Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 24.10.19

Coimbra: Espada de D. Afonso Henriques levada do Mosteiro de Santa Cruz 3

A espada de Afonso Henriques, que hoje se guarda no Museu Militar do Porto, tem uma dimensão simbólica que ultrapassa largamente a sua dimensão física que, aliás, é surpreendentemente maneirinha, à luz das descrições daquele que a empunhava, que seria homem para medir nada menos do que 10 palmos, ou seja, muito mais do que dois metros.
…. Segundo a lenda, esta espada, juntamente com o escudo de Afonso Henriques, teria sido levada, como amuleto protetor, por D. Sebastião para a desastrosa incursão de Alcácer Quibir, mas teria ficado esquecida no barco que transportar o rei ao lugar que lhe serviria de sepultura.

Espada AH ArquivoPitoresco_1861_256.jpg

Desenho da espada de D. Afonso Henriques. In: Arquivo Pitoresco. 1861

A revista Arquivo Pitoresco publicou, em 1861, a gravura que encima esta nota, acompanhada por um texto onde se conta a história da misteriosa espada de Afonso Henriques. Aqui fica.

«Foi esta a espada que libertou Portugal da dependência de Castela; que conquistou aos moiros Lisboa, Santarém, Palmela, Leiria e outras terras; a que fundou em Ourique a monarquia portuguesa.
Até à extinção das ordens religiosas, a espada de D. Afonso Henriques conservou-se junta ao seu túmulo na capela-mor de Santa Cruz de Coimbra; depois foi transferida para o museu do Porto; onde se acha, e ali foi tirado o desenho que hoje apresentámos.
É sabido que el-rei D. Sebastião, quando partiu para a desastrosa jornada de África, levou a espada e o escudo de D. Afonso Henriques. Não tendo, porém, desembarcado estas armas, quando a armada regressou ao reino foram estes dois monumentos restituídos ao convento de Santa Cruz. É isto o que afirmam os nossos antigos cronistas.
… Do modo por que estas armas saíram de Santa Cruz, é que há documento e testemunhos autênticos. Eis o que diz D. Nicolau de Santa Maria na Crónica dos Cónegos Regrantes:
«Depois de ter assistido no dia 20 de Outubro de 1570 a um doutoramento na universidade, passou D. Sebastião a visitar as sepulturas de D. Afonso Henriques e D. Sancho. O prior-mor lhe mostrou a espada de D. Afonso Henriques, a qual tomou D. Sebastião, e com grande veneração a beijou, dizendo aos fidalgos da sua comitiva: «Bom tempo em que se pelejam com espadas tão curtas! Esta é a espada que libertou todo o Portugal do cruel jugo dos mouros, sempre vencedora, e por isso digna de se guardar com toda a veneração». E entregando-a ao prior geral de quem a recebera, lhe disse: — «Guardai, Padre, esta espada, porque ainda me hei-de valer dela contra os moiros de África».
Passados oito anos, lembrado el-rei destas palavras, a mandou pedir ao geral de Santa Cruz … Desse fac-simile é que é o traslado que vamos apresentar.

D. Sebastião 01.jpgD. Sebastião

«Padre geral e convento do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Eu el-rei vos envio muito saudar. Eu me tenho publicado em haver de fazer por mim com ajuda de Nosso Senhor uma empresa em África, por muitas e mui grandes razões, mui importantes ao bem de meus reinos, e de toda Espanha, de que também resulta benefício à cristandade, o que me pareceu escrever-vos assim para encomendardes ao Nosso Senhor o bom sucesso desta empresa, que por seu serviço faço, como para vos dizer que desejo levar nela a espada e escudo daquele grande e valoroso primeiro rei deste reino D. Afonso Henriques, cuja sepultura está nesse mosteiro, porque espero em Nosso Senhor que com estas armas me dê as vitórias que el-rei D. Afonso com elas teve. Pelo que vos encomendo muito que logo mas mandeis por dois religiosos desse convento que para isso elegereis. E como eu embora tornar, as tornarei a enviar a esse mosteiro, para as terdes na veneração e guarda que é devido a cujas foram, e por tudo. E por aqui entendereis que as não quero senão emprestadas para o efeito a que vou, e de quão grande contentamento isto é para mim. Escrita em Lisboa a 14 de Março de 1578. — Rei.”

Espada do glorioso rei D. Afonso … e uma caixa p

Espada dita de D. Afonso Henriques, último quartel do Século XVI ?; aço; 99,5 x 14,5 cm. Inv. N.º 1 Div Museu Nacional de Soares dos Reis/ em dep. No Museu Militar do Porto (fot. José Pessoa IMC/ MC)

… “Recebida esta carta, mandou logo o padre prior limpar a espada do glorioso rei D. Afonso, e fazer-lhe uma bainha de veludo, com sua ponteira de prata doirada, e uma caixa preta em que fosse metida com sua chave, e fechadura doirada; e outra caixa preta em que fosse o escudo do mesmo santo rei, para irem estas armas com mais resguardo e veneração, e as mandou … a el-rei, o qual as recebeu com grande gosto e contentamento, dizendo, que se Deus lhe dava a vitória que esperava, prometia de fazer canonizar o glorioso rei D. Afonso, como já o intentara fazer el-rei João III seu senhor e avô.”

Neves, A.A. 2016. A Espada de Afonso Henriques. Acedido em 2019-09.17, em https://araduca.blogspot.com/2016/05/a-espada-de-afonso-henriques.html

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 21:40


16 comentários

De Anónimo a 25.10.2019 às 12:37

Espero que o obejctivo destes artigos não seja baixar ainda mais a auto-estima da cidade. É que neste caso não se justifica.
A espada referida não é a de D.Afonso Henriques.

De Anónimo a 25.10.2019 às 18:02

Caro Senhor/a Anónimo

Ao fim de 636 entradas e de 207 comentários ao trabalho que neste blogue venho desenvolvendo desde maio de 2015, na divulgação de documentos sobre a história da nossa Cidade, surge um comentário que na minha opinião é não só indelicado como injusto.
Indelicado porque não me conhecendo, por certo, o Senhor/a Anónimo mais não faz do que um processo de intenção em ordem a quem, ao longo da sua vida, algo deu à cidade que tanto ama e que continua a procurar engrandecer na limitação das suas capacidades.
Despropositado porque, em minha opinião, o comentário que faz assenta numa leitura, no mínimo, pouco atenta dos textos divulgados. É evidente que o que está em causa não é a espada ter sido ou não usada por D. Afonso Henriques. O que está causa são dois factos: o simbolismo da mesma; e o ter sido levada do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra sem qualquer justificação pertinente.
Rodrigues Costa

De Anónimo a 27.10.2019 às 21:22

Peço desculpa pelas palavras que utilizei.

De Anónimo a 27.10.2019 às 22:16

Obrigado.

De Anónimo a 26.06.2020 às 00:48

Mas a constatação de factos é indelicada em que sentido?
O artigo de maneira alguma desorgulha ou põe em causa o bom nome de Coimbra.

De Anónimo a 26.06.2020 às 12:44

Nada mais quero acrescentar ao que já disse. Por mim o assunto está encerrado.
Rodrigues Costa

De Anónimo a 03.05.2021 às 12:05

Lendo vosso (inteletual pelejamento e dita humildade no reconhecimento de erro) ate voltei a sentir-me jovem E em alma vi talvez pela primeira vez a (velha Garra Portuguesa) tao aclamada pelos nossos pais e avos!
Grande mesmo deve ser a alma portuguesa quando algo tao simples fez mais que qualquer politico ou professor...
Nossa Historia e antiga e como quem (reza o pai nosso) tao acostumado esta que nem entende o que diz so o diz sem o pensar.
P.S.
Este deve ser o alto do meu dia e ja agora para referencia tenho 41 anos e sou dos acores.
Com todo o respeito pelos desconhecidos camaradas um GRANDE BEM HAJA !!!

De Anónimo a 03.05.2021 às 18:37

Obrigado pelo seu comentário
Rodrigues Costa

De Rui Santos a 26.10.2022 às 14:09

Seria, pelo tamanho, uma espada cerimonial. Chamou-me a atenção o tamanho da espada de D. Dinis, retirada do túmulo no dia em que escrevo estas linhas, para ser recuperada e protegida. É realmente bem mais pequena do imaginava. No fundo, trem o tamanho que deve ter para manejo. A espada de D. Afonso Henriques que conhecemos pode ter sido forjada apenas para usar em cerimónia e até pode ter sido oferecida ao rei. Dada a sua extensão e as características do punho, não parece ser uma espada fácil de manejar.

De Anónimo a 26.10.2022 às 15:00

Obrigado pelo interessante comentário. Também, fiquei admirado com o tamanho da espada de D. Dinis. Deixo para os especialistas na matéria o esclarecimento destas dúvidas.
Rodrigues Costa

De António Mendonça a 27.10.2022 às 18:00

No minha opinião, a espada que consta na fotografia será uma espada renascentista ou gótica tardia, não tem as características de uma espada do século XII. Escudo e espada do túmulo de D. Afonso Henriques, provavelmente seriam de aparato ou mesmo para uso exclusivamente funerário (como alguns elmos e escudos, que eram colocados sobre os sarcófagos) , daí que não teriam nem a dimensão, nem a leveza, nem a simplicidade das armas usadas em combate. O que é um facto é que infelizmente esses artigos se encontram desaparecidos para sempre. Como não foi autorizada (infelizmente) a abertura do túmulo do nosso primeiro Rei, não sabemos com certeza o que lá se encontra dentro. Além disso, no texto antigo não refere se a espada e escudo estavam dentro do túmulo, ou se já guardados à parte no Mosteiro. Como o Rei a devolveria para veneração, deduzo que estivesse exposta. Abraços cordiais para todos.

De Anónimo a 27.10.2022 às 19:44

Chamo a sua atenção para a resposta que acabo de publicar, ao post de João Santos que comentou o post "Coimbra: Espada de D. Afonso Henriques levada do Mosteiro de Santa Cruz 3 às 15:46, 27/10/2022", sendo certo que o tumulo já foi aberto diversas vezes e existe descrição do que lá se encontrou. Lembro que o tumulo primitivo estava fora da Igreja, à entrada.
Rodrigues Costa

De António Mendonça a 28.10.2022 às 11:01

Obrigado Sr. Rodrigues Costa.
Eu referia-me à última tentativa de abertura tentada levar a cabo pela Doutora Eugénia Cunha em 2006, não autorizada pelo Ministério da Cultura de então. Com os meios científicos actuais, seria possível confirmar se os restos no túmulo são de facto de D. Afonso Henriques, além de outras informações como estatura, eventualmente doenças e feridas ou qualquer artefacto que se pudesse encontrar no interior... Vamos aguardar que isso aconteça.. Bom fim de semana para todos.

De Anónimo a 28.10.2022 às 12:03

Caro António Mendonça
Esperemos que tal investigação e venha a realizar.
Obrigado.
Rodrigues Costa

De joao santos a 27.10.2022 às 15:46

Obrigado pelos ensinamentos sobre Coimbra.
Uma pergunta de leigo. No túmulo de Dom Afonso Henriques, não pode estar a espada que normalmente usava? Alguma vez foi feita inspecção radiográfica? Aberto, creio que não deixaram... certo? Abraço

De Anónimo a 27.10.2022 às 19:30

O tumulo de D. Afonso Henriques já foi aberto diversas vezes, a última das quais a mando de D. Miguel.
Desta existe uma descrição pormenorizada que pode ler em "O Conimbricense", n.º 3548, de 1881. Esta tema já tinha sido tratado por Joaquim Martins de Carvalho em 1874, em "O Conimbricense" n.º 2814, 2819. Jornais que pode consultar na Biblioteca Municipal de Coimbra.
A propósito. Continua-se à espera que a Câmara Municipal de Coimbra, cumpra a sua decisão de digitalizar este jornal, cuja única coleção completa existe na referida Biblioteca.

Comentar post



Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Outubro 2019

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031