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A Studia Carmelita. Revista da Comissão de Estudos Históricos e Património Cultural da Ordem dos Carmelitas Descalços, tem como lema «… para que se conservem as Memórias … e não as apague o tempo», visa proporcionar um espaço para os trabalhos sobre a presença da Ordem em Portugal.
Op. cit., capa
Neste propósito o seu número 1, publicado em 2019, apresenta um conjunto de documentos, alguns dos quais, transcritos e fixados pelo investigador Miguel Portela, fazem luz sobre questões de temática coimbrã, que serão objeto desta e de outra entrada.
O primeiro documento que abordamos, é um contrato, datado de 7 de julho de 1616, pelo qual é cedido o padroado e consequente direito de enterramento, numa capela colateral da primitiva igreja do Colégio de S. José dos Marianos em Coimbra, hoje Hospital Militar de Coimbra.
Dizemos, primitiva igreja do Colégio, porque a pequena igreja que hoje se vê, é de construção posterior e noutro local, da igreja abordada no documento.
Convento das Ursulinas, antes Colégio de S. José dos Marianos. Imagem acervo RA
Igreja, hoje do Hospital Militar. Imagem acervo RA
Respigamos as seguintes passagens do documento que julgamos adequadas para a compreensão do seu teor.
Optamos por não atualizar a grafia, dada curiosidade de algumas das expressões nele utilizadas e, quando, tal se justifica, colocar entre parenteses retos pequenas notas explicativas. O documento é assim descrito.
Este contrato com cláusulas específicas para cada uma das partes, insere-se no contexto dos demais celebrados pela Ordem dos Carmelitas Descalços nos seus diversos conventos tendo como principal objetivo fazer face às despesas das obras de edificação das suas igrejas conventuais, desde que fossem observadas e cumpridas as premissas da própria Ordem.
…. «Traslado do contrato e obrigação de venda da Capela do Santo Cristo da igreja do Colégio de S. José dos Marianos em Coimbra a Luís de Lemos da Costa como testamenteiro do Padre António de Lemos pela quantia de 140 000 réis.
Saibão quantos este publliquo estromento de contrato e obrigrasão ou como melhor em Direito dizer se possa virem que no ano do Nasimento de Nosso Senhor Jhezus Christo de mil e seissentos e dezaseis annos aos sete dias do mes de julho do dito anno de fora da porta do Castello da cidade de Coimbra extramuros della no Collegio de Sam Josse da Ordem dos Carmellitas Descallsos no capitollo do dito Collegio aonde ahi estavão prezentes juntos em cabido e cabido fazemdo e semdo a elle chamados por som de campa tangida [toque de uma sineta] como hé de seu bom e antíguo custume especiallmente pera ho cazo que ao diante se segue e os Muito Reverendos Padres Frei Pedro de Jhezus Reitor do dito Collegio … e bem assim estando prezente Luis de Llemos da Costa morador na dita cidade de Coimbra pessoa a quem eu Taballião bem conheço testamenteiro do Llecenceado António de Llemos que Deus tem Prior que ffoi da Igreja do Couto de Lavãos deste bispado.
…. estavão contratados na forma do testamento do dito defunto comvem a saber que elles Padres lhe davão a Capella collatrall da dita sua Igreja que está de fora das grades quamdo entrão pella porta prencipall a mão esquerda pera nella estar sepulltado o corpo do dito deffunto que por ora estava depossitado no claustro do dito Mosteiro com as decllarasões e comdisões seguintes, comvem a saber que pella obra da dita Capella que elles Padres ffizerão a sua custa se lhe avião [sic] de dar da ffazemda do dito deffunto noventa mill reis e pello sitio della sinquoenta mill reis que tudo faz soma de cento e corenta mill reis, os quães o dito Padre Reitor e mais Padres do dito Collegio comffesarão porante mim Taballião e das testemunhas deste estromento que tem já em si recebidos do dito Luis de Lemos testamenteiro e que outrosi se lhe avia de paguar o feitio do Christo que está na dita Capella que são vinte e dous mill reis, e juntamente as grades que nella estão que são de pao naquilo que forem avalliadas, e allem disso sera elle administrador obrigado a ornamentar loguo ha dita Capella».
Segue-se uma lista dos paramentos e alfaias de que seria dotada a capela, explicitando os diferentes tipos e cores dos tecidos a utilizar, prosseguindo depois o documento.
…. «e elles ditos padres serão obriguados de dizerem tres missas em cada somana na dita Capella convem a saber: huma de Nossa Senhora outra das Chaguas, outra de Santo António pella allma do dito deffunto em perpetum pera sempre entretanto ho mundo durar.
…. e por ho dito testamenteiro foi dito que se avia de por huma campa na dita capella sobre a sepulltura do deffunto e huma pedra na parede em que se declare ha hobriguasão das missas he de quem a Capella.
…. Em feé e testemunho de verdade assim … asinarão e de que outorgarão e comcederão os estromentos que desta nota comprirem.
…. de contrato e obrigação eu sobredito Thome Borges Taballião Publiquo de Notas por ElRey Nosso Senhor nesta cidade de Coimbra e seu termo em meu Livro de Notas tomei … e aqui asinei de meu publiquo sinal.
A paga deste vai ao dito testamenteiro que a pagou».
Portela, M., transcrição. Contrato de venda da Capela do Santo Cristo na Igreja do Colégio de S. José dos Marianos em Coimbra no ano de 1616. In: Studia Carmelita, 1. 2019. Revista da Comissão de Estudos Históricos e Património Cultural da Ordem dos Carmelitas Descalços. Pg. 361-365. Acedido em: file:///C:/Users/Fernando/Downloads/Contrato_de_venda_da_Capela_do_Santo_Cri.pdf.
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