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Fui convidado para assistir, no passado sábado, à apresentação de um pequeno filme intitulado Roteiro da Memória. Um dia na história de um Povo que se baseava nas recolhas feitas ao longo dos seus quase 50 anos de existência pelo Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila.
Cartaz do evento
Assistimos, numa sala cheia, embora que com limitação de lugares, a uma sucessão de cenas que mostraram:
. O corte e escolha do bunho e a manufatura de esteiras, tendo-se relembrado, durante esse tempo, o romance a “oração de peregrino”;
. O “azurrar”, uma prática de entrudo que punha a descoberto alguns aspetos da vida alheia;
. A “surriba” da terra e o mandar a manta;
. O “endireitar o bucho” entendido como prática de medicina popular;
. Os cânticos dos “Martírios do Senhor”, a prática de quinta e sexta-feira santas, relacionadas com a paixão e morte de Cristo;
. O “Amentar as Almas”, uma reflexão sobre a morte;
. O “Serramento da Velha” que acontecia a meio da quaresma, numa quarta quarta-feira;
. A entrega do arroz doce, como anúncio de um casamento;
. A saída dos noivos da igreja, aquando do casamento;
O filme termina com uma dança, bem exemplificativa da cultura e da identidade própria das gentes de Arzila.
Valeu a pena, como o comprovaram os aplausos no final da apresentação.
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila. A dança
Acompanhamos o trajeto deste grupo desde, praticamente, o seu início, em 1974, e, por isso, não podemos deixar de destacar a importância do trabalho que realizou e que realiza.
O Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila é, na atualidade e a nível nacional, pela qualidade e rigor de que se revestem as suas atuações, bem como por força do trabalho de recolha realizado, que lhe permitiu salvaguardar um vasto conjunto de utensílios, um grupo etnográfico de referência. Contudo, esses utensílios, que guardam a memória de como se vivia e trabalhava em Arzila, carecem de um necessário trabalho técnico de catalogação e preservação, para o qual o grupo devia contar com a ajuda do Município.
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila. Sala das recolhas
Deve destacar-se que o Grupo vale, essencialmente, pela ação desenvolvida em prol da defesa do património, sendo de assinalar – para além da importantíssima recolha de elementos etnográficos que tem levado a cabo –, a realização de debates, jornadas culturais e exposições, bem como a recuperação de festas, de jogos e de outras tradições em vias de desaparecimento.
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila. Recuperação das «portas floridas»
Destaque-se a recuperação de todo o processo relacionado com a produção das esteiras de Arzila, um dos emblemas do grupo.
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila. O tear das esteiras
Assumem grande destaque, nas danças, as modas de roda a que se juntam os verde-gaios, os viras e modas valseadas.
Os trajos retratam a forma como o povo Arzila se vestia entre os finais do séc. XIX e os princípios do séc. XX, quer no duro trabalho, quer nas festas, romarias e cerimónias.
A tocata é constituída por diversos instrumentos tradicionais, como concertinas, viola toeira, violões, cavaquinhos e bombo.
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila.
Deve referir-se que a sua sede foi construída pela vontade e pelo esforço de todos quantos integram ou integraram o Grupo e que dignifica a terra e as suas gentes.
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila. A sede
O Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila é, sem dúvida, um dos mais relevantes embaixadores da cultura popular de Coimbra e do seu termo, como já foi reconhecido pela Câmara Municipal de Coimbra que, por nossa proposta, lhe atribuiu, em 2002, a medalha de mérito cultural do Município.
Rodrigues Costa
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