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A Comedia Sobre a Devisa da Cidade de Coimbra foi escrita em 1527 por ocasião da estada em Coimbra do rei D. João III e sua corte.
Livro Segundo que he das comédias … Compilação de 1562
Livro Segundo que he das comédias … Compilação de 1562, pg. 226
Sobre o assunto da mesma é referido pelo próprio Gil Vicente que é uma comédia onde “(…) se trata o que deve significar aquela princesa, leão e serpentes e cales ou fonte que tem por devisa (…)”, ou seja, é o desiderato do autor aventar uma leitura simbólica do brasão-de-armas da citada cidade, aborda ainda “(…) o nome do rio e outras antiguidades (…)”, sobre as quais se afirma perentoriamente que “(…) nam é sabido verdadeiramente seu origem (…)”. Refere que esta “divisa” não seria de criação recente uma vez que informa claramente que esta viria “(…) já d’anteguidade.” O que não será verdade já que as armas que Gil Vicente analisa não são as primeiras usadas pela cidade, mas que apenas terão sido utilizadas a partir do século XIV.
Não é de Gil Vicente a primeira proposta de análise simbólica. A mais antiga que se conhece pode ser encontrada na obra de Rui de Pina «Chronica de El-Rey D. Affonso V», onde aquele coloca na fala do infante D. Henrique uma proposta de leitura que corresponde a uma alegoria à governação do regente infante D. Pedro, na menoridade de D. Afonso V, relativa às relações entre Castela e Portugal, que considera simbolizada no Leão das armas de Castela e na Serpe do timbre de Portugal.
… A peça raramente foi representada. Nos últimos anos, sabe-se que foi levada à cena em Coimbra, pela companhia Escola da Noite em 1993-4, tendo este espetáculo sido reposto em 2004…. A ultima vez que ocorreu ser levada ao palco foi em 2010, sob a designação de Divisa na Escola Superior de Teatro e Cinema como exercício do 2.º ano do curso de Teatro.
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I - DAS ARMAS DA CIDADE DE COIMBRA
Uma das mais antigas representações que se conhece do escudo-de-armas da cidade de Coimbra encontra-se no arco do Almedina nesta urbe. Atendendo a que fazem parte de um bloco onde está também figurado o escudo de Portugal, as características deste último permitem datar, o primeiro.
Figura 1 — Pedra esculpida com o escudo de Portugal e de Coimbra implantada no Arco de Almedina, Coimbra. Fotografia de Nuno Oliveira
Ao contrário do que é afirmado por Mário Nunes: "(...) brasão nacional com bordadura de quatorze castelos, trabalho manuelino", este é claramente anterior o que pode ser confirmado pelo facto de os escudetes estarem ainda apontados ao centro.
A partir do reinado de D. João I o escudo nacional passou a incluir as pontas da cruz da Ordem Militar de Avis, o que só deixou de suceder no tempo de D. João II, altura em que também os escudetes laterais deixaram de estar apontados ao centro e ficaram pendentes, à semelhança dos outros. Assim, acredita-se que a cidade de Coimbra, pelo menos no final da primeira dinastia, já estivesse a usar armas com o campo muito semelhante ao atual.
Paralelamente e ainda segundo Mário Nunes, a introdução no campo do escudo das figuras do leão e do dragão ter-se-á dado no decurso do século XV e quando D. Manuel I conferiu o foral novo àquela cidade, o brasão já estaria "(...) alindado com esses ornamentos." Os escudos que encontramos no Arco de Almedina são efetivamente os mesmos que figuram, embora com alterações cromáticas e um desenho mais naturalista, na iluminura do rosto do foral.
Figura 2 — Detalhe do rosto do Foral de Coimbra, 1516.
Alexandre, P.M. Uma patranha heráldico-genealógica de Gil Vicente: «A comedia sobre a devisa da cidade de coimbra» e o brasão-de-armas de Coimbra. In: Alicerces. Revista de Investigação, Ciência Tecnologia e Arte. Ano VI, n.º 6. 2016, julho. Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa. Pg. 65-88. Acedido em https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/8644/1/revista_alicerces6_2016_pv.pdf.
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