Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra


Sábado, 15.08.15

Coimbra, os primórdios da alcáçova 1

É pois, decerto, sobre essa urbe, próspera e «moçárabe», onde entre os vestígios da antiga ordem imperial, que após cinco séculos de abandono lentamente se esboroavam, despontam os novos signos da sua dignidade eclesiástica, debilmente protegida pela «muralha romana» e pelos esforços (seguramente frustres) realizados pelos condes, que se abate, em Julho de 987, a fúria destrutiva de Almançor – fúria, na verdade – que as pedras do alcácer não deixariam, certamente, de «ilustrar».
Com o «repovoamento», porém, «sete anos» mais tarde, chegava também, por fim, uma «comunidade árabe». E, com ela, decerto, finalmente, a mesquita, islamizando a antiga catedral. Mas vinha sobretudo o eloquente sinal de submissão: o reduto «real». Assim pois, buscando, na sua dupla intencionalidade, a um tempo endógena e exógena, local estratégico e eminente onde cumprir o seu objetivo semiótico, erguer-se-ia no extremo do braço meridional da ferradura, o mais proeminente, aí onde, na expressão feliz de Fernandes Martins, se formava como uma esplanada, suspenso, um amplo «ninho de águias» - «ninho» cercado de falésias, defendido naturalmente a sul e a poente, acessível apenas por nascente e alcandorado sobre a «cutilada» que, vincando a colina, abrigava a antiga catedral e, com ela, o «núcleo duro» do agregado cristão. Implantação forçosamente ingrata, que obrigaria, por óbvios imperativos de ordem estática, à deformação da planta regular – tal como a «linha de fastígio» do dorso da colina que a antecede (hoje por completo rebaixada), levaria também a descentrar a porta-forte. Mas cumpria plenamente os critérios «representativos» que haviam presidido à sua edificação. A antiga zona residencial patrícia que, dez séculos mais tarde, as intervenções no «Pátio das Escolas» iriam desvendar, degradada havia muito por novas utilizações – senão mesmo (quase) abandonada – serviria pois, agora, de assento ao monumento que, pelo tempo fora, iria moldar a imagem da cidade … um «alcácer muçulmano», guarda avançada do Islão, de rosto à Cristandade e às pretensões hegemónicas dos monarcas asturo-leoneses.

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 192 e 193

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 22:22

Sexta-feira, 26.06.15

Coimbra, a reconquista definitiva visto pelo lado cristão

Precedida de uma ofensiva estratégica contra a taifa de Sevilha, dinamizada a partir de Mérida, em 1063, destinada a isolar o Reino de Badajoz, a tomada de Coimbra por Fernando I, no ano seguinte, não constituiria um mero episódio na lógica da «Reconquista». Era antes, em certo sentido, o seu próprio e simbólico ponto de partida … A submissão da fortíssima praça - «illarium partium maxima civitas», como refere a documentação medieval – avultava, assim, como prova de fogo da estratégia imperial formulada pelo monarca leonês. Donde a peregrinação a Santiago, de que seria precedida, destinada a impetrar a proteção do santo; donde o conjunto de lendas que se iriam tecer em seu redor, como os «sete anos» de cerco, a ativa intervenção do próprio apóstolo (em tal transe assumindo perfil de «mata-mouros»), a participação de Rui (ou Rodrigo) Dias, o romanesco Cid, armado cavaleiro, após o triunfo, na mesquita. Donde, enfim, nova romagem régia a Compostela, na sequência da conquista, a render graças pelo bom sucesso da empresa.
A fazer fé nos relatos cristãos, os sitiantes haviam combatido “muy fortemente com os engenhos, em tanto que britarom o muro da villa. E os mouros, maao seu grado, veheron a el rei e deitaronsse a seus pees e pedironlhe por mercee que os leixasse hyr cõ seus corpos, e que lhe leixaria a villa e a alcaçova, com quanto aver em ella avya. E el rey com grande piedade outorgoullo. E entregaronlhe a vylla a huum domingo, ora de terça.

Coimbra renderia, de facto, um opulento saque em cativos e bens, mesmo que os 5.000 prisioneiros transmitidos pelas fontes pertençam também, provavelmente, aos domínios da lenda. Integrada pelo Imperador no Reino da Galiza, atribuído a seu filho Garcia … seria confiada (bem como todo o território a sul do Douro, reconstituindo, de um modo geral, o velho «condado de Coimbra»), a Sesnando Davides.

A nomeação do famoso «alvazir» como governador da cidade e seu território no novo contexto da conquista cristã … representava a possibilidade de utilização, ao serviço da «reconstrução» e em pleno «Andalus», da sua própria origem moçárabe … no âmbito de uma estratégia de aglutinação do tecido social e de atração de novos «povoadores».

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 218 a 220.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:32

Terça-feira, 23.06.15

Coimbra e as suas muralhas 1

… data de 1930, por mão de António de Vasconcelos, a primeira reconstituição do circuito medieval das muralhas coimbrãs. Se o velho mestre não curara de deslindar a sua origem, mas tão só de definir o seu percurso, outro tanto não faria Virgílio Correia, que, no mesmo ano e sob o impacte da descoberta, nas infraestruturas do Museu que dirigia, do criptopórtico romano, afirmava, invocando Plínio, que “admitindo que «oppidum et flumen Minium» se referem a Coimbra, aí temos, além da designação do nome da terra, a sua qualidade de «oppidum», povoação de altura, fortificada, que de facto Coimbra é, e provavelmente sempre foi”. Apesar disso, não deixava de constatar que “acerca das muralhas romanas de Coimbra, nada conhecemos, até agora, de positivo. Em Junho de 1943, contudo, evocava Nogueira Gonçalves: “Alvorecia o século quinto. Iam caindo, feridas quase sem glória, as águias dos emblemas imperiais. Desabava a torrente dos povos bárbaros, alastrando em ruínas e morticínios. Em 409 … a primeira onda, a dos suevos, alanos e vândalos …”

Ganhava, pois, raízes, até por confronto com Conimbriga, onde os avanços da arqueologia comprovariam a origem tardo-antiga das muralhas, a tese da ereção da cerca coimbrã ao despontar do século V, perfilhada por Fernandes Martins, em 1951 e por Pierre David, desde 47, embora recuando a edificação dos muros, em ambas as cidades, à invasão dos Francos de 258. Antes que terminasse o ano de 43, contudo, meses depois de Nogueira Gonçalves, recordando a invasão bárbara de 409, com ela relacionar a edificação das muralhas coimbrãs, as obras em curso do palácio universitário, proporcionando a descoberta do pano de muro e do cubelo (depois demolido) incluídos no átrio de S. Pedro, abriam novas perspetivas, em função das quais Virgílio Correia, estribado no confronto do “aparelho de construção, onde, como noutros pontos dos muros e das portas de Coimbra, foram empregados blocos romanos, de algum grande edifício desmontado para o efeito”, deduzia ser o mesmo «coevo das grandes obras de fortificação citadina, cuja origem e cronologia precisa são ainda um problema em aberto”

E concluía: “O problema da idade das primeiras muralhas de Coimbra apresenta-se como de difícil solução … Por outro lado, não se encontraram, até agora, nas muralhas pedras de ornato paleocristão ou bárbaro. Donde tornar-se admissível o levantamento da fortificação precisamente na época do domínio dos visigodos, que tornaram Imínio numa capital onde quatro monarcas cunharam moeda; e capital significou sempre, na Idade Média, cidade poderosamente fortificada. As muralhas apresentam, desde o Castelo, ao longo da Couraça de Lisboa, até ao Arco de Almedina, a mesma composição, com aproveitamento nas fiadas inferiores de silhares do grande aparelho romano. Mal conhecidos os muros do lado poente e norte … sendo porém absolutamente seguro que a parte visível sobre a Ladeira dos Jesuítas é de época tardia, de material uniforme”. Por seu turno … exarava Nogueira Gonçalves … “As fortificações militares da cidade pertencem a diversas épocas…”


Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg.195 e 196

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:42

Segunda-feira, 15.06.15

Coimbra, a reconquista cristão vista pelo lado muçulmano

Com a morte de Almançor, em 1002, a rápida fragmentação do Califado de Córdoba, no âmbito da «2.ª fitna» e a formação do Reino aftássida de Badajoz, onde «Qulumbryya», juntamente com outras cidades do «Gharb» (Santarém, Lisboa, Sintra, Alcácer do Sal, Évora e Beja), se veria integrada a partir de 1022, é provável que a urbe não tivesse visto diminuída a sua importância militar … Desde 1057, aliás, Fernando I de Leão, atravessando o Douro, se apoderava sistematicamente de posições muçulmanas … Mas a importância que revestia a tomada de Coimbra é amplamente ilustrada pela amplitude da expedição em sua intenção, assumindo o soberano pessoalmente o comando das hostes e com esse fim se dirigindo à cidade em companhia da Rainha D. Sancha, de seus filhos e filhas e de diversos prelados … vindo a conquista a verificar-se em 10 de Julho de 1064.

segundo o relato de Ibn ‘Idari … : “E assim continuou o inimigo de Deus, Fernando – escreveria o cronista –, fortalecendo-se, enquanto os muçulmanos se debilitavam (…) até que o maldito sitiou a cidade de Coimbra (…) O maldito Fernando assediou-a agora até que a conquistou. E isso porque o seu «qa’id» - nesse tempo era um dos escravos de Ibn al-Aftas, que se chamava Randuh –, falou secretamente com Fernando para que lhe desse o «amãn» a ele e à sua família e se passaria a ele, desde a cidade, durante a noite. Então o maldito lhe deu o «amãn» e o maldito passou secretamente ao exército dos cristãos. Ao amanhecer, as gentes da cidade, já tinham feito os preparativos para a luta. Então lhes disseram os cristãos: como nos combateis quando vosso emir está connosco? A gente da cidade não tinha conhecimento daquilo e quando não o encontraram, souberam que a notícia era certa. Pediram ao estrangeiro o «amãn», mas não lhes foi concedido. Tinham-se esgotado as provisões e o inimigo de Deus sabia-o. Então esforçou-se em combatê-los, até entrar nela por assalto; como consequência, foram mortos os homens e cativas as crianças e as mulheres. E isto foi no ano 456”.
Com a conquista de Fernando Magno, encerrava-se a etapa islâmica da urbe, um amplo ciclo de três séculos e meio, longamente interrompido, entre 878 e 987, pela tomada de Afonso III e pelo domínio dos «condes de Coimbra»

Não é exatamente verdade que tenha deixado de “haver história da cidade nesse período” mesmo que esta, com efeito, se encontra praticamente por fazer … É, sobretudo, um facto, que o conjunto de informações reunido produz, essencialmente, uma sequência de «episódios», cujo real sentido em boa parte nos escapa e entre os quais, não obstante, figurará o que representa a «circunstância» que determinou a ereção do enigmático «alcácer».

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg.164 e 165

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 22:32

Domingo, 14.06.15

Coimbra, de novo cidade fronteira

Beneficiando da sua posição estratégica como cidade-fronteira – de relevância tal que a própria marca inferior («al-Tagr al Gharb») chegaria a ser designada de «al-Tagr-al-qulumriyya»; da vantagem que, em pleno «al-andalus», representava um clima atlântico e, por conseguinte, de rico alfoz proporcionado pelos campos do Mondego cujas «diferentes bondades» as várias descrições não deixariam de exaltar …; dominando uma extensa região … Coimbra mesmo que sem contabilizar, talvez, o avultado número de 5.000 habitantes que lhe tem sido atribuído, configurava, certamente, «a cidade mediterrânica implantada mais a norte no Garbe». Ao mesmo tempo e integrada embora num contexto de acelerada islamização, em particular depois da «submissão» das fronteiras levada a cabo nas primeiras décadas do século IX, a urbe parecia conservar o seu estatuto de luzeiro do moçarabismo no mundo muçulmano, como atesta, já no século X, o episódio relatado por al-Razi, a respeito de uma inscrição latina incorporada na muralha da alcáçova de Mérida e da incapacidade dos habitantes (e sua) para a decifrarem, bem como da convicção geral de que «apenas um clérigo que se encontrava em Coimbra a saberia ler». Porém, volvido um século sobre a conquista cristã, o «Gharb-al-Andalus» e, em particular, o troço que lhe correspondia da antiga «marca inferior», protagonizada por Coimbra, adquiririam uma importância súbita nos desígnios «omíadas», com a ascensão, a partir de 976, de Muhamad Ibn Abi’Amir, o poderoso «hayib» de Hisham II, no quadro da ofensiva contra os «infiéis» por ele delineada. De facto, é nesse contexto de «djihad» ou «guerra santa» que se opera a recuperação da cidade pelas forças muçulmanas, em 1 de Julho de 987 … Conquistada em três dias, segundo as crónicas, ao que parece com a cumplicidade da própria família condal, seria a urbe de novo destruída, presos (uma vez mais) os habitantes e deixada «deserta» pelo espaço de «sete anos». Contudo, a mais-valia que representava a sua situação, em pleno território de «entre Tejo e Douro», como base de apoio para novas incursões, ditaria o seu «repovoamento» (em 994?) à custa de moçárabes e muladis. Converter-se-ia então, nas palavras de Christophe Picard, na “grande place militaire musulmane d’où partaient les razias”.

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg.163, 164

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:31

Sábado, 13.06.15

Coimbra, instabilidade do domínio árabe

Desde 825/826 … parecem detetar-se perturbações em Coimbra, eventualmente justificativas da enigmática referência a um «rei mouro», de nome Alhamah, que Ramiro I de Lião teria vencido em 850 e obrigado a pagar-lhe «párias». Ao redor de 875, porém, a cidade surge designada nas fontes como capital da «cora» de Santarém, o que pressupõe uma ligação administrativa ao poder central, ao mesmo tempo que como sede do importante grupo berbere, «obediente a Córdova». No ano seguinte, contudo, era o seu território cenário das razias de Sadun al-Surumbaqui, (ou «Xurumbaqi»), apodado o «grande vagabundo», típico expoente das populações fronteiriças, explorando, em proveito próprio, as ambiguidades da malha administrativa, por seu turno aliado do muladi Abd al-Rahman b. Marwan, o «filho do galego», este em revolta aberta contra o poder omíada no quadro do surto irridentista da designada «1.ª fitna». A fidelidade «coimbrã» explicará, por certo, que, nesse mesmo ano, as tropas do general al-Barã b. Malik penetrem na Galiza «pela porta de Coimbra»; mas a atuação contínua dos rebeldes, assolando as regiões de «entre Douro e Tejo», terá minado qualquer tentativa de imposição da ordem cordovesa no extremo acidental da marca inferior, facilitando a conquista da cidade pelo conde galego Hermenegildo Guterres, ou Peres - «Tudæ et Portugaliæ Comes», às ordens de Afonso III de Leão, em 878, ficando a urbe, segundo os relatos, destruída e «erma» durante alguns anos.

Do lado cristão, desce também então, sobre a vida administrativa da cidade, um espesso véu, pouco mais se conhecendo que a transferência para Emínio, com as próprias autoridades eclesiásticas, do topónimo «Conimbriga», a breve trecho corrompido em «Colimbria» (antes de constituir a «Qulumriyya» da reconquista muçulmana) e a perpetuação do seu governo na estirpe de Hermenegildo Guterres, na qualidade de «condes de Coimbra», numa situação de autonomia em relação à Corte de Oviedo/Leão, que não deveria diferir muito, afinal, da que os Bani Danis haviam observado em relação a Córdova.


Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg.163

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 22:24

Sexta-feira, 12.06.15

Coimbra árabe, pessoas e factos relevantes

… Logo depois desta conquista, o Algarve foi consideravelmente arabizado, sobretudo com árabes do Iémene … Na zona do Tejo e até Coimbra distribuíram-se, em grandes massas, os Berberes. Os Masmudas estavam em Alcácer e em Coimbra.

Os novos cadernos do “Al-Mqtabis” de Ibn Hayyân falam-nos na presença do príncipe de Coimbra Abu Danis ben Áwsaja, em Coimbra, na época de Ibn Marwân al-Jilliqi. A “Jamhara” de Ibn Hazm diz-nos que os Banu Dânis se fizeram fortes em Coimbra e Alcácer

As figuras notáveis árabes de que se fala a propósito de Coimbra, são: a) Dawud bem Já’far ben al-Sagir, de Córdova, que ouviu lições de Málique e foi Cadi de Coimbra; Muhãriq ben al-Hakan ben Un´afiri al-Askãf, de gente de Córdova, que morreu mártir, lutando pela fé islâmica, em frente de Coimbra, muito provavelmente quando da conquista de Al-Mansur ben Abi ‘Ãmir; c) Nuhammad ben Abi’l Hasãn Tãhir al-Qaysl, de Múrcia de ascendência real, que tomou parte nas operações militares para a ocupação de Coimbra por Muhammad ben Abi âmir, al-Mansur, de Córdova …

Domingues, J.D.G. 1971. Aspectos da Cultura Luso-Árabe. Separata das Actas do IV Congresso de Estudos Árabes e Islâmicos, pg. 18 e 19.

… nas costas da Península apareceram pela primeira vez novos e inesperados inimigos … Eram estes os normandos. Aqueles bárbaros da Jutlândia, saindo do Báltico em frágeis barcas, espalhavam o terror … A Galiza foi o primeiro teatro das suas devastações. Desembarcados na Corunha (853), Ramiro I, que então reinava em Oviedo, enviou contra eles forças que os desbarataram … assolando de novo as costas do Gharb, enquanto Abdu r-Rahman mandava ordens aos caides de Santarém e de Coimbra para guarnecerem as praias e afugentarem estes incómodos hóspedes.

Herculano, A.1987. História de Portugal. Vol. I. Lisboa, Circulo de Leitores, pg. 114

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:47

Quinta-feira, 11.06.15

Coimbra árabe, alcáçova

… No Garbe (excluindo Silves, em que há referências literárias a uma zona palatina … e Coimbra, onde os seus alicerces servem de assento à Universidade), apenas Lisboa teria possuído uma imponente alcáçova …

Torres, C. O Garb-Al-Andaluz. In Mattoso, J. (Coordenador) 1997. História de Portugal. 1 Antes de Portugal, pg. 341

 

… É certo que umas quantas descrições, fundamentalmente devidas a geógrafos, iluminam de algum modo, o rosto da Coimbra muçulmana … Mas debalde se buscará nelas uma imagem concisa da cidade … Assim pois, para al-Razi, “terra muito antiga”, “bela e dotada de diferentes bondades”, “muito forte” e possuidora de “um castelo mui excelente”, a urbe, que para al-Hihimari, já no século XII, “faz parte do país do Porto” e constitui um “pequeno aglomerado, que tem o aspeto de uma cidade”, ergue-se “sobre um monte de forma circular e está envolvida duma fortaleza sólida, rasgada por três portas”, sendo “absolutamente inexpugnável”, enquanto, na mesma centúria, informa Idrisi que a sua “população faz parte da comunhão cristã”, assenta “sobre um monte redondo, rodeado de boas muralhas, fechada por três portas, e muito bem fortificada.

durante os trabalhos para a realização das fundações destinadas à implantação, no Pátio, da estátua de D. João III … foram descobertas, a cerca de 2 metros de profundidade, duas paredes paralelas, encontrando-se a essa altura, entre os entulhos retirados, várias peças e moedas de tempos recuados, algumas romanas e visigóticas… avultavam algumas lucernas e elementos cerâmicos de bom nível e que o arqueólogo situaria entre os séculos I e II da nossa era …

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg.124, 160 e 161

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 19:34

Terça-feira, 09.06.15

Coimbra na reconquista cristã

… Ordonho veio a falecer em 866, fazendo antes disso eleger seu filho Afonso, ainda na puerícia, por sucessor do reino … Por doze anos a história de Afonso III é uma série quase não interrompida de combates … Vitoriosas as mais das vezes, as armas cristãs dilataram-se então principalmente para o lado da antiga Lusitânia: Lamego, Viseu, Coimbra caíram em poder do rei de Oviedo.

Fernando I deixou respirar os sarracenos por algum tempo … Mas o seu génio inquieto e guerreiro não lhe consentia despir por muito tempo as armas. Fazendo nova entrada para o ocidente, veio pôr cerco à cidade de Coimbra, a mais importante povoação deste lado das fronteiras muçulmanas. Era o lugar forte e bem defendido, e o sítio durou seis meses. Por fim os sarracenos renderam-se ou por fome ou porque o estado dos muros, de contínuo combatidos, não consentia mais dilatada defensa. Assim, finalmente, Coimbra caiu em poder dos cristãos, para nunca mais sair dele. Passava este sucesso em 1064.

Herculano, A.1987. História de Portugal. Vol. I. Lisboa, Circulo de Leitores, pg. 178 e 179, 211 e 212

Coimbra, que, não só pela sua antiguidade e grandeza relativa, mas ainda mais por ser militarmente como a chave do território encerrado entre este ultimo rio (o Mondego) e o Douro, era uma povoação importante, foi feita capital de um novo condado ou distrito, cujo governo o guerreiro príncipe (Fernando I, ou Fernando Magno) confiou àquele que o incitara a prosseguir por este lado as suas brilhantes conquistas … Sesnando ou Sisenando, filho de David, rico moçárabe da que hoje denominamos província da Beira, senhor de Tentúgal e de outras terras do território de Coimbra… dando-lhe o governo de um distrito constituído com as novas conquistas e com a terra portucalense ao sul do Douro, ao qual servia de limites, pelo oriente a linha de Lamego, Viseu e Seia, e de fronteira, pelo sueste, o pendor setentrional da serra da Estrela.

Herculano, A.1987. História de Portugal. Vol. II. Lisboa, Circulo de Leitores, pg. 9 e 10

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 20:51

Segunda-feira, 08.06.15

Coimbra, domínio árabe 3

… A mais antiga construção arábica importante a que temos referência, na região da antiga Lusitânia, é da Alcáçova de Mérida, ordenada em pleno século IX, por Ábd al-Rahmân II.

Supomos poder datar desta época ou da do Califado (período do Almançor), a porta árabe de Coimbra, entrada para um antigo palácio, junto do atual Museu de Machado de Castro. Com efeito, pelas suas proporções sóbrias e pelo seu alfiz enquadra-se no estilo califal …

Domingues, J.D.G. 1971. Aspectos da Cultura Luso-Árabe. Separata das Actas do IV Congresso de Estudos Árabes e Islâmicos, pg. 14.

… A espinha dorsal viária que sai do porto interior de Mértola e atravessa o Mondego em Coimbra serve de suporte económico aos territórios associados no Garb-al-Andaluz. Suprindo a escassa cabotagem atlântida, este caminho interior liga entre si os principais centros urbanos, pondo-os em contacto com os mares do Sul. Como faixa mais urbanizada, onde se situam as cidades de Coimbra, Lisboa e Beja, é também a zona de fixação de povoadores ligados aos interesses comerciais e políticos do Mediterrâneo.

A nova dinâmica social e económica de Coimbra e Lisboa esvazia as antigas cidades de Conimbriga e Scalabis …

Torres, C. O Garb-Al-Andaluz. In Mattoso, J. (Coordenador) 1997. História de Portugal. 1 Antes de Portugal, pg. 337

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 19:28


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Julho 2025

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031