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A' Cerca de Coimbra



Segunda-feira, 21.03.16

Coimbra e as suas personalidades: Ti Luís Latoeiro

Manuel Antunes de Carvalho, nasceu em Condeixa-a-Nova … a 12 de Dezembro de 1919 … conhecido, sobretudo, pelos nomes de “Luís Antunes” ou “Ti Luís Latoeiro” … filho de uma família tradicional e abastada … (em que) diz terem havido “18 latoeiros, dos quais só resta ele”.
Era filho de Raúl Antunes Xavier que foi Conservador no Registo Predial de Condeixa … e neto materno de António Pinho de Carvalho, famoso latoeiro do Bordalo, Santa Clara … e neto paterno … apesar de “compreensivelmente”, constar da sua certidão de nascimento a informação que é neto paterno de “avô incógnito” … do famoso Dr. João Antunes mais conhecido pelo “Padre Boi” … Padre, licenciado em Direito e Teologia, conservador do registo predial, professor, escritor, músico e compositor…
Muitos traços do avô, não só físicos mas também de personalidade, aplicam-se ao neto. Ele era uma espécie de espelho mais antigo vindo de outra época, com outras ideias e sensibilidades.
… A sua casa, em Cernache, tem normalmente, a porta entreaberta facilitando a visita habitual de inúmeros amigos … imediatamente percebemos que estamos perante um artesão respeitado e considerado por todos. As paredes estão repletas de documentos, fotografias, diplomas e homenagens que contam histórias de 80 anos de profissão e de quase 90 de vida … “Manuel Antunes de Carvalho, o último dos latoeiros”. É nas traseiras desta casa … que tem a sua oficina – a latoaria, onde continua a passar horas a fio. Nas suas paredes estão inúmeros moldes alguns “com mais de cem anos”, conta.
E por Cernache ficaria, adotando esta terra como sua e elevando o seu nome através da sua nobre arte que já dominava como poucos. Trabalhando e participando em feiras, exposições e outros eventos.
… Exigente e comunicador por excelência, para Manuel Antunes de Carvalho, ensinar a sua arte era uma alegria. Tal como afirma sem hesitar, “ser Artesão tem de ser uma paixão. Uma dedicação” … entregou-se de corpo e alma à arte … exímio na sua arte. Fazia trabalhos que poucos latoeiros se atreviam a fazer, devido à sua complexidade, exigiam uma técnica muito apurada e levavam muito tempo a realizar … cada vez que um utensílio não lhe saía como desejava, esmagava-o imediatamente à martelada.
… possui uma cultura literária elevada e, talvez por isso, é detentor de uma prosa vibrátil e vernácula, que embeleza as cenas pertencentes a um passado que consegue valorizar, a cada conversa …
A latoaria era a sua vida, a música a sua grande paixão e ficou mesmo conhecido em muitos lugares por onde passou, como “fadista de Coimbra” … Curiosamente, só começou a cantar depois do 25 de Abril de 1974 mas cantou por todo o país … Músicas como “A Senhora da Serra”, “O meu menino é de oiro” ou “Subi ao céu” eram algumas das canções que faziam parte do seu repertório … Para além do fado, cantava baladas que ninguém conhecia, pois, eram do seu avô e muitas não ficaram escritas.

Um breve acrescento:

No exercício das minhas funções no Departamento de Cultura da Câmara de Coimbra tive ocasião de conviver com o Ti Luís.
Homem por inteiro e um artesão de grande mérito.
Sempre disponível, sempre ansioso de fazer mais e melhor, sempre desejoso de ensinar a sua arte, nomeadamente, às crianças.
Generoso e extrovertido era um homem bom que um dia acompanhei à sua última morada.

Cruz, M. P. F. O. P. 2008. Pingos de solda, pingos de saudades! Coimbra, Junta de Freguesia de Cernache. Pg. 37 a 59

 

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por Rodrigues Costa às 10:17


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