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De hoje a 15 dias vai realizar-se mais uma Conversa Aberta que conforme, o habitual, decorrerá na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra (junto ao Instituto Justiça e Paz, antigo CADC), na última sexta-feira de cada mês, a partir das 18h00, com entrada livre.
Desta vez o tema a ser tratado será As Terras do Aro de Coimbra nos documentos e objetos do Arquivo Histórico Municipal de Coimbra.
A palestrante, Dr.ª Paula França que é a responsável pelo Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, profundamente conhecedora do mesmo e sempre pronta a ajudar aquele que ali fazem as suas investigações.
Aliás, o Arquivo merece uma visita. Quanto mais não seja, pelas pequenas exposições, periodicamente renovadas, que ali estão patentes.
Participe no debate e ajude por favor na divulgação do evento.
Rodrigues Costa
O Arquivo da Universidade de Coimbra, dedicou este mês, a série “Documento do mês”, a um documento bastante curioso.
Trata-se de uma resolução do Claustro Pleno da Universidade, datada de 2 de janeiro de 1693, em que se decide sobre a receção da Rainha D. Catarina, viúva do Rei de Inglaterra D. Carlos II, regressada a Portugal.
PT/AUC/ELU/UC – Universidade de Coimbra (F); Livros dos Conselhos (SR), vol. 30, fl. 65v – cota AUC-IV-1.ªD-1-2-79
PT/AUC/ELU/UC – Universidade de Coimbra (F); Livros dos Conselhos (SR), vol. 30, fl. 65v – cota AUC-IV-1.ªD-1-2-79. Pormenor
Rainha D. Catarina de Inglaterra. Imagem acedida em https://www.bing.com/images/search?view=detail ..
O documento é assim descrito
Sob a presença do Reitor da Universidade D. Rui de Moura Teles, cuja assinatura figura em primeiro lugar, no final do registo, teve lugar o claustro pleno da Universidade, em que se decidiu “sobre a vinda da Senhora Rainha da Gram Bertanha e carta que Sua Magestade que Deus guarde escreveu à Universidade.”
O Rei D. Pedro II, irmão de D. Catarina, na carta dirigida à Universidade e que foi lida em claustro pleno, recomendava que se fizessem todas as demonstrações na receção de D. Catarina:” como se fora a sua própria pessoa”.
A Rainha D. Catarina, filha do Rei D. João IV e da Rainha D. Catarina de Gusmão, estivera casada com o Rei de Inglaterra D. Carlos II, desde 1662 até 1685, ano do falecimento do Rei. Permaneceu em Inglaterra até 1692, tendo regressado a Portugal em meados desse ano, mas só chegou a Lisboa em 20 de janeiro de 1693.
A sua presença em Coimbra teve lugar entre os dias 8 e 11 de janeiro de 1693, tendo ficado hospedada no Paço Episcopal, onde recebeu uma comitiva da Universidade, que lhe apresentou cumprimentos.
Paço Episcopal em finais do séc, IX, atual Museu Nacional Machado de Castro
No seu dote de casamento levava as possessões de Tânger e Bombaim que passaram assim para o domínio inglês. A sua presença em Inglaterra não agradou a todos, sobretudo por ser católica e por não ter podido dar ao Rei D. Carlos II um descendente. Mas a sua presença naquele país ficou marcada por hábitos que introduziu na corte, como a bebida do chá e a sua aceitação nos Estados Unidos da América, então ainda possessão inglesa, foi enorme tendo sido dado em sua homenagem o nome de Queens a um dos bairros de Nova Iorque.
No final do registo, do punho do escrivão da Universidade João Correia da Silva (cuja grafia tão particular levanta sempre dúvidas de leitura) podemos ver as assinaturas dos lentes de cada Faculdade: Frei Bento de São Tomás, Frei José de Carvalho, Dr. João Batista Soares, Manuel da Costa de Almeida, Valério Farinha e D. Nuno Álvares Pereira de Melo.
É necessária uma chamada de atenção para a grafia do ano que se apresenta no registo, como sendo 1692, mas que foi um lapso do já referido escrivão João Correia da Silva. Efetivamente, trata-se do ano letivo de 1692-1693 e o registo da folha seguinte é bem explícito, de 26 de janeiro de 1693, enquanto o registo da folha anterior era de 7 de dezembro de 1692.
Do documento é, ainda, apresentada a respetiva transcrição que para os mais interessados está disponível em: https://www.uc.pt/.../docs/documentodomesdejaneiro2023
AUC. Resolução do Claustro Pleno da Universidade, datada de 2 de janeiro de 1693. Quota PT/AUC/ELU/UC – Universidade de Coimbra (F); Livros dos Conselhos (SR), vol. 30, fl. 65v – C.
Como já temos referido, o Arquivo da Universidade de Coimbra integra exemplares que são verdadeiras preciosidades, as quais vai revelando, periodicamente, no seu site.
Hoje recuperamos esta magnifica encadernação mudéjar cuja história é a que se segue.
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 1
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 2
Esta encadernação mudéjar, em pergaminho, foi adaptada ao Livro de Apresentação de Colegiaturas e familiaturas do Pontifício e Real Colégio de São Pedro (1623-1790).
Exemplar único no AUC é, certamente, uma tipologia de encadernação rara em outros arquivos do país. Terá sido adquirida, pelo referido Colégio, a comerciantes livreiros de Coimbra que a trouxeram, decerto, de Espanha, onde existem inúmeros exemplares destas encadernações.
Anteriormente, pertenceu a uma obra que tinha por título, que ainda pode ser lido, no interior da badana, Manual 1591. Também a dimensão do miolo do volume atual, ligeiramente superior à da encadernação, confirma que foi feito esse reaproveitamento.
As presilhas de fecho desta encadernação em envelope, com badana, estão completas, mas já são omissos os botões de fecho, geralmente feitos com uma tira de pergaminho enrolada, restando apenas o vestígio dos mesmos.
AUC. O documento do mês. Acedido em https://www.uc.pt/anossauc/centrodoconhecimento/encadernacao/
Prosseguindo na séria “Documento do mês” o Arquivo da Universidade de Coimbra, divulgou esta preciosidade
Séc. XVI (?) – Letra capital iluminada de um fólio de pergaminho que foi recuperado para servir de encadernação. PT/AUC/DIO/CST – Colegiada de São Tiago (F); Escritura de obrigação de missas (DC) – III-1.ªD-8-5-23. Acedido em: documentodomesdeagosto2022 (uc.pt)
Estamos em presença do reaproveitamento de um fólio de pergaminho, de livro litúrgico com notação musical, para ser utilizado como capa de uma escritura de obrigação de missas.
A escritura de obrigação, datada de 15 de novembro de 1633, estabelece o cumprimento de um legado pio, de celebração anual de três missas rezadas, feita por Bernarda de Vargas, viúva do impressor Jorge Rodrigues. Para cumprimento desta disposição, deixa em legado, à Colegiada de São Tiago, umas casas “de sobrado”, na Rua do Corpo de Deus.
O documento foi redigido na Rua da Moeda, em Coimbra, pelo tabelião Lopo de Andrade, perante Bernarda de Vargas e a seu pedido. As missas seriam celebradas na igreja Colegiada de São Tiago, da seguinte forma: uma pelo Natal, outra pela Páscoa e outra pelo Espírito Santo, sendo a esmola por cada missa cinquenta réis.
Apesar de se poder ler “Obrigação das missas das cazas do P.e Domingos Fernandes”, este título não corresponde ao conteúdo da escritura, mas sim um outro título que se encontra no início do volume, na capa, no plano superior: “Cazas da Rua do Corpo de Deus tem três missas”.
O acervo desta Colegiada de São Tiago inclui documentação para o período cronológico de 1511 a 1854, tendo sido, neste último ano, suprimidas todas as colegiadas de Coimbra, por decisão do Bispo D. Manuel Bento Rodrigues. Abrange outra documentação relativa a disposições pias, mas o acervo é formado, sobretudo, por livros de escrituras de emprazamento, aforamento e venda, livros de receita de foros e rendas, tombos de medição e demarcação, livros de receitas e despesas, etc.
O fragmento de pergaminho com uma bela iluminura da letra capital A (dim. 200 mm alt. X 160m larg.) numa policromia de cores vermelha, azul e sépia, denota algum desgaste, por manuseamento e sujidade. No entanto, ainda é possível apreciar pormenores do filigranado da decoração, em motivos vegetalistas e pássaros, num trabalho de desenho muito meticuloso.
O pentagrama da notação musical, em linhas a vermelho, com notação quadrada, a sépia, permite atribuir ao fragmento e volume ao qual terá pertencido, a datação do séc. XVI, muito provavelmente. São ainda visíveis os atilhos da encadernação, em pele escura, dos quais apenas resta um completo. Não é de descartar a hipótese de o próprio livro em pergaminho, a que pertenceu o presente fragmento, ter sido um livro de cantochão da Colegiada que já estaria inutilizado e, por isso mesmo, foi reaproveitado.
Documento acedido em : documentodomesdeagost
O arco cruzeiro é de arco quebrado, largo caveto entre colunelos, rematando num Calvário de figuras posteriores. os tetos são os referidos do século XVII restaurados no fim do século XIX, de ornatos de enrolamentos acantiformes.
Vista da capela-mor e do transepto da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 55
As paredes da capela-mor estão cobertas de azulejos de tapete, de folhagens azuis, protobarrocos, de fabrico de Lisboa, de Gabriel Ferreira, aplicados pelo azulejador Jorge Gonçalves, em 1613. O azulejo da nave pertence ao meado do mesmo século XVII, policromo, de Lisboa, mostrando duas figuras sobre o arco Cruzeiro, Adão e Eva, também protobarrocos.
O retábulo do altar-mor é do princípio do século XVII. 0 desenho foi pago, em 1605, a Bernardo Coelho, artista lisbonense que fez trabalhos em Coimbra e que parece nada a ter com os Coelho vindos de Portalegre. A obra foi dada a Simão da Mota, em 1611. A estrutura é um magnífico exemplo da estética maneirista. As pinturas são de Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão que as contrataram em 1612. Ladeando o vão central e formando o primeiro corpo há dois intercolúnios coríntios, com frontões de enrolamentos; o segundo é de pilastras mísuladas. As tábuas superiores representam o Nascimento e a Adoração dos Magos. As de baixo a Ressurreição e o Aparecimento à Virgem. Na parte central da predela há uma Ceia, e nas laterais dois bustos em talha de madeira de São Pedro e São Paulo. o vão foi alterado no século XVIII, como as talhas denunciam e os documentos comprovam. Trata-se de um dos maís importantes conjuntos da pintura maneirista portuguesa refletindo claramente a tendência italianizante que este estilo alcançava, no final do século XVI, e início do século XVII particularmente no círculo lisboeta.
Encostados às paredes vêem-se bancos corridos os «doutorais» e a cadeira do prelado universitário, de braços e alto espaldar com veludo, do século XVIII. Os doutorais foram executados por Francisco de Barros e Manuel de Morais que também fizeram o pequeno cadeiral do coro-alto, tudo em estilo D. Maria, isto é, uma forma peculiar do neoclássico nacional.
Aos lados do cruzeiro, encostam-se dois retábulos, do terceiro quarto do século XVIII, claramente barrocos da última fase, cuja traça se deve ao marceneiro Manuel Moreira. O do lado esquerdo mostra uma escultura grande de pedra, dos três últimos anos do século XVI, da Senhora com o Menino, e duas de madeira pequenas, do século XVIII e evocativas de Santo Agostinho e São José, da autoria do lisbonense Joaquim Bernardes que as esculpiu em 1781. O do lado direito, há uma grande imagem de Santa Catarina, e duas menores, uma representando Santo Inácio e outra São Francisco de Borja. A primeira saiu das mãos do escultor beneditino Frei Cipriano da Cruz, e as outras das do já citado Joaquim Bernardes.
No topo do |ado esquerdo do transepto está embutida a lápide do juramento da Imaculada Conceição, executada por Samuel Tibau. Na parede do |ado direito, salientam-se o púlpito e o órgão. O púlpito é uma obra corrente, idêntica a outras existentes na cidade (1648-49), sendo a parte de madeira de Manuel Ramos.
Órgão barroco da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 67
A caixa do órgão foi construída de 1732 a 1733, e dourada e pintada, em 1737, por Gabriel Ferreira da Cunha, é uma boa composição do barroco da primeira metade do século XVIII.
Pintura e talha decorativa da caixa do órgão barroco da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 68
Pintura decorativa da caixa do órgão barroco da Capela de São Miguel. Op.cit., 69
A estrutura mecânica ficou a dever-se ao grande organeiro setecentista Manuel de São Bento Gomes, deve destacar-se a excecional decoração de "chinoiserie” tão em voga na época de D. João V, e a terminação superior, plenamente barroca, com anjos e tecidos fantasiados, alegoria à magnificência do Monarca, representado pelo Escudo Real.
O coro-alto assenta num corte feito à nave, em 1780, para se dar um acesso a várias repartições administrativas, obras dirigidas pelo mestre José Carvalho.
A coleção de pratas da capela, do tempo e estilo D. João V, constitui um bom agrupamento de peças. Além das espécies do século XVIII, como castiçais e lâmpadas dos altares laterais destaca-se a lâmpada da capela-mor, de 1597, maneirista de prata branca, executada pelo ourives Simão Rodrigues e composta de balaústres e largamente decorada. São excelentes as banquetas do altar-mor e dos dois altares laterais ao arco-cruzeiro, obras de prata executadas em Lisboa e que ostentam o Brasão Real de D. João V, monarca que as ofereceu à Universidade, são de um barroco evoluído e erudito, constituindo um dos melhores conjuntos portugueses do género.
É de salientar ainda o sacrário de bronze dourado, do século XVII, com uma composição de dois corpos e com colunas coríntias emparelhadas, separando nichos vazios de estilo maneirista e excelente nível de execução.
Dias, P. e Gonçalves, A.N. O Património Artístico da Universidade de Coimbra. 2.ª edição revista e aumentada. 2004. Coimbra, Gráfica de Coimbra, Ld.ª
Com esta entrada iniciamos uma exploração do que nos é revelado no livro O Património Artístico da Universidade de Coimbra.
O Património Artístico da Universidade de Coimbra, capa
A Capela de São Miguel foi uma das extensões manuelinas dos paços antigos. Do oratório dos primeiros tempos existem alvarás de D. Afonso V que se referem a uma capela, capelães e encargos, etc. A obra atual é inteiramente manuelina, segundo o traçado de Marcos Pires, que faleceu no fim de 1521. Ficou incompleta, faltando o lajeamento, caiações, etc., e os tetos que, sendo de madeira, não eram da sua empreitada, mas pertenciam à de Pêro Anes.
Vista da fachada da Capela de São Miguel. Op.cit., pg. 53
Interior da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 54
As cornijas no transepto e capela-mor que são já renascença e devem-se a Diogo de Castilho. Talvez tenha sido projetada uma abóbada para a capela-mor que, por morte do mestre, abortaria, tanto mais que se deu acabamento sumário aos Paços. Em 1544, estavam ainda tantos entulhos na capela que subiram a 200 carradas. João de Ruão trabalhou também nestas obras de acabamento.
No tempo intermédio continuaram os atos religiosos das obrigações da capeia, mas não se sabe onde se realizavam. Em datas sucessivas, fizeram-se obras secundárias. De 1695 a 1697, foi renovado o teto bem como os telhados. A pintura do estuque é da autoria do pintor lisbonense Francisco Ferreira de Araújo (fal. 1701), e foi renovada, em 1859, por António José Gonçalves das Neves.
O plano é o costumado, dois retângulos, para a nave e capela-mor, tendo aquela duas leves saliências a servir de transepto que, em alçado, terminam abaixo do nível da linha das paredes, da nave, cobertas de pequenas abóbadas nervadas. Os ângulos externos da capela-mor são robustecidos de contrafortes cilíndricos terminados por torreões renascentistas de sabor serliano.
A porta de entrada é lateral, a meio da parede esquerda da nave, acompanhada de duas altas janelas, que se repetem ao lado fronteiro, rasgando-se outras, uma a cada banda, no transepto e na capela-mor, de traçado maís simples.
A porta é uma composição típica de Marcos Pires, num manuelino naturalista. Entre dois contrafortes, em forma de pilar torcido, recorta-se o arco decorativo, tricêntrico, cujos aros se entrelaçam e rematam em desenvolvida cruz. Ficam-lhe inferiores os dois vãos, de verga policêntrica e abatida que um pilar médio separa, pilar fruto duma restauração de 1895, em substituição duma coluna clássica. Fica sobre este o Escudo Real, acompanhado, nos extremos do espaço, da Cruz de Cristo e da Esfera Armilar. Três escudetes suplementares mostram símbolos da Paixão.
Escultura barroca de São Miguel da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 62
No vértice da empena do topo da nave, ergue-se a cópia de uma escultura de pedra, manuelina evocativa de São Miguel, da autoria de Diogo Pires-o-Moço. O original está guardado.
Dias, P. e Gonçalves, A.N. O Património Artístico da Universidade de Coimbra. 2.ª edição revista e aumentada. 2004. Coimbra, Gráfica de Coimbra, Ld.ª
O Arquivo da Universidade de Coimbra, divulgou mais um interessante Documento do Mês, que nos permite vislumbrar a realidade social em Coimbra, em meados do século XVII. Trata-se do arrolamento das esmolas concedidas por Joane Mendes de Tavora, (1598 c.-1646), 46º bispo de Coimbra, entre 1638 e 1646.
Segundo o site Geni deixou impresso um sermão de auto de fé pregado em 1629, uma epístola em latim ao papa Inocêncio X, datada de 1644, e um Memorial a el-rei em nome do deão e Cabido da Sé de Lisboa, em defesa da liberdade eclesiástica violada com a lei que promulgou contra o uso dos coches. Deixou também manuscritos uns comentários em latim ao cântico da Magnificat.
Sermão que pregou ... no auto de fé. Acedido em: https://www.geni.com/people/Joane-Mendes-de-Tavora-11%C2%BA-conde-de-Arganil-46%C2%BA-bispo-de-Coimbra/6000000010221250308
Refere a respetiva nota explicativa documento ora divulgado.
Este volume de registo de esmolas, do qual não se conhece qualquer outro, semelhante, de nenhum Bispo de Coimbra, permite conhecer a quem se destinavam as esmolas, fruto da sua magnanimidade. As páginas que temos presentes reportam-se a dezembro de 1640, sem ser feita menção dos dias em que foram concedidas as esmolas.
Livro das esmolas extraordinárias que faz o Ill.mo S.or Bispo Conde o S.or. Joane Mendes de Távora. 1640, dezembro, ?,
O seu quantitativo é variável, podendo ir de 20 réis a 400 réis, estando reservado este valor mais elevado para as comunidades religiosas, como os frades de Santo António dos Olivais, os Carmelitas Descalços, do Colégio de S. José dos Marianos, em Coimbra, os Carmelitas Descalços do Convento do Desterro do Buçaco ou os frades do Convento de Santo António da Pedreira, em Coimbra.
Algumas mulheres doentes que passavam “com carta de guia”, ou seja, não residentes na cidade e em passagem pela mesma, receberam 20 a 40 réis, assim como alguns romeiros que seguiam para Santiago de Compostela, também receberam esse valor. A referência a estes romeiros é frequente, atestando como a cidade de Coimbra era um dos locais de percurso, do caminho de Santiago. Em outras páginas deste volume, constata-se a particular indicação de romeiros flamengos que vinham de Santiago, de soldados franceses que iam para a fronteira, ou passavam para Lisboa, de homens estrangeiros que estavam de passagem ou a esmola a mouros que se fizeram cristãos, permitindo conhecer uma cidade animada por pessoas de diversas origens. O registo da esmola de 80 réis dada a quatro homens do mar “que passavam roubados” é, por sua vez, ilustrativo dos perigos dos caminhos e dos assaltos, com intuito de roubos neles praticados.
A Santa Casa da Misericórdia de Coimbra recebia, habitualmente, a esmola mensal de 2 mil réis, assim como algumas Confrarias de Coimbra, entre as quais a Confraria de N. ª S.ª da Luz, da Universidade (esmola de 400 réis dada em maio 1640). Também eram contemplados alguns oficiais da Sé de Coimbra, como o sineiro da Sé, os moços do coro da Sé e ainda o “capado cantor” da Sé cujo vestuário que lhe foi dado (uns calções e um gibão, no valor de 1.900 réis) ou também o músico da Sé, Manuel Ferreira (que recebeu 400 réis, dados em maio de 1640).
Diversos outros registos mostram-nos como eram contemplados estudantes pobres, alguns presos no aljube, ou ao estudante António Lopes Feio, preso na cadeia da Universidade (esmola de 400 réis dada em março de 1640), etc.
Cabido da Sé de Coimbra. Livro das esmolas extraordinárias que faz o Ill.mo S.or Bispo Conde o S.or. Joane Mendes de Távora. Coimbra. Cota AUC – III-1.ªD-3-5-269.
Prosseguindo na sua cruzada – porque é isso mesmo, uma cruzada em prol de Coimbra e da sua história – o Dr. Mário Araújo Torres acaba de editar com recolha de textos e notas suas, mais um volume do conjunto de livros esquecidos ou raros que ajudam à compreensão da nossa Cidade, no passado e no presente.
Capa do livro
Na contracapa podemos ler.
Imagem de parte da contracapa
Na presente edição reproduz-se o único exemplar conhecido da «Descripcam e debuxo do Moesteyro de Sancta Cruz de Coimbra», impressa em 1541 nas oficinas tipográficas do próprio Mosteiro, atualmente conservado na «Greenlee Collection» da «Newberry Library» de Chicago, e procede-se à transcrição integral do opúsculo, com atualização da grafia.
Imagem da pg. 29
Mas a obra ora publicada não se fica pela transcrição desta raridade bibliográfica, pois é enriquecida com os seguintes trabalhos em anexos.
Reproduzem-se os capítulos da «Crónica da Ordem dos Cónegos Regrantes do Patriarca Santo Agostinho» (1668), onde D. Nicolau de Santa Maria alegadamente reproduziu a «Descrição» de D. Francisco de Mendanha, com aditamentos sobre alterações entretanto ocorridas;
Imagem da pg. 85
O estudo de Sousa Viterbo (1890) sobre a descoberta do opúsculo, com anexos documentais dos reinados de D. Manuel I e de D. João III; e extratos de manuscritos de Jerónimo Roman (1588), de D. José de Cristo (1622) e do Cartorário D. Vicente, sobre as novas obras no Mosteiro posteriores a 1540.
Concluindo. O estudioso de Coimbra ou o simples amante das coisas com ela relacionadas, encontra reunido num só volume tudo o que foi escrito relacionado com a descrição do que era o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, nos séculos XVI e XVII.
Pelo meu lado, mais uma vez, o meu obrigado ao Dr. Mário Araújo Torres, pelo muito que está a fazer em prol da divulgação da história da nossa Cidade.
Rodrigues Costa
Mendanha, F. Descripcam e dubuxo do Moesteyro de Sancta Cruz de Coimbra. Reedição com recolha de textos e notas de Mário Araújo Torres. 2021. Lisboa. Edições Ex-Libris.
O Arquivo da Universidade de Coimbra, prosseguindo na consecução de um dos seus objetivos que visa a divulgação de documentos relevantes existentes no seu acervo, apresenta, no corrente mês, o registo de empréstimo do baixão grande da Sé de Coimbra.
Uma busca na internet conduziu-nos ao site https://www.meloteca.com, onde se explica que baixão é uma família de instrumentos de sopro do Renascimento, de palheta dupla, predecessor do moderno fagote e que aparece representado em diversas pinturas e azulejos portugueses. O baixãozinho é da mesma família, mas menor.
Baixão e baixãozinho. Imagem acedida em https://www.meloteca.com/baixao/
O documento em apreço é o seguinte:
1622, outubro, 15. Coimbra – Registo do empréstimo feito a Manuel de Andrade, do baixão grande da Sé de Coimbra, para que ele pudesse aprender a tocar.
PT/AUC/DIO/CSCBR – Cabido da Sé de Coimbra (F); Livros de Acórdãos (SR), vol. 10, fl. 248v-250 – cota AUC – III-1.ª D-1-1-10.
Do mesmo é feita a seguinte e muito interessante análise.
Os registos documentais sobre a música na Sé de Coimbra, em todos os aspetos abrangidos, desde o seu ensino, o canto, os códices musicais utilizados, a música instrumental, etc., não são tão abundantes, como seria desejo dos investigadores destes temas. Por isso mesmo, sempre que algum dado é localizado, é de todo o interesse fazer a sua divulgação.
No caso concreto, do documento que damos a conhecer, trata-se da aprendizagem da música instrumental, ao decidir-se, por um acórdão do Cabido da Sé, que teve lugar em outubro de 1622, de aceder ao pedido feito por Manuel de Andrade, que fora moço de coro da Sé, filho do sineiro da Sé Francisco de Andrade, para que lhe emprestassem um baixão e, assim, pudesse aprender a tocar, como o próprio diz “pera aprender a tanger com elle”.
Para que lhe fosse feito o empréstimo, foi necessário apresentar um fiador, apresentando-se, para esse feito, o padre capelão Mateus Fernandes e o seu próprio pai Francisco de Andrade. Estes tomaram sobre si a obrigação de o pagar, se o baixão se estragasse “ou por algua via quebrasse, ou desaparecesse”. Declaram-se as condições em que o instrumento se encontrava, infelizmente, pouco abonatórias: “o baixão está cheio de caruncho e na boca quebrado e em partes fendido”. O registo foi feito pelo secretário do Cabido, João de Vilas Boas, estando assinado, no final, por todos os intervenientes, a saber, o secretário do Cabido, Manuel de Andrade, seu pai e o Padre Mateus Fernandes.
Um dado não descabido de interesse é aquele apresentado, quase de forma entrelinhada, no fim do sumário do documento, ao dizer-se que “este baixão he hum grande das charamelas”. Constatamos, assim, a existência de uma charamela, na Sé de Coimbra, tal como acontecia na Universidade, podendo acrescentar-se que havia uma permuta de instrumentos e músicos, entre ambas as instituições, como o confirmam alguns documentos do acervo da Universidade de Coimbra.
Por último, podemos saber, um pouco mais, sobre este instrumento de sopro, uma nota marginal, lançada neste Livro de Acórdãos (fl. seguinte à exibida), onde se diz que o baixão voltou a ser entregue, em 6 de setembro de 1627, pelo Padre Mateus Fernandes.
Nestes cinco anos decorridos é que nada sabemos sobre Manuel de Andrade e se este se revelou um bom aprendiz, pois não existem outros registos sobre o assunto.
O elenco de alguns músicos da Sé, que participaram em celebrações litúrgicas, na Capela da Universidade, pode ser conhecido, por exemplo, no que respeita a cantores e instrumentistas, de acordo com os pagamentos que lhes forma feitos pela Universidade. V. BANDEIRA, Ana Maria Leitão; QUEIRÓS, Abílio (2001 -2002) – “Aspectos da Música na Real Capela da Universidade de Coimbra na 1ª Metade do Séc. XVII: O Modelo da Policoralidade”. Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol. XXI –XXII (2001 -2002), pp.115 -146.
Arquivo da Universidade de Coimbra. Documento do mês de outubro – 2021. Acedido em
https://www.uc.pt/.../docs/documentodomesdeoutubro2021.
No âmbito da evocação da Noite Europeia dos Investigadores: ciência para o clima, o Arquivo da Universidade de Coimbra, divulgou no passado dia 24 de setembro, uma muito curiosa exposição documental on-line, intitulada “cando o Ryo de Mondego he cheeo”, quando tudo foi destruído pela pedra e alagados os terrenos. Documentos do AUC (séc. XV-XIX).
O belo catálogo desta exposição está acessível em https://www.uc.pt/auc/slideshow/docs/noiteeuropeiadosinvestigadores?fbclid=IwAR0njcS_LdO6SsGDotTd-r-2ky9qgY8uX-M68QnVkZyYlp099gjFUZWhi8c.
Como refere a Diretora do Arquivo, Professora Doutora Maria Cristina Vieira de Freitas, o objetivo desta iniciativa foi o de dar resposta à seguinte interrogação: “Como pode a ciência contribuir para o conhecimento sobre as causas e efeitos das alterações climáticas e para a neutralidade do clima até 2050?”
O contributo do AUC é constituído pela apresentação de um conjunto de 12 documentos existentes naquela Instituição que ilustram alguns dos fenómenos que encontram as suas origens nos vários eventos cíclicos climáticos.
PT/AUC/HOS/HSLC – Hospital de São Lázaro de Coimbra (F); Coleção de pergaminhos (COL) - AUC-IV-3.ª- Gav. 52- pt. 2 - n.º 61
Respigamos do Catálogo os seguintes documentos:
- Documento 1, Emitido em Coimbra e datado de 11 de janeiro de 1452, do qual é apresentada a seguinte síntese.
Aforamento feito por Gonçalo Pires, vedor e João Gonçalves do Rio, escrivão do Hospital de São Lázaro, juntamente com os lázaros do dito Hospital, a João Afonso Pintor e sua mulher Catarina Anes, moradores em Coimbra, de certas propriedades localizadas em Rio de Vide. Pagariam de foro anual dois alqueires de trigo e um capão, postos no Hospital, por dia de São Miguel de setembro, ou seja, dia 29.
A escritura foi feita pelo tabelião Pedro Dias, na quintã do Hospital «honde os lazaros soem de hir folgar cando o Ryo de Mondego he cheeo” (v. linha 5 do documento). Desde sempre, o rio determinou a saída da população, de uns locais para outros, devido às enchentes, sobretudo nos meses de inverno, como é o caso deste documento, do séc. XV.
Anote-se a particularidade da frase escrita à cabeça do documento, na margem superior, em letra de diferente punho: “esta hase de aclarar com o remedio”. Esta frase é elucidativa sobre o uso de um “remédio” a famosa solução de noz de galha, utilizada para tornar mais nítida a leitura de um documento em pergaminho, quando a tinta estava delida, mas que o inutilizava, ao deixar secar sobre toda a superfície da pele, essa mesma solução.
PT/AUC/HOS/HSLC – Hospital de São Lázaro de Coimbra (F); Coleção de pergaminhos (COL) - AUC-IV-3.ª- Gav. 52- pt. 2 - n.º 61
- Documento 3. Emitido em Coimbra em 1633, do qual é apresentado o seguinte resumo.
Registo da neve trazida para Coimbra, para o Real Colégio de São Pedro, referindo-se que o neveiro a começou a trazer no dia 26 de maio de 1633: “e trouxe nesse dia sinco arrobas e doze arrates”.
As informações lançadas neste pequeno volume evidenciam o transporte de neve (ou gelo) a partir da Lousã, nos meses de maio a setembro.
É frequente a indicação de que o neveiro trouxe “neve limpa”, assim como se refere que foi trazida numa arca. A sua utilização seria, seguramente, para a refrigeração de bebidas e conservação de alimentos. Em anos sequentes, as indicações de aquisição de neve são feitas a partir de junho, podendo dizer-se que havia remessas semanais de neve.
Esta prática dos neveiros já há muito desapareceu e, também, as alterações climáticas já não permitem a acumulação de neve, na serra da Lousã.
PT/AUC/UC – Universidade de Coimbra (F); Real Colégio de São Pedro (SF); Livro de registo do neveiro e do carneireiro do Colégio (DC), 1633-1638, fl. [fl. 3] – AUC-IV-1.ªE-7-3
- Documento 7. Emitido em Lisboa, a 6 de outubro de 1817, sendo apresentado o seguinte resumo.
Procuração dada pelo Doutor José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) a José Pires da Veiga Bulhões para que, como seu procurador, possa receber os vencimentos da Universidade, com lente jubilado na cadeira de Metalurgia.
Todos os seus títulos e cargos são mencionados, no formulário inicial da procuração, incluindo o de Superintendente do Rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra. Verdadeiramente, o cargo teve a designação de Superintendente e diretor do encanamento do Rio Mondego, para o qual foi nomeado por Alvará de 13 de julho de 1807. No séc. XIX voltava de novo a colocar-se a necessidade de proteger os campos do Mondego, com terras férteis no designado baixo Mondego, sendo também uma preocupação a navegação fluvial, pois o rio era o principal meio de comunicação entre Coimbra e as terras até à foz do rio, na Figueira da Foz. Destaque-se a cheia torrencial e devastadora de 22 a 24 de fevereiro de 1788 que muito marcou a população, para ilustrar situações anteriores.
Pelo rio se escoavam e entravam produtos e se abastecia a cidade e todas as povoações, situadas ao longo das margens do rio. Sempre que os invernos eram rigorosos e a chuva abundante, mesmo fora das estações mais próprias, perdiam-se culturas, arruinava-se a trajeto fluvial e as populações perdiam os seus bens.
PT/AUC/ELU/UC – Universidade de Coimbra (F); Processos de Professores (SR), cx. 326 – AUV-IV-1.ªD-8-5-326
AUC. “cando o Ryo de Mondego he cheeo”, quando tudo foi destruído pela pedra e alagados os terrenos. Documentos do AUC (séc. XV-XIX). Catálogo on-line. Acedido em: https://www.uc.pt/auc/slideshow/docs/noiteeuropeiadosinvestigadores?fbclid=IwAR0njcS_LdO6SsGDotTd-r-2ky9qgY8uX-M68QnVkZyYlp099gjFUZWhi8c
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