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A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz (Continuação)
Em Coimbra, este estilo encontra-se disperso por toda a cidade, quer em grande número de janelas deste tipo que, na sua maioria, apresentam uma extrema simplicidade, quer em algumas casas. No entanto, o neomanuelino coimbrão, aquele que saiu mesmo do risco e do cinzel dos artistas locais, é tratado de maneira sóbria e denota profundos conhecimentos do estilo quinhentista.
Esta casa da Rua Alexandre Herculano, para além do andar térreo, apresenta três pisos, cada um com sua varanda saliente, de pedra lavrada, a ornamentar a fachada que, na parte superior, ostenta elegante loggia. Uma esfera armilar em relevo dá cunho à dupla entrada. No conjunto, os elementos manuelinos abundam: cordas, escudos, esferas armilares, cruzes da Ordem de Cristo e arcos conopiais, fazem com que este seja um dos melhores exemplares citadinos do tipo. Porque indocumentado, não permite que se conheçam os nomes do proprietário e do projetista, bem como a data da sua feitura.
Fig. 28 – Edifício neomanuelino. [Foto RA].
Edifício neomanuelino, pormenor. Foto RA
Edifício neomanuelino, pormenor. Foto RA
Mas nesta rua erguem-se vários edifícios com interesse; dois desses imóveis foram projetados por Raul Lino, arquiteto que, nesta data, ou seja, depois de 1902, já se impunha no nosso país pela obra realizada e tinha grande aceitação na urbe mondeguina.
Quase em frente ao já referido edifício neomanuelino, em 1908, Albino Caetano da Silva começa a construir uma moradia riscada por aquele alarife.
Fig. 29 – Moradia de Albino Caetano da Silva. [Foto RA].
Moradia de Albino Caetano da Silva, pormenor. Foto RA
O edifício foge, obviamente, ao que se fazia na cidade, mas se se pensar em termos estendidos, acaba por refletir um gradual, embora moderado, crescimento económico dos encomendantes, passível de lhes permitir recorrer, para riscar as suas moradias, a artistas que não vivem no burgo; esta possibilidade introduz, paulatinamente, uma certa modernidade arquitetónica, que inicia a alteração fisionómica da urbe.
Raul Lino, para além de projetar a moradia de Caetano da Silva, preocupa-se com os pormenores decorativos e desenha os azulejos policrómicos que se encontram a ornamentar as paredes das fachadas.
Antes de 1915 já se perfilava a possibilidade de, em Coimbra, vir a ser construído um edifício que servisse de sede à Associação Mundial de Académicos (atual Associação Cristã da Mocidade – ACM); o local elegido situava-se no gaveto formado pelas Ruas Alexandre Herculano e Venâncio Rodrigues.
Raul Lino, o arquiteto escolhido, começou a riscar o projeto em janeiro de 1916 e em meados do ano seguinte era exposta na Calçada, numa das montras dos Grandes Armazéns do Chiado, a maqueta aguarelada do edifício; parece que a feitura do imóvel foi custeada pelo International Comittee of Young Man's Christian Associatons, de Nova Iorque.
Edifício da Associação Cristã da Mocidade (ACM), pormenor. Foto RA
Fig. 30. Edifício da Associação Cristã da Mocidade (ACM). Pormenor. [Foto RA].
Não cabe aqui referir quais os objetivos da instituição, mas, de acordo com a imprensa que se publicava na época, o edifício projetado por Raul Lino era “um dos ornamentos do Bairro de Santa Cruz” e o arquiteto, no interior, interpretou “admiravelmente o princípio utilitário e filantrópico da instituição e, ao dar ao exterior o estilo português modernizado, manifestou o seu espírito de adaptação ao meio particular em que cada grémio se estabelece, num perfeito equilíbrio entre o nacionalismo e o cosmopolitismo exagerados”.
Finalmente, no dia 20 de junho de 1918, procedeu-se, com pompa e circunstância, à inauguração do imóvel que contou com o trabalho de artistas ligados à ELAD, mormente com o de João Machado.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz (Continuação)
A Rua Venâncio Rodrigues abre-se paralelamente à praça de República e liga a confluência da Oliveira Matos com a Castro Matoso à Rua de Tomar, cortando, aproximadamente a meio da sua extensão, em ângulo reto, a Alexandre Herculano.
Nesta artéria erguem-se três moradias que se encontram documentadas.
A que primeiramente se levantou tem risco de Raul Lino, é posterior a 1908 e foi mandada construir por António Maria Pimenta, pai de Belisário Pimenta (1879-1969). Insere-se dentro das linhas normalmente utilizadas por aquele arquiteto.
Fig. 26 – Casa de António Maria Pimenta. [Foto RA].
Casa de António Maria Pimenta, pormenor. Foto RA.
A outra, pertencia ao capitão do exército Alcino Miguel Pereira Rodrigues; o pedido de autorização para a construção do edifício, que se situa na esquina das Ruas Oliveira Matos e Venâncio Rodrigues, deu entrada na Câmara Municipal de Coimbra a 20 de dezembro de 1926 e foi deferido três dias depois. Joaquim da Costa Netto, construtor civil, declarou-se responsável pela direção dos trabalhos. Penso poder apontar para a sua mão como autora do projeto.
Casa de Alcino Miguel Pereira Rodrigues. Foto RA.
O requerimento para a construção da terceira, uma casa para habitação e a mais tardia, foi endereçado pela Carpintaria Mecânica Conimbricense, com sede na Avenida Fernão de Magalhães, à edilidade aeminiense, através do seu sócio gerente João Gaspar Marques Simões, em maio de 1932. É o próprio Marques Simões que se responsabiliza pela obra e, como ele era construtor civil diplomado, calculo que também foi da sua responsabilidade o risco do edifício, neste caso mais elaborado que o anterior, a inserir-se em linhas gramaticais Art Déco.
Fig. 27 – Casa de habitação pertencente à Carpintaria Mecânica Conimbricense. [Foto RA].
Casa de habitação da Carpintaria Mecânica Conimbricense, pormenor. Foto RA.
Uma nota interessante que ressalta dos documentos assinados por Netto e por Simões passa pelo primeiro declarar que se responsabiliza “e nos termos do regulamento aprovado por decreto de 6 de Junho de 1895 para a segurança dos operarios em construção civil”, enquanto o segundo afirma que se responsabiliza “nos termos do regulamento de segurança dos operarios de 6 de Maio de 1909”. Sendo os dois termos bem posteriores a 1909, não se percebe a razão que os levou a regerem-se por regulamentos diferentes.
Desse largo centralizante que se abre no topo da Avenida Sá da Bandeira, verdadeiro núcleo aglutinador das mais diversas artérias viárias que ali desembocam, ou se se quiser, em sentido inverso, que dali partem, destaca-se a Rua Alexandre Herculano a estender-se até aos Arcos do Jardim (Largo João Paulo II).
Logo à esquerda de quem sobe, no início da via, deparamo-nos com um edifício neomanuelino.
Contrapondo-se ao lugar ocupado pelo neogótico na maioria dos países desenvolveu-se, em Portugal, o neomanuelino que teve a sua certidão de nascimento na janela que se inscreve no Paço da Pena, em Sintra, numa das paredes do Pátio dos Arcos, forrada com azulejos policrómicos que utilizam, na parte inferior, como motivo decorativo a esfera armilar. A ventana, riscada por D. Fernando II, resulta de uma aproximação e simultaneamente de uma recomposição de um comportamento artístico de outrora, pois o monarca inspirou-se na janela da impropriamente chamada Casa do Capítulo do Convento de Cristo de Tomar.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf.
A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz
Na Praça da República, verdadeiro nó viário, convergem vários arruamentos e uma dessas artérias é a Rua Oliveira Matos, antes apelidada de Rua da Escola Industrial.
Fig. 22 – Planta do Bairro de Santa Cruz. [AHMC. Diversos, maço 3, documento 2].
No começo da via, à esquerda de quem sobe, pode observar-se um edifício de dois pisos, caracteristicamente coroado por um friso de onde sobressaem merlões e ameias de inspiração árabe.
Casa neoárabe. Foto RA.
Na zona cimeira, as aberturas apresentam a forma de arco ultrapassado e encontram-se inscritas em retângulos decorados com arabescos de gosto orientalizante; as janelas do andar térreo, que ladeiam a porta de entrada, embora geminadas, decorativamente, assemelham-se às do piso superior; por cima da porta evidencia-se uma varanda com gradaria de pedra lavrada no mesmo gosto. A completar a ornamentação da fachada sobressaem painéis de azulejo que imitam os sevilhanos.
Ignora-se o autor do risco, mas sabe-se que José de Mello Santos, o proprietário, é que solicita à Câmara a autorização para construir o imóvel e que, a 13 de janeiro de 1913, o vereador F. Vilaça, servindo de Presidente, aprova o projeto.
Fig. 23 – Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA].
Casa neoárabe, pormenor. Foto RA.
Comprova o que atrás se disse relativamente à utilização do gosto neoárabe na cidade o facto de, no perímetro abarcado por este trabalho, apenas encontrarmos este exemplar e o do início da Rua Lourenço de Almeida Azevedo.
Logo a seguir, afastando-se do tipo arquitetura Escola Livre e introduzindo um cunho de modernidade, Maximiano Augusto da Cunha, fundador do colégio de S. Pedro e professor na Escola de Santa Cruz que, como se referiu, fora riscada por Adães Bermudes, pouco depois de 1913, tomando como modelo uma vivenda semelhante existente no sul da França, faz erguer uma casa que se encaixa na gramática utilizada pela Arte Nova.
Casa Arte Nova. Foto RA
A rodear a moradia, mesmo por baixo do beiral, desenvolve-se um friso pintado e decorado com lírios; este motivo repete-se no guarda-vento existente a fechar uma não muito grande caixa de escada com as paredes revestidas a escaiola.
Fig. 24. Casa Arte Nova. Caixa da escada. [Foto RA].
João Machado é o responsável pelas cantarias e pelo ferro forjado da sacada, provavelmente desenhados, tanto umas, como o outro, por António Augusto Gonçalves. O projeto do imóvel jamais foi encontrado e a família também desconhecia a sua existência ou paradeiro, mas trata-se de uma moradia a inserir-se como se disse, no gosto Arte Nova, cosmopolita e inusual na cidade, pois foge aos cânones vigentes e não se conhece, em Coimbra, arquiteto, engenheiro ou mestre-de-obras capaz de, naquela época, produzir um tal risco, a não ser Silva Pinto que nunca qualquer fonte apontou como responsável pelo projeto.
Fig. 25 – Casa Arte Nova. Pormenor. [Foto RA].
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
Ao lado do Parque de Regalo dos crúzios rasga-se a Rua Lourenço de Almeida Azevedo
Pouco depois de ser aberta, em 1891, a Rua Lourenço de Almeida Azevedo começa a povoar-se de moradias: logo no início duas casas inserem a sua gramática decorativa num revivalismo medieval que se relaciona com a ideologia romântica e, simultaneamente, evidenciam uma forte ligação com os canteiros da ELAD.
A primeira, patenteia um pseudominarete a apontar para construções mouriscas, quase inexistentes na região de Coimbra, e o seu risco saiu, de acordo com a tradição oral e sem qualquer documento que o outorgue, da mão do arquiteto Silva Pinto. Contudo, devido à mais que dúbia qualidade dos modelos existentes ou, com uma maior margem de probabilidade, pelo gosto se encontrar desenquadrado no contexto citadino, a verdade é que o neomudéjar não teve grande impacto no ambiente artístico local.
A outra, de autor desconhecido, com a fachada decorada dentro do gosto românico (interiormente a forma como a casa se encontra programada nada tem a ver com o período medieval) aponta para o segundo romantismo que busca a “nossa arquitetura” na época da fundação de Portugal e, consequentemente, no estilo românico. Além disso, deve estar intimamente relacionada com a intervenção levada a cabo, mais ou menos por essa altura, na Sé Velha e que não podia deixar de influenciar o mundo artístico mondeguino.
António Augusto Gonçalves bateu-se com firme determinação para que o restauro do templo se transformasse de utopia em realidade e os artistas que frequentavam a Escola Livre, e à sua volta gravitavam, permitiram-lhe concretizar o sonho, obviamente com a aquiescência do bispo da diocese, D. Manuel Correia de Bastos Pina. A influência do templo restaurado é de tal forma notória no edifício que esta moradia passou vulgarmente a ser conhecida pelo nome de “Casa da Sé”. A sua fachada ostenta um corpo central mais avantajado e ameado; o piso superior é rompido por cinco portas, sendo a central mais larga e trabalhada do que as restantes; quatro gárgulas dão vazão às águas que escorrem do telhado.
Fig. 21 – Casa da Sé. Pormenor. [Foto Daniel Tiago]
Casa da Sé, pormenor. Foto RA.
Casa da Sé, pormenor. Foto RA
Face à semelhança verificada entre esta moradia e o velho templo catedralício aeminiense atrevo-me a apontar o nome de António Augusto Gonçalves como sendo o autor do risco, pois não olvido que foi da sua mão que saiu o projeto documentado e datado, do templo do Divino Senhor da Serra, de Semide.
A construção de casas que saíssem da vulgaridade e atestassem o poder económico dos seus donos estava, como já se referiu, dentro dos parâmetros mentais de então.
Um pouco mais acima, com desenho de Raul Lino, ergue-se uma outra moradia que também merece ser referenciada. Infelizmente ignoro o nome do encomendante, desconheço o projeto e a data da sua construção.
Casa riscada por Raul Lino. Foto RA
Casa riscada por Raul Lino, pormenor. Foto RA
A Rua Lourenço de Almeida Azevedo desdobra-se à esquerda de quem, a partir da Praça da República, olha para o Jardim da Sereia, local onde os frades crúzios, outrora, viviam momentos de lazer e no lado oposto, isto é, à direita do observador, abre-se a via que permite unir o Largo D. Luís à Rua de Tomar: trata-se da Rua Almeida Garrett. Logo no início desta via existe uma casa que tem a ornamentar os aventais das janelas vistosos frisos cerâmicos da autoria de Miguel Costa.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes.
Tags: Coimbra séc. XIX, Coimbra séc. XX, Alargamento do espaço urbano, Rua Lourenço de Almeida Azevedo, Silva Pinto arquiteto, Casa da Sé, Raul Lino arquiteto, António Augusto Gonçalves, Jardim da Sereia, Largo D. Luís ver Praça da República, Rua de Tomar, Rua Almeida Garrett,
Da Estrada dos Jesuítas à Rua Abílio Roque
Em junho de 1910, António Heitor, Chefe da Repartição das Obras Municipais e condutor, assinava um desenho com o loteamento da “rua n.º 2” da Sá da Bandeira e da que se desenvolvia pegada ao muro da Cerca dos Jesuítas; ou seja da via ascendente da Avenida e da Abílio Roque (atual Padre António Vieira).
Fig. 18 – Loteamento Sá da Bandeira e Abílio Roque. [AHMC. Repartição de obras municipais. Pasta 18. B-14].
Penso poder afirmar que este desenho, para além de apontar os lotes ainda disponíveis, serviu para confirmar a delimitação de parcelamentos preexistentes, dado que, em data anterior à apresentação do plano, já ali haviam sido construídos edifícios.
Mas a edilidade não se queda por aí e pensa abrir, quiçá em data mais ou menos simultânea ao loteamento apresentado por Heitor para os dois arruamentos, uma via destinada a unir a Abílio Roque à Praça de República. Como este projeto não se encontra nem datado nem assinado aponto para uma data posterior a 1910 dado que o Largo D. Luís já se transmutara em Praça da República, o que aconteceu apenas depois da queda da monarquia.
Fig. 19 – Projeto para ligação da Rua Abílio Roque com a Praça da Republica. [AHMC. Repartição de obras municipais. Posto de desinfestação e outros. Pasta 18. B-14].
Esta rua, projetada e nunca concretizada, iniciar-se-ia no local onde a Abílio Roque confluía com a Rua de Entre Muros, estender-se-ia nas traseiras do espaço onde funcionou o “Ninho dos Pequenitos”, integrado na obra assistencial do dr. Bissaia Barreto, e desembocava no início da Oliveira Matos, justamente na esquina fronteira à casa que João Francisco dos Santos construíra, nos finais do século XIX, na Praça da República.
Nas traseiras do espaço onde funcionou o “Ninho dos Pequenitos”.
O novo bairro e toda a zona envolvente ia-se pontuando com edifícios e a 29 de outubro de 1914, Joaquim Fernandes dos Santos submete à aprovação camarária um novo projeto (o primeiro fora rejeitado com base na simplicidade das fachadas), a fim de construir quatro casas nos lotes que havia comprado ao cimo da Abílio Roque. Curiosamente, o desenho apresentado mostra seis fachadas e não quatro. Esses edifícios foram construídos e até ao terceiro quartel do século XX mantiveram-se, tendo sido, mais ou menos nessa época, paulatinamente substituídos por prédios mais modernos e funcionais.
Outro tanto não aconteceu com a moradia que se ergue quase no início da rua, logo a seguir à curva e que ainda se mantém de pé. É verdade que a sua construção foi muito mais tardia, pois a 03 de junho de 1940 Albino Pereira da Costa fez dar entrada na devida repartição da edilidade o pedido de autorização para a construção de um edifício que ocuparia os lotes n.os 6 e 7 da referida artéria; esses lotes haviam sido comprados a Joaquim da Costa Neto que os adquirira em 1928.
Fig. 20 – Moradia de Albino Pereira da Costa. [Foto RA].
O requerimento, devidamente instruído, integrava o projeto do imóvel, a inserir-se, como se compreende numa outra linguagem arquitetónica e assinado pelo arquiteto Edmundo Tavares (1892-1983).
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)
Tal como aconteceu com o Teatro-Circo, adiante referido, e como vai suceder com outros imóveis considerados de interesse para a cidade, o terreno para a Associação Comercial e Industrial de Coimbra também foi cedido pela edilidade mediante a concessão de uma redução no preço, embora com a condição de ali ser instalada uma escola prática destinada a permitir aos jovens a aprendizagem das técnicas essenciais à vida económica.
Edifício da Associação Commercial
Assina o projeto Manuel Gonçalves de Campos que, sob o seu nome apõe um “A.” passível de o identificar como arquiteto. Até ao momento não consegui obter qualquer informação relacionada com o alarife em causa.
Francisco António dos Santos, Filho lavrou as cantarias; ele próprio o confessou a Abreu d’Aguiar Oteda, quando este o entrevistou para a crónica “A arte e os artistas de Coimbra”, por altura da sua nomeação como professor interino da Escola Brotero, em substituição de João Machado, artista com quem, pese embora o teor da conversa, rivalizava.
Abreu d’Aguiar Oteda manteve em “O Despertar”, durante bastante tempo, esta crónica e nela publicava as entrevistas que ia fazendo aos mais diversos artistas da cidade.
Associação Comercial e Industrial de Coimbra, pormenor. Foto RA
No mesmo ano em que foi solicitada à edilidade a aprovação do desenho destinado à sede da ACIC, Francisco Barreto Chichorro apresentava também, a fim de lhe ser concedida a licença e o alinhamento, o projeto da casa que pretendia construir na Sá da Bandeira; assinava-o Bernardino José, construtor de Obras Públicas, de quem não encontrei, ao longo da investigação, mais nenhuma referência.
O então presidente da Câmara, Marnoco e Sousa, deferiu o requerimento a 22 de julho de 1909. Do edifício, uma moradia geminada, salientam-se apenas as sucessivas aberturas neobarrocas da platibanda e os dois, acrescentados ao desenho inicial, pseudofrontões destinados, possivelmente, enriquecer a fachada.
Casa de Francisco Barreto Chichorro. Foto RA.
Casa de Francisco Barreto Chichorro, pormenor. Foto RA
Do mesmo lado, no local onde mais tarde foi edificada uma garagem que atualmente virou banco, isto é, entre a casa de Francisco Chichorro,
Garagem que atualmente virou banco. Foto RA.
e o atual (2016) edifício sede da Polícia Municipal,
Edifício sede da Polícia Municipal. Foto RA.
onde funcionou, durante largos anos, o quartel dos bombeiros municipais, construiu-se um picadeiro, que teve vida efémera.
Em 1908 já fora aprovado pela autarquia o projeto do imóvel do picadeiro, a construir em terrenos que haviam sido cedidos em condições idênticas aos do Teatro-Circo, visto ambos se destinarem a melhoramentos públicos. O risco foi elaborado pelo “habil constructor civil” João Gaspar Marques Neves e “o professor do picadeiro será o sr. D. João de Mello, professor da Escola Nacional d’Agricultura, muito habil e muito competente”.
O Noticias de Coimbra ainda acrescentava que “tendo fallado em melhoramento com que esta cidade vae ser dotada, resta-nos dizer que elle se deve aos srs. Francisco e Miguel Barreto Chichorro, que bem podem ser considerados dois benemeritos, porque, se não fossem elles, Coimbra não teria tão depressa uma escola de cavalaria”, onde também se ensina, para além da equitação, “ginástica, jogos de armas, etc. para a educação física mais completa”.
O referido estabelecimento “encontra-se em magníficas condições e veio preencher uma lacuna que há muito se fazia sentir na cidade”, mas pouco tempo volvido após ter iniciado a sua atividade, por motivo de doença ou afazeres, os proprietários anunciam que arrendam ou vendem o picadeiro.
A partir desta data ignoro o que se terá passado, mas, nem mesmo os mais idosos, retém na memória e existência, em Coimbra, desta escola de equitação.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)
A Avenida Sá da Bandeira, verdadeiro boulevard conimbricense, mostra, na sua conceção, aspetos haussmannianos: ruas largas a ladearem uma zona ajardinada que dão acesso a uma praça de onde partem, em diversas direções, vias de comunicação.
Av. Sá da Bandeira, c. 1920
No entanto, é bem provável que na base da sua abertura não se encontrassem presentes teorias urbanísticas eruditas e academizantes, mas sim o conhecimento das necessidades reais do alargamento urbano da cidade dentro de um contexto pragmático passível de se adaptar às caraterísticas do espaço disponível.
A Sá da Bandeira, que vale pelo conjunto, ainda hoje apresenta, embora vilmente mutilada, marcas de uma mentalidade e de um espírito bem característicos da época em que foi traçada. Trata-se de uma zona que deve ser preservada pela autarquia e pelos conimbricenses. Integra a memória coletiva da cidade e a urbe, como qualquer um de nós, não pode sobreviver sem raízes.
Como já mencionei, para a nova zona urbana foram pensados alguns edifícios que jamais ultrapassaram a fase de projeto; entre estes pode referir-se o que se destinava a sede da Associação dos Artistas de Coimbra.
Olímpio Nicolau Rui Fernandes
A coletividade, criada em 1862, teve como fundador e principal dinamizador Olímpio Nicolau Rui Fernandes, homem que, nascido em Lisboa, se radicara em Coimbra, onde exerceu o cargo de Administrador da Imprensa da Universidade.
Entre 1862 e 1866, data em que passou a ocupar o refeitório dos frades crúzios, a Associação terá utilizado, a fim de aí poder ministrar as aulas, um outro qualquer espaço.
Já depois da morte do fundador, no final da centúria, mais concretamente em 1895, a direção encarregou “o hábil e acreditado conductor de obras públicas, o sr. Eduardo Augusto de Parada e Silva Leitão” de elaborar o projeto da sua nunca construída sede que, de acordo com as informações insertas nos periódicos locais, se exteriormente se inseria no gosto neorromânico, no interior utilizava o neogótico.
Mas se a sede da Associação dos Artistas de Coimbra ficou no papel, outro tanto se não pode dizer da Associação Comercial e Industrial de Coimbra que então girava sob o nome de Associação Comercial de Coimbra. O vice-presidente da direção, José Martins dos Santos, requere à edilidade, a 07 de setembro de 1909, autorização para “construir uma casa para a sua sede” no “talhão n.º 3” da Avenida Sá da Bandeira.
O edifício, construído durante a presidência de João de Moura Marques, foi inaugurado a 01 de janeiro de 1912, com pompa e circunstância, a deixar claramente sentir o republicanismo exacerbado dos promotores e, provavelmente também, alguma ideologia maçónica. A notícia da inauguração do edifício, inserta na Gazeta de Coimbra (n.º 54, 1912.01.03), comprova amplamente este posicionamento.
A fachada do imóvel insere-se dentro do gosto Arte Nova e, porque utiliza linhas bastante duras e carregadas, falta-lhe a leveza e a graciosidade que caracterizam o estilo. De qualquer forma, trata-se de uma aproximação à moderna estética europeia. Do interior, tem de se destacar o grande “salão que deve comportar mais de 500 pessoas [e que] fica sendo um dos maiores e mais bonitos desta cidade”.
Fig. 17 – Associação Comercial e Industrial de Coimbra. [Foto RA].
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O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)
No lado oposto da então Rua Sá da Bandeira, junto à antiga Fonte Nova, ainda hoje se pode observar um prédio para rendimento mandado construir, depois de 1915, por duas senhoras que, julgo, seriam irmãs: Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Conceição Almeida.
Casa de Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Conceição Almeida. Foto RA.
Casa de Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Conceição Almeida, pormenor. Foto RA.
O projeto foi riscado pelo construtor civil diplomado, inscrito nas Obras Públicas de Coimbra, João Gaspar Marques das Neves. O autor, como os terrenos naquela zona eram bastante húmidos e uma vez que a fachada posterior deitava para sul, “procurou captar a concentração do calôr pelo recinto que se acha entre os refeitorios, tendo dado a devida luz e ar a todos os compartimentos”, preocupações bem de acordo com os preceitos higienistas da época.
O prédio em questão não apresenta, estruturalmente, qualquer laivo de modernidade. A sua especificidade advém-lhe da decoração utilizada, quer nos azulejos, quer no trabalho de cantaria ou até mesmo no das grades.
Continuando a pôr de lado a cronologia, olhemos para o edifício que, um pouco mais acima do anteriormente referido, em 1913, António Mizarela e Augusto Lopes fizeram construir na nova artéria citadina. O imóvel que, ao nível da fachada, mostra aquilo a que, quiçá impropriamente, se pode apelidar de laivos de Arte Nova, ostenta oito painéis cerâmicos destinados a ornamentar lateralmente os pés-direitos das janelas principais saídos das mãos do pintor-azulejista Miguel Costa.
Casa decorada com azulejos da autoria de Miguel Costa. Foto RA.
O ceramista utiliza nos azulejos que pintou um colorido intenso e brilhante, as paisagens campestres e fluviais surgem envoltas por malmequeres, papoilas, rosas e amores-perfeitos; num desses quadros, de entre as papoilas, sobressai a ‘barca serrana’, velha de séculos, que durante tantos anos prestou relevantes serviços não só à população ribeirinha do Mondego, como também àquela que residia no interior da Zona Centro.
Fig. 16 – Casa decorada com azulejos da autoria de Miguel Costa. Pormenor de uma janela. Foto RA.
Mas o transeunte apressado mal se dá conta, se é que se dá mesmo conta, da beleza desses azulejos, embora sejam eles, conjuntamente com outros pequenos-grandes nadas que, no fundo, conferem caráter a uma cidade.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em: https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)
Um pouco mais acima ergue-se a Escola de Santa Cruz.
Em 1904, quando o arquiteto Adães Bermudes veio propositadamente à cidade, a fim de estudar a possibilidade de alargar a escola de S. Bartolomeu e de ver o local onde, na então Rua Sá da Bandeira, se devia edificar a nova escola primária, não era a primeira vez que se pensava em fazer erguer, naquela área, um complexo escolar, pois a Câmara Municipal, na sessão de 25 de abril de 1889, dera o seu aval à planta do “grandioso edifício” que se projetava construir no novo Bairro de Santa Cruz para esse fim, embora pensasse em o levantar num largo que já estava terraplenado em frente ao jogo da bola, virado para os Arcos de S. Sebastião, ou seja, num dos lados da atual Praça da República.
O local apontado para edificar a chamada Escola de Santa Cruz, ao tempo da estada de Bermudes em Coimbra, situava-se na esquina da Sá da Bandeira com a Rua da Manutenção Militar; mas, para isso, tornava-se necessário, demolir “a casa esqueleto para exercicio dos bombeiros municipaes, e onde se encontra a estação principal do material de incendios”, estruturas construídas, como referi, havia muito pouco tempo. Além disso, tratava-se de um terreno que se localizava na freguesia da Sé Nova e se destinava a ali ser levantada a escola da freguesia de Santa Cruz. Ingredientes mais que suficientes para não tornar o assunto pacífico.
Adães Bermudes
O arquiteto Arnaldo Redondo Adães Bermudes (Porto, 1864.10.01-Sintra, 1948.02.18) é que se encarregou de elaborar, tanto o projeto da escola Central (escola de Santa Cruz), como o da ampliação da de S. Bartolomeu e acompanhou de perto os trabalhos, não só porque era inspetor das construções escolares, mas também porque havia sido galardoado com uma medalha de ouro na parisina Exposição Universal de 1900, onde expusera “umas magníficas plantas para escolas da instrução primária de ambos os sexos, conjunta ou isoladamente”; o alarife, de acordo com o que consta no seu processo [AHMOP], é responsável pelos projetos de cento e oitenta edifícios de escolas primárias construídas por todo o país.
Escola de Santa Cruz, 1922 c.
… O edifício insere-se, apenas na zona central da fachada, dentro de um estilo neorromânico, fugindo aos posteriores massificados projetos de escolas riscados pelo arquiteto e que enxameiam o país. As arquivoltas que rodeiam o tímpano hemicircular, onde se inscreve um relógio aposto sobre vistosos azulejos decorativos atribuíveis, por comparação, ao ceramista conimbricense Miguel Costa, são interrompidas pelo escudo real rematado pela coroa que, talvez pela altura a que se encontra, escapou intacta aos ventos da implantação da República.
A colocação de relógios nas estações de caminho-de-ferro, nos grandes armazéns, nas fábricas, nas escolas e em espaços semelhantes tornou-se, no século XIX e nos inícios do seguinte, tão carismática como a utilização do ferro; eram eles que mantinham a disciplina, propagando a religião da hora exata e contrapunham um tempo tradicional, celeste e solar a um tempo pagão e tecnológico.
Fig. 15 – Escola de Santa Cruz. [Foto RA].
Escola de Santa Cruz, pormenor. Foto RA
Em dezembro de 1907 o edifício já se encontrava terminado há cerca de um mês e sendo “o primeiro do paiz no seu genero, veio rematar lindamente as amplas ruas de Sá da Bandeira e Manutenção Militar, dando belleza e realce ao local onde se acha construido” e “ao empreiteiro sr. Manoel Alexandre Sellada, cabem louvores, por isso que, apesar de ter luctado com falta de recursos pecuniarios pela demora dos pagamentos, nos apresenta esse bello edificio com execução fiel da planta feita pelo distincto architecto sr. Adães Bermudes”. A Escola Central Primária de Santa Cruz recebeu os primeiros alunos em 1908.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
O novo Bairro de Santa Cruz
Os proprietários que haviam adquirido lotes na recém programada urbanização, com mais ou menos celeridade e dentro dos parâmetros estabelecidos pela Câmara, começavam a construir as suas casas de habitação ou de rendimento. Para se erguerem ao longo das novas artérias projetaram-se também edifícios de utilidade pública que, algumas vezes, não saíram do papel.
Convém esclarecer que não vou deixar de aludir a esses não construídos imóveis sempre que esteja na posse de elementos passíveis de os referir minimamente.
E se entra neste lote dos não concretizados a sede da Associação dos Artistas de Coimbra, outro tanto se não pode dizer da estação do corpo de bombeiros municipais, com projeto de Hans Dickel, aprovado em março de 1891.
Estação do corpo de bombeiros municipais. Foto RA
Ao falar dos edifícios construídos, ou não, na urbanização da Quinta de Santa Cruz coloquei de lado a cronologia, a fim de seguir como que uma caminhada virtual, iniciada no entorno da Fonte Nova.
Inicio o percurso olhando para o edifício da sucursal da Manutenção Militar que começou a ser construído em 1899, no local em que outrora existiu a casa do palheiro do mosteiro de Santa Cruz, ocupado pelo município depois da desamortização e transformado em matadouro. Será de referir, contudo, que a atual estrutura resultou do aumento da primeira edificação.
Manutenção Militar
Parece que estes e outros edifícios já erguidos na nova artéria não agradavam ao diretor do jornal Resistencia, o conhecido Quim Martins, pois quando Raul Lino, em 1902 se deslocou a Coimbra, o então “jornalista” acompanhou-o num pequeno passeio pelo Bairro de Santa Cruz e narra assim essa digressão: “Encaixados num caleche, sob um sol abrazador, aí pela 1 hora, passámos pela Avenida e mostrámos-lhe, primeiro que as nossas bellezas architectónicas, aquella galeria de monstrosinhos, que os honestos, mas pouco artistas, mestres de obras, cá da terra, e mais alguns têem ido poisando por êsse Bairro de Santa Cruz fóra.
“Apresentámos-lhe aquelle mostrengo da Padaria militar, sellado na frontaria, com todas as coisas” e “fizemo-lo admirar aquelle caprichosinho ingénuo e ridiculo, de uma casolita de boneca, feita de tijolo, e encarrapitada na chaminé da mesma padaria”.
O articulista mostra-se muito crítico em relação às construções levadas a efeito no novo bairro e escreve que, aos poucos, foi apontando a Raul Lino “aquellas frontarias chatas, em rectangulo, com jánellas em rectangulo, e portas em rectangulo, monótonas variações sobre o mesmo thema, – o rectángulo, ou então construcções estylo cartão de visita”.
Continuando o nosso peregrinar deparamo-nos com a Câmara, em 1905, a planear construir o edifício destinado à Inspeção de Incêndios. A planta, assinada a 30 de agosto de 1905 por António Heitor que era condutor de Obras Públicas e, penso, chefe do respetivo departamento camarário, conheceu deferimento a 01 de outubro e foi aprovado pelo Secretário de Estado dos Negócios do Reino a 22 do mês seguinte. Devia erguer-se logo acima do pavilhão do peixe, pegado à Rua do Colégio Novo e nas proximidades da Fonte Nova. O desenho do conjunto e o alçado do edifício, acompanhado do correspondente processo, encontra-se no AMC e permite determinar com exatidão o local onde se devia erguer. Trata-se de mais uma estrutura que não saiu do papel ou melhor, no caso vertente, da tela imperial.
Fig. 14 – Inspecção de incêndios. [AHMC. Repartição de obras municipais. Pasta 24. B-14].
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
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