Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A capela ficou novamente só, com o seu ermitão, naturalmente um pobre homem que tinha a chave, como outrora acontecia em qualquer capela de perdida aldeia.
Mas, na cidade, os acontecimentos que rodeavam a vida de António, o franciscano, colhiam eco e, quando foi conhecida a notícia da sua morte, dada a aura apoteótica que o envolvia, esperava-se uma glorificação rápida, acontecida logo no ano seguinte, em 1232.
Sto. António cónego regrante. Início séc. XIX
O Santo, em Coimbra, tinha vivido em dois lugares: o abacial mosteiro de Santa Cruz e o ermitério de Santo António dos Olivais, onde então ainda permaneciam os frades; na igreja crúzia, a primeira capela da esquerda, passou a ostentá-lo por orago e nos Olivais, o próprio oratório conventual mudou de “dono”: de Santo Anton, o ermita, transmutou-se em Santo António, o pregador.
Contudo, em Coimbra, a capela dos Olivais constituiu-se sempre como o principal santuário antoniano ... A capelita ... deve ter continuado na posse do cabido, que, nos fins do século XV, em virtude do incremento do culto aí praticado, a mandou reformar e ampliar. Ficou com a área que atualmente ocupa, exceção feita à capela-mor que, no século XVIII sofre ligeiro aumento.
Em 12 de Maio de 1536 o cabido catedralício passou alvará de pagamento de 1.800 réis, a João de Ruão, pela cruz de Santo António que se encontrava albergada num pequeno alpendre, aberto por todos os lados. A estrutura, que apenas no século XVIII, aquando da aposição dos azulejos, temáticos... deve ter assumido a configuração atual, ocupava ... uma posição topográfica comum aos cruzeiros, pois erguia-se na confluência da estrada do Tovim com a Calçada do Gato, justamente nas proximidades do santuário antonino, então ainda pertença do cabido da sé.
Cruzeiro do Senhor Santo Cristo já transformado em capela
O templete do Santo Cristo, quadrangular, apresenta nas esquinas, assentes sobre um embasamento, pilares dóricos lisos, com exceção dos da fachada principal que ostentam finos lavores renascentistas relacionados com a temática da paixão; decoram o friso enrolamentos em forma de S e cobre-o um coruchéu quadrado, revestido com tijolos de orelha, vidrados a verde e melado.
No interior destaca-se a imagem de Cristo crucificado, saída do cinzel de Ruão, com a data de 1536 gravada no pé ... a construção do templete do Santo Cristo se pode considerar como marco do final da primeira fase, ou seja, o período de ermitério.
Em 1540 ... o olival, a horta e as ofertas feitas à casa de Santo António, bem como o conjunto ermítico, transitaram do cabido para os franciscanos capuchos da província da Piedade e, anos depois, em 1763, como resultado de uma nova divisão de províncias levada a cabo pela ordem franciscana, fica adstrito à da Soledade.
Veio dos frades o aspeto pitoresco que o sítio apresenta e também deles ficou o conjunto construtivo, pois conservaram a mesma igreja e construíram a residência conventual ... contudo, na primeira metade de Setecentos, prolongando-se até ao final da centúria, levaram a cabo obras de envergadura que passaram pela modificação da frontaria da igreja, pela construção do escadório com as suas capelas e pela feitura da sacristia.
Encerrou-se, em 1834, com a extinção das ordens religiosas, o ciclo monástico e, no ano seguinte, o convento foi vendido a um particular.
Anacleto, R. 2005. Santo António dos Olivais: De Ermitério a Freguesia. Conferência na cerimónia comemorativa do aniversário da criação da freguesia.
Dado o destino que os seus Colégios tiveram, os Crúzios logo pensaram em edificar um Colégio que substituísse aqueles … Melhor local não poderia escolher que o vasto planalto, levemente inclinado para poente, sobranceiro aos Mosteiro de Santa Cruz, dentro da Muralha, onde os Crúzios ocupavam uma Torre onde tinham os sinos do Mosteiro, conhecida por Torre de Santa Madalena, ou Torre Velha dos Sinos … alguns casebres e terras de cultura, tudo vizinho da oficina de canteiros de João de Ruão, que agora se sabe ali vivia num beco que tinha o seu nome. Aquela torre, entre a Torre do Prior do Ameal e a Torre de Preconeo, é referida no desenho de Moefnagel, e tinha próximo a capela de Santa Madalena, propriedade dos Crúzios, e que dava o nome à Torre … entre os terrenos que os Crúzios adquiriram estava um confinante com a conhecida Torre do Prior do Ameal … Em Julho de 1552 é assinado o primeiro contrato de escambo entre a Câmara e o Mosteiro, contrato em que este cedia àquela o domínio direto de duas casas na Rua do Coruche ‘que he das boas da cidade’, recebendo em troca um ‘pedaço de chão à Porta Nova’, com seu muro e barbacã, e o domínio direto das torres e muros aforados ao licenciado João Vaz.
… Ultrapassadas as dificuldades da aquisição dos terrenos … logo no dia 30 de Março de 1593 se iniciaram as obras, sob traça do arquiteto Filipe Tércio … é naquele dia que é feito solenemente o assento da primeira pedra do novo Colégio … A construção, não obstante rápida dado o volume enorme que tinha, foi sofrendo sobressaltos. Para darem um pouco mais de largura à construção, os Crúzios apropriaram-se de boa parte da rua medieval conhecida por rua ‘que ia da Porta Nova à Sé’, com a projeção aproximada da hoje Rua do Colégio Novo, e assim em domínios da Sé. O Cabido logo interpôs embargos … acabando a contenda por ser solucionada com a transferência para o Cabido de uma propriedade na Beira, pertença dos Crúzios,
Silva, A.C. 1992. A Criação e Levantamento do Colégio da Sapiência (vulgo Colégio Novo). Coimbra, Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Pg. 16 a 20
Convento de S. Domingos
Do lado fronteiro (ao Colégio da Graça) erguia-se o «Convento de S. Domingos», agora desaparecido e rasgado pela abertura da Rua João de Ruão. Da igreja pouco resta, além da fachada voltada à rua, que era a cabeceira da capela-mor, armoriada com o brasão dos duques de Aveiro, e da Capela de jesus, de magnífica arquitetura renascentista. Fazia parte deste templo a Capela do Tesoureiro, uma das mais notáveis realizações da Renascença Coimbrã, mas já com decoração maneirista, feita por João de Ruão entre 1558 e 1565. Encontra-se agora montada no Museu Machado de Castro.
A Igreja de S. Domingos, que ficou por concluir, devido à falta de meios … O antigo convento desta ordem situava-se mais próximo do rio (escavações arqueológicas entretanto realizadas identificaram a sua localização debaixo do edifício do Hotel Almedina) e havia sido fundado no primeiro quartel do século XIII, sob a proteção de D. Branca e D. Teresa, filhas de D. Sancho I.
Colégio do Carmo
Confinando com a Igreja da Graça encontra-se o «Colégio e Igreja de Nossa Senhora do Carmo»
O Colégio do Carmo Calçado foi uma das mais prestigiosas instituições da cidade universitária de Coimbra. Fundado em 1542 pelo bispo do Porto, D. Frei Baltazar Limpo, para acolher os clérigos da sua diocese que viessem seguir os estudos em Coimbra, em breve resolveria destiná-lo aos frades da ordem em que professara … Foi ele o iniciador das grandes construções colegiais de que ainda resta parte do noviciado, datado de 1548.
Mas o grande construtor, aquele que mandou erigir a mais monumental igreja da Rua da Sofia e um dos mais belos claustro de Coimbra foi, porém, o famoso bispo de Portalegre, D. Frei Amador Arrais
… A Igreja do Carmo é como um coroamento de todas as pesquisas arquitetónicas citadinas, com uma fachada porticada … de nave única com capelas nos flancos.
… Os edifícios foram entregues à Ordem Terceira de S. Francisco, que fez algumas alterações nas alas colegiais.
… A igreja data de 1597 e teve como mestre-de-obras e provável tracista Francisco Fernandes … são notáveis as capelas laterais … No retábulo principal salientam-se as pinturas maneiristas, do melhor que no género se fez em Portugal, de autoria de Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão. De estacar são também os azulejos e as esculturas em madeira estofada.
… O claustro foi concluído em 1600 … Como diz Eugénio de Castro, este claustro é “o encanto de todos os artistas e a inveja de quantos ambicionam um asilo discreto e carinhoso para os estudos e para as suas meditações”.
Na sacristia, entre outras peças de valor, guarda-se uma Deposição no Túmulo, do século XVI, vinda do Convento de Sant’Ana, e um belíssimo arcaz feito em 1754 pelo marceneiro António Temudo.
Borges, N. C., 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença. Pg. 81 e 82
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.