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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 16.03.17

Coimbra: A obra de João Machado na igreja de Santa Cruz 2

... na Igreja se gerou um desequilíbrio e S. João Baptista continuava sem morada condigna. Mas a solução surgiu.

Consultando os já citados livros de Receita e Despesa pertencentes a João Machado, deparamos em 1908 com a seguinte nota: «Contractei com o Reverendo Parocho da Freguezia de Santa Cruz ... um retabulo em pedra d’Ança, destinado á Senr.ª das Dôres.

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Dedicado a Nossa Senhora das Dores, este altar, assim como o que com ele emparceira a ladear o arco cruzeiro, dispõe-se, a partir da mesa, em três corpos

 ...  Faz parte do primeiro a predela, destacando-se na parte central dois nichos com a Descida da Cruz e a Morte da Virgem; são moldurados por pequenas pilastrinas que terminam em capitéis coríntios e têm a ligá-las um arco semi-circular. O seu remate, bem como todo o conjunto, sem ser um pastiche, é nitidamente influenciado pelo púlpito crúzio. Fitas, folhas, flores e outros elementos comuns ao estilo, normalmente estilizados

... Separando as edículas surgem, sob dosséis renascentistas adossados, três pequenas esculturas: Sant' Ana, São Teotónio e Santa Comba, esta última a «estorcer-se na angustia do martyrio».

Ladeando o conjunto e como que a emoldurá-lo, podemos observar dois quadros representando respectivamente o Baptismo de Cristo e a Visão Mística de Santo Antônio ... O corpo central, rematado por uma cornija, destina-se a albergar na edícula, delicadamente esculpida, a imagem do orago. Ladeiam-na dois colunelos elegantemente afusados que suportam as imagens de São Pedro e São Paulo. Emoldurando o conjunto, dois anjos prostram-se diante dos símbolos da Paixão de Cristo e, à boa maneira renascentista, os medalhões que representam, e fazemos a identificação com certas reservas, São Mateus e São Lucas, completam-no.

Cristo a abençoar, ao centro do terceiro corpo, remata a composição.

 

Não foi por acaso que estes dois retábulos do início do século surgiram em Santa Cruz de Coimbra, eles inserem-se num movimento mais vasto. O interesse pelo restauro, aformoseamento e até conclusão, quando foi caso disso, de monumentos antigos, tornou-se uma constante em toda a Europa na época romântica; mas em Portugal e mormente em Coimbra, esta movimentação fez-se mais tardiamente.

A cidade, em quinhentos, fora alfobre de artistas e o estilo renascentista assentou arraiais no burgo. Os novos lavrantes da pedra, limitados aos horizontes que os rodeavam, olharam para a arte de antanho e, sentindo-a e vivendo-a, interpretaram-na a seu modo. Fizeram assim com que em Coimbra, na sua e nossa cidade, surgisse, dentro do revivalismo do período, o neorrenascença. É caso único. Não se lhe conhece paralelo.

Anacleto, R. 1984. A obra de João Machado na Igreja de Santa Cruz de Coimbra. In Santa Cruz de Coimbra do século XI ao século XX. Estudos, Coimbra, p. 195-208.

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por Rodrigues Costa às 11:12



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