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A' Cerca de Coimbra



Quarta-feira, 24.07.24

Coimbra: Convento de Santa Ana, a enfermaria e a botica  

Ao debruçarmo-nos sobre o papel da enfermaria e da botica de Santa Ana, acreditamos estar perante uma comunidade que manifestou um especial cuidado e desvelo para com as doentes.

Enquanto professas da Ordem de Santo Agostinho, a Prioresa tinha uma responsabilidade especial sobre as que se declaravam doentes, em relação às quais lhe competia garantir um trato apropriado e prover adequadamente as suas necessidades. Competia-lhe nomear uma freira acompanhante ou uma enfermeira, sempre que a doença assumia maiores proporções, impedindo a freira afetada de continuar a fazer a sua vida religiosa normal. Tais eram os casos descritos nas constituições “…das febres tercãs ou quartãs, dobres ou sigelas, contínuas ou quotidianas ou intermitentes”.

Ainda no exercício das obrigações da Prioresa, “em relação aos doentes, cabia-lhe solicitar o conselho de médicos e cirurgiões, sempre que se revelasse necessário, e preparar um local para enfermaria que devia visitar com frequência”.

Neste cenário vamos encontrar médicos, cirurgiões e boticários a praticarem a arte de curar, seguindo os princípios médicos e farmacêuticos em constante atualização científica pois, como é óbvio, também nos mosteiros se refletem os progressos que, ao longo dos séculos, foram acontecendo na medicina e na farmácia.

 

CSA 4.jpgFachada Norte inicial, 1905, DSE. In: «Sant’Ana. Três séculos de convento, um século de quartel», pg. 65

Porém, em dezembro do ano seguinte já referem que “despendi em bissas para a Madre Boticária 969 reis”.

Em abril de 1861, voltam a registar que despenderam “em galinhas para a Boticária 1.600 reis”. Ou seja, inicialmente seria uma figura masculina, talvez exterior à comunidade a exercer esta função, depois passa a ser uma religiosa que assume esse papel. Surge-nos também a figura da criada e da servente da botica, com um pagamento mensal de 1.200 reis, assim como da lavadeira da botica que recebia 480 reis.

Refira-se uma interessante particularidade: em agosto de 1864 mencionam “despendido na paga de hua Soregiãe 480 reis”. Perante este registo, deduzimos que apesar de terem em permanência ao seu serviço um cirurgião a quem pagavam mensalmente 8.000 reis, por algum motivo que desconhecemos, recorreram ao serviço de uma mulher que já desempenhava essa tarefa. Algo pouco comum nesta época.

CSA 2.5.jpgPlanta do rés-do-chão das hospedarias. In: «Sant’Ana. Três séculos de convento, um século de quartel», pg.63.

 Sobre a botica de Santa Ana, para além da sua localização espacial, não encontrámos descrições que nos permitissem reconstituir com pormenores a sua configuração, os seus utensílios ou alfaias … Porém, em agosto de 1864, a escrivã da botica de Santa Ana regista a aquisição de um precioso utensílio: “Despendido com hua comadre para as doentes 600 reis”. As comadres de estanho eram recipientes onde se colocava água quente, utilizados para aquecer a cama das pacientes. Era um recipiente muito comum no quadro hospitalar.

Não sendo claros os registos documentais sobre as doenças das religiosas de Santa Ana, sobre as terapêuticas aplicadas e sobre a alimentação que lhes era ministrada, sabemos, com alguma regularidade, a quem se destinavam os produtos terapêuticos, pois aqueles referem os nomes das pacientes.

Estas eram assistidas na enfermaria, espaço que se situava em local arejado e ensolarado, afastado do núcleo principal das construções devido ao perigo das infeções e contágio e, ainda, à necessidade do sossego necessário às freiras doentes, que recebiam alimentação e cuidados diferentes das outras.

De acordo com o Inventário do Arquivo dos Próprios Nacionais do Distrito de Coimbra de 1857, Santa Ana tinha no andar térreo a “caza da botica”, bem perto da cozinha e no primeiro andar “hum dormitório grande que corre do norte ao sul, abrange em cumprimento ambos os clautros e tem quatro centos e sincoenta palmos com vinte e seis celas e outras tantas janellas”. Faz-se alusão a mais outros dormitórios do poente para nascente composto por mais vinte e duas celas. Uma casa de noviciado com cinco celas e regista-se que “tem sento e noventa e três palmos de comprido, por dezoito de largura”, e que “tem uma boa caza de enfermaria”.

Sousa, D. Comer e curar no Convento de Santa Ana de Coimbra (1859 a 1871). Texto acedido em: 

https://www.academia.edu/116755957/Comer_e_curar_no_Convento_de_Santa_Ana_de_Coimbra_1859_a_1871_?email_work_card=title

 

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por Rodrigues Costa às 20:02



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