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É já depois de amanhã, 6.ª feira que a partir das 18h00, decorrerá mais uma Conversa Aberta que conforme o habitual terá lugar na Sala D. João III do Arquivo da Universidade de Coimbra (por baixo e nas traseiras da Biblioteca Geral), com entrada pela Rua de S. Pedro.
A entrada é livre e após a apresentação do tema segue-se o debate, no qual todos poderão colocar as suas questões e pedir esclarecimentos.
Desta vez o tema a ser tratado será As Terras do Aro de Coimbra nos documentos e objetos do Arquivo Histórico Municipal de Coimbra
A palestrante. Dr.ª Paula França é a responsável pelo Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, profundamente conhecedora do mesmo e sempre pronta a ajudar aquele que ali fazem as suas investigações.
Aliás o Arquivo Histórico Municipal de Coimbra merece uma visita. Quanto mais não seja, pelas pequenas exposições, periodicamente renovadas, que ali são apresentadas.
Participe no debate e ajude por favor na divulgação do evento.
Rodrigues Costa
De hoje a 15 dias vai realizar-se mais uma Conversa Aberta que conforme, o habitual, decorrerá na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra (junto ao Instituto Justiça e Paz, antigo CADC), na última sexta-feira de cada mês, a partir das 18h00, com entrada livre.
Desta vez o tema a ser tratado será As Terras do Aro de Coimbra nos documentos e objetos do Arquivo Histórico Municipal de Coimbra.
A palestrante, Dr.ª Paula França que é a responsável pelo Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, profundamente conhecedora do mesmo e sempre pronta a ajudar aquele que ali fazem as suas investigações.
Aliás, o Arquivo merece uma visita. Quanto mais não seja, pelas pequenas exposições, periodicamente renovadas, que ali estão patentes.
Participe no debate e ajude por favor na divulgação do evento.
Rodrigues Costa
O Arquivo da Universidade continua a divulgar quer o extensíssimo espólio documental ali existente guardado em cerca de 10 quilómetros de estantes, quer outras peças do património universitário que ali foram guardadas.
Assim, no passado dia 27 de outubro de 2022, foi dada a conhecer a arca-cartório da Universidade, num texto bem ilustrado e que conta a origem e a forma de utilização desta belíssima peça.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra
Este primitivo Cartório da Universidade de Coimbra, que se encontra no AUC, é uma arca ou burra (designação antiga atribuída a estas arcas) feita em ferro, com acabamento de pintura, com motivos florais, nas cores rosa, verde e azul, denotando esmaecimento da tinta, no plano superior.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra, pormenor das pinturas da parte superior
Apresenta uma decoração quadriculada, formada por chaparia recortada, com grandes pregos, distribuídos uniformemente, possuindo uma fechadura, cujo mecanismo de abertura é visível no interior, encontrando-se dissimulada a abertura superior.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra, pormenor da chaparia
Tem ainda duas argolas, para fechadura com aloquetes, que já não existem. A sua deslocação era feita por suporte, através de duas grandes pegas, suspensas lateralmente!
No seu interior, encontra-se um pequeno cofre, adossado lateralmente, também ele com fechadura, utilizado, provavelmente, para guardar dinheiro ou peças valiosas.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra, pormenor da cofre
Sendo Reitor da Universidade de Coimbra D. Agostinho Ribeiro, recebeu este uma Carta Régia de D. João III, datada de 27 de dezembro de 1540, pela qual lhe enviava, entre outros documentos, uma Bula de anexação de seis igrejas do Padroado Real ao Padroado da Universidade, ordenando que se fizesse uma arca, para guardar esses documentos, assim como todos os documentos régios enviados à Universidade, garantia de seus privilégios.
Essa arca, com três fechaduras, só seria aberta com três chaves, estando uma chave na posse do Reitor, outra na posse do lente de Prima de Cânones e outra na posse do bedel e escrivão do Conselho da Universidade.
Muito provavelmente, a presente arca-cartório foi executada na sequência desta ordem régia. (V. Registo das Provisões, antes da Nova Fundação da Universidade, vol. 1, fl. 87v-88 – cota AUC-IV-1.ªD-3-2-17)
Arquivo da Universidade de Coimbra. Arca-Cartório da Universidade. Acedido em https://www.facebook.com/search/top?q=arquivo%20da%20universidade%20de%20coimbra.
Op. cit., pg. 199
A figura aqui apresentada é uma daquelas que revelam um escultor de garra e bem experimentado na arte de entalhar a madeira. Faltando-lhe embora a mão esquerda e quase todo o antebraço, assim como quase todo o braço direito, mesmo assim o todo da estatueta é notável pela atitude e expressão, pelo lançamento do manto, pelo doseamento das pregas a distribuir luz e sombra num equilíbrio admirável.
Deve tratar-se de um fidalgo, a julgar pelo trajo e pela cadeia que lhe adorna o peito. A mão esquerda devia segurar qualquer objeto que se vinha apoiar na coxa do mesmo lado, onde restam vestígios. O braço encosta ao tronco, e o que resta do antebraço indica a posição de quem sustém algum bastão, espada, etc. Um prego espetado no coto mutilado é o que testemunha uma tentativa falhada de restauro infeliz. Do braço direito apenas ficou uma pequena parte a seguir ao ombro, e a mão. Sabe-se, porém, pela posição da mão com a palma voltada para fora, qual ela a posição do braço.
Op. cit., pg. 205
A figura aqui representada é um baixo-relevo que se encontra na face interna de um painel que delimita uma série de cadeiras. Com a mão direita soergue a capa e com a esquerda segura um bastão terminado por quatro bolinhas.
Pelo seu tamanho, este bastão não é um bordão ou cajado, antes parece um cetro. Mas não é cetro, pois a figura não tem coroa nem aspeto de rei.
Consultando bibliografia, achei que, entre os cantores que nos cabidos das catedrais, mosteiros e colegiadas, entoavam os ofícios divinos, havia um que tinha por missão ensinar a cantar bem e dirigir o coro: era o chantre ou mestre de coro. Só aos chantres era reservado o uso de capas de seda e cetro (Solange Corbin, «Essai sur la Musique Religieuse au Moyen Age», Paris, 1952, pg. 202). A mesma autora, depois de dizer que esse uso está documentado em textos e iluminuras, tais como o Missal de Braga (de 1558) e o Saltério 114, da Biblioteca Pública Municipal do Porto, diz que uma iluminura deste último, que era certamente o de Santa Cruz, apresenta o chantre com o bastão de quatro bolas em cruz, que seria a insígnia da sua dignidade.
Não tive oportunidade de ver as iluminuras citadas, mas basta o testemunho e a opinião da ilustre e conscienciosa investigadora para poder interpretar a figura em causa como sendo o chantre do coro de Santa Cruz.
Pereira, A. N. Do Cadeiral de Santa Cruz. 2.ª edição. Introdução de Nunes Pereira, Abertura de Anselmo Ramos Dias Gaspar e Prefácio à segunda edição de Marco Daniel Duarte. 2007. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 199-200 e 205-206.
Op. cit., pg. 163
A escravatura pode definir-se como a dependência absoluta e incondicional do ser humano com respeito à vontade de outrem.
A sua origem tem várias causas, entre as quais estas: a carência de mão-de-obra, e o direito de guerra (cf. Domingos Maurício, no artigo «Escravatura» na «Enciclopédia» VERBO).
A venda de José, filho de Jacob, a uns negociantes amalecitas que por sua vez o venderam no Egipto a Putifar, é uma das referências bíblicas à escravatura («Génesis», XXXVII). Escravos foram depois os israelitas no Egito, obrigados a trabalhar em condições desumanas m construção de cidades. Dessa escravidão os libertou Moisés.
No tempo em que foi feito o Cadeiral anda a escravatura era largamente praticada na Europa e na África. Não Admira, pois, que a figura do escravo apareça na ate daquele tempo. Por outro lado, as guerras com os mouros e outras faziam numerosos prisioneiros, que depois, em muitos casos, eram convertidos em escravos.
Para a abolição da escravatura contribuiu em grande parte o cristianismo com a doutrina da fraternidade humana.
A figura aqui representada parece mais um prisioneiro do que um escravo. Com efeito, as suas vestes são amplas e dornadas de uma espécie de franja em bicos, que nos parece indicar pessoa de certa posição social que por qualquer motivo foi metida em ferros. Preso à parede pela cintura, tem os pés amarrados. Dois anéis abraçam-lhe as pernas acima dos tornozelos, e um engenhoso sistema de argolas une e fecha os dois anéis. Faltam-lhe as mãos, a direita mutilada antes da atual douradura, e também o nariz está mutilado. Apesar disso, é uma bela estátua esta.
Op. cit., pg. 195
Esta figura é das mais notáveis do Cadeiral, pela nobreza do seu porte, pelo bem concebido da sua composição, pela justeza da sua atitude e pela admirável execução.
De farta cabeleira que cai sobre os ombros, cofia com a mão direita as longas barbas onduladas, enquanto na mão esquerda empunha um alfange, cuja bainha é sustida por uma cadeia de elos retangulares, dos quais, na frente, faltam alguns já anteriormente ao último douramento. Da cintura pende uma bolsa, com uma só borla das duas ou três que teria. Esta bolsa é semelhante a outra a que já me referi em artigo anterior, e indica pessoa de distinção.
Quanto ao alfange, não é muito vulgar a sua forma tão aparatosa. A bainha, em forma de como, vai alargando para o fundo, e é reforçada por três estrias salientes, que no original seriam metálicas. Num relevo da igreja de S. Sebaldo, em Nuremberg, de 1499, representando a prisão de Jesus, um soldado tem suspenso um alfange também curvo, mas a bainha não alarga para o fundo (reproduzido in Gerhard Ulrich, «SChatze deutscher Kunst», München, 1972, pág. 58). Nos primitivos portugueses, designadamente nas representações dos Mártires de Marrocos (de Francisco Henriques e do Mestre do Retábulo de Setúbal), aparecem alfanges brandidos por soldados mouros, o que leva a supor que também esta figura do Cadeiral representará um mouro.
Pereira, A. N. Do Cadeiral de Santa Cruz. 2.ª edição. Introdução de Nunes Pereira, Abertura de Anselmo Ramos Dias Gaspar e Prefácio à segunda edição de Marco Daniel Duarte. 2007. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 163-164 e 193-194.
A complementar a divulgação desta obra, dos textos de Monsenhor Nunes Pereira, escolhemos alguns daqueles que, em nossa modesta opinião, mais nos impressionaram.
Op. cit., pg. 31
Da vida monástica de Santa Cruz de Coimbra resta o seu famoso cadeiral, uma das mais belas e curiosas peças da escultura em madeira do século XVl em Portugal.
O cadeiral esteve primeiro na capela-mor, antes de construído o coro alto. Feito este, para lá foi mudado o cadeiral, em 1531, sendo encangado da obra Francisco Lorete, escultor francês, que também foi incumbido de acrescentar mais catorze cadeiras, «oito grandes e seis pequenas, da obra e maneira das que são feitas», segundo reza o contrato publicado pelo cónego Prudêncio Garcia.
As anteriores, acabadas em 1513, são obra de Machim, cujo estilo é ainda gótico. As outras denunciam um artista da renascença, muito embora Francisco Lorete, em obediência ao contrato, se esforçasse por imitar a obra de Machim.
O «Inventário Artístico» assinala a parte de cada um dos autores. A começar do lado da frontaria da igreja, até ao tambor que marca o arranque das nervuras da abóbada, é de Machim; daí para diante é de Lorete.
Além da diferença de estilo, há na obra de Machim uma nota curiosa: a aplicação de motivos animais tirados do Fabulário. Assim, por exemplo, «A Raposa e as Uvas», «A Raposa e a Cegonha», das Fábulas de Fedro. Esses motivos encontram-se na face inferior dos assentos, só visíveis quando estes estão levantados.
Op. cit., pg. 61
O desenho aqui apresentado representa uma figura de homem sentado à porta de uma pequena casa de estilo nórdico e ornamenta o painel da cadeira que está fronteira àquela que tem o tocador da cítara.
A figura tem os braços levantados, um mais do que o outro como o tocador de cítara, e como este também não tem mãos. 0 rosto está bastante carcomido, mal se distinguindo o nariz e os olhos. À frente nota-se que havia qualquer elemento, que não se sabe o que fosse, por ter sido quase totalmente desfeito pelo caruncho. Mas, dada a posição dos braços, pode admitir-se que se tratasse de um instrumento, por ventura um tambor. É uma hipótese, apenas.
Outras hipóteses podemos ainda considerar.
A primeira é que se tratará de Santo António, com a cabana que para ele mandou fazer o conde Tiso, em Camposampiero, a duas milhas ao norte de Pádua. O conde tinha na sua propriedade um espesso bosque, e no centro deste uma grande nogueira. Entre os seis braços abertos da majestosa árvore, foi feita uma cabana para Santo António escrever os seus sermões e meditar; dos lados, dois cubículos, um para Fr. Lucas Belludi e outro para Fr. Rogério (cf. P.e Rolim 0. F. M., «Santo António de Lisboa», Lisboa, 1931, pág. 162, e a bibliografia aí citada), (Iconographie de L´ Árt Chétien, P. U. F., Paris,1958, Tomo III, pág.118).
A mais antiga representação desta cena, que para o caso não importa que seja verdadeira ou lendária, é de 1490, um quadro de Lazzaro Sebastiani na Academia de Veneza (Louis Réau, op. cit., loc. cit.).
O facto de Santo António estar intimamente ligado ao mosteiro de Santa Cruz, onde estudou, toma muito plausível esta interpretação. Embora Louis Réau afirme que até ao século XV o culto de Santo António esteve localizado em Pádua, e que só a partir do século seguinte ele se tomou o santo nacional dos Portugueses, não repugna admitir que em Santa Cruz ele tivesse culto antes dessa data. Uma coisa é certa: Em 1531 já o «Breviarium» de Santa Cruz, a 13 de Junho, insere o oficio de Santo António, cujas nove lições resumem a sua vida.
Mas aventamos ainda outra hipótese, neste difícil desbravar de terreno. É esta:
Entre as parábolas evangélicas há uma que se refere ao servo vigilante, que espera a vinda do seu senhor, para prontamente lhe abrir a porta (Mat., 24, 42-51; Luc., 12, 35-47).
E basta de conjeturas. Apenas acrescentaremos que se devia estudar a maneira de obstar ao desfazer da graciosa escultura, como de todo o conjunto.
Pereira, A. N. Do Cadeiral de Santa Cruz. 2.ª edição. Introdução de Nunes Pereira, Abertura de Anselmo Ramos Dias Gaspar e Prefácio à segunda edição de Marco Daniel Duarte. 2007. Coimbra, Câmara Municipal. Pg, 31-32 e 61-62.
Na parte final do seu texto o Doutor Marco Daniel Duarte, aborda o tema O que contém e o que falta ao cadeiral de Nunes Pereira. Um Génesis sem Apocalipse, salientando este conceituado investigador que Augusto Nunes Pereira não quis traçar com exaustividade todas as análises que a historiografia permite a propósito do cadeiral de Santa Cruz. Isto mesmo se depreende das suas próprias palavras que com este sentido semeia ao longo das entradas.
A honestidade do autor não deixa que queiramos ver no seu livro mais do que uma reunião de textos redigidos para um fim específico e por isso denunciadores dessa primeira finalidade.
Publicados em forma de colunas no periódico diocesano, os textos têm obrigatoriamente de ser curtos, porque submetidos às regras que o público jornalístico exige, mas que também hoje serão, no entanto, um valor maior no que concerne à divulgação dos méritos da arte de eras passadas, pelo que o leitor pode aceder, sem desânimo, as breves descrições dos pormenores de uma obra de arte muito complexa.
Mais adiante acrescenta que Ninguém como Augusto Nunes Pereira terá olhado de tão perto para o cadeiral de Santa Cruz, pelo menos com o intuito de registar esse olhar … Não afirmamos pelo facto de qualquer observador ter, obviamente, uma visão diferente da obra que observa, mas porque efetivamente o cadeiral crúzio foi exarado por Nunes Pereira como quem revela uma fotografia, com arguta minudência de cristalizar os sentidos que parte da artística paisagem encerra.
Nunes Pereira, o Artista incansável
Importa recordar que Marco Daniel refere, na página 23, a existência de um terceiro escultor do cadeiral, João Alemão, ao afirmar que é De lamentar é o facto de Augusto Nunes Pereira não ter desenhado, com o risco e com as palavras, tantas outras figurações, nomeadamente as do coroamento e assim analisar as representações contidas na totalidade do lenho de carvalho artisticamente trabalhado por Machim, João Alemão e Francisco Lorete.
Já perto do final do seu texto arco Daniel sublinha que o cadeiral de Santa Cruz não é apenas uma das mais importantes obras de arte de um país. Ele foi palco de uma história cultural, institucional, política, religiosa e, antes destas, litúrgico-musical. Nunes Pereira olhou-a, viu-a, interpretou-a e, não raras vezes, reinterpretou-a.
Op. cit., pg. 189
Estamos convencidos de que, depois dos seus artistas e artificies, ninguém como Nunes Pereira – também ele um artífice e também ele artista – dedicou tantas horas ao cadeiral de Santa Cruz: horas de minuciosa observação para lhe desvendar os traços; horas de pensamento para lhe desvendar os entranhados sentidos que as formas encerram.
Acrescenta ainda o investigador. Embora não se tenha dedicado em exclusivo, ao estudo histórico de obras de arte, Augusto Nunes Pereira ficou associado a descobertas historiográficas muito importantes e, diríamos mesmo, emblemáticas … merece sempre registo o facto de que data do celebrado púlpito da igreja de Santa Cruz
Datação do púlpito da igreja de Santa Cruz, Desenho de Nunes Pereira
… importantes passos na inventariação dos bens artísticos da Diocese de Coimbra para acrescentar que se dedicava … a desenhar, de forma quase compulsiva, numa espécie de ‘viciosa virtude’, tudo o que povoava o seu viver.
Por último, importa ainda recordar que a localização primitiva do cadeiral foi a capela-mor, na parte reservadas aos cónegos, separada por um gradeamento da parte aberta aos fiéis. A sua forma era em U, aberto para o altar.
Igreja de Santa Cruz, capela-mor ainda com o gradeamento.
Quando o rei D. Manuel I determinou a demolição da igreja românica e a construção da igreja manuelina, bem como dos túmulos dos primeiros reis, o cadeiral foi mudado, em 1531, para o coro alto da igreja, onde hoje o podemos admirar.
Pereira, A. N. Do Cadeiral de Santa Cruz. 2.ª edição. Introdução de Nunes Pereira, Abertura de Anselmo Ramos Dias Gaspar e Prefácio à segunda edição de Marco Daniel Duarte. 2007. Coimbra, Câmara Municipal.
Na preparação desta série de entradas, ao concluir a leitura do livro Do Cadeiral de Santa Cruz, 2.ª edição datada de 2007, de Monsenhor Nunes Pereira, desabafei para mim mesmo: quanto mais aprofundo o conhecimento sobre a sua obra mais admiração tenho pelo Artista!
Do Cadeiral de Santa Cruz, capa
O P.e Anselmo Ramos Dias Gaspar na Abertura desta obra conta a história do surgimento da primeira edição.
De 1977 a 1981, Mons. Nunes Pereira … deu-se ao labor de estudar cada um dos motivos esculpidos por Machim e por Lorete, desenhando à pena, minuciosamente, cada um deles … resolveu, a partir de outubro de 1978, publicar os seus desenhos, com a respetiva explicação iconográfica, no “Correio de Coimbra” … Muitos foram os leitores, alguns deles com conhecimento na matéria, sugeriram ao padre-artista que reunisse em volume, a série dos apreciados artigos … com o apoio da paróquia de Santa Cruz, a obra foi publicitada em 1984.
Um dos leitores que fez aquela sugestão foi o Professor Manuel Lopes de Almeida, como se depreende da carta publicada no prefácio da primeira edição.
Carta do Professor Doutor Manuel Lopes de Almeida, datada de 22 de dezembro de 1978.
O livro, nas suas mais de duzentas páginas é, ele próprio, uma verdadeira obra de arte, resultante de um gigantesco trabalho realizado pelo Autor.
Op. cit., pg. 37
Acresce que a obra, nesta edição, é enriquecida com um Prefácio à segunda Edição, da autoria do Doutor Marco Daniel Duarte.
Ali e num primeiro tempo que intitulou, O cadeiral de Santa Cruz, obra de arte do presente construída no passado, começa por sublinhar que o cadeiral do mosteiro de Santa Cruz, ex-libris da casa monástica que o abriga, ex-libris da cidade do Mondego e, não menos importante, ex-libris da própria história da arte portuguesa, é o mais antigo cadeiral que trespassou eras históricas e chegou, mais ou menos incólume, à pós-contemporaneidade.
Cadeiral de Santa Cruz, na atualidade. Foto Augusto Ferreira
Levantado, no segundo e terceiro decénios de mil e quinhentos, como grande móvel para enquadrar um dos esteios mais importantes dos habitantes de um complexo monacal, foi vivido pelos cónegos regrantes de Santa Cruz como um especial lugar até ao apartamento destes do mosteiro. Continuou, nas datas seguintes, a ser vivido no meio de vicissitudes várias e, porque toda a obra de arte se faz eternamente presente, ele é arte de hoje, sustentando ainda significado para os que habitam o tempo presente.
Ao longo de um pouco mais de três séculos, sucessivas gerações de religiosos ali tomaram assento para cumprirem um dos fundamentais pilares da instituição conventual que, juntamente com o altar, dá o sentido litúrgico a uma vida de canonicato regular.
Pedro de Cristo, cónego regrante de Santa Cruz, compositor português do Renascimento. Ele é um dos mais importantes polifonistas portugueses dos séculos XVI e XVII. Acedido em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_de_Cristo
Segundo o rito vivencial do catolicismo monástico, mas também, “mutatis mutandis”, catedralício, o coro é, por excelência, o lugar do mais puro louvor, onde escorrem horas em repetições de orantes melopeias, substanciadas em cantochão simples ou em “alternativo” com as polifonias que, no caso de Santa Cruz, eram, inclusivamente, ali nascidas ou com a voz do órgão que, desde muito cedo, também naquele espaço religioso havia entrado.
Pereira, A. N. Do cadeiral de Santa Criz, 2.ª edição. Introdução de Mário Nunes. Abertura de Anselmo Ramos Dias Gaspar. Prefácio à segunda Edição, de Marco Daniel Duarte. 2007. Coimbra, Câmara Municipal.
O Arquivo Histórico Municipal de Coimbra prossegue no seu propósito de divulgar documentos mais relevantes sobre a história da cidade, daí o nosso conselho:
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Esta curiosa imagem e texto, servem para chamar a atenção para a seguinte síntese, da responsabilidade da Dr.ª Paula França.
CALÇADAS DE COIMBRA
Vê onde pões os pés
Desde tempos antigos a comunicação entre localidades era um serviço essencial para as populações. A circulação de bens essenciais à subsistência coloca, desde cedo, o problema dos transportes, por via terrestre, fluvial e/ou marítima.
Torna-se assim necessário, ao longo do tempo, que os Municípios, como entidades que garantem o bem-estar das populações assegurem a existência e manutenção das vias de comunicação em boas condições: os caminhos, as estradas, as pontes, as calçadas.
Os documentos do AHMC que divulgamos apresentam-nos estas realidades para o século XVI.
No Livro de Registo da Correspondência antiga da Câmara de Coimbra encontramos esta curiosa carta:
1574, Março, 21, Coimbra. Petição de Gonçalo Fernandes, boieiro, dirigida à Câmara e Coimbra, pedindo autorização para poder levar os seus animais para os olivais da cidade de Coimbra, zona de pastagem para a qual era necessário ter permissão. Fazia este pedido invocando o serviço que prestava à comunidade com o transporte de mercadorias essenciais. Todavia admitia que esse trânsito também danificava o pavimento. Assim, como contrapartida, oferecia ”umas carradas de pedra” para conserto das ditas “calçadas” e comprometia-se a trazer o seu gado “acabramado e peado”, para não causar danos nos olivais. PT/AHMC/Registo, vol. 3, 1571-1577, fl. 334v-336.
Este pedido foi objeto de ponderação e decisão dos edis, conforme decorre da transcrição feita sobre o assunto e exarada no referido Livro.
Documento cuja transcrição está acessível em https://drive.google.com/.../1WC5CE9xO5oINL89bfrX.../view.
Transcrição
[fl. 334v] [...] Juiz, vereadores e procurador desta cidade de Coimbra. Fazemos saber aos que esta nosa certidam virem que he verdade [fl. 335] que estando nos em camara fazendo vereação, aos vimte dyas de março deste anno presente de setenta e quatro, por parte de Gonçallo Fernandez, boieiro morador nesta cidade nos foi apresentada hua petição, escrita dizendo nos que tinha dous bois seus com os quais ganhava a sua vida em carear por esta cidade e seus arabaldes, com os quais elle servia a dita cidade e moradores della por seu direito e que nam tynha que lhe dar a comer, por defemderem o pasto dos olivais, pedyndo nos licença pera en elles poder pastar, e visto per nos seu requerimento ser justo, lhe mandamos notefyquar, que por quanto os ditos seus bois com ho caro e servidão delle, que andava ferado das rodas, fazya muita perda e deneficavam as callsadas desta cidade, no conserto das quais a cidade guastava, diguo, tinha em cada hum anno, muitos gastos pera reformação dellas en restituição da perda que elle com seus caros fazião em ellas, por amdar contynuadamente no serviço do dito caro e bois per ellas guanhando sua vida, dese dez caradas de pedra, postas na dita cidade, dentro nella, pera ajuda do conserto das ditas callsadas, e isto onde quer que o procurador da cidade ordenar e lhe mandase, pera efeito da obra dellas, postas a sua custa, no lugar onde lhe for mandado, d’oje en diante, dentro neste verão presente deste anno, em qualquer tempo delle, que lhe for mandado, do que ho dito Gonçalo Fernandez foi contente e de sua propria e livre [fl. 335v] vomtade lhe aprouve de dar, postas dentro no dito tempo, as ditas dez caradas de pedra boas, e de receber, onde quer que lhe for mandado, pelo procurador della, sob pena de por cada carada que lhe faltar, paguar de pena duzentos rs, pera as obras das ditas callsadas, e isto pela boa obra que elle de nos recebia com lhe daremos licença pera seus bois pastarem nos olivais <devasos> desta cidade como adiante se fara mençam, e em satisfaçam da perda que a cidade niso reçebia com os caros delle soplicante andarem nas ditas callçadas e por nos constar, per fee do sprivão da camara, que esta sobsprevo, elle ter satisfeito com há obryguação de dar as ditas dez caradas de pedra como dito hee, do que se fez obryguação no livro das notas da camara como mais larguamente em elle se contem. Por esta damos lugar e licença ao dito soplicante pera que d’oje en diamte posa pastar com seus bois pelos olyvais devasos desta cidade, este presente anno, emquanto nelles não ouver novydade d’azeite, e isto naquelles em antes que nelles for afolhado pera o tall pasto, os quais pastarão e andarão nos ditos olyvais com as comdyçois seguintes: pastarão de dia e nam de noite; e o prygmeiro andarão peados e acabramados com cabramos de [fl. 336] cadeas de fero, os quais cabramos serão da gramdura e marqua do cabramo da cidade que esta na camara della e serão lamçados os ditos cabramos de fero ao caro sob pena de sendo achados os ditos bois conta a forma do sobredito paguar seus donos has penas das pusturas desta cidade e enquanto andarem da maneira que dito hee, nos ditos olivais, mandamos aos meirinhos allcaides rendeiros e jurados desta cidade e seus termos nam seyão coymados nem paguem por isso cousa allgua e registara com ho sprito da nota da camara, e por certeza desto lhe mandamos pasar a presente certidão per vos asinada.
Coimbra, aos vimte e hum de março de Ibc setenta e quatro annos.
Autoria das Transcrições Paleográficas: Paula França.
Como já temos referido, o Arquivo da Universidade de Coimbra integra exemplares que são verdadeiras preciosidades, as quais vai revelando, periodicamente, no seu site.
Hoje recuperamos esta magnifica encadernação mudéjar cuja história é a que se segue.
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 1
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 2
Esta encadernação mudéjar, em pergaminho, foi adaptada ao Livro de Apresentação de Colegiaturas e familiaturas do Pontifício e Real Colégio de São Pedro (1623-1790).
Exemplar único no AUC é, certamente, uma tipologia de encadernação rara em outros arquivos do país. Terá sido adquirida, pelo referido Colégio, a comerciantes livreiros de Coimbra que a trouxeram, decerto, de Espanha, onde existem inúmeros exemplares destas encadernações.
Anteriormente, pertenceu a uma obra que tinha por título, que ainda pode ser lido, no interior da badana, Manual 1591. Também a dimensão do miolo do volume atual, ligeiramente superior à da encadernação, confirma que foi feito esse reaproveitamento.
As presilhas de fecho desta encadernação em envelope, com badana, estão completas, mas já são omissos os botões de fecho, geralmente feitos com uma tira de pergaminho enrolada, restando apenas o vestígio dos mesmos.
AUC. O documento do mês. Acedido em https://www.uc.pt/anossauc/centrodoconhecimento/encadernacao/
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.