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Com a presente entrada iniciamos a divulgação de uma interessante prova final da Licenciatura em Arquitetura, apresentada em 2017, por Carolina Conceição Ferreira, intitulada Coimbra aos pedaços: uma abordagem ao espaço urbano da cidade.
Op. cit., capa
Coimbra implantou-se no monte a 90 metros de altura sobre um rio navegável – o Mondego.
A estrutura urbana teve início no período romano e o sistema principal para a formação do castro era simples: uma elevação, para maior controlo do restante território, um rio e a via Olissipo-Bracara Augusta, que estabelecia a comunicação terrestre com o restante território peninsular.
Estava, assim, iniciado o processo de conformação da polis com seus órgãos de poder residentes no Fórum.
A fixação inicial não demorou até extravasar os limites em direção à zona mais baixa, junto do rio e ao longo da via romana. As razões defensivas deixaram de fazer sentido e, passado o período das reconquistas e da fixação da nacionalidade, despoletaram outras vontades e outras dinâmicas para o desenvolvimento do castro inicial.
A vida urbana foi-se estabelecendo ao longo da via romana, por ser o sítio de passagem propício a trocas e a todas as atividades relacionais que a caracterizam. A pouco e pouco a aglomeração da edificação foi construindo a via que, mais tarde, passou à designação de rua. Foi o lugar privilegiado para a ação e prática da cidadania.
O limite imposto pela muralha assinalou o zoneamento de duas áreas urbanas distintas: a “alta” e a “baixa”. O desenvolvimento da cidade medieval, na parte baixa, caracterizou-se basicamente pela consolidação do núcleo arrabaldino, como uma área de intensa atividade mercantil e social.
Mais tarde chamada de Baixinha, esta zona prevalece o centro da cidade durante longo tempo, depois da cidade alta.
As marcas do tempo foram-se acumulando e persistiram, na memória, até aos nossos dias. A sua carga simbólica na cidade atual faz, deste núcleo, um centro cheio de referências históricas com características tipo-morfológicas que identificam o espaço urbano medieval. Foi o primeiro grande tema da expansão e crescimento da cidade.
Fotografia aérea vertical da cidade com os núcleos destacados no território. Fonte: Fotografia aérea vertical. Agosto 2001. Socarto. in Coimbra Vista do Céu p.6. Original da METRO-MONDEGO SA.
Uma segunda grande ação de expansão territorial marcou a história do século XIX, corresponde ao nascimento da urbanística como disciplina de planeamento urbano.
…. Em Coimbra, foi rasgada uma Avenida à imagem de boulevard parisiense ligando a parte baixa à parte alta da cidade e projetando-a a novas extensões de território englobando os restantes burgos periféricos no seu perímetro.
Esta ação urbanística foi grandiosa, na medida que introduziu elementos inovadores no projeto urbano - redes de saneamento, abastecimento e iluminação públicas – e conseguiu, numa grande extensão de terreno “vazio”, planear e regular toda a edificação e infraestruturação a longo prazo do território. O resultado visível revela uma estrutura sólida e funcional capaz de suportar as mudanças programáticas e morfológicas normais da cidade.
Fotografia vertical do Bairro de Santa Cruz em 1934. Arquivo Histórico das Forças Armadas.
Este modo de planeamento concilia o investimento público e privado, controlando e delimitando as formas edificadas de cada parcela. O desenho de projeto era utilizado em complemento com a regulamentação logística de atuação para aquele plano. O cenário urbano alterou-se radicalmente, abrindo a “cidade e os cidadãos a novas conceções políticas, sociais e estruturais.” Surgiram novas tipologias e novas relações espaciais para a vivência e organização urbana de Coimbra. O peso infraestrutural da Avenida Sá da Bandeira lançou as bases das novas formas de conexão espacial da cidade.
Noutra etapa, o Estado Novo, regime político vigente entre 1933 e 1974, marcou toda a cultura urbanística portuguesa do século XX. Caracterizou-se pelas suas políticas autoritárias e de acentuado controlo social e ideológico. Essas convicções deixaram marcas no território urbano e no desenho da cidade, acentuando a baixa densidade, o uso de tipologias unifamiliares, estruturas viárias hierarquizadas e regulamentação higienista.
A ação estratégica de urbanizar o território segundo planos e métodos uniformizadores, foi concretizada através de Planos Gerais de Urbanização para as várias cidades do país, utilizando-os para a expressão da ação e controlo do Estado sobre o espaço social.
Antevisão da Avenida de Santa Cruz, construída à custa da demolição das construções localizadas entre as Ruas da Moeda e Bordalo Pinheiro, do desaparecimento de alguns largos medievais típicos e da destruição da Estação Nova de Caminhos-de-ferro. Fonte: Ante-projecto de urbanização da cidade de Coimbra. Étienne De Groer. 1948
… Foi o caso de Etienne De Gröer, urbanista parisiense, que elabora o plano para Coimbra e lança as bases orientadoras do processo de expansão urbana da atual cidade. Com palavras do urbanista é mostrada a intenção geral deste «Plano de Extensão e Embelezamento de Coimbra».
Ferreira, C.C. Coimbra aos pedaços. Uma abordagem ao espaço urbano da cidade. Prova Final de Licenciatura em Arquitectura pelo Departamento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, orientada pelo Professor Arquitecto Adelino Gonçalves. 2007, acedido em https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/13799.
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