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Antes de concluir apenas gostaria de prestar a minha singela homenagem a um grande mestre do ferro forjado, que foi José Pompeu Aroso (13.7.1910-26.2.1986). Trabalhou o ferro desde os 14 anos de idade e dedicou-se à arte do ferro forjado até ao fim dos seus dias. Em 1984 fora-lhe atribuída a Medalha de Ouro da cidade de Coimbra. Foi para mim uma experiência inesquecível ter visitado a sua oficina, tendo-o como guia, em Fevereiro de 1982. Ao tempo, o Mestre Pompeu Aroso ainda alimentava uma esperança, embora ténue, de os seus colaboradores poderem vir a manter a oficina em laboração, mesmo após o seu desaparecimento. Isso, infelizmente, não se verificou. Entretanto ofereceu-me, gentilmente, uma síntese da sua biografia, em verso, datada de 4-7-1978, à qual deu o título «É assim uma vida». É com esse testemunho, que considero de relevância para o conhecimento do homem e do artista, no seu percurso por este mundo, que termino este trabalho.
É ASSIM UMA VIDA
…
Sou de Coimbra de ferro torto
Tenho os brasões em pessoa
Mestres Machados e Gonçalves
Pioneiros de Belas Artes
Chaves de Almeida e Rodrigues
E saudoso Albertino Marques
Com amor e sacrifício
De muitos anos vincados
Este serralheiro de ofício
Aquém dos seus antepassados
Autor de vários cinzeiros
O carro de mão e o gato
É do signo dos caranguejos
E do bacalhau sem pataco
Ferro frio mal tratado
Quando se pensa em casa
Para ser bem forjado
Só obedece estando em brasa
Nada tenho nada valho
Por tudo aquilo que fiz
De bigorna martelo e malho
Neste século dos xis-xis
O’ Coimbra minha terra
Da cultura e da arte
Da tradição o que se espera
É deixar morrer a “Forjarte”
Eu trabalho sim senhor
Quando não tenho que fazer
Luto sempre com amor
Sempre e sempre até morrer
…
4-7-78
José Pompeu Aroso
Mendes, J.A. 2000. O Ferro na História: Das Artes Mecânicas às Belas-Artes. In Gestão e Desenvolvimento, 9 (2000), 301-318. Pg. 312 e 313
Uma nota pessoal.
Tive ocasião de conviver com Pompeu Aroso e de visitar diversas vezes a sua oficina. Aquando da homenagem que lhe foi prestada pela Cidade e da consequente organização da exposição "Serralharia Artística. Homenagem da CMC a José Pompeu Aroso", esse conhecimento transformou-se em amizade. Fui, também, testemunha da sua esperança que a Forjarte continuasse.
Tinha já adquirido os atrás referidos cinzeiros “O carro de mão … o signo dos caranguejos … e o bacalhau sem pataco”. Um dia, menos de uma semana antes da sua morte, fui surpreendido no meu gabinete por Mestre Aroso que me disse que fazia questão de me oferecer uma peça.
A peça – uma simples mas muita bela candeia – ainda hoje está em local destacado em minha casa.
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