Santuário de Fátima e do Departamento de Estudos da mesma Instituição religiosa, bem como do Arquivo e da Biblioteca. Também dirige o Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima.
Investigador de grande gabarito, historiador probo, doutorado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi mais um de entre os seus mais brilhantes alunos que a Cidade não soube reter, “obrigando-o” a demandar outras paragens, onde, pela qualidade do seu trabalho desenvolvido, tem demonstrado a importância da investigação histórica, investigação essa que aqui poderia – e deveria - ter desenvolvido em Coimbra. É este o trabalho que vamos divulgar.
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra: Ícone do Poder. Ensaio iconológico da imagética do Estado Novo. Capa
Como refere no prefácio a Professora Doutora Regina Anacleto foi realizado no contexto avaliativo da disciplina de História da Arte Contemporânea, por si, então regida, acrescentando, nomeadamente: "O objetivo do livro … passa pela tentativa (bem conseguida) do estudo da obra de arte plena, através da análise de diferentes perspetivas que englobam, para além de outras, a abordagem biográfica dos artistas, bem como a inserção do imóvel no contexto social, a fim de entender mais intimamente a obra de arte na sua totalidade. Por isso procura olhar, interpretar e ver o imóvel da cidade universitária aeminiense representado por imagens e tenta “perscrutar a obra feita no seu sentido mais ínfimo que escapa ao observador, mais apressado”.
Edifício da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Op.cit., pg. 20
Iremos realizar a divulgação deste trabalho, procurando seguir as partes em que se encontra dividido e que correspondem a uma imaginária delimitação do todo da obra estudada, em cinco espaços que a constituem, cada um sob uma epígrafe.
As quatro esculturas (Barata Feyo esculpe Safo, Tucídides, Aristóteles e Demóstenes ou A Poesia, A História, A Filosofia e A Eloquência)
A ideia de que as edificações das faculdades da cidade universitária são meras linhas retas sem interesse arquitetónico-artístico desfaz-se com o olhar pra a fachada de qualquer uma das construções, principalmente quando se olha a frontaria da Faculdade de Letras.
Praça da Porta Férrea, onde se implanta o edifício da Faculdade de Letras, cujo fácies se geminou na fachada da Biblioteca Geral. Op. cit., pg. 17
Na verdade, a fachada do edifício fica longe de se resumir às quatro linhas que delimitam as arestas da frontaria do «caixotão».
A clareza arquitetónica da construção leva a considerar os seus (poucos) ornamentos como essenciais no discurso que se quis edificar. Op. cit., pg. 25.
… o acesso àquela casa do saber não é feito de maneira fácil. Na verdade, não teremos certezas que a fachada se abra, acolhedoramente, aos que percorrem a Via Larga. Parece-nos que o trajeto é o oposto: será o interessado que fará o esforço para penetrar no edifício das Letras. Essas barreiras – se não arquitetónicas, no mínimo, psicológicas – foram criadas desde a Rua Larga até ao interior do edifício. A primeira meta a passar é a das quatro estátuas que, enfileiradas, habitam de forma muito segura (até, rígida) elevando-se ao nível superior do tamanho humano, a frontaria entre a zona de circulação e o espaço que se começa a perceber como dedicado ao estudo.
As esculturas de Salvador Barata Feyo perfilam-se como primeira barreira urbanística que faz distinção entre espaços: o da Praça da Porta Férrea e o átrio dos que pertencem ao Ensino das Letras. Op. cit., pg. 28.
Demóstenes incarna a Eloquência. Op. cit., pg. 29.
Aristóteles ou a Filosofia. Op. cit., pg. 32
A História representada em Tucídides. Op. cit., pg. 33
Safo, a Poesia, foi, entre as esculturas de Barata Feyo para a Faculdade de Letras, a que gerou mais polémica. Op. cit., pg. 34
Pela sua temática não é difícil conotá-las com o mundo grego e se Barata Feyo naquele mundo houvesse procurado a inspiração, para a técnica e formulários escultóricos, tê-lo-ia feito nas rígidas esculturas dos «koroi» e das «korai» gregas. Elas possuem, inclusivamente, o hieratismo típico da escultura egípcia. Tem interesse notar que as estátuas estão tão apartadas do mundo mortal que o escultor não tem pejo em representar o corpo feminino da Poesia com os dois seios desnudados. Não obstante esta particularidade, nada naquela figura roça o erotismo e, nem mesmo, a sensualidade.
Duarte, M.D. 2003. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra: Ícone do Poder. Ensaio iconológico da imagética do Estado Novo. Prefácio de Regina Anacleto. Coimbra, Câmara Municipal.
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