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A Dr.ª Ana Maria Leitão Bandeira, arquivista aposentada do Arquivo da Universidade de Coimbra, onde realizou inovadores trabalhos arquivísticos, foi convidada para publicar, no site da UC e no âmbito das comemorações dos 735 anos da Universidade, um dado histórico que resultou da sua investigação. Trabalho intitulado “O primeiro aluno africano matriculado na Universidade de Coimbra: D. Henrique sobrinho do Rei do Congo (1540)”.
A parte desse texto, então divulgada, está disponível em:
https://www.facebook.com/photo?fbid=1120328836800611&set=a.488005386699629.
Dado o interesse do tema tratado, aquela Investigadora fez o favor de nos ceder o texto integral, o qual podemos enviar aos mais interessados no tema, do qual respigamos esta entrada.
Após a instalação definitiva da Universidade em Coimbra, em 1537, por decisão do rei D. João III, o ingresso anual de alunos na Universidade começou a aumentar.
… A informação sobre matrículas já foi, contabilizada, sabendo-se que no ano letivo de 1537-1538 a Universidade era frequentada por 230 alunos que estavam distribuídos pelas cinco Faculdades existentes: Teologia, Cânones, Leis e Medicina. Podiam ainda frequentar cadeiras preparatórias como: Código, Gramática e Instituta. Poucos anos depois … este número já duplicara, situando-se em 537 o número de alunos matriculados no ano letivo de 1540-1541.
Quando pensamos que já foram feitas todas as pesquisas documentais nestes livros, deparamo-nos com verdadeiras surpresas, como aconteceu esta identificação da matrícula, em Gramática, do primeiro aluno originário de África. Trata-se de “Dom Anriquez sobrinho del Rey de Cõguo”. Não está mencionada a data de matrícula, como inúmeras vezes acontece, pois esta é subentendia pela informação do registo anterior, que ocorrera no mesmo dia, ou seja, em 24 de outubro de 1540.
PT/AUC/ELU/UC – Universidade de Coimbra (F); Livros de Matrículas (SR), vol. 3, 4.º cad., fl. 166v – cota AUC- IV-1.ªD-1-1-3
Na última linha do texto está lançado o nome de D. Henrique sobrinho do Rei do Congo. A grafia do nome Anriquez, poderá ser interpretado como Henrique ou também Henriques, mas este último era utilizado como patronímico e não como nome próprio. Na linha anterior, a primeira palavra é Silves, local de naturalidade do aluno matriculado anteriormente, em 24 de outubro - “aos XXIII ds doutubro e jur” - [isto é juravit que significa que fez o juramento dos Estatutos da Universidade]. Não são conhecidas outras matrículas deste sobrinho do Rei do Congo, nem se pode traçar o destino que teve e a razão de não ter continuado os estudos, em Coimbra.
Título do volume na lombada da encadernação, em pergaminho.
Só trinta e quatro anos depois, em 1574, a Universidade de Coimbra viria a receber um outro aluno ultramarino, designação adotada na época. Trata-se de Manuel de Paiva Cabral, natural de Pernambuco (Brasil) e que frequentou a Faculdade de Leis. O multiculturalismo que se viria a sentir na Universidade, alguns séculos mais tarde, sobretudo a partir do séc. XVIII, podemos dizer que teve início no supracitado ano de 1540, com um aluno do Congo.
O primeiro Rei do Congo, D. Afonso I (1456-1543), convertera-se ao catolicismo, depois do reino ter sido visitado por portugueses, razão pela qual adotou esse nome português. A primeira missão ao Reino do Congo, governado por “manicongos”, teve lugar em 1491, ainda no reinado de D. João II. São inúmeras as cartas que se conhecem, de uma frutuosa correspondência entre os reis do Congo e os reis de Portugal D. Manuel e D. João III. No Arquivo da Universidade encontram-se cartas dirigidas a D. João III, datadas de 1546, mas já do Rei D. Diogo, o neto sucessor de D. Afonso.
Ana Maria Bandeira
As Conversas Abertas deste ano aproximam-se do seu fim.
A próxima, vai tratar de um tema que Coimbra não tem sido capaz potenciar e que resulta de um património – o conjunto dos órgãos de tubos que aqui existem - cuja importância histórica é inquestionável.
Vem isto, a propósito da palestra que o Professor Doutor José Leandro Andrade Campos vai apresentar intitulada “Os órgãos de tubos Em Coimbra: o seu potencial para a cultura musical e turística”.
Igreja de Santa Cruz, órgão de tubos
Capela da Universidade, órgão de tubos
Trata-se de um tema que devia interessar a Cidade e que, por certo, interessará a muitos conimbricenses.
Como é habitual a palestra acontecerá na próxima 6.ª feira, 27 de junho, a partir das 18h00 na Sala D. João III, no Arquivo da Universidade de Coimbra.
Sexta e última entrada extraída da obra António Nunes, intitulada A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra, dedicada ao Tribunal da Relação de Coimbra
Durante a Monarquia Constitucional e os primeiros oito anos da República a Comarca de Coimbra foi território integrante do vasto Distrito Judicial do Porto.
Nos primeiros anos do século XX, a ideia de instituir um novo Distrito Judicial na Região Centro, tendo por sede a cidade mondeguina, era bem vista e acarinhada pelas elites coimbrãs.
…. Segundo a letra do diploma fundador – Decreto n.º 4.250, de 11 de maio de 1918 – o Distrito Judicial de Coimbra compreenderia todas as comarcas dos Distritos Administrativos de Coimbra, Guarda, Castelo Branco e Leiria e as comarcas de Águeda, Vagos e Anadia … Mangualde, Santa Comba Dão, Tondela e Viseu.
O território judicial entre 1926 e 1973 … da Relação de Coimbra. Op. cit., pg. 23
…. O Mapa Judicial resultante dos reajustamentos operados em 1973 … respeitou o território do Distrito Judicial de Coimbra.
…. A 14 de maio [de 1918] tudo indicava que o Tribunal da Relação ocuparia o Colégio de São Paulo-o-Eremita
Colégio de São Paulo-o-Eremita, à Rua Larga. Op. Cit., pg. 47
… A «Gazeta de Coimbra» de 20 de junho maio [de 1918] dava por definitivamente encerrado o debate gerado em torno das possíveis instalações da Relação. Os Serviços de Justiça ocupariam um espaço disponível no edifício da Cadeia Penitenciária, sendo apontado como local da construção do Palácio da Justiça, o terreno da Cadeia de Santa Cruz.
A partir de 22 de junho [de 1918] os vários serviços dependentes do Tribunal da Relação foram gradualmente instalados na Penitenciária.
Fachada principal da Cadeia Penitenciária de Coimbra. Inaugurada em 1901, albergou entre 1918 e 1928 o Tribunal da Relação. Imagem Varela Pécurto. Op. cit., pg. 48
…. A 1 de julho de 1918 a Relação de Coimbra foi solenemente inaugurada
Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. Fotografias Varela Pécurto. 2000. Coimbra, Ministério da Justiça.
Tags: Coimbra séc. XX, Palácio da Justiça de Coimbra, Distrito Judicial na Região Centro, Tribunal da Relação de Coimbra, Colégio de São Paulo-o-Eremita, «Gazeta de Coimbra», Cadeia Penitenciária, Cadeia de Santa Cruz, Varela Pécurto,
Quinta entrada dedicada à obra António Nunes, intitulada A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra.
Cronologicamente [o Palácio da Justiça de Coimbra] é o segundo edifício destinado a albergar um Tribunal Superior a surgir em Portugal, quase 130 anos após a entrada em funcionamento da vetusta Casa da Relação e Cadeia do Porto.
O imóvel adquirido pelo Estado em 1928 com vista à integral instalação dos Serviços de Justiça de Coimbra atravessou dois grandes ciclos de obras. A primeira empreitada estendeu-se pelos anos de 1928 a 1940. Nesta fase o Palácio da Justiça adquiriu a sua feição plástica atual. … Um segundo ciclo de obras, dirigido pelo arquiteto Amoroso Lopes, teve início em 1959 e prolongou-se até 1962.
…. as representações técnicas do espaço construído são reveladoras da temporalidade, isto é, da conjuntura sociopolítica e estética em que o edifício foi construído.
Planta do Primeiro Piso: o desenho do primeiro piso, datado de 1929, propõe uma lógica de organização espacial, polarizada em tomo de um claustro aberto, tendo por centro de distribuição funcional o Vestíbulo.
Planta do Primeiro Piso do Palacete Ameal, com indicação dos espaços existentes em 1928. Castelo Branco. ATRC. Op. cit., pg. 92
Para os mais interessados refere-se que, para cada um dos pisos constitutivos do edifício, são apresentadas as respetivas plantas, complementadas por uma descrição pormenorizada dos trabalhos realizados e do destino dado aos diferentes espaços criados. Da mesma forma é apresentada uma descrição 9exaustiva dos trabalhos realizados nas frontarias, até atingirem o aspeto atual].
…. Num documento datado de 3 de fevereiro de 1931 apura-se que as obras de abertura das fundações haviam começado recentemente.
…. O projeto decorativo do Palácio da Justiça cuidadosamente pensado entre 1928 e 1929, foi delineado nos seus mais ínfimos pormenores.
…. Um olhar prospetivo sobre a obra construída parece indicar soluções de continuidade relativamente às empreitadas concluídas antes de 1928. O programa decorativo, assaz vasto, deixou marca nos lavores de pedra de Outil, nas madeiras, entalhados e mobiliário, na serralharia artística e na azulejaria.
Como demonstrou sobejamente Elizabete Carvalho, a produção escultórica do Palácio da Justiça foi marcada por duas gerações familiares formadas na Escola Livre das Artes e do Desenho.
Daniel Rodrigues. Bandeira do portão principal. Op. cit. Pg.133
Álvaro Ferreira. A Justiça e a Lei. Op. cit., pg. 141
Jorge Colaço. São Rosas Senhor. Op. cit., pg. 149
…. Aparentemente nada fazia prever uma cerimónia solene de inauguração das obras em curso no Palácio da Justiça. No entanto o jovem «Diário de Coimbra» encetou em 5 de março de 1934 uma galvanizadora campanha … A 23 de abril o mesmo jornal procedia à divulgação do programa … estando prevista a inauguração oficial do Palácio para o dia 6 de maio.
Rosto do «Diário de Coimbra» de 7 de maio de 1934. Op. cit., pg. 112
Não obstante a chuva teimosa e persistente, a Rua da Sofia estava pejada de povo, jornalistas e convidados vindos de quase todas as comarcas do Distrito Judicial.
A Banda Filarmónica da PSP, fardada a preceito, tocou o hino da Maria da Fonte. O remanescente daquela corporação fazia a guarda de honra.
Henrique Moreira. Grupo escultório do frontão do templete da fachada principal. Imagem Varela Pécurto. Op. cit., pg. 104
Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. Fotografias Varela Pécurto. 2000. Coimbra, Ministério da Justiça, «Diário de Coimbra»,
Quarta entrada dedicada à obra António Nunes, intitulada A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra.
No último quartel do século XIX a família dos Condes do Ameal adquiriu o imóvel quinhentista numa fase em que este funcionaria como armazém de madeiras. O anúncio público de venda surgira na edição de 7 de Maio de 1892, no jornal local «O Conimbricense».
O arquiteto Augusto da Silva Pinto recebeu, cerca de 1895, a incumbência de projetar e orientar a transformação do Colégio de São Tomás em palacete senhorial.
Do projeto Silva Pinto chegou até nós o alçado principal, de linhas neorrenascença, que não chegou a concretizar-se. O projetista propunha uma fachada simétrica, de articulação horizontal, demarcando como eixo nuclear da estrutura arquitetónica o templete de entrada. Este elemento, em diálogo com os corpos extremos da fachada. imprimia ao projeto um ritmo vertical, pontuado por quatro frontões triangulares e um remate central alteado em jeito de "arco triunfal" ornado de estátuas.
Os corpos intermédios sugeriam ritmos de leitura horizontal ordenados. À semelhança da fachada atual, adotava-se uma estruturação em primeiro pavimento, sobreloja e piso superior, muito marcada nos esquemas de fenestração. Algumas das janelas do piso superior adotavam parapeitos de balaustrada, sendo os lintéis alternadamente rematados por formas curvas e triangulares. Esta análise de ordem genérica parece indiciar que o projetista do Palácio da Justiça, engenheiro Castelo Branco, conheceu o trabalho de Silva Pinto, embora tenha optado por uma gramática decorativa acentuadamente mais austera e despojada.
O certo é que a fachada principal nunca chegou a entrar em obras, tendo mantido até 1928 a estrutura herdada do Colégio de São Tomás.
Fachada principal do Palacete Ameal e prédios adjacentes destinados a aquisição amigável. ATRC. Op. cit., pg. 59
A visualização de um antigo postal ilustrado, com a "vista norte da cidade", apresenta uma ampla panorâmica da Rua da Sofia nos primeiros anos do século XX.
Postal ilustrado do início do século XX. Visível o aspeto do Palacete Ameal, entre a Rua da Sofia e a chaminé fabril. Acervo RA
O Palacete Ameal figura em grande plano, sendo de concluir que as fachadas voltadas às atuais Rua Manuel Rodrigues e Rua Rosa Falcão já tinham adquirido um aspeto muito próximo daquele que hoje conhecemos. De acordo com a imagem citada, a fachada principal não sofrera quaisquer modificações em relação ao período religioso do colégio. A fachada voltada à Rua João Machado apresentava-se desnivelada em relação aos alçados principal e posterior, sendo visível o claustro superior sobre o telhado.
A análise de uma fotografia realizada em 1928, aquando da aquisição do palacete, ilustra o estado das obras realizadas pelo arquiteto Silva Pinto nas fachadas sul e posterior.
Vista das fachadas sul e posterior, à data da aquisição do imóvel [pelo Ministério da Justiça] construídas sob direção do Arq.º Silva Pinto. Op. cit., pg. 59
O alçado sul, voltado à Rua Manuel Rodrigues, atingira o estado que hoje lhe conhecemos faltando concluir apenas o entablamento e cornija. Os contrafortes exteriores alinhados entre o torreão sul e a caixa das escadarias estavam construídos, funcionando como suportes dos tetos abobadados das futuras salas dos Advogados e dos Solicitadores. Quanto à fachada posterior, o corpo central apresentava um grande terraço aberto ao nível do piso superior, espaço que Castelo Branco viria a vedar e converter em Sala de Audiências da Relação, após homologação do projeto em sede do Conselho Superior Judiciário. No tocante à inexistente fachada norte, a "planta do estado atual do Palácio da Justiça de Coimbra com indicação das casas e terrenos a expropriar para a construção do edifício conforme o projeto aprovado", esboçada pelo engenheiro Castelo Branco em Março de 1929, mostrava bem os engulhos e dificuldades da empreitada a levar a cabo.
Ainda sob a direção de Silva Pinto, os espaços interiores foram submetidos a obras de remodelação, particularmente a zona do claustro. No mainel de uma das portas geminadas do claustro superior ficaram gravadas as iniciais JM e a data de 1907, marcas evidentes dos trabalhos lavrados por João Machado (Pai). Datam deste período as obras de elevação do antigo claustro renascentista, em parte soterrado devido às periódicas cheias do Mondego.
Com direção e acompanhamento do arquiteto Silva Pinto, o claustro foi levantado e reconstruído sobre um engenhoso dispositivo de pedraria abobadada, disposto sob os alicerces, a cerca de 15 metros de profundidade. Parte desta estrutura suporte é ainda observável a partir do alçapão detetado nos antigos calabouços da Polícia Judiciária.
…. Falecido o primeiro titular da casa fidalga em 1920, João Correia Aires de Campos … [foram] interrompidas as obras de remodelação, o palecete seria posto à venda. Ficou a memória de um espaço votado ao colecionismo, ao amor pelas artes e literatura. Não mais se animaram os jardins do palacete onde o conde mandara erguer um teatro desmontável cuja plateia conheceu dias de glória.
Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. Fotografias Varela Pécurto. 2000. Coimbra, Ministério da Justiça,
Terceira entrada dedicada à obra António Nunes, intitulada A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra
Vale a pena viajar ao interior dos usos e memórias deste imóvel [Colégio de S. Tomás] cuja traça primitiva remonta ao século XVI.
A edificação do antigo Colégio de São Tomás de Aquino pode considerar-se reflexo da política reformista ensaiada por D. João III. Cogitando sobre a transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra, frei Brás de Braga, monge culto e bem informado, conjeturou o traçado da nova Rua de Santa Sofia, ou da Sabedoria, onde seriam alinhados os vários colégios universitários a edificar pelas instituições religiosas e monásticas. A nova rua, de feição renascentista, causou espanto geral, dada a considerável largura e extensão das paralelas que delimitavam o retângulo, alinhado da Praça de Sanção ao Arco de Santa Margarida. El-Rei acompanhou de perto os anteprojetos dos vários edifícios a construir. A norte foram sucessivamente alinhados os colégios de São Pedro, da Graça, do Carmo, de São Bernardo e os blocos do primitivo Real Colégio das Artes. Do lado poente apenas se edificaram os colégios de São Tomás e de São Boaventura.
Planta de Coimbra assinalando a posição dos Colégios edificados a partir do séc. XVI. A letra A corresponde ao Colégio de São Tomás. In António de Vasconcelos. Escritos Vários I. 1987. Estampa XV. Op. cit., pg. 55
Visando acompanhar a reforma régia da Universidade, a Ordem de São Domingos mandou instalar os seus monges estudantes no Convento de São Domingos, sito na margem direita do Mondego. Solução precária, pois a Ordem em breve entendeu mandar construir um Colégio tendo por patrono São Tomás de Aquino, onde estudantes e mestres pudessem descansar longe das ameaçadoras cheias do Mondego.
As obras do novo imóvel terão começado pelo ano de 1549, com risco do apaniguado régio Diogo de Castilho, estando em bom andamento por 1556. O terreno loteado para a construção não estaria ainda urbanizado. Pouco se sabe dos seus usos anteriores, dado que as fundações do Palácio e jardins adjacentes não foram alvo de trabalhos de prospeção arqueológica.
No entanto, durante as obras de restauro e consolidação iniciadas em finais de 1998, descobriram-se fendas na estrutura. Tais fendas seriam provocadas pelo apodrecimento de uma estacaria de pinho, implantada cerca de 15 metros sob os alicerces primitivos. em processo de degradação após o rebaixamento do nível freático do leito do rio e o fim das cheias mondeguinas.
Na gravura assinada por Georg Hoefnagel em 1572 … O autor não menciona o Colégio de São Tomás. sendo de presumir que este se integre no lote de prédios do convento de São Domingos, confinantes com o Campo do Amado.
Da fábrica primitiva apenas resta o claustro renascentista …riscado por Diogo de Castilho no crepúsculo da primeira metade do século XVI. Iniciada a construção por Abril de 1547, ou em 1549 como querem alguns autores, as obras estiveram a cargo dos mestres pedreiros Pero Luís, António Fernandes e João Luís.
Aspeto do claustro térreo em 1928. ATRC. Op. cit., 58
Reintegrado sob direção do arquiteto Silva Pinto, o claustro apresenta planta quadrilátera, com cerca de 18,40 por 18,20 metros.
Observado a olho nu sugere um quadrilátero perfeito, com o eixo central marcado pelo tanque de água, numa possível evocação simbólica do Jardim do Éden e da Fonte da Vida. Cada uma das quatro alas é pontuada por três grupos de arcadas, cindidas por contrafortes paralelepipédicos, salientes na direção do jardim.
O antigo tanque renascentista, marcando o centro do claustro, é um dos raros vestígios do velho colégio. Imagem Varela Pécurto. Op. cit., pg. 18
…. Remontará também ao século XVI o portal da fachada nobre, em arco de volta perfeita, encimada pela estátua do patrono, hoje implantado na fachada lateral do Museu Machado de Castro.
Portal do Colégio de S. Tomás, implantado na fachada lateral do Museu Machado de Castro. Acervo RA
…. Uma fotografia de princípios do século XX confirma que o andar superior da fachada principal foi alvo de remodelação no século XVIII, visível no acrescento dos oito janelões de avental e no varandim de honra que coroava o portal. No piso inferior mantinham-se cinco dos antigos janelões com os lintéis rematados em arco redondo.
Colégio de São Tomás antes de ser transformado em Palacete Ameal. Acervo RA
No corpo direcionado para o demolido Arco de Santa Margarida, o rasgamento do piso inferior espelhava grande assimetria, visível na distribuição das janelas e porta de serviço que dava serventia a uma oficina expropriada amigavelmente em 30 de Novembro de 1929 e adquirida mediante escritura datada de 2 de Dezembro do mesmo ano em conjunto com outros lotes particulares.
À semelhança dos restantes colégios universitários tutelados pelas congregações religiosas, o edifício foi incorporado na Fazenda Nacional, conforme o estipulado no Decreto de 31 de Maio de 1834.
Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. Fotografias Varela Pécurto. 2000. Coimbra, Ministério da Justiça.
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