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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 18.03.25

Coimbra: Biblioteca Joanina

O investigador Pedro Miguel Ferrão publicou no Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, um interessante trabalho intitulado A Casa da Livraria da Universidade de Coimbra ao tempo de D. João V, no qual relembra o caminho que levou à construção da hoje tão conhecida e admirada Biblioteca Joanina.

No séc. XVIII, a biblioteca universitária conimbricense seria transferida para um novo edifício, construído de raiz por iniciativa de D. João V. Vários foram os motivos que contribuíram para a renovação da Casa da Livraria. Desde logo, as obras de remodelação da ala escolar dos Gerais – projetadas nos finais do séc. XVII e concluídas nos começos do século seguinte … os fundos bibliográficos encontravam-se acondicionados numa sala situada no átrio dos Gerais … Ao mexer na antiga construção arquitetónica, afetaram parte da estrutura desta sala, obrigando à transferência em 1705 dos livros para o piso superior, onde se encontrava localizado o cartório. Esta situação tornou-se insustentável, pelo que, em 1716, o novo reitor – D. Nuno da Silva Teles, o segundo deste nome – redige uma carta a D. João V esclarecendo que a Universidade não possuía instalações condignas para albergar os fundos bibliográficos.

…. A resposta do monarca – enviada a 31 de Outubro desse mesmo ano – confirma não só as pretensões do reitor, como autoriza ainda a construção de um edifício próprio no espaço universitário.

…. A escolha recairá numa parcela contígua à Capela de S. Miguel, local onde se encontravam as ruínas do antigo cárcere palatino de finais do séc. XIV, ao tempo de D. João I. Trata-se de um terreno desnivelado que prolongará o anterior terreiro universitário … o arranque da obra acontece … no dia 17 de Julho de 1717, concluída apenas em 1728. Durante os onze anos em que decorrerá este empreendimento, mestres-de-obras, canteiros, entalhadores, pintores, latoeiros, carpinteiros, marceneiros, vidraceiros e outros artífices vão conferindo forma a um projeto que se consubstancia numa das mais sumptuosas e elegantes arquiteturas do período barroco.

….  Um dos enigmas que o edifício encerra reporta-se ao nome do arquiteto que o projetou … É provável que o autor do projeto seja o escultor francês Claude Laprade.

Fachada da Biblioteca Joanina. Op. cit., pg. 64.pnFachada da Biblioteca Joanina. Op. cit., pg. 64

…. Delineada tendo em consideração o desnível do terreno em que se implanta – com o acesso exterior sul a ser efetuado pelas escadas de Minerva, uma obra construída a partir de 1724 por Gaspar Ferreira – a Casa da Livraria projeta um sóbrio e sólido paralelepípedo, dividido em três andares. O primeiro integra as preexistências do séc. XIV com a função de depósito, enquanto o intermédio se destinava a albergar os gabinetes dos docentes, ao mesmo tempo que cumpria a função de suporte do andar nobre. Este abria-se sobre o pátio universitário, projetado para acondicionar o espólio bibliográfico e para a sua consulta pública.

A fachada sul é animada por duas séries de seis janelas pequenas de vão quadrangular, ao nível do piso intermédio e superior, sobrepujadas por igual número de altas janelas com arco de volta perfeita.

São rematadas por saliente cornija misulada e coroadas por pares de urnas ovadas. A face oeste é rasgada por três janelas cegas de vão semicircular, tendo outras mais pequenas e de formato retangular no seu alinhamento vertical. A fachada virada a norte é formada por quatro janelas e mantém-se original.

….  Na fachada principal sobressai o imponente portal traçando um arco de triunfo, apoiado em mísulas terminais bastante decoradas, e ladeado por dupla e grandiosa colunata jónica, sobrepujado pelo volumoso brasão de armas de D. João V.

Interior da Biblioteca Joanina. Op. cit. 65.pngInterior da Biblioteca Joanina. Op. cit. 65

…. O esquema do interior é simples: um comprido retângulo subdividido em três salas retangulares que comunicam entre si através de arcos de volta perfeita, repetindo a composição do portal nobre.

Esta sequência de arcos comunicantes vai traçar uma linha axial que nos conduz até à última sala, dirigida ao retrato de D. João V, pintura atribuída a Domenico Duprá (cerca de 1725).

…. Com efeito, na Casa da Livraria reside, de forma indelével, o espírito da esclarecida ação mecenática de D. João V – consagrado mais tarde na nomenclatura adotada que a passará a designar por Biblioteca Joanina –, lugar privilegiado em que a Arte, Cultura e Ciência se conjugam em perfeita harmonia. Autêntico Palácio do Saber, o seu aparatoso cenário traduz uma certa cosmovisão do Homem e da Cultura Barroca do séc. XVIII.

 Ferrão, P. M. A Casa da Livraria da Universidade de Coimbra ao tempo de D. João V. In: Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, vol. 46/47 (2015/2016), pg. 63-72. Acedido em https://impactum-journals.uc.pt/bbguc/issue/view/2184-7681_46_47/156

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por Rodrigues Costa às 10:56


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