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Reiniciando a série “documento do mês”, o Arquivo da Universidade de Coimbra acaba de divulgar um documento, que é mais um dos muitos exemplos das atribulações sofridas pelo Povo Português, aquando das invasões francesas com o seu cortejo de mortes e feridos, roubos e destruições.
Invasões francesas em Portugal. Imagem acedida em https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid ….
O documento ora divulgado, escrito em Leiria e datado de 1811, e constitui uma Petição de Maria Joaquina para que seja provada a sua viuvez, pois não existe registo de óbito de seu marido, por ter ocorrido “na occazião da invazão do Exército Francez”, em Leiria (1810).
Petição de Maria Joaquina para que seja provada a sua viuvez, AUC, PT/AUC/DIO/CDCBR – Cúria Diocesana de Coimbra (F), Processos de casamento (SR) – AUC-III-2.ª E-3-3-7
O documento que se dá a conhecer está inserido num processo, datado de setembro de 1811, relativo aos nubentes Manuel dos Santos e Maria Joaquina. Este processo não é, verdadeiramente, um processo de casamento, mas apenas uma justificação do óbito de José Pereira Carvalho, moleiro, morador em Leiria, com quem estivera casada Maria Joaquina e é isso mesmo que se refere na margem superior da folha de capa do processo: “Justificação de óbito” ou no título de abertura do processo: “Autos de Justificação de óbito a favor de Maria Joaquina viúva de Jozé Pereira Carvalho moleiro que foi desta cidade [i. e. Leiria]”. O processo foi redigido, em 30 de setembro de 1811, pelo escrivão da Câmara Episcopal de Leiria, tendo sido ouvidas diversas testemunhas pelo Provisor do Bispado de Leiria, André José Mariano Simões. O parágrafo final é bem revelador do desígnio da petição feita por Maria Joaquina: “que a admita à dita justificação e provando mandar-lhe passar ordem para o Reverendo Parroco da Sé desta cidade a receber com o noivo Manuel dos Santos, não havendo outro embaraço”. Este testemunho é indiciador de tantas situações que, à semelhança desta, ocorreram por ocasião da Guerra Peninsular, com a fuga de pessoas de umas localidades para outras, na procura da sua sobrevivência. E tantos documentos que também se perderam ou registos que ficaram por fazer como, no caso presente, a falta do registo de óbito do primeiro marido de Maria Joaquina, que falecera no Vidigal do Zambujo: “e foi a enterrar à Igreja das Cortes de que não se fez assento por andar toda a gente fugida e o mesmo Parroco dessa freguesia”.
AUC. Depósito da documentação
AUC. Petição de Maria Joaquina para que seja provada a sua viuvez, AUC, PT/AUC/DIO/CDCBR. AUC-III-2.ª E-3-3-7. Acedido em https://www.uc.pt/auc.
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