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O Professor Doutor José Manuel Azevedo e Silva apresentou no 2.º Encontro sobre a Alta de Coimbra, realizado em 1994, numa iniciativa do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, o texto que serviu de base à elaboração desta entrada e que pode ser lido nas Actas do referido evento.
Essencialmente dirigido ao estudo do processo de construção do Bairro da Arregaça, aborda na parte inicial, a construção dos demais bairros então erguidos, tendo em vista o realojamento, num período que se estendeu de 1947 a 1952, de cerca de 380 famílias, quase todas vindas da alta destruída.
Como facilmente se compreenderá, mais difícil se toma a situação, quando se trata do desalojamento ou da deslocação forçada de famílias inteiras, de populações que viviam e conviviam de forma intensa num espaço comum. É o caso dos salatinas da Alta que, desalojados de forma compulsiva das suas casas condenadas à demolição, nas décadas de 40 e 50 do presente século, para criarem o espaço necessário à construção dos novos edifícios da Universidade de Coimbra, viriam a ser os fundadores forçados de novos bairros.
Em Setembro de 1939, é feito convite ministerial a um grupo de professores universitários para dar parecer sobre o local onde erigir a nova Cidade Universitária. Três locais foram sugeridos: o planalto de Montes Claros até à Quinta das Sete Fontes (Celas); a encosta aos pés do Mosteiro de Santa Clara; a reorganização do espaço da Velha Alta.
Erradamente, foi escolhida pelo poder político a terceira hipótese (a mais acertada teria sido, em nossa opinião, a primeira hipótese, ou seja, vasta zona de Celas). E dizemos erradamente, e podemos até acrescentar criminosamente, porque, para construir, foi preciso destruir um importantíssimo património urbano e humano. Aliás, a nosso ver, o parecer pedido ao aludido grupo de professores não terá sido mais que uma forma orquestrada de o poder político gerar a confusão e criar divisões no seio da comunidade universitária, ao mesmo tempo que criava a aparência de acionar um mecanismo de consulta, porquanto a decisão estava já tomada e a sentença de morte da Velha Alta fora já ditada por Salazar, no seu tristemente célebre discurso de 1 de Dezembro de 1937.
Houve, pois, que construir novos bairros para realojar cerca de 300 famílias de fracos recursos económicos da Velha Alta a destruir. Tal processo capta-se perfeitamente pela consulta das atas das reuniões camarárias. Na sessão de 13 de Janeiro de 1955, pelo vereador Dr. Francisco Augusto Cortez foi feita uma exposição sobre os bairros sociais da cidade, na qual, a dado passo, se diz o seguinte: -"Durante a presidência do Dr. Sá de Oliveira e por virtude da construção da Cidade Universitária foi construído o Bairro de Celas, a que se seguiram o da Fonte do Castanheiro, o da Conchada e o do Alto de Santa Clara".
O Bairro de Celas, inicialmente designado Bairro da Quinta das Sete Fontes, concebido para receber 100 famílias desalojadas da Alta demolida, começou a ser projetado em Novembro de 1944 e foi dado por concluído em Outubro de 1947. Este bairro foi já objeto de estudo apresentado na nossa comunicação ao «I Encontro sobre a Alta de Coimbra», em Outubro de 1987.
Seguiu-se a construção de outras 100 casas no novo bairro que aparece designado nas atas camarárias umas vezes por Bairro da Fonte do Castanheiro, outras por Bairro da Arregaça, prevalecendo esta última designação toponímica, que adotámos no estudo que se segue.
Bairro da Arregaça em fase de construção (1949). P. cit., pg. 167
Bairro da Arregaça na atualidade. Imagem acedida em https://www.coimbra.pt/2021/04/camara-vai-reabilitar-habitacoes-do-bairro-da-fonte-do-castanheiro/
Antes, porém, uma breve referência a outros dois bairros que virão a ser construídos e nos quais serão instaladas mais 100 famílias desalojadas da Alta: o Bairro da Conchada, cuja abertura das propostas para a sua construção foi feita na sessão camarária de 2 de Julho de 1947, é dado por concluído em 17 de Abril de 1952 e recebe 20 famílias;
Bairro da Conchada, na atualidade.
O Bairro do Alto de Santa Clara, construído na Quinta da Esperança, é adjudicado ao mesmo tempo e à mesma fima do da Conchada, mas só ficará concluído em 18 de Junho de 1953, data a partir da qual aí serão instaladas 80 famílias.
Bairro do Alto de S. Clara, na atualidade.
Silva, J.M.A. Os Salatinas da Alta e a criação do Bairro da Arregaça. In: Actas do 2.º Encontro sobre a Alta de Coimbra, realizado em 22 e 23 de Outubro de 1994. Pág. 163-174. 1995. Coimbra, Grupo de Arqueologia e Arte do Centro.
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