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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 25.02.25

Coimbra: Ciclone de 15 de fevereiro de 1941 1

Perfizeram, recentemente, 84 anos sobre a data em a maior tempestade do século XX que assolou Coimbra e o resto do País. Esta é a primeira de duas entradas sobre uma tragédia que os de maior de idade, bem se recordam de ouvirem os seus Pais falarem sobre a mesma.

Os episódios de vento forte constituem um dos riscos meteorológicos mais característicos do nosso território …. Entre esses fenómenos extremos encontram-se os fortes ventos que assolaram o território português no dia 15 de Fevereiro de 1941, os quais poderão ser considerados os mais violentos desde que há registos meteorológicos (finais do século XIX), pelo elevado número de perdas humanas … e pelos avultados danos materiais causados.

Com o presente trabalho pretende-se fazer uma análise às causas sinópticas responsáveis pelos fortes ventos, cujas rajadas máximas atingiram, em 15 de fevereiro, no Porto 130km/h1, em Coimbra 133km/h, em Penhas Douradas 148 km/h, em Lisboa 127km/h e em Portimão/Tavira 150 km/h. Já os quantitativos de precipitação foram relativamente reduzidos, a oscilar entre os 7,8mm de Coimbra e os 16,5 mm de Lisboa.

Ciclone, fig. 1.png

Os jornais como fontes privilegiadas na inventariação dos danos causados pelo Ciclone de 1941. O exemplo do Século, do dia seguinte, e do Jornal de Notícias, do dia 18 de Fevereiro. Op. Cit., pg. 55

Efeitos no município de Coimbra

A avaliação dos estragos em Coimbra, tendo por base a “Relação dos prejuízos e danos sofridos por particulares nas freguesias do concelho de Coimbra, por ocasião do ciclone de 15 de fevereiro de 1941”, perfez uma quantia superior a 5600 contos, resultando esse valor da avaliação dos estragos em casas e outros bens construídos e, sobretudo, dos danos causados nas diversas espécies arbóreas.

De facto, foi enorme a devastação causada no arvoredo do município, tendo sido afetados cerca 230 000 pés. Entre as espécies mais dizimadas salienta-se o pinheiro-bravo, espécie dominante na floresta em Portugal, seguido da oliveira, que desempenhava uma importante função na economia doméstica, assente na exploração de atividades agroflorestais.

Ciclone, fig. 4.pngÁrvores danificadas por espécie. Op. cit., pg. 58

Contudo, a espacialização dos danos totais inventariados mostra que nem todas as freguesias do município foram afetadas com a mesma intensidade

Algumas, em particular, as do centro urbano (S. Cruz, Almedina, S. Bartolomeu e Sé Nova) parecem ter sido poupadas no que toca aos efeitos deste temporal nos bens particulares. Em contrapartida, as do limite ocidental (Lamarosa, S. Silvestre, Ameal e Taveiro) e meridional (Almalaguês, Castelo Viegas e Assafarge), a que se juntam as de Botão e Torres de Mondego, foram as mais dizimadas quer pelos estragos nos bens particulares construídos quer pelas perdas em termos de coberto florestal. De salientar, que não fazem parte desta contagem os bens eclesiásticos, do Estado ou até do município. A título de exemplo, salientam-se os prejuízos e danos, no valor de algumas centenas de contos, sofridos na Mata do Choupal e no Parque de Santa Cruz, o primeiro da Câmara Municipal e o segundo do Estado, onde caíram muitas árvores, algumas de elevado valor estimativo.

A distribuição espacial dos prejuízos em casas de habitação e outros bens construídos (muros, moinhos…) aparece representado no mapa da Figura 6.

Ciclone, fig. 6.png

Prejuízos totais em casas e outros bens, por freguesia. Op. Cit., pg. 58

Almalaguês e Assafarge surgem com os maiores prejuízos, referindo o relatório, proveniente da primeira Junta de Freguesia, que «… todas as casas sofreram prejuízos nos telhados, e algumas também nas paredes e janelas. Algumas famílias ficaram em circunstâncias muito precárias».

Em Antuzede referem-se danos em 19 casas, sobretudo devido ao seu destelhamento, e num moinho de vento.

Já em Botão, foram 115 o número de moradores com prejuízos em casas, enquanto em Souselas terão sido 20 os lesados.

No que se refere às freguesias mais afetadas em termos de árvores, sobressai Assafarge, com mais de 2000 pés, arrancados ou danificados, por Km2. Seguem- -se de Almalaguês, Castelo Viegas, Cernache, S. Martinho do Bispo, Taveiro e Lamarosa. Esta maior devastação em termos de coberto arbóreo pode relacionar-se com a maior densidade de arvoredo, mas também pela preponderância de ventos de quadrante Sul, os quais poderão ter tido, nestas áreas, um potencial destrutivo acentuado pela interação dos fluxos com o relevo regional.

Nunes, A., Pinho, J. e Ganho, N. O “Ciclone” de fevereiro de 1941: análise histórico-geográfica dos seus efeitos no município de Coimbra. 2020. In: Cadernos de Geografia. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Departamento de Geografia. nº 30/31 - 2011/12. Coimbra, FLUC - pp. 53-60 Texto acedido em: http://hdl.handle.net/10316.2/30196

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por Rodrigues Costa às 10:03


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