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A' Cerca de Coimbra


Quarta-feira, 20.01.16

Coimbra, evolução demográfica 2

Em 1358 as transações relativas ao abastecimento faziam-se predominantemente nesta zona (o Arrabalde). A maior parte dos conimbricenses deveria então aqui residir. Era dentro das couraças que no século XIV se refugiava a população citadina e das terras chãs em caso de perigo. Mas Almedina, a zona intramuros, estava pouco povoada por este tempo.
Tão longe quanto a documentação o permite, Almedina surge-nos com muitos espaços vazios. Não é difícil referenciar, nos séculos XI e XII, por exemplo, cortes no interior das muralhas … Almedina, que foi sede da monarquia até D. Afonso III, apresentava-se, em 1312, com «pardieiros e casas derribadas». Muitas moradas, neste século, se perderam com as «pestes» … Privilégios, muito vastos foram concedidos aos moradores da Almedina … Atuando drasticamente, D. Fernando julga resolver o problema: obriga «os moradores do arrabalde e os officiaes dessa cidade» a viverem dentro das muralhas.
… Em 1527, ao tempo do numeramento joanino, só uns 37% da população total, considerando os cónegos da Sé e os clérigos, moravam intramuros. Menos de 500 fogos. Este cômputo é profundamente alterado, porém, a partir de 1537.
O regresso definitivo da Universidade a Coimbra veio modificar o crescimento natural e real da população tanto na cerca como no arrabalde … em 1560 «o muito crescimento do povo» era bem sentido … Em 1567 … Um outro documento do ano seguinte considera Coimbra «grande povoação e (de) muitas passagens. Os burgos de Santa Clara e de Celas povoam-se. Ruas e casas novas surgem «nos olivais além da cerca do mosteiro de Santa Clara» … Celas, em 1608, era já «um lugar de muita gente que passava de noventa fogos».
…Os imperativos da Guerra da Restauração conduziram de novo a minudentes recenseamentos … Mandava a provisão que de cada paróquia ou grupo de paróquias com cem fregueses saísse um soldado … no recrutamento geral por volta de 1647 … Os 1040 soldados que calculámos para este ano representarão, assim, um mínimo. Juntos aos auxiliares e aos de cavalaria, integrar-se-iam num recenseamento dos 18 aos 40 anos, numa população inferior a 10.000 indivíduos, talvez próxima dos 6.500 a 7.500. Estes efetivos, em Coimbra, são forçosamente mais elevados, apesar de alguns anos de guerra: os recrutáveis não devem estar completamente indicados; e os estudantes matriculados só na Universidade andavam à volta de mil. Poder-se-á então elevar para nove ou dez mil unidades o conjunto de toda a população?

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 151 a 155, 159 a 161, 185 a 187

 

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por Rodrigues Costa às 10:08

Terça-feira, 19.01.16

Coimbra, evolução demográfica 1

No conspecto demográfico do País a cidade de Coimbra ocupava, em 1527, um lugar pouco destacado. Seis aglomerados, além da capital, eram populacionalmente superiores e um, Lagos, sensivelmente igual. No centro dominava. As populações «urbanas» de Leiria, Aveiro, Viseu, Guarda e Covilhã eram inferiores.

O censo atribui-lhe 1.329 vizinhos dos quais 120 são cónegos da Sé e clérigos beneficiados. Não foram tidos em conta o clero regular, as religiosas, nem a população flutuante.
Os números do censo poderiam ter sido um pouco maiores, mesmo sem considerar estas lacunas, se em 1525 a cidade, e talvez o arredor, não tivesse sido assolada por «um mal» epidémico debelado, ou quase, já nos fins de Agosto. Trezentas e setenta e três «almas» citadinas, na indicação dos vereadores, morreram … Dos «vizinhos» atribuídos à cidade coimbrã apenas 370, não considerando os eclesiásticos, viviam na Almedina. No Arrabalde, 839.

… foi no Arrabalde que se estendia, no século XVI, da Portagem em direção a Água de Maias, que se fixou a população extramuros.
A vinha, no século XII, e a vinha e o olival na centúria de Quinhentos, começavam à Porta do Castelo. Fora da Almedina e Arrabalde não havia propriamente moradores: na zona verde urbana apenas se ergueram alguns edifícios religiosos. Ainda em 1845, como se mostra numa carta topográfica, não havia casario nas circunvizinhanças da urbe, nem mesmo da Porta do Castelo ao Penedo da Saudade, com exceção do velho Arrabalde.

O Arrabalde, a «baixa», tinha já no século X pelo menos quatro igrejas (S. Bartolomeu, Santa Cristina, S. Cucufate e S. Vicente). Santa Justa foi construída no século XI. Santa Cruz e Santiago, na centúria seguinte.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 149 a 151

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:16

Quinta-feira, 14.01.16

Coimbra, agricultura e pecuária 1

Os olivais ainda não impunham a sua expressão na paisagem coimbrã em 1085, embora já o azeite entrasse na onomástica coimbrã … Do século XII há inegáveis testemunhos da presença da oliveira nesta região. Mas a riqueza agrária é dadas pelas vinhas, plantadas numa zona muito vasta, a começar junto das portas das muralhas (Porta do Sol, pelo menos).
A paisagem agrícola era então muito mais caracterizada pela cepa do que pela oliveira. Junto da cidade, pertencentes a Santa Cruz, havia algumas oliveiras em Montarroio. Ao certo, um olival em «Lagenas», perto do Mondego, um outro (com vinha) em Vila Franca e um terceiro (olival, ou vinha e olival) na Várzea do Mondego … Mas sabe-se que em 1379 os olivais caracterizavam a paisagem coimbrã na margem esquerda do Mondego, no termo da estrada que vinha de Almalaguês … Nos finais do século XIV a cultura da oliveira estava, assim, muito divulgada em Coimbra. O azeite constituía então o principal produto agrícola.

Em 14 de Maio do mesmo ano (1488), considerando a notória destruição dos olivais velhos e novos pelos «muitos bois» de Santa Cruz e moradores da cidade, já o monarca havia concedido à Câmara que pudesse pôr aos daninhos aquelas penas que lhe parecesse. E eram bem necessárias porquanto a «novidade» dos olivais constituía ainda (e continuou a sê-lo durante muito tempo) a melhor cultura para «governança e repairo» dos moradores da cidade estava muito diminuída … ao gado de Santa Cruz outro se veio juntar: os bois dos obrigados a darem carne à cidade, ao Bispo, ao Cabido, os necessários ao serviço do Hospital Real, das freiras de Santa Clara e de outros; depois, com a transferência da Universidade, os animais dos seus carniceiros e recoveiros, dos colégios e dos mosteiros.
… O número (de bois que pastavam nos olivais da cidade) cresceu de tal modo que, em 1556, os vereadores se veem obrigados a solicitar providências régias. Embora os olivais continuassem a ser «o principal proveito desta cidade e de que os moradores della se mais ajudão», não havia quem os quisesses pôr «porque loguo he tudo destruído» … Ao prejuízo causado por estas reses somou-se, sobretudo após a transferência da Universidade, o provocado por animais diversos, nomeadamente os que podiam ser destinados ao talho. Entre eles os porcos.
Nos açougues citadinos o abate de porcos era muito inferior à dos bois e, sobretudo, à dos carneiros. Mas o facto não excluía uma criação de gado porcino que se nos afigura, pelo menos em algumas épocas, com certo relevo.
As posturas municipais decretadas sobre a pastagem dos porcos dentro da cidade ou do aro dos olivais foram múltiplas e visaram não só a defesa das culturas mas também a higiene da área urbana.
Pelas ruas, praças, rossios e arrabaldes costumavam os donos trazer este gado.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 84 e 85, 88 a 90, 91 a 93

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por Rodrigues Costa às 11:36

Sexta-feira, 08.01.16

Coimbra, encruzilhada de caminhos

O trânsito, para Sul ou para Norte do País, obrigatoriamente, devia passar pela cidade e por dentro da cerca: almocreves, mercadores, caminhantes e «outros quaeesquer que levarem cargas». A pena era grave: perda das bestas e do que levassem.

O trânsito que vinha do sul entrava, como é óbvio, pela ponte. Daqui passava pelo Arrabalde em direção à porta de Almedina. Em vez de seguir adiante, penetrava na cerca por esta porta e ia sair pela do Castelo. Descia depois pela Ribela, pelo caminho que passava atrás da torre do mosteiro de Santa Cruz. Uma vez de novo no Arrabalde, o tráfego apanhava o caminho de saída: por Montarroio, «assy como se vay sair per cima dos paacos da gafaria»; daqui em diante, «per sob onde esta a forca, assy se vay sair aa ponte da Auga de Maios». Chegado a este ponto, seguia «pelas stradas direitas».

O caminho do trânsito norte-sul não foi indicado. Talvez fosse o mesmo, agora, descendo a colina.

No Arrabalde, «a par de Sam Bertolameu e a par de Santiago» ficaram as estalagens. Mas não podiam vender outra coisa que não fosse palha.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg.156 e 157

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por Rodrigues Costa às 10:41


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