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O Dr. Mário Araújo Torres, prossegue na tarefa a que meteu ombros de puxar para o nosso tempo, textos esquecidos: uns em que se faz a história, outros em que se contam vivências na nossa Cidade.
Daí, considerar que todos os conimbricenses lhe devem, mais uma vez, um reconhecido: Muito obrigado.
Na prossecução desse caminho acaba de publicar mais uma obra.
Op. cit., capa
Obra que leva o título Coimbra Doutora seguido de Livro de Horas (1908-1911) e que Mário Araújo Torres sintetiza, na contracapa da seguinte forma:
«Coimbra Doutora» foi o título dado por Hipólito Raposo à edição em livro, em livro da sua «Memória sobre tradições universitárias de Coimbra», com que concorreu e foi premiado nos jogos Florais Hispano-Portugueses de Salamanca, de 1909, onde descreve as fases principais da história da instituição universitária portuguesa, desde a fundação em Lisboa em 1290 por D. Dinis, passando pelo ambiente do século XV até ao esplendor após a transferência para Coimbra em 1537, o declínio subsequente à entrada dos jesuítas e insta]ação da inquisição, ao ressurgimento dos estudos com a reforma pombalina, até ao século XIX e a luta pela modernização e europeização. Não se limitou somente à história institucional, traçando impressivos quadros da vivência quotidiana dos membros da Universidade, suas praxes e costumes. Conclui a obra com transcrições de poesias constantes de manuscritos descobertos, graças ao seu labor investigatório, na Biblioteca Joanina, designadamente sobre a jornada da Academia a Elvas, em 1645, na Guerra da Restauração.
Ainda escolar em Coimbra, Hipólito Raposo editou o seu «Livro de Horas», cobrindo o período de 1908 a 1911, onde, em pequenos capítulos, evoca monumentos e suas histórias (Mosteiro de Lorvão e Santa Comba), lentes (Avelino Calisto e Paiva Pita), estudantes (Diogo Polónio), a famosa Maria Marrafa (servente de estudantes e distribuidora de sebentas), artistas famosos (Mimi Aguglia), e diversos episódios da sua vivência coimbrã.
Com diversos condiscípulos seus (entre eles, Alberto de Monsaraz, Alberto da Veiga Simões, António Sardinha, Luís de Almeida Braga, Luís Cabral de Moncada, Manuel Eugénio Massa, Manuel Paulo Merêa), integrou o grupo, de Tendências literárias, designado por Exhoterikos, de cujo órgão – a Treiskaidekopeia – se publicou um único número, reproduzido no presente volume.
Op. cit., capa, pormenor
Sobre o autor dos textos ora relembrados é apresentado a seguinte nota biográfica.
Hipólito Raposo. In. Op. cit., capa, pormenor
José Hipólito Raposo nasceu em S. Vicente da Beira (Castelo Branco), a 13 de fevereiro de 1885. Filho de João Hipólito Raposo e de Maria Adelaide Gama, no seio de uma família de agricultores, profundamente religiosa, ingressou em 1902 no Seminário da Guarda, donde seria expulso em 1904, devido a atitudes de independência e frontalidade, que sempre o caraterizaram.
Cursou o ensino secundário no Liceu de Castelo Branco, finalizando-o no Liceu de Coimbra, cidade onde se matriculou na Faculdade de Direito em 1906, formando-se em 1911.
Ainda estudante, distinguiu-se pela frequente colaboração na imprensa periódica (crónicas semanais no «Diário de Notícias») e publicou os primeiros livros, sobre temas históricos e literários.
Terminado o curso, enveredou pelo ensino (Conservatório Nacional e Liceu Passos Manuel) em Lisboa, onde se fixou.
Em 1914 foi um dos fundadores do movimento politico-cultural «Integralismo Lusitano».
Teve papel relevante no pronunciamento monárquico de Monsanto, em 1919, tendo sido demitido das funções públicas que exercia e condenado a prisão no Forte de S. Julião da Barra. Cumprida a pena de prisão, exilou-se em Angola (1922-1924), dedicando-se à advocacia.
De regresso a Portugal, continuou a exercer a profissão de advogado e publicou diversas obras políticas, literárias e históricas.
Reintegrado no cargo de professor do Conservatório (1926), prosseguiu a sua atividade de doutrinador político independente.
Em 1940, a publicação da obra «Amar e Servir» em cujo prólogo tecia críticas à «Salazarquia», provocou de novo a sua demissão das funções públicas e a sua prisão, com subsequente deportação para a Ilha Graciosa.
Hipólito Raposo faleceu em Lisboa, a 26 de agosto de 1953, deixando uma vasta obra publicada sobre temas políticos, históricos, literários e artísticos.
Numa primeira leitura, Coimbra Doutora é uma visão muito própria da história da Universidade de Coimbra, dos factos e das pessoas que a marcaram. Visão polvilhada de memórias de estudantes que se destacaram aos longo dos séculos.
O Livro de Horas e a Treiskaidekopeia, cada um por si, constituem quadros que, para os princípios do século XX, nos permitem conhecer não só acontecimentos que em Coimbra ocorreram, bem como a idiossincrasia das pessoas que aqui se preparavam e construíam as bases do seu futuro pessoal e do futuro do País.
A leitura e a ponderação da obra ora editada merecem uma leitura e reflexão atenta. Quanto mais não seja para se aquilatar das profundas diferenças entre esse passado e o nosso presente.
Rodrigues Costa
Textos citados do livro: Raposo, H. Coimbra Doutora seguido de Livro de Horas (1908-1911). Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. 2025. Lisboa, Edições Ex-Libris.
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