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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 03.06.25

Coimbra: Do Colégio S. Tomás ao Palacete Ameal 1

Terceira entrada dedicada à obra António Nunes, intitulada A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra

Vale a pena viajar ao interior dos usos e memórias deste imóvel [Colégio de S. Tomás] cuja traça primitiva remonta ao século XVI.

A edificação do antigo Colégio de São Tomás de Aquino pode considerar-se reflexo da política reformista ensaiada por D. João III. Cogitando sobre a transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra, frei Brás de Braga, monge culto e bem informado, conjeturou o traçado da nova Rua de Santa Sofia, ou da Sabedoria, onde seriam alinhados os vários colégios universitários a edificar pelas instituições religiosas e monásticas. A nova rua, de feição renascentista, causou espanto geral, dada a considerável largura e extensão das paralelas que delimitavam o retângulo, alinhado da Praça de Sanção ao Arco de Santa Margarida. El-Rei acompanhou de perto os anteprojetos dos vários edifícios a construir. A norte foram sucessivamente alinhados os colégios de São Pedro, da Graça, do Carmo, de São Bernardo e os blocos do primitivo Real Colégio das Artes. Do lado poente apenas se edificaram os colégios de São Tomás e de São Boaventura.

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Planta de Coimbra assinalando a posição dos Colégios edificados a partir do séc. XVI. A letra A corresponde ao Colégio de São Tomás. In António de Vasconcelos. Escritos Vários I. 1987. Estampa XV. Op. cit., pg. 55

Visando acompanhar a reforma régia da Universidade, a Ordem de São Domingos mandou instalar os seus monges estudantes no Convento de São Domingos, sito na margem direita do Mondego. Solução precária, pois a Ordem em breve entendeu mandar construir um Colégio tendo por patrono São Tomás de Aquino, onde estudantes e mestres pudessem descansar longe das ameaçadoras cheias do Mondego.

As obras do novo imóvel terão começado pelo ano de 1549, com risco do apaniguado régio Diogo de Castilho, estando em bom andamento por 1556. O terreno loteado para a construção não estaria ainda urbanizado. Pouco se sabe dos seus usos anteriores, dado que as fundações do Palácio e jardins adjacentes não foram alvo de trabalhos de prospeção arqueológica.

No entanto, durante as obras de restauro e consolidação iniciadas em finais de 1998, descobriram-se fendas na estrutura. Tais fendas seriam provocadas pelo apodrecimento de uma estacaria de pinho, implantada cerca de 15 metros sob os alicerces primitivos. em processo de degradação após o rebaixamento do nível freático do leito do rio e o fim das cheias mondeguinas.

Na gravura assinada por Georg Hoefnagel em 1572 … O autor não menciona o Colégio de São Tomás. sendo de presumir que este se integre no lote de prédios do convento de São Domingos, confinantes com o Campo do Amado.

Da fábrica primitiva apenas resta o claustro renascentista …riscado por Diogo de Castilho no crepúsculo da primeira metade do século XVI. Iniciada a construção por Abril de 1547, ou em 1549 como querem alguns autores, as obras estiveram a cargo dos mestres pedreiros Pero Luís, António Fernandes e João Luís.

 

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Aspeto do claustro térreo em 1928. ATRC. Op. cit., 58

Reintegrado sob direção do arquiteto Silva Pinto, o claustro apresenta planta quadrilátera, com cerca de 18,40 por 18,20 metros.

Observado a olho nu sugere um quadrilátero perfeito, com o eixo central marcado pelo tanque de água, numa possível evocação simbólica do Jardim do Éden e da Fonte da Vida. Cada uma das quatro alas é pontuada por três grupos de arcadas, cindidas por contrafortes paralelepipédicos, salientes na direção do jardim.

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O antigo tanque renascentista, marcando o centro do claustro, é um dos raros vestígios do velho colégio. Imagem Varela Pécurto.  Op. cit., pg. 18

…. Remontará também ao século XVI o portal da fachada nobre, em arco de volta perfeita, encimada pela estátua do patrono, hoje implantado na fachada lateral do Museu Machado de Castro.

EB 11.jpgPortal do Colégio de S. Tomás, implantado na fachada lateral do Museu Machado de Castro. Acervo RA

…. Uma fotografia de princípios do século XX confirma que o andar superior da fachada principal foi alvo de remodelação no século XVIII, visível no acrescento dos oito janelões de avental e no varandim de honra que coroava o portal. No piso inferior mantinham-se cinco dos antigos janelões com os lintéis rematados em arco redondo.

EB 12.JPGColégio de São Tomás antes de ser transformado em Palacete Ameal. Acervo RA

No corpo direcionado para o demolido Arco de Santa Margarida, o rasgamento do piso inferior espelhava grande assimetria, visível na distribuição das janelas e porta de serviço que dava serventia a uma oficina expropriada amigavelmente em 30 de Novembro de 1929 e adquirida mediante escritura datada de 2 de Dezembro do mesmo ano em conjunto com outros lotes particulares.

À semelhança dos restantes colégios universitários tutelados pelas congregações religiosas, o edifício foi incorporado na Fazenda Nacional, conforme o estipulado no Decreto de 31 de Maio de 1834.

Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. Fotografias Varela Pécurto. 2000. Coimbra, Ministério da Justiça.

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por Rodrigues Costa às 11:03


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