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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 26.04.22

Coimbra: Casa de Sobre Ribas 3

Na entrada, hoje bastante prejudicada pelo leito erguido da rua, teremos de considerar duas par­tes: a porta, propriamente, e o corpo que a en­cima.

CSR. Entrada,. Pg. 267.jpg

Entrada da casa de Sub-ripas: fachada da rua. Pg. 267.

Esta porta apresenta-nos, talvez, nas molduras e na verga, uma modificação do arco de sarapanel, fórmula adotada pelo estilo manuelino, assim como a volta inteira e tantas outras.

O corpo que coroa a porta, representa uma espécie de retábulo, cuja moldura apresenta a forma de um arco alteado.        

Do fundo deste retábulo ressalta em pleno relevo uma cruz de troncos, tão comida já, que se torna impossível decifrar-lhe qualquer intenção emblemática. Assenta o retábulo, propriamente, numa longa mísula lavrada de folhagens, de onde prende, para fixar-se também no alto da porta, um pequeno escudo, hoje quase gasto, que talvez tivesse representado as chagas, envolvidas em flores.

De toda a frontaria, é a entrada a peça mais importante. Liga-se pelo estilo com as janelas, como disse, aparentando especialmente com as do primeiro andar.

O próprio remate acogulhado do arco e do seu retábulo a relaciona lo­go com todas estas. Abrindo arcos conopiais, munidas de pai­nel, realçadas de cordões, ou guarnecidas de colunelos, de variada base e molde, vegetalizadas de cogulhos pelo extradorso o fecho das curvas, floridas de rosinhas ou relevadas de folhas e frutos ao lon­go dos intradorsos, gol­peadas de lavores torçalados ou trabalhadas de foliado nos sub-re­bordos dos parapeitos — as janelas da frente, umas por outras, revelam-nos, como a porta, nas linhas de corte, nas molduragens, nos moti­vos de decoração — al­guma coisa da capricho­sa liberdade desse estilo que, não sendo original de raiz, repre­sentando antes um com­promisso de formas tradicionais e de simbolizações recentes da época, prestando-se, por vezes, a manifestações de intemperante inven­tiva — representou, contudo, larga concessão à mais opulenta fantasia artística, ficando, além disto, a valer para nós como documento, como associado traço de consoladora evocação histórica. Mas toda a casa, além desta fachada da frente, o revela sob variadas formas nos seus vãos e rasgaduras: nas janelas dos corpos voltados para a escarpa—em­bora algumas o acusem somente na curva o no golpe das vergas, nos cortes do aparelhamento—; e ainda em portas antigas do interior, o nos mui­tos cachorros, florões, medalhões e escudos encon­trados por dentro e por fora do edifício.

Quem vir apenas a fachada unida sobre a rua, mal suspeitará que a Casa de Sub-ripas forma, no seu exterior mesmo, um conjunto curiosa­mente irregular, como se pôde reconhecer observando-a do poente, do norte, ou de algum ponto sobredominante da cidade, de onde então os múlti­plos telhados da casa, telhados de quatro águas, nos dão logo a ideia de corpos diversos ligados numa só construção.

É que, além da parte recuada junto ao cunhal da rua, outras se destacam do corpo principal.

Prolongando este, avança sobre a escarpa, entre sudoeste e poente, um corpo em forma de terraço — livre e aberto ao rés do primeiro pavimento, mas cobrindo uma curta galeria, fendida de janelas que medem para baixo uma altura de andar. Desta galeria devia ter havido qualquer descida interior para a faixa dos quintais—chão da anti­ga barbacã.

CSR. Vista sudoeste. Pg. 268.jpg

A casa de Sub-ripas, vista de sudoeste – o terraço. Pg. 268

Fazendo ângulo com o mesmo corpo central, a olhar entre noroeste e norte, destaca-se outra massa em forma do torre, [Chamar lhe-hei sempre torre; para não haver confusões, de­signarei por Torre do Prior do Ameal a que fica situada distante, a norte da casa] cujo ressalto mede a sua menor extensão de curto retângulo. Mas com esta torre liga ain­da, para norte, por detrás de um pequeno ter­raço triangular, hoje desfigurado em cubículo, uma estreita manga de construção.

CSB. A torre. Pg. 268.jpg

A Casa de Sub-ripas – A torre, que, de certos pontos, parece a parte central do edifício. Pg. 268

Era esta — ao nível do pri­meiro pavimento, a passagem para a antiga cortina de comunicação com a Torre do Prior do Ameal — no pa­vimento superior — um miradouro coberto de telhado, a dominar, co­mo toda a casa, a bai­xa da cidade, antigo arrabalde, e o vale doce do Mondego.

Gaio, M.S. Palácios, castelos e solares de Portugal. IV – A casa de sub-Ripas, In “Illustração Portugueza”, 9, Primeiro semestre, 2.ª série.  Lisboa, 1906, p. 265-272.

 

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por Rodrigues Costa às 10:33



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