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A' Cerca de Coimbra



Quarta-feira, 26.03.25

Coimbra: Os Salatinas

O arquiteto Rafael Vieira acaba de publicar um livro intitulado Os salatinas. Coimbra da saudade.

Os Salatinas.jpgOp. cit., capa

O Autor caracteriza do seguinte modo a obra: Este retrato narra a migração forçada de uma comunidade de cerca de três ml pessoas para bairros sociais construídos além dos limites de Coimbra. Recria a perda do sentido de pertença original, que levou os salatinas a forjar novas comunidades assentes na saudade e na memória, na revivificação de velhas tradições e na entreajuda: uma ferida ainda por cicatrizar.

A obra – que se lê com muito agrado – desenvolve-se por uma síntese inicial da história e do espaço da Alta Coimbrã e assenta num significativo conjunto de entrevista a antigos salatinas, da qual destacamos o texto que se segue.

A palavra «salatina» tem origem obscura e a sua etimologia não é conclusiva.  O dicionário é sintético e resume que salatina era habitante ou natural da Alta de Coimbra. Ricardo Figueiredo, salatina de 87 anos residente em Lisboa e que morou no Bairro de Celas até 1962, diz que «salatina é, por definição, o que nasceu na Alta. Salatinas é definição do local de nascimento. Não há diferenças ou categorias». A certeza é de que a palavra termina sempre em «a» - apesar de haver uma ou outra pessoa que diga «salatino», sem que daí caia o mundo - e o consenso geográfico é que se aplica a quem nasceu numa zona específica da Alta da cidade de Coimbra e não a toda a Alta … «O meu avô paterno Zé Trego "velho" (o conhecido músico-barbeiro José Lopes da Fonseca), dizia que era salatina quem nascesse na parte Alta da Sé Velha, com limite geográfico nas escadas do Quebra Costas.»

Os limites do território salatina são assim definidos por toda a Alta acima das curvas de nível onde se implanta a Sé Velha e até ao Bairro Sousa Pinto a nascente, na zona dos Arcos do Jardim. Esta é a geografia usual e a tradicionalmente referida pela malta salatina.

Já sobre a etimologia, o historiador Eduardo Albuquerque aponta a origem na Batalha do Salado … [onde se terá] distinguido pela bravura um batalhão coimbrão.

… No entanto, o historiador Luís Reis Torgal  acha-a «pouco provável», devido à distância temporal, e lança outra possibilidade, que evoluiu de um topónimo alternativo para a parte superior da Alta,  Bairro Latino, correspondendo à Alta dos estudantes.

 … O jornalista Fernando Falcão Machado, em 1957 … [referindo que] a palavra teria despontado enquanto invetiva, um impropério destinado às gentes do alto da cidade pelos seus antagonistas.

…. Os adversários dos salatinas eram os chibatas … «Na zona do [Teatro] Sousa Bastos, antiga Igreja de S. Cristóvão, já não são salatinas, são chibatas.

…. Dir-se-ia, ainda no campo das suposições, que tanto salatinas como chibatas seriam impropérios com que cada um destes gangues urbanos visava o outro, para o injuriar.

…. Se o topo da Alta era o território dos salatinas e, logo abaixo desses, dominavam os chibatas, já a Baixinha era o território da miudagem do ranho ao nariz, perto de onde na Idade Média existiu a segunda judiaria de Coimbra, na Rua Nova.

…. Para outros subgrupos de futricas, outras alcunhas existiam. Algumas caíram no esquecimento, como carecas, que designava aqueles que viviam na Baixa em torno da Igreja de São Bartolomeu; os da área do Mosteiro de Santa Cruz seriam os fidalgos e, junto à Sé Nova, moravam os filhos da desventura. Há ainda outros apodos vagamente recordados, como judeus para os residentes em Santo António dos Olivais, pés-descalços para os a zona do Arnado e vacões para aqueles que vinham da periferia de Coimbra.

Vieira, R. Os salatinas. Coimbra da saudade. 2025. Coimbra, edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos e Rafael Vieira.

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por Rodrigues Costa às 13:24

Sexta-feira, 21.03.25

Conversas Abertas: Celebração em 1625 da canonização da Rainha Santa

A Conversa Aberta que ocorrerá no próximo dia 28, 6.ª feira, a partir das 18h00 na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra, vai abordar um tema que é muito querido a tantos conimbricenses.

CA, cartaz de 28.03.2025, pormenor.pngConversa Aberta, cartaz, pormenor

O Doutor António Manuel Ribeiro Rebelo, vai falar sobre As grandes celebrações em Coimbra depois da notícia da canonização de Santa Isabel, Rainha de Portugal (1625).

CA, cartaz de 28.03.2025 .pngConversa Aberta, cartaz

Como sempre a entrada é livre e após a exposição do tema abrir-se-á um tempo dedicado à livre participação dos assistentes.

 

 

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por Rodrigues Costa às 11:06

Quinta-feira, 20.03.25

Coimbra: Fundação da Misericórdia coimbrã

A Doutora Maria Antónia Lopes, tem dedicado boa arte do seu trabalho de investigação ao estudo das Misericórdias em geral e da Misericórdia de Coimbra, em particular. Através desta entrada divulgamos um dos seus trabalhos, este intitulado A fundação da Misericórdia de Coimbra: condições e circunstâncias, do qual salientamos as seguintes passagens.

 A fundação de misericórdias por todo o reino inseriu-se num “esforço da Coroa em organizar a assistência”. Trata-se, pois, de uma ação política.

…. O desejo do rei foi cumprido em Coimbra. Em carta de 12 de setembro de 1500, dirigida ao “juis, e vereadores, provedores e homens bons” de Coimbra, D. Manuel I congratula-se por terem já ordenado uma “Confraría da Misericordia” e, como pediam, concede-lhes por alvará do mesmo dia todos os privilégios outorgados à Misericórdia de Lisboa. A Misericórdia de Coimbra estava ereta. …. A Misericórdia de Coimbra foi, portanto, constituída, como quase todas, graças à devoção, à boa-vontade e aos interesses próprios de todos os envolvidos, entre os quais avultavam os das elites locais. De facto, ingressando numa Misericórdia conseguia-se ou patenteava-se prestígio pessoal e adquiriam-se privilégios civis e indulgências; mais tarde, com o seu enriquecimento, acesso fácil ao mercado de capitais ou ao arrendamento ou aforamento de terras, entre outras vantagens, não sendo a menor ser-se associado à imagem de personagem exemplar.

…. Em 1500, Coimbra ainda estava longe de atingir a dimensão e importância que viria a ter com a instalação definitiva da Universidade em 1537. Mas Coimbra era, como sempre fora, um importante ponto de passagem e de cruzamento de pessoas, bens e ideias, tanto no sentido Sul-Norte/Norte-Sul como na ligação entre o interior e o mar, em estrada rasgada pelo Mondego. Nesse último ano do século XV, a cidade de Coimbra albergava cinco a seis mil habitantes, sobretudo no Arrabalde (a Baixa), com a Almedina (a Alta) parcialmente em ruínas e rarefeita de população. O centro vital de Coimbra era, pois, a parte baixa, polarizada pelo mosteiro de Santa Cruz, que limitava a cidade a Norte, pois que a Rua da Sofia estava ainda por nascer, mas também com poder e força vital na sua bela Praça, rematada nos dois extremos pelas igrejas de S. Tiago a Norte e S. Bartolomeu a Sul (em edifício anterior ao atual). A colina era encimada pelos Paços Reais, mas, sem rei que os habitasse, nela pontificava o bispo e o cabido, na sua catedral fortaleza a meia encosta.

É a esta cidade, longe ainda de ocupar o terceiro lugar em honra e dimensão, que no fim do verão de 1500 chega o diploma consagrando legalmente a sua Misericórdia, após a fundação das de Lisboa, Lagos, Portel, Tavira, Évora, Montemor-o-Novo, Porto, Setúbal e, talvez, Santarém.

Muito provavelmente, nessa altura a Misericórdia estaria já a funcionar, mesmo que de forma incipiente, pelo menos há alguns meses, o que pode fazer remontar a sua fundação a 1499 ou inícios de 1500. E como tantas outras, nos seus primórdios, sobrava-lhe em ambição – e que ambição!, praticar a totalidade das obras de misericórdia entre toda a população carenciada da urbe – o que lhe faltava em recursos. Por isso os “principais” de Coimbra quiseram desde logo anexar as instituições existentes com as suas rendas, o que desagradou ao rei, que lhas nega perentoriamente.

…. Nascera, pois, a Misericórdia de Coimbra, cumprindo todos os requisitos legais, a 12 de setembro de 1500, mas ainda pobre, sem sede própria … escreve o autor anónimo do texto “Instituição da Misericordia de Coimbra, e Cathalogo dos Provedores, e Escrivaens, que até ao presente nella tem servido”, que acompanha o compromisso de 1620, na sua edição de 1747: “He tradicçaõ vulgar nesta Cidade, que primeyro se assentou esta Confraria na Sé della, dahi se passou para a Igreja de Santiago na casa que hoje serve de celeyro, aonde se diziaó as Missas, e mais obrigaçoens da Casa e se chamava a Capella da Misericordia”.

…  Aprovou-se então, em 1546, um projeto absolutamente radical: erigir o templo da Misericórdia sobre a igreja S. Tiago. Construir uma igreja assente no teto de outra!, eis a solução encontrada pelos Irmãos, que não queriam abandonar o coração da cidade. E assim surgiu um santuário originalíssimo.

Boletim 28 Monumentos Nacionais 07. Bilhete PostalIgreja de S. Tiago. Acervo RA

Boletim 28 Monumentos Nacionais 09.jpg

Igreja da Misericórdia, entrada. In: Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, n.º 28

Aproveitando-se o desnível entre a Praça e os arruamentos orientais, virava a nova igreja da Misericórdia para a Rua de Coruche (atual Visconde da Luz), com porta encimada por belo frontão de João de Ruão, representando a Senhora do Manto ou Senhora da Misericórdia, a que se acedia por escadório. Mas a Misericórdia precisava de outros espaços: casa do despacho, cartório, armazéns, etc. Em 1589 ainda se iniciaram essas obras na Rua do Corpo de Deus, mas por dificuldades várias desistiu-se do projeto. Em 1605 aprovou-se a construção dessas dependências adossadas à igreja, sobre outra nave de S. Tiago. Cerca de cem anos depois, acrescentaram-se com a edificação do Recolhimento das Órfãs, já assente em terra e alinhando pela Rua de Coruche, e outro século volvido, instalava-se nas lojas desse imóvel a botica da Santa Casa.

O templo quinhentista da Misericórdia já não existe: inicialmente mutilado, tal como a cabeceira da igreja de S. Tiago e outros edifícios da Rua de Coruche quando esta foi alargada em meados do século XIX, veio a ser completamente destruído, em inícios do século XX.

Igreja da S. Tiago e Misericórdia. Restauro.jpg

Igreja de S. Tiago e da Misericórdia, restauro. In: Illustração Portuguesa.

….  A Misericórdia pontificou, pois, e durante trezentos anos, na Baixa coimbrã: com entrada pela Rua de Coruche, vizinha ao mosteiro de Santa Cruz, mas virando também para a Praça da Cidade, que dominava da sua altura, governou-se pelo estipulado no Compromisso de 1500.

 Lopes, M. A. A fundação da Misericórdia de Coimbra: condições e circunstâncias” in Lopes, Maria Antónia (coord.), Livro de todallas liberdades da Sancta Confraria da Misericórdia da cidade de Coimbra. Estudos, facsimile e transcrição. Coordenação de Maria Antónia Lopes. 2016. Coimbra, Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, pp. 9-16.

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por Rodrigues Costa às 10:23

Terça-feira, 18.03.25

Coimbra: Biblioteca Joanina

O investigador Pedro Miguel Ferrão publicou no Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, um interessante trabalho intitulado A Casa da Livraria da Universidade de Coimbra ao tempo de D. João V, no qual relembra o caminho que levou à construção da hoje tão conhecida e admirada Biblioteca Joanina.

No séc. XVIII, a biblioteca universitária conimbricense seria transferida para um novo edifício, construído de raiz por iniciativa de D. João V. Vários foram os motivos que contribuíram para a renovação da Casa da Livraria. Desde logo, as obras de remodelação da ala escolar dos Gerais – projetadas nos finais do séc. XVII e concluídas nos começos do século seguinte … os fundos bibliográficos encontravam-se acondicionados numa sala situada no átrio dos Gerais … Ao mexer na antiga construção arquitetónica, afetaram parte da estrutura desta sala, obrigando à transferência em 1705 dos livros para o piso superior, onde se encontrava localizado o cartório. Esta situação tornou-se insustentável, pelo que, em 1716, o novo reitor – D. Nuno da Silva Teles, o segundo deste nome – redige uma carta a D. João V esclarecendo que a Universidade não possuía instalações condignas para albergar os fundos bibliográficos.

…. A resposta do monarca – enviada a 31 de Outubro desse mesmo ano – confirma não só as pretensões do reitor, como autoriza ainda a construção de um edifício próprio no espaço universitário.

…. A escolha recairá numa parcela contígua à Capela de S. Miguel, local onde se encontravam as ruínas do antigo cárcere palatino de finais do séc. XIV, ao tempo de D. João I. Trata-se de um terreno desnivelado que prolongará o anterior terreiro universitário … o arranque da obra acontece … no dia 17 de Julho de 1717, concluída apenas em 1728. Durante os onze anos em que decorrerá este empreendimento, mestres-de-obras, canteiros, entalhadores, pintores, latoeiros, carpinteiros, marceneiros, vidraceiros e outros artífices vão conferindo forma a um projeto que se consubstancia numa das mais sumptuosas e elegantes arquiteturas do período barroco.

….  Um dos enigmas que o edifício encerra reporta-se ao nome do arquiteto que o projetou … É provável que o autor do projeto seja o escultor francês Claude Laprade.

Fachada da Biblioteca Joanina. Op. cit., pg. 64.pnFachada da Biblioteca Joanina. Op. cit., pg. 64

…. Delineada tendo em consideração o desnível do terreno em que se implanta – com o acesso exterior sul a ser efetuado pelas escadas de Minerva, uma obra construída a partir de 1724 por Gaspar Ferreira – a Casa da Livraria projeta um sóbrio e sólido paralelepípedo, dividido em três andares. O primeiro integra as preexistências do séc. XIV com a função de depósito, enquanto o intermédio se destinava a albergar os gabinetes dos docentes, ao mesmo tempo que cumpria a função de suporte do andar nobre. Este abria-se sobre o pátio universitário, projetado para acondicionar o espólio bibliográfico e para a sua consulta pública.

A fachada sul é animada por duas séries de seis janelas pequenas de vão quadrangular, ao nível do piso intermédio e superior, sobrepujadas por igual número de altas janelas com arco de volta perfeita.

São rematadas por saliente cornija misulada e coroadas por pares de urnas ovadas. A face oeste é rasgada por três janelas cegas de vão semicircular, tendo outras mais pequenas e de formato retangular no seu alinhamento vertical. A fachada virada a norte é formada por quatro janelas e mantém-se original.

….  Na fachada principal sobressai o imponente portal traçando um arco de triunfo, apoiado em mísulas terminais bastante decoradas, e ladeado por dupla e grandiosa colunata jónica, sobrepujado pelo volumoso brasão de armas de D. João V.

Interior da Biblioteca Joanina. Op. cit. 65.pngInterior da Biblioteca Joanina. Op. cit. 65

…. O esquema do interior é simples: um comprido retângulo subdividido em três salas retangulares que comunicam entre si através de arcos de volta perfeita, repetindo a composição do portal nobre.

Esta sequência de arcos comunicantes vai traçar uma linha axial que nos conduz até à última sala, dirigida ao retrato de D. João V, pintura atribuída a Domenico Duprá (cerca de 1725).

…. Com efeito, na Casa da Livraria reside, de forma indelével, o espírito da esclarecida ação mecenática de D. João V – consagrado mais tarde na nomenclatura adotada que a passará a designar por Biblioteca Joanina –, lugar privilegiado em que a Arte, Cultura e Ciência se conjugam em perfeita harmonia. Autêntico Palácio do Saber, o seu aparatoso cenário traduz uma certa cosmovisão do Homem e da Cultura Barroca do séc. XVIII.

 Ferrão, P. M. A Casa da Livraria da Universidade de Coimbra ao tempo de D. João V. In: Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, vol. 46/47 (2015/2016), pg. 63-72. Acedido em https://impactum-journals.uc.pt/bbguc/issue/view/2184-7681_46_47/156

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por Rodrigues Costa às 10:56

Quinta-feira, 06.03.25

Coimbra mais história, mais futuro

Coimbra mais história, mais futuro

Esclarecimento: As pessoas que estejam interessadas na leitura integral do documento aqui referido, ou subscrever o que nele é proposto, poderão fazê-lo por email para: rodriguescosta@sapo.pt.

Coimbra antiga 11.jpg

Uma delegação do grupo de cidadãos que subscreveram o documento que designaram de Coimbra mais história, mais futuro, foi hoje recebida pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, para entrega do mesmo.

Subscritores que têm como denominadores comuns: a certeza da importância determinante da salvaguarda do património histórico para o futuro de Coimbra; a convicção da necessidade de estabelecer um consenso alargado sobre o projeto de defesa desse mesmo património, com especial relevância para o património construído; a consciência de que tal projeto não é realizável no tempo de um mandato autárquico, face aos custos envolvidos e aos tempos necessários para obter tanto os necessários acordos entre diversas Entidades, assim como os indispensáveis apoios para a sua concretização; a importância de o Município estar dotado de um conjunto de projetos, devidamente estudados e fundamentados que lhe permita apresentar candidaturas sustentadas às linhas de apoio que possam, eventualmente, vir a surgir; Que estando a decorrer o tempo da alteração do Plano Diretor Municipal, ser nosso entendimento de que os cidadãos não se devem quedar pela mera crítica, mais ou menos justificada, mas que têm o dever cívico de contribuir com propostas assentes na sua experiência e conhecimentos, a fim de poderem vir a enriquecer o caminho a percorrer: o considerarem que o tempo mais adequado para essa intervenção, é o do período pré-campanha eleitoral autárquica, oferecendo deste modo sugestões adequadas aos partidos que a elas concorram, quando estão a preparar as suas propostas eleitorais; o não exercerem qualquer cargo em estruturas político-partidárias, nem perspetivarem uma qualquer candidatura autárquica.

O documento em apreço está consubstanciado em 3 bases e 35 linhas de ação que podem e devem ser enriquecidas com outros contributos, tendo dm vista a definição da política e a atuação do Município deveriam assentar, relativamente à defesa do património construído de Coimbra e de seu aro.

- Base 1 . O Município declara, como estratégica para o desenvolvimento do Concelho, uma intervenção proativa em ordem à salvaguarda do património histórico  

. Linha de ação 1.1 - Criação dos instrumentos jurídicos que permitam uma mais eficaz e célere intervenção municipal.

. Linha de ação 1.2 - Reforço das verbas orçamentais dos Departamentos de Gestão Urbanística.

. Linha de ação 1.3 - Criação de apoios, assentes numa necessária contratualização com os proprietários, para a recuperação de edifícios.  

- Base 2 . Prevalência da musealização de qualquer achado sobre qualquer outro  

. Linha de ação 2.1 - Obrigação não só da salvaguarda de qualquer vestígio que surja, bem como da sua musealização possível.

. Linha de ação 2.2 - Sempre que o Relatório Final do trabalho arqueológico realizado apontar para que essa aplicação seja injustificada ou inaplicável, as peças encontradas deverão passar a integrar a Reserva Arqueológica Concelhia.

. Linha de ação 2.2.1 - Criação do serviço municipal da Reserva Arqueológica Concelhia.

. Linha de ação 2.2.1.1 - Criação de um programa para a criação de uma rede de polos arqueológicos na Região Centro.

. Linha de ação 2.2.2 / 3- Atribuição da classificação de um achado arqueológico como integrando a Reserva Arqueológica Concelhia.

. Linha de ação 2.3 - Externalização pelo Município do estudo global das áreas protegidas e espaços de lazer.

. Linha de ação 2.4 - Dotação dos Serviços com adequados meios técnicos e humanos.

. Linha de ação 2.5 - Redimensionamento do Prémio Municipal de Arquitetura Diogo Castilho.

. Linha de ação 2.6 - Edição de um Guia de Apoio à Reabilitação do Edificado.

 

- Base 3 . Atribuição de prioridade ao estudo, análise e decisão, de projetos na área classificada

3.1 – Projetos prioritários da responsabilidade exclusiva do Município

. Linha da ação 3.1.1 - Requalificação do Museu da Cidade.

. Linha de ação 3.1.2 - Recuperação e musealização das soterradas ruínas do paço mandado construir pela Rainha Santa D. Isabel.

. Linha da ação 3.1.2 - Aquisição pelo Município das ruínas do edifício do antigo Teatro Sousa Bastos.

. Linha de ação 3.1.3 - Construção de uma vedação e requalificação do Jardim da Sereia.

. Linha de ação 3.1.4 - Requalificação do Penedo da Saudade.

. Linha de ação 3.1.5 - Requalificação das margens, na zona urbana, do Mondego

A desenvolver nas seguintes linhas de ação.

. Linha de ação 3.1.5.1 - Requalificação da margem direita do Mondego, na zona do Parque.

. Linha de ação 3.1.5.2 - Requalificação da margem esquerda do Mondego

. Linha de ação 3.1.6 - Requalificação das instalações municipais da Rua da Alegria, onde hoje está o abandonado Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra.

. Linha de ação 3.1.7 - Utilização exclusiva de pavimentos em calcário nas zonas classificadas.

. Linha de ação 3.1.8 - Preservação e dignificação da Rua da Sofia e do Terreiro da Erva.

. Linha de ação 3.1.9 - Preservação e dignificação das artérias da Cidade Alta e da Cidade Baixa.

. Linha de ação 3.1.9.1 - Refazer de base o pavimento das ruas José Falcão, João Machado e Manuel Rodrigues.

. Linha de ação 3.1.10 - Preservação e dignificação do Cemitério da Conchada.

. Linha de ação 3.1.11 - Projeto de integração da Estação Nova, ora desafetada da sua função, na malha urbana.

3.2 – Projetos prioritários dependentes do estabelecimento de acordos com Entidades diversas.

. Linha de ação 3.2.1 - Recuperação e dignificação da Igreja do Salvador.

. Linha de ação 3.2.2 - Recuperação e dignificação da Casa da Nau.

. Linha de ação 3.2.3 - Apoio à recuperação do Seminário Maior de Coimbra, jardins e zonas adjacentes.

. Linha de ação 3.2.4 - Estudo e abertura à cidade dos espaços jacentes, junto à rua P. António Vieira.

. Linha de ação 3.2.5 - Recuperação da Cerca do Colégio dos Órfãos.

. Linha de ação 3.2.6 - Recuperação da Cerca do Colégio da Graça.

. Linha de ação 3.2.7 - Recuperação do Choupal.

Os Cidadãos signatários do Manifesto,

António José Gabriel, António Horta Pinto, Augusto Ferreira, Carlos Ferrão, Henrique Melo, Isabel Anjinho, Jorge Ferreira, Jorge Oliveira, José Oliveira, Mário Torres, Pedro Miguel Gonçalves, Regina Anacleto, Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 18:33

Terça-feira, 04.03.25

Coimbra: Ciclone de 15 de fevereiro de 1941 2

Nesta segunda entrada iremos apresentar um breve bosquejo histórico sobre a forma como o Diário de Coimbra, informou sobre o “Ciclone” de fevereiro de 1941.

DC. Ciclone 2.jpgDiário de Coimbra, 17 de fevereiro de 1941, pg. 1

A esta epígrafe foram acrescentados os seguintes destaques:

Por esse motivo e devido à falta de energia elétrica o “Diário de Coimbra” não se pôde publicar ontem.

A cidade esteve completamente às escuras durante mais de cinco horas – Os elétricos não circularam, as linhas telegráficas e telefónicas estiveram interrompidas e os comboios paralisados.

Há centenas de árvores derrubadas, casas em ruína e destelhadas, chaminés destruídas e vidros partidos.

Coimbra esteve anteontem sob um violentíssimo temporal. Há três dias que se fazia sentir o mau tempo, com mais ou menos intensidade, chovendo, por vezes, torrencialmente e sibilando o vento, embora com pouca violência.

Anteontem, porém, a cidade foi assolada por enorme vendaval atingindo o vento, pelas 17 horas, as características de um autêntico ciclone. A população assustada, com fundamentada razão, recolheu a suas casas. O vento, desabrido, inclemente, em tufão, violentissimamente, tudo varria e derrubava, destelhando casas, deitando abaixo chaminés, caleiras, janelas, instalações telefónicas e telegráficas e antenas de rádios, partindo e arrancando muros, etc.

O Mondego avolumou as suas águas inundando as ínsuas marginais e em vários pontos baixos da cidade deram-se algumas inundações.

O acontecimento mais grave que sucedeu foi ter abatido a empena de uma casa no antigo Adro de Santa Justa (Terreiro da Erva), ao fundo da rua do Carmo.

Pelas 14 horas de anteontem alguns transeuntes viram que da referida casa estavam a cair alguns pedaços de parede, os quais eram varridos violentamente pelo vento, do que fizeram grande alarde. Em dado momento, porém, parte da empena do edifício, que deita para a rua do Carmo, ruía com fragor.

….No Choupal há dezenas de árvores derrubadas; no sítio do Entrepontes, no espaço compreendido entre as pontes do Mondego (rio velho e rio novo), caíram enormes eucaliptos e choupos sobre a linha férrea; na ponte e em toda a extensão sul e norte da via férrea foram destruídos os pontes telefónicos e telegráficos privativos da C.P., tendo os comboios de paralisar a circulação.

Na linha da Lousã caíram, também, dezenas de árvores, assim como nas estradas da região, estando intercetado ou fazendo-se o trânsito de veículos com enorme dificuldade.

Na estrada de Bencanta, próximo da Escola de Regentes Agrícolas foram derrubadas enormes árvores, que tombaram sobre a linha do caminho de ferro; próximo dos Casais, foi arrancada pela raiz e impelido pelo vento um grande cedro; na Fábrica de Cal à estação Velha, os telhados do edifício foram pelo ar, espalhando-se no espaço enormes nuvens de cal que caíram pelas proximidades; nas ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, foram quebradas algumas vitrines e danificados vários toldos dos estabelecimentos.

…. Os cafés e outros estabelecimentos da cidade estiveram iluminados com velas de estearina e candeeiros de acetileno.

Em Santo António dos Olivais um tapume derrubado e arrastado pelo ventou colheu a serviçal Maria José Marques, de Vale de Colmeias, que ficou com uma perna fraturada.

…. Em Vil de Matos o desabamento de uma chaminé provoca a morte de um homem

Anteontem, na povoação de Mourelos, freguesia de Vil da Matos, pelas 17 horas, quando começou o ciclone, caiu uma chaminé do prédio da família António Ferreira, no momento em que a família estava a jantar.

Ao pressentirem o ruído produzido pelo desabamento, os assistentes fugiram para a rua. Porém, nesse momento foram atingidos, Basílio Ferreira, de 33 anos, solteiro, que teve morte quase instantânea, e Apolinário Ferreira, que apenas sofreu ligeiros ferimentos.

DC. Ciclone 3 18.02.1942, cabeçalho.jpgDiário de Coimbra, 18 de fevereiro de 1941, pg. 1

DC. Ciclone 4a.jpgEfeitos temporal na Mata do Jardim Botânico. Um belo exemplar de Cupressus macrocarpa Hartw, arrancado. In: Diário de Coimbra, edição de 18.02.1941, pg. 1

DC. Ciclone 5a.jpgO notável exemplar de Ficus magnolioides Borzi, vulgarmente conhecido pelo nome de árvore da borracha, vendo-se à direita, junto ao muro, a ramaria que o vento arrancou. In: Diário de Coimbra, edição de 18.02.1941, pg. 1 

Nunes, A., Pinho, J. e Ganho, N. O “Ciclone” de fevereiro de 1941: análise histórico-geográfica dos seus efeitos no município de Coimbra. 2020. In: Cadernos de Geografia. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Departamento de Geografia. nº 30/31 - 2011/12. Coimbra, FLUC - pp. 53-60 Texto acedido em: http://hdl.handle.net/10316.2/30196

 

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por Rodrigues Costa às 10:26


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