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A pedra de toque da reforma do ensino empreendida por D. João III, nas décadas de 1530 e 1540, foi a criação de um nível propedêutico à universidade para o ensino das Artes.
... Numa fase prévia ... assistimos à consubstanciação planeada das novas instalações universitárias na Baixa de Coimbra dentro e a partir do Mosteiro de Santa Cruz. Depois, já no curso assumido da reforma, esse processo deu lugar ao estabelecimento da universidade em ensanche segundo uma «rua nova», a de Sofia, mas também à súbita necessidade de se ocuparem estruturas preexistentes na alta e de para ali se planear a ocupação de terrenos vagos, designadamente em todo o setor nordeste. Em Outubro de 1537, meio ano após a transferência de Lisboa para Coimbra, o rei decidiu que, afinal, a Universidade propriamente dita – os «estudos« ou os «gerais» - ficavam na Alta e que na «rua nova» da Baixa se fixariam colégios de religiosos e habitações.
No lugar inicialmente previstos para os «estudos», à cabeça dessa «rua nova», acabariam por se erguer os colégios crúzios de S. Miguel e de Todos os Santos, que, em 1544, sofreriam, por sua vez, uma profunda reforma com vista a albergarem a instituição propedêutica laica, o Colégio das Artes... O desenvolvimento e a consolidação do «campus» («avant-la-lettre») na Alta, a necessidade de instalações maiores para o Colégio das Artes ... acabaram por determinar a mudança do Colégio das Artes da Sofia, primeiro (1566) para o Colégio da Companhia de Jesus, depois para o edifício próprio iniciado em 1568.
... Pouco mais de três décadas depois de ter sido concebida como expoente urbano, urbanístico e até ideológico da reforma e concomitante instalação da Universidade em Coimbra e após ter sido reformada em sede dos estudos propedêuticos, a Rua da Sofia acabou relegada para um desempenho urbano distante do conceito e programa de «campus» universitário que a determinara.
Rua da Sofia, ortofotomapa com a localização dos colégios
... Em rigor, a universidade nunca chegou a estar na Rua da Sofia, ainda que para tal tenha a rua sido aberta. Isso faz com que para um qualquer processo de avaliação patrimonial ou de valoração nos domínios da teoria e história urbanísticas, o seu programa original e a sua expressão material atual primeiro se devam isolar para então se lerem em conjugação. A Rua da Sofia vale mais pela sua materialidade arquitetónica e urbanística, pelo seu papel de ensanche de uma cidade atrofiada, pelo seu longo e rico processo de transformação sedimentada, do que pelo frustre plano funcional e ideológico que determinou a sua conformação, mas acabou longe de concretização plena.
Rossa, W. A Sofia. Primeiro episódio da reinstalação moderna da Universidade portuguesa. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 16-19
Quando os franciscanos da regular Observância da província de Portugal («Venturas«) abandonaram, em 1616, o seu Colégio de S. Boaventura, na rua da Sofia... nele permaneceram instalados os religiosos de outro ramo da mesma Ordem, os «Franciscanos da Província dos Algarves», que já ali viviam, havia trinta anos, em companhia daqueles.
Colégio de S. Boaventura 2, adaptado a residências e estabelecimentos comerciais
Desde a referida data de 1616 em diante, é que este começaram a o Colégio de S. Boaventura, da rua da Sofia, como privativamente seu; desde então é que se pode contar, em o número dos Colégios universitários, o 2.º Colégio de S. Boaventura, pertencente aos «Pimentas», nome por que eram designados os religiosos desta província, distinguindo-se assim dos «Venturas». Os hábitos, que trajavam, também eram distintos dos destes, não no corte ou feitio, mas na cor. Usava-nos os «Venturas» de cor acastanhada, e cingiam-se com cordão de linho cru; os Pimentas tinham hábitos pretos e cordões amarelos.
Colégio de S. Boaventura 2, planta de meados do séc. XIX
Em 1715... foi reconstruído o velho edifício colegial, que se encontrava muito arruinado, ficando então na forma que manteve até 1834.
A igreja era pequena, como ainda hoje se pode verificar-se, mas elegante e muito asseada, e tinha três altares.
... Foi o edifício colegial abandonado em 1834, como os restantes... vendido em hasta pública... pela quantia de 1.201$000 reis, no dia 14 de maio de 1859.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 269-270, do Vol. I
Foi este Colégio fundado por D. João III para os «Franciscanos Conventuais da Província de Portugal» (em calão académico denominados os «Venturas»), cerca do ano de 1550.
Colégio de S. Boaventura, na Rua da Sofia e na atualidade
Construiu-se o edifício primitivo deste Colégio a meio da rua da Sofia, à mão esquerda de quem caminha de Santa Cruz para o Carmo, em frente do Colégio do Espirito Santo. Está atualmente transformado em casas de residência particulares, mas ainda se distingue a parte que foi igreja, pelo timpano triangular que lhe remata a fachada, pela grande janela poligonal que a ilumina, e pela porta de arco semi-circular da sua entrada.
... Era bastante modesto este edificio; as portas que se acham abertas no rés-do-chão da sua fachada, são indicadas pelos n.ºs 73 a 85. O «bêco de S. Boaventura» indica-nos o limite e lado N-O da casa; o limite S-E é determinado pelo cunhal de cantaria, que se conserva bem visivel.
... passado algum tempo aqueles, que tinham edificado a casa, e a quem esta pertencia ... resolveram abandoná-la, e passaram em 1616 a viver numas casas que lhes foram emprestadas no começo da mesma rua ... Ali residiram, até que se mudaram para o Colégio definitivo, perto da Universidade.
Nesse tempo existia na rua Larga ... no quarteirão compreendido entre a rua de S. João e a que veio a denominar-se dos Loios, o modesto «Colégio Amiclense», fundado em 1552 ... Os religiosos Venturas pensaram em adquirir esta morada, e outra vizinhas ... Feitas as reparações indispensáveis na casa, para ela mudaram o seu Colégio universitário.
Depois planearam erguer no mesmo local um novo edifício, próprio e mais amplo, cuja primeira pedra foi solenemente benzida e colocada a 14 de Julho de 1665 ... A 7 de setembro de 1678 deu-se por concluída a obra.
Colégio de S. Boaventura, na Rua Larga
Desde cedo fora o Colégio de S. Boaventura contado em o número dos Colégios da Universidade, na qual o incorporara a carta-régia de 20 de maio de 1566.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 234-238, do Vol. I
Pertencia aos «Monges Cistercienses», e principiara a ser construído o edifício no ano de 1545 ... mas foi fundado em 1550, e depois dotado pelo Cardeal-Infante D. Henrique ... Nele se instalaram os monges universitários da Ordem de S. Bernardo.
Ficava situado na rua da Sofia, no alinhamento e vizinhança do Colégio dos carmelitas calçados, do qual era separado pela azinhaga do Carmo.
Colégio de S. Bernardo, muito transformado
... O edifício acha-se hoje, em parte, completamente modernizado e vestido de azulejos ... ainda conserva na fachada um pouco da antiga feição colegial, onde existem duas pilastras de cantaria, uma das quais determina o limite S-E do antigo edifício. As portas, que se veem rasgadas no novo rés-do-chão em toda a extensão da fachada do Colégio, estão atualmente indicadas pelos n.ºs 82 a 100.
Tinha dois claustros, e uma pequena igreja cujo titular era o Espirito Santo, a qual já não existe.
... Era afamada por sua riqueza em livros, muitos deles raros, a biblioteca, apontada como uma das melhores dos Colégios universitários.
... Muitos religiosos notáveis jaziam sepultados na igreja colegial.
Entre a variada cultura pela qual sobressaíam os frades colegiais do Espirito Santo, avultava o conhecimento profundo das línguas clássicas e orientais.
Gozou sempre os privilégios da Universidade, na qual se achava incorporado pela carta-régia de 1 de março de 1560.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 232-234, do Vol. I
Foi fundado em 1545 pelo canonista Dr. Rui Lopes de Carvalho... Era destinado pelo fundador a 12 clérigos pobres, que viessem estudar teologia ou cânones à Universidade.Principiou a construção do edifício em 1543 ao cabo da Rua da Sofia, entrando os primeiros estudantes em 1545, depois de confirmada a instituição por breve apostólico de 1 de Agosto deste ano. Fez-se a 29 de Junho de 1548 a sua inauguração solene, que ficou comemorada numa inscrição, aberta na base de um belo busto do patrono S. Pedro, que é guardado pela Faculdade de Letras.
Em 1572 sofreu o Colégio profunda remodelação, sendo então transferido para o novo edifício, que D. Sebastião lhe doara junto do paço real, onde se havia instalado a Universidade, passando a ser fundamentalmente um Colégio para doutores ou licenciados, que ali estagiavam a preparar-se para o professorado, etc.
Colégio Pontifício e Real de S. Pedro
Construiu-se-lhe um edifício próprio, que limita por Leste o pátio universitário, desde a porta principal de ingresso, atualmente chamada «porta-férrea», até topar na Rua da Trindade. Ficou a entrada para o Colégio ao lado da «porta-férrea», adicionando-se-lhe depois ali o majestoso portal das cariátides, que, há menos de setenta anos, foi mudado para a fachada ocidental do edifício; mas o sítio, onde primitivamente estivera este ostentoso portal, uma simples porta de serviço. O edifício abandonado pelo Colégio na Rua da Sofia foi aproveitado para a instalação do... Colégio de S. Pedro dos Franciscanos Calçados.
... A biblioteca do Colégio de S. Pedro era importante. Tinha abundância de livros clássicos; nela se encontravam não só bons livros de cada uma das ciências professadas nas Faculdades universitárias, mas também de cultura geral, de história, de literatura, de humanidades – cerca de 8.000 volumes, entre os quais espécies bibliográficas preciosas e alguns manuscritos.
... Extinto o Colégio de S. Pedro por decreto de 16 de Julho de 1834, foi o seu edifício entregue à Universidade... o decreto de 10 de Maio de 1855 ordena ... O edifício do extinto Colégio de S. Pedro... fica ... para a acomodação da Comitiva das Pessoas Reais, quando ali forem pousar ou residir.
... Criada de novo na Universidade de Coimbra uma Faculdade de Letras, na reforma universitária de 1911... foi-lhe para este efeito designado o andar nobre.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg.198-206, do Vol. I
Fundou-o el-Rei D. João III em 1543 para os «Eremitas calçados de Santo Agostinho, sendo concluído, e por este monarca dotado, em 1548.
Incorporou-o na Universidade a carta-régia de 12 de Outubro de 1549.
Tinha o seu edifício na Rua da Sofia, a Ocidente do Colégio do Carmo, separados um do outro por uma viela, que depois se suprimiu.
Colégio de N. Senhora da Graça
Foi muito favorecido por el-Rei com grandes privilégios. Eram apontados os seus colegiais como argumentadores subtis; o seu espirito combativo tornava-os por conflituosos e pouco simpáticos.
... É de todos os edifícios universitários aquele que melhor se conserva ainda hoje, quase intacta, a sua fachada, com as primitivas janelas, que iluminavam os escritórios de cada colegial, e ao lado de cada uma o postigo da alcova, onde dormia.
Em parte deste edifício esteve instalado, com consentimento dos religiosos, um hospital, no tempo da guerra miguelista.
Abandonado em 1834, logo a 10 de Janeiro de 1835 a Câmara de Coimbra representou ao Parlamento, pedindo o edifício para quartel. Foi concedido em 1836 com este destino, tomando dele posse a Câmara a 15 de Dezembro do mesmo ano. Nele se instalou o quartel militar.
Em 1857, o Comissariado dos Estudos requisitou da Câmara uma casa, para onde se mudasse a escola de ensino mútuo. Respondeu aquela que só tinha duas casas em condições, a do Colégio da Graça e a da torre de Almedina. Foi preferida a da Graça, devendo-se mudar para outra o quartel militar. Quando porém a Câmara mandou proceder às obras necessárias para a instalação da escola, opôs-se o oficial comandante do destacamento ali aquartelado. Deu isto lugar a vivas querelas jornalísticas.
Aloja-se atualmente (em 1938-1941) ali o quartel da Administração militar.
Interior da Igreja do Colégio de N. Senhora da Graça
Na igreja o culto esteve de princípio a cargo da Ordem terceira de Santo Agostinho; hoje é mantido pela Irmandade do Senhor dos Passos.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 196-197, do Vol. I
Um alerta às Autoridades de Coimbra e não só!
Construído em 1600, o claustro da Igreja do Carmo recebeu, na segunda metade do século XVIII, como decoração da galeria inferior, um revestimento de azulejos de composição figurativa, constituído, atualmente por vinte painéis recortados na parte superior, ilustrando vários episódios da vida do profeta Elias.
Elias fala à multidão
Ligados uns aos outros por pilastras imitando cantaria, coroadas por vasos floridos, os painéis tem vinte e quatro azulejos de altura (na parte mais alta). A parte inferior é constituída por fiadas de azulejos de pintura esponjada, em tons de manganês, azul e amarelo, simulando um silhar de pedra marmoreada.
As cenas da vida de Elias, seguem-se cronologicamente, como uma banda desenhada, sendo a leitura feito no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio. As composições são todas em monocromia, azul em fundo branco, delimitadas por possantes enquadramentos de linguagem rococó, de inspiração vegetalista, em tons de manganés, cujas formas onduladas, associadas ao jogo de pinceladas em tonalidades mais escuras ou mais claras, formam um conjunto vigoroso, como se um sopro de vento dinamizasse todos os ornatos, constituindo um revestimento azulejar de forte impacto visual.
Na parte superior de cada um dos painéis, ao centro, uma legenda em latim identifica a cena representada.
São azulejos de fabrico coimbrão, bem distintos dos azulejos produzidos em Lisboa, pelo tratamento «expressionista», não só das figuras, mas também dos motivos ornamentais que constituem osa seus enquadramentos, robustamente desenhados.
Elias e o rei Acab na vinha de Nabot
Considerado o fundador da Ordem do Carmo, não é surpreendente que o profeta Elias tenha sido escolhido como tema para decorar as paredes da galeria inferior do claustro. É, no entanto, de sublinhar que a riqueza do programa iconográfico torna este conjunto um dos mais interessantes e completos ciclos de vida de Elias aplicado como revestimento mural em Portugal.
Para a sua realização, o pintor, certamente respondendo às instruções do encomendador, baseou-se num dos livros mais relevantes da literatura carmelita: o «Speculum Carmelitanum Sive Historiae Eliani Ordinis».
... O esquecimento em que caiu o conjunto azulejar do claustro revela quanto o passar do tempo, a mudança de mentalidades, de ideais, de contextos políticos, religiosos ou sociais, têm consequências para a «sobrevivência» de um património. É urgente uma intervenção de fundo neste claustro, no intuito de preservar o revestimento de azulejos (de produção coimbrã sobre a qual ainda se sabe muito pouco) que, apesar das vicissitudes sofridas, permanece no local de origem, ilustrando uma história cujo significado tem particular expressão como programa decorativo de um espaço carmelita.
Correia, A.P.R. Um ciclo do profeta Elias no claustro do Colégio de Nossa Senhora do Carmo. Contributo para o estudo iconográfico. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 108-121
Teve o seu início em 1540, sendo fundado pelo Bispo do Porto... que a princípio o destinou a clérigos da sua diocese que viessem estudar na Universidade. Foi depois destinado aos religiosos «Carmelitas calçados».
Dotado por D. João III, não veio entretanto o edifício a ser concluído, senão em 1597.
Colégio de N. Senhora do Carmo
... Está o edifício situado na Rua da Sofia, acha-se muito modificado, e externamente só dele se vê a fachada da igreja. Internamente porém conserva-se o belo claustro e a magnifica igreja, na qual se mantem o culto.
Claustro do Colégio de N. Senhora do Carmo
Abandonados o edifício colegial e a respetiva igreja em 1834, logo os vizinhos, que eram paroquianos da freguesia de Santa Justa, fizeram uma representação ao Governo a pedir a igreja colegial do Carmo, para nela se exercer o culto... Não chegou a efetivar-se este projeto de devoção particular.
... O Definitório da Venerável Ordem Terceira Franciscana da Penitência, e a Assembleia geral da mesma, pediram em 1837 a referida igreja para sua sede. Obtiveram permissão para desde logo nela se instalar a Ordem, e já em Junho desse ano ali se reunia o Definitório. Mas a concessão foi legalizada somente pela carta de lei de 15 de Setembro de 1841, sendo cedida à Ordem a igreja e suas pertenças... Por carta de lei de 23 de Abril de 1845, obteve a mesma Ordem Terceira o edifício do extinto Colégio do Carmo, contíguo à igreja, a fim de nele estabelecer um hospital para os seus irmãos pobres... Meteu logo mãos à obra para a rápida adaptação provisória do edifício a hospital. Estava já capaz de receber alguns doentes, quando rebentou a revolução popular anti-cabralista de 1846... No mesmo dia 17 de Maio, a Junta provisória requisitou o edifício do Carmo, a fim de servir de quartel às forças populares arregimentadas, que se instalaram logo ali, e estregaram tudo, deixando depois a casa arruinada, quando retiraram.
Foi reparado, e em grande parte reconstruído o edifício a gosto moderno, bem pouco feliz, sendo finalmente aberto o hospital... 15 de Junho de 1851.
... Fundou-se em 1855 o... Asilo da Mendicidade... obteve-se da Ordem Terceira licença para ficar provisoriamente ... Ali se conservou até... 15 de Novembro de 1860.
... Finalmente, pela carta de lei de 11 de Agosto de 1860, obteve a Ordem Terceira a cerca que fora do Colégio, excetuada apenas a parte que viesse a tornar-se indispensável à estrada, que se projetava fazer, da azinhaga do Carmo ao cemitério da Conchada.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 187-189, do Vol. I
No decurso da investigação que venho realizando, encontrei a seguinte curiosa notícia:
Dom Luiz. Por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc. Fazemos saber a todos os nossos súbditos, que as côrtes geraes da nação decretaram e nós queremos a lei seguinte:
Artigo 1.º É aprovado o contrato de iluminação da cidade de Coimbra, por meio de gaz, celebrado entre a respectiva camara municipal e a companhia conimbricense de illuminação, a gaz, por escriptura de 17 de março de 1874.
Instalações da Companhia Conimbricense de Illuminação, fotografia da coleção de Jorge Oliveira, a quem agradecemos a cedência
Contrato para a iluminação a gaz da cidade de Coimbra, a que se refere esta lei, e d’ella faz parte.
Saibam os que este publico instrumento de contrato virem, que no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1874, aos 17 dias do mez de março, n’esta cidade de Coimbra, paços do concelho e sala das sessões ... se achavam presentes de uma parte os ex.mos dr. José Maria Pereira Coutinho, vice-presidente da camara ... e da outra parte os ex.mos directores da companhia conimbricense de illuminação a gaz, José Luiz Pereira Crespo e João Eduardo Ahrens, residentes em Lisboa... E logo pelo primeiro outorgante foi dito que, terminando em 30 de setembro do corrente anno a concessão feita á companhia representada pelos segundos outorgantes para a illuminação a gaz da cidade de Coimbra, em virtude da escriptura celebrada ... em 13 de Outubro de 1854, tinham ambas as partes contratantes acordado em renovar aquela concessão mediante as seguintes condições.
1.ª A companhia... obriga-se a continuar a laboração da sua actual fabrica e a montar á sua custa todos os novos aparelhos que forem precisos para fornecer todo o gaz necessario á illuminação publica e particular da cidade de Coimbra que lhe for requisitado, tanto pela camara municipal, como pelos particulares, para terem de noite illuminação permanente em todas as ruas, travessas, praças e mais logares públicos em que actualmente existe a illuminação a gaz ou para onde se fizerem as novas canalisações a que se refere a condição 12.ª.
& único. Para este fim a companhia conservará desde o ocaso até ao nascimento do sol em toda a sua canalisação a necessaria pressão.
2.ª Este contrato vigorará pelo praso de dez annos...
3.ª O estabelecimento ou fabrica da companhia continuará a ser, como presentemente é, no sitio das Portas de Santa Margarida, ao fundo da rua da Sophia, no terreno que actualmente ocupa...
...
6.ª Os candieiros continuarão a ser de chapa de cobre, assente sobre braços ou candelabros de ferro fundido e todos numerados...
7.ª - 1.º Nas noites de luar claro, desde o nascer até ao pôr da lua a luz dos candieiros públicos poderá ter só metade das dimensões marcadas.
- 2.º Os candieiros públicos serão accesos ao anoitecer e apagados ao amanhecer, sendo este serviço regulado de fórma que todos os candieiros estejam accesos vinte minutos depois do escurecer, e não se comecem a apagar mais de vinte minutos antes do amanhecer.
...
11.ª A camara pagará á companhia, livre de toda e qualquer outra despeza... a quantia de 22$500 réis annuaes por cada candieiro de illuminação publica...
12. Alem dos candieiros existentes ao tempo da celebração d’este contrato, a camara poderá exigir da companhia a colocação de outros, pelo preço anual estabelecido...
1.º Alem da illuminação acima estipulada a companhia obriga-se a canalisar de novo, e colocar os candieiros que a camara indicar nas linhas seguintes:
Linha da estação do caminho de ferro, aproximadamente 1:297 metros correntes;
Linha da ponte 681 metros;
Linha do Jardim Botanico 190 metros;;
Linha da Alegria 200 metros;
Linha do caes 330 metros;
Linha do Bairro de Thomar 500 metros
Diario do Governo. 1875. Numero 76, de 7 de Abril
Notícias que nos permite concluir que:
- A iluminação pública, a gás, foi iniciada cerca de 1854;
- A fábrica onde o gás era produzido estava instalada no terreno que mais tarde – após a municipalização desta empresa – serviu de remise e oficina dos carros elétricos, até à sua transferência para as instalações da Rua da Alegria;
As mesmas instalações já adaptadas a remise e oficinas, fotografia da coleção de Jorge Oliveira, a quem agradecemos a cedência
- Remise e oficina que, até há algum tempo, eram conhecidas pelas “instalações do gás”;
- No início da segunda metade século passado foram essas instalações cedidas para ampliação do Palácio da Justiça. Ampliação que ainda não aconteceu até ao presente, sendo que os edifícios ali existentes se apresentavam muito degradados até à sua muito recente demolição. O espaço vêm servindo de parque de estacionamento dos magistrados e funcionários do Palácio da Justiça
Era destinado aos religiosos estudantes universitários da «Ordem de S. Domingos». Cronologicamente é o primeiro dos Colégios que se estabeleceram na Universidade portuguesa, depois da sua fixação em Coimbra.
Teve por fundador e grande protetor el-Rei D. João III.
... Estava em princípio do ano letivo de 1539-1540 ... quando, a 16 de Outubro, se deu a migração dos colegiais dominicanos da Batalha para a cidade do Mondego, albergando-se no próprio edifício do convento de S. Domingos, sito à «Figueira-velha», na margem direita do rio, (as ruínas estão a cerca de 12 metros, sob o Hotel Almedina)... É pois a esta data ... que devemos reportar o início deste primeiro Colégio universitário, que tinha por titular S. Tomás de Aquino.
Ali se manteve até 1546, em que os religiosos dominicanos se viram forçados a abandonar o seu convento, constantemente inundado e meio submerso pelo Mondego. As obras já corriam neste ano de 1546.
Construíram-se então dois edifícios distintos, mas vizinhos, na Rua da Sofia: um para o convento dos religiosos de S. Domingos, outro para o Colégio de S. Tomás, onde residiriam os dominicanos universitários, assim os lentes como os estudantes.
Colégio de S. Tomás, portal
... Realizou-se com grandeza a fábrica do edifício, situado, como fica dito, na Rua da Sofia, ocupando o local onde hoje se ergue o palácio da Justiça; ainda neste se vê a bela arcada renascença do claustro colegial. O lindo e majestoso portal, que decorava a fachada, encontra-se enxertado na parede externa do Museu de Machado de Castro, que se defronta com o largo de S. Salvador.
Foi este Colégio incorporado oficialmente na Universidade por carta-régia de 20 de Junho de 1557.
Contou, entre os seus colegiais, teólogos muito notáveis, e até alguns célebres. Durante muito tempo foi este Colégio o principal fornecedor de lentes para a cadeira de Prima da Faculdade de Teologia.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 184-186, do Vol. I
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