Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O imponente e austero cenóbio, rematado por torreões ao gosto do de Filipe Terzi, marca a paisagem da margem esquerda do Mondego.
…. A documentação relativa à construção do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova mostra de facto que, apesar da multiplicidade de arquitetos e engenheiros militares que sucederam a Frei Turriano, a Planta Universal e infraestruturas, tais como a “ (…) obra e canos de água (…) ”, são da sua autoria. (Silva 2000)
O seu exemplar do Livro III de Sebastiano Serlio, dedicado às Antiguidades, poderá estar na génese do desenho do claustro.
Fig.3 - Tercero y quarto libro de architettura, Sebastiano Serlio, tradução castelhana Francisco Villalpando, 1573. (fonte: Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra,cota R-61-1). Op. cit., pg., não numerada.
Nele anota proporções de átrios, claustros, cortili e fóruns, cuja função e disposição é fundamental na organização das restantes dependências. Não seria, portanto, de estranhar que o claustro do Mosteiro Isabelino já estivesse delineado nas plantas originais, da sua autoria.
O interesse que mostra pelo emprego da gramática das ordens como enunciam …. A solução que mais tarde seria adotada no esquema compositivo do claustro encontra-se espelhada nessas recomendações serlianas, sobretudo no que concerne às estruturas porticadas, das quais salientamos:”se os arcos queremos hazer, há de ser sobre Pilastrones quadrados. Y demas de esto sobreponer o arrimar a ellos las columnas redondas para mas ornato”.
Modelo 3d do Claustro Serliano do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, antes da reforma barroca. Proposta do autor, (2017). Op. cit., pg., não numerada.
…. Apesar de ser o autor da Planta Universal, a documentação que se conhece da obra não refere que Turriano alguma vez a tenha dirigido ou visitado, muito menos a do claustro que se inicia 20 anos depois da sua morte.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, claustro. Acervo RA
Após Turriano abandonar o projeto, Mateus do Couto … é chamado para dirigir a obra no Mosteiro … continuará a trabalhar nas medições dos trabalhos efetuados no Mosteiro, sendo sucedido nos seus diversos cargos, pelo seu protegido, Manuel do Couto.
Esta inter-relação entre arquitetos e engenheiros-militar no projeto do Mosteiro irá refletir-se na obra que hoje podemos observar erguida. Apesar de se apresentar com uma feição resultante das reformas Joanina e Pombalina, muito ao estilo de Custodio Vieira e Carlos Mardel, pode-se verificar que os elementos estruturais são mais próximos da cultura arquitetónica militar de feição maneirista. As tipologias que observamos surgiram com as diversas reformas barrocas, resultantes da inadequação do modelo original, tendo parte da estrutura original sido alterada de forma a adaptar melhor o Mosteiro às necessidades das Clarissas.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Portais da igreja e convento. Acervo RA
Podemos apenas supor que as proporções e a cenografia do projeto do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, que muitas vezes se aproximam das empregues num Palácio da Fé, poderão estar relacionadas com a necessidade que os Bragança tinham de projetar uma imagem forte de patrocínio Régio.
Tavares, P., Salema, S. e Pereira, F. B. 2013. A Fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova de Coimbra. Propagandística política, tratadística arquitectónica e engenharia militar entre a Dinastia Filipina e a Dinastia de Bragança. Estudo realizado no âmbito do Programa Doutoral Heritas – Estudos de Património, acedido em:
file:///C:/Users/Administrador/Downloads/A_Fundacao_do_Mosteiro_de_Santa_Clara_a.pdf
Divulgamos um trabalho de investigação realizado por três doutorandos, abaixo referenciados, realizado no âmbito do Programa Doutoral Heritas, o qual teve como objetivo o estudo da fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.
O Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, embora sendo uma obra de vulto da Restauração, encontra-se parcamente estudado.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, fachada principal. Acervo RA
Esta obra promove a propagandística político-religiosa do Culto da Rainha Santa Isabel de Portugal, que a Casa de Bragança perpétua após os Habsburgo.
…. Na documentação relativa à construção do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova verifica-se que plantas originais e infraestruturas, são da autoria de Frei João Turriano.
…. O Mosteiro de Santa Clara-a-Nova é a última obra de vulto de arquitetura de Frei Turriano, “Esta imponente massa arquitetónica, que segue o modelo profano dos palácio-bloco do final da centúria antecedente, é obra importante de síntese entre o modelo «chão» da arquitetura religiosa e certos pressupostos eruditos da arquitetura aristocrática de sinal Herreriano, que pela sua expressiva ambiguidade de novo nos recorda o peso da engenharia militar em tais empresas.”
Claustro do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Acervo RA
…. Nos séculos XIII e XIV, promoviam-se na cristandade as relações entre nobreza, santidade e caridade, especialmente relacionadas com as Ordens Franciscanas … O culto da Rainha Santa Isabel nasce por vox populi, foi posteriormente cultivado pelos seus descendentes dinásticos.
Túmulo primitivo da Rainha Santa Isabel de Portugal. Acervo RA
Os fundadores da Dinastia de Avis tinham presente a sua importância, sobretudo em alturas de maior instabilidade política. A propaganda é de facto intensa no propósito de se legitimarem, como foi o caso da escolha do Convento de Santa Clara de Coimbra para as núpcias de D. Duarte I e Leonor de Aragão …. Também o Rei D. Manuel I irá utilizar a sua antepassada para reforçar a sua legitimidade, obtendo do Papa Leão X a beatificação a 15 de Abril de 1516, sendo o culto autorizado localmente.
A devoção da Casa de Avis à Rainha Santa Isabel é evidente na procissão solene que D. João III e Catarina de Áustria organizam ao túmulo a 20 de Janeiro 1554, coincidindo com o nascimento de D. Sebastião. Este augúrio impulsiona a propagação do culto por todo o reino, sendo este anuído pelo Papa Paulo IV em 1556, a pedido de D. João III … D. Catarina de Áustria durante a regência irá continuar a promover e divulgá-lo. Será sobre a sua influência que se funda a Confraria da Rainha Santa Isabel de Portugal.
…. Em 1640, na sequência de conflitos internos entre a coroa, nobreza, aristocracia e a burguesia cristã-nova, inicia-se a Restauração surgindo a necessidade de legitimação tanto ao nível interno como externo da Dinastia de Bragança … O Culto da Rainha Santa Isabel, cuja disseminação extra-peninsular já era evidente, passou também a integrar o programa político-religioso dos Bragança.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, entrada. Imagem acedida em: https://visitregiaodecoimbra.pt/wp-content/uploads/2022/12/mosteiro-sta-clara-a-nova.jpeg
Em 1649, D. João IV ordena que se lance e inscreva na primeira pedra da construção do novo Mosteiro de Santa Clara, na qual determina que se refira à Rainha Santa Isabel como “sua Avó e Senhora”.
João IV por Peter Paul Rubens (c. 1628) Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_IV_de_Portugal
Numa altura em que as obras nacionais eram condicionadas pelas despesas da Guerra da Restauração, a construção deste imponente cenóbio, estende-se durante os reinados dos próximos cinco monarcas, reflete o programa político-religioso deste culto.
Tavares, P., Salema, S. e Pereira, F. B. 2013. A Fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova de Coimbra. Propagandística política, tratadística arquitectónica e engenharia militar entre a Dinastia Filipina e a Dinastia de Bragança. Estudo realizado no âmbito do Programa Doutoral Heritas – Estudos de Património, acedido em:file:///C:/Users/Administrador/Downloads/A_Fundacao_do_Mosteiro_de_Santa_Clara_a.pdf
Adquiri esta semana o livro de Pedro Miguel Gon, intitulado Destino Coimbra.
Destino Coimbra, capa. Imagem © Hélder Afonso
A obra é justificada pelo seu autor do seguinte modo:
Coimbra é uma das mais belas cidades portuguesas.
Antiga cidade romana, ascende a capital do reino, berço dos príncipes da Dinastia de Borgonha. Quando deixou de ser usada como primeiro centro político, não perdeu o prestígio de velha cidade real. Foi ainda sede do mais antigo ducado português.
Quando se converteu em cidade universitária, acolheu estudantes de todas as proveniências, professores de renome, nacionais e estrangeiros, viajant7es curiosos. Cidade romântica e langorosa, consegue ser também um centro de produção científica de vanguarda. Hoje um dos mais importantes centros médicos europeus, detentor do maior hospital de Portugal, onde se combinam as mais variadas especialidades das ciências da saúde e a permanente investigação.
O maior hospital escolar de Portugal, por onde passaram e se formaram alguns dos melhores médicos portugueses. Op. cit., pg. 120. Imagem © PMG
Desde 2013 que a UNESCO reconhece a Universidade, Alta e Sofia como Património Mundial, pela influência que teve na disseminação da língua e cultura portuguesa no mundo.
O Autor é um criador literário natural de Coimbra, com seis títulos publicados e alguns textos dispersos por várias revistas. Estudou Filosofia, Jornalismo de Psicologia na Universidade de Coimbra, com uma breve passagem pela Universidade de Salamanca, concluindo a licenciatura em Filosofia. Mantém um blogue de temática exclusivamente literária, O Blogue do Tlonista.
Pedro Miguel Gon. Op. Cit., badana da contracapa.
Numa primeira abordagem, necessariamente breve e a rever, considero que a obra procura transmitir ao leitor uma visão global da história de Coimbra, assente no muito do que, ao longo dos últimos decénios, se tem publicado concernente ao tema.
Capela da Sacristia, Olivais, em cuja tela se vê o Santo a trocar de hábito. Op. Cit., pg. 81. Imagem © PMG
O primeiro microcomputador português, ENER 1000, criado em 1981 na UC. Op. Cit., pg. 117. Imagem © PMG
Desta forma, e sem pôr em causa a necessária importância da história e da vivência da Universidade, sublinha boa parte das demais vertentes que integram a evolução histórica da urbe.
Um livro a ler e a ver, as imagens também “falam”, por todos quantos amam Coimbra.
Gon, P.M. Destino Coimbra. 2024. Coimbra, edição do Autor.
Voltamos a um texto do académico brasileiro Jonathas Ribeiro dos Santos Campos de Oliveira sobre o Mosteiro de Santa Cruz, este dedicado ao estudo de um dos documentos fundamentais para conhecer a história daquele cenóbio.
Das mãos de um cronista agostiniano, orientado pelos interesses institucionais do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a segunda metade do século XII, início do XIII, testemunhou, por meio de textos como a Chronica Gottorvm, a estruturação do discurso institucional de exaltação da imagem de Afonso Henriques, rei de Portugal.
Materializando o imaginário na literatura, o autor da cronica associou ao infante atributos tanto militares quanto espirituais, configurando assim uma masculinidade régia idealizada.
Afonso Henriques como rei, Imagem acedida em: https://www.portugalvisitor.com/famous-portuguese/afonso-henriques
A mais antiga representação conhecida de Afonso Henriques, no Museu do Carmo. Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:Lisbonne_Mus%C3%A9e_du_Carmo_Buste_de_Afonso_Henriques.jpg
Diversos sinais de Afonso Henriques. Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:AfonsoHenriquesSelo.jpg
Seguindo uma ordem cronológica, a obra narra como teria se dado o processo de expansão territorial portucalense promovido por Afonso Henriques.
Dividido em duas partes, o texto apresenta, na primeira seção, uma estrutura linhagista composta por autoridades locais que teriam precedido o “domínio” afonsino na região do Condado. Na segunda parte, o enfoque está nos feitos militares do infante, apresentando-o como um instrumento de Deus no plano terreno.
Representação da Batalha de Ourique na Genealogia dos Reis de Portugal. Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:Battle-of-Ourique.png
"Tomada de Santarém", por Roque Gameiro (Quadros da História de Portugal, 1917). Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:Tomada_de_Santar%C3%A9m_(Roque_Gameiro,_Quadros_da_Hist%C3%B3ria_de_Portugal,_1917).png
Segundo a historiografia, a construção imagética que se estabelece sobre o infante tem pelo menos dois objetivos: assentar uma memória de ações notáveis sobre a heroica figura fundacional do reino e estimular militarmente os portucalenses, sob a liderança de Sancho I (1154-1211), filho e sucessor de Afonso Henriques, a combater o avanço muçulmano.
Mosteiro de Santa Cruz. Túmulo de D. Sancho I
…. Durante o exercício dos dois primeiros priorados, com D. Teotónio (1132-1152/62) e D. João Teotónio (1162-1181), a Canónica agostiniana institucionalizou-se, postulando normas de conduta aos cónegos regulares e associados, evidentes nas disposições capitulares de 1162 e reproduzidas na Vita Theotonii, e organizando o patrimônio crúzio e os direitos adquiridos, expressos tanto na Vita Tellonis quanto em partes específicas do Livro Santo e do Livro de D. João Teotónio.
…. O vínculo com a autoridade real, pois o mosteiro funcionava como chancelaria e abrigo do tesouro régio, e a consequente preponderância gozada no seio social, teriam levado a Casa regrante a um aumento de influência no Condado. A figura régia foi pedra angular no processo, uma vez que garantia múltiplos privilégios sobre os domínios da comunidade.
….Na segunda metade do século XII, a Casa crúzia se viu afetada por, pelo menos, dois fenómenos principais. Por um lado, pelo enfraquecimento militar sofrido pela autoridade régia após os eventos de Badajoz, em 1169. O acidente de Badajoz teria a um só tempo dificultado o ímpeto real como meio de ampliação da influência Regular no reino, e enfraquecera a linha de defesa portucalense frente às ofensivas muçulmanas, colocando em risco os espólios agostinianos na fronteira. Por outro, pela desarticulação política do círculo afonsino que orientava as ações reais no Condado, uma vez que alguns dos principais agentes teriam morrido no período, tirando do cenário político, sem que houvesse substituição à altura, articuladores dos interesses portucalenses no Ocidente Ibérico. Neste sentido, destacam-se as mortes de D. Teotónio, Superior de Santa Cruz de Coimbra e conselheiro do infante, em 1162; D. Gonçalo Mendes de Sousa, seu mordomo-mor, em 1167; chanceler Alberto, por volta de 1169, e D. João Peculiar, arcebispo de Braga e uma das figuras centrais da corte, em 1175.
Apesar de Sancho I, filho e sucessor de Afonso I, ter buscado reorganizar o reino e seu exército, juntamente com os que ainda se encontravam a assistir à corte, é razoável que a desagregação do círculo afonsino que herdara tenha gerado um forte impacto na coesão política do Condado.
…. Nesse panorama, já de relevante insegurança lançada sobre o seu patrimônio, os crúzios perceberam que, para defendê-lo, era necessário fortalecer novamente o círculo régio. Assim, estando integrado a um corpo real forte e consolidado, o património da comunidade estaria menos sujeito a alienações por parte de terceiros. A literatura foi um dos caminhos escolhido.
O discurso cronístico crúzio, consumado na Chronica Gottorvm, para além dos interesses já evidenciados pela historiografia, teria por fim enfraquecer os protestos levados ao Papado por outras instâncias eclesiásticas e mitigar as disputas de poder com autoridades locais. Ao construir uma imagem heroica de Afonso I, evidenciando seus feitos militares e a devida anuência divina às suas ações, o Mosteiro evocava a corte, governada agora por Sancho I, a reestabelecer a integração entre seus membros, promover a reorganização de seu exército e restaurar o exercício de poder no Condado.
Oliveira, J.R.S. O discurso cronístico do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra no século XII: uma análise da Chronica Gottorvm. 2019. In: Revista do CFCH – Universidade Federal do Rio de Janeiro.Pg. 1 a 5. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Terceira e última entrada dedicada ao trabalho da Doutora Ana Margarida Dias da Silva, intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008).
A Ordem Terceira conimbricense entrou na posse da igreja do Carmo em 1837 e pelo artigo 17º da Carta de Lei de 15 de setembro de 1841 foi-lhe cedida a igreja e mais pertenças do extinto Colégio do Carmo Calçado na rua da Soia para nela celebrar os ofícios divinos. Pela Carta de Lei de 23 de abril de 1845 foi também concedido o edifício daquele colégio a fim de se estabelecer um hospital para curativo dos enfermos pobres da mesma Ordem.
Vista das arcadas e fonte com escultura de Santo António, no claustro do extinto colégio do Carmo, sito na rua da Sofia, n.º 114, Coimbra, hoje pertença da Ordem Terceira de Coimbra. Op. cit., pg. 66
A extinção das ordens religiosas, em 1832 e 1834, causou grandes embaraços no governo habitual das diversas ordens terceiras. Com o desaparecimento dos comissários religiosos apagar-se-ia o espírito franciscano tradicional.
Salvaguardaram-se as detentoras de instituições úteis aos professos: lar/asilo, hospital, creche, escolas primárias ou cemitério privativo.
Depois da implantação República, em sessão de Assembleia Geral de 28 de dezembro de 1911 foi decidida a revisão dos Estatutos da Ordem tendo por base as disposições, quer prescritivas quer proibitivas, da Lei da Separação do Estado das Igrejas de 20 de abril de 1911, que no seu artigo 25º proibia o relacionamento com qualquer religioso regular, tolerando-as, contudo, no artigo 17º, na qualidade de corporações ou irmandades de assistência ou beneficência. Os irmãos terceiros conimbricenses enfatizam o carácter assistencial e de beneficência da instituição particularmente exercidos no hospital e asilo, em esmolas pecuniárias e em assistência médica e farmacêutica que concede aos irmãos pobres, procurando demarcar-se, assim, do carácter religioso que a Ordem outrora tivera.
Brasão da Ordem Terceira na fachada principal do edifício do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Sofia, n.º 114 Coimbra. Op. cit., pg. 60
A Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra é hoje titular de um lar para idosos denominado “Lar da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco”, que funciona nas dependências da sua sede, na rua da Soia, n.º 114, na cidade de Coimbra.
Atualmente, a Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco, canonicamente ereta, confirmada por D. João Alves, Bispo da Diocese de Coimbra, em 7 de novembro de 1997, e … [está] registada como Instituição Particular de Solidariedade Social.
Pormenor de gravura que encima uma carta patente de irmão da Ordem Terceira de Coimbra (SR: Patentes; código de referência: PT-OTFCBR/A/08). Op. cit., pg. 40
Carta Patente do irmão Joaquim da Conceição, 17 de agosto de 1756, liv. A16 (SR: Bulas Estatutos e Memórias; código de referência: PT-OTFCBR/A/01/16). Op. cit., pg. 71
O governo da Fraternidade, suas obras e serviços, está dividido pelos seguintes órgãos: Conselho da Fraternidade, Assembleia Geral e Conselho Fiscal. Os mandatos duram três anos, e a tomada de posse deve ser feita dentro de trinta dias posteriores à eleição.
Para além das atividades específicas da vida da fraternidade e de culto comunitário, com o fim de alargar o seu campo de apostolado, a fraternidade inclui nos seus objetivos, além de outros, a prestação de serviços de segurança social.
Neste âmbito, propõe-se prosseguir dinâmicas como sejam, lar da terceira idade, centro de dia, centro de acolhimento temporário e apoio à infância e juventude.
Depende organicamente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Ilustração do livro de registo das receitas e despesas da Ordem Terceira de Coimbra que introduz a rubrica dos róis das freguesias da cidade, 1719-1739, liv.G2, l.66 (SR: “Caixa” – Receitas e Despesas; código de referência: PT-OTFCBR/A/B/02/02). Op. cit., pg. 56
… O Cartório encontrava-se organizado no século XIX, disso são prova os livros de inventário do cartório da Venerável Ordem Terceira, um de 1828 e outro de 1887, que segue, com ligeiras alterações, o antecedente.
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
Segunda entrada dedicada ao trabalho da Doutora Ana Margarida Dias da Silva, intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008).
Além da santificação pessoal, os irmãos terceiros dedicaram-se a tarefas diversificadas, muitas de cariz social. A ação piedosa e de beneficência da Ordem Terceira esteve sempre patente ao longo dos séculos manifestando-se de diversas formas, como por exemplo, a decisão em Mesa de 3 de maio de 1832 de dar esmola de bacalhau, arroz, pão, laranjas e dinheiro a todos os presos das cadeias da Portagem, Universidade e Aljube e a todos os irmãos pobres da Ordem; com a fundação do Hospital e Asilo, inaugurado em 1851 e 1852,
Pormenor da fachada principal do edifício do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Sofia, n.º 114, Coimbra. Op. cit. 68
com o Patronato Masculino de Santo António e, mais recentemente, com a criação da Casa Abrigo Padre Américo (fundada em 1994).
Casa abrigo Padre Américo, sita na Azinhaga Carmo. Imagem acedida em https://entenderosemabrigo.webnode.pt/products/casa-abrigo-padre-americo/
Situando-se primitivamente no Convento de S. Francisco da Ponte da mesma cidade,
Convento de S. Francisco, já adaptado a fábrica. Acervo RA
em 5 de janeiro de 1659 foi feita a primeira eleição com os oficiais na forma estipulada pelo Papa Nicolau IV, estando presentes D. Frei António de Trejo, bispo de Cartagena e vigário geral da Ordem, e o padre frei Jerónimo da Cruz, comissário da Ordem, e com assistência e votos dos irmãos terceiros. Os primeiros Estatutos da Ordem Terceira de São Francisco de Coimbra determinam que esta seja governada por um Ministro, um Secretário, seis ou oito Definidores, um Síndico, um Vigário do Culto Divino, os Zeladores em número dependente da cidade, vila ou lugar ou o número de irmãos, seis Sacristães e um Vice visitador.
Em 1740 iniciou-se a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Ponte e Casa do Despacho onde se reunia a Mesa do Conselho. O novo edifício foi construído em terreno anexo ao convento de S. Francisco da Ponte e ainda hoje é propriedade da Ordem Terceira de Coimbra. Em 1784 a Mesa da Venerável Ordem Terceira reuniu na igreja paroquial e colegiada de S. Cristóvão, uma vez que fora expulsa da Casa do Despacho e capela ereta no convento de S. Francisco da Ponte e em novembro de 1785 reuniu pela primeira vez na Sé Velha.
Capela de Nossa Senhora da Conceição, contigua ao Mosteiro de S. Francisco. Acervo RA
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
A Doutora Ana Margarida Dias da Silva, publicou em 2013, um trabalho intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008), no qual traça a história daquela Instituição multisecular desta Cidade. É desse trabalho que extraímos uma série de três entradas, da qual esta é a primeira.
Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira … Op. cit., capa
A Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Coimbra é uma Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, fundada em 1659 como pessoa moral eclesiástica canonicamente ereta, com sede em Coimbra, na rua da Sofia, 114,
Vista da fachada principal do extinto colégio do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Soia, n.º 114, Coimbra, no dia da cidade de Coimbra, 4 de Julho de 2012. Op. cit., pg. 49
tem por fim principal contribuir para que todos os irmãos e irmãs, impelidos pelo Espírito à perfeição da caridade a atingir no seu estado secular, vivam o Evangelho à semelhança de S. Francisco de Assis, mediante a profissão da Regra da Ordem Franciscana Secular, na qual a Fraternidade se integra.
Sendo essencial à sua Regra a vida de fraternidade, promove-se, em espírito de comunhão, todo o possível auxílio aos irmãos, incluindo o auxílio material.
Para além das atividades específicas da vida de fraternidade e de culto comunitário, com o fim de alargar o seu campo de apostolado, a Fraternidade inclui também nos seus objetivos a prestação de serviços de segurança social e atividades culturais preferencialmente e em igualdade de circunstâncias aos seus irmãos, estendendo-as a outras pessoas, indistintamente e na medida das suas possibilidades.
O âmbito de ação da Fraternidade é o concelho de Coimbra.
Foi S. Francisco de Assis quem deu forma às ordens terceiras seculares (existindo igualmente ordens terceiras regulares) designadas desta forma pois foram fundadas a seguir à dos frades menores e à das irmãs clarissas. Foi pela Regra do Papa Nicolau IV, seguindo a Bula de 18 de agosto 1289, e alterada com melhoramentos de vários papas, que os terceiros franciscanos se regeram até à importante reforma de Leão XIII que promoveu e promulgou a reforma da sua Regra através da constituição «Misericors Dei Filius» de 20 de maio de 1883,
Regra que Nicolau IV deu aos irmãos terceiros e terceiras, 1774[?]) - liv.A20 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT-OTFCBR/A/01/20). Op. cit., pg. 26
Regra essa que vigorou até à data da sua revogação e substituição pelo atual texto de 24 de junho de 1978, aprovado pelo Breve «Seraphicus Patriarchus» do Papa Paulo VI.
Primeiro livro dos Estatutos da V. Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra, 1659-1739, liv.A1 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT OTFCBR/A/01/01). Op cit., pg. 26
As ordens terceiras seculares são definidas atualmente pelo Código do Direito Canónico de 1983 como “associações cujos membros participando no século do espírito de algum instituto religioso e sob sua alta orientação, levam uma vida apostólica e tendam à perfeição cristã”. Têm um enquadramento jurídico diferente das irmandades e das confrarias e aproximam-se das ordens religiosas pela sua orgânica aprovada pela Santa Sé e porque os seus membros fazem noviciado e profissão, podendo usar hábito especial, substituível por insígnias, como o escapulário, medalha ou cordão.
Braçadeiras de irmão terceiro usadas nas procissões. Op. cit., pg. 67
Em assento da junta geral dos irmãos terceiros de 5 de janeiro de 1699 determina-se “o uso de hábito de terceiro comprido a todos os irmãos, assim eclesiásticos como seculares, para assistirem a funções públicas em que forem em comunidade e se ostentam filhos do padre S. Francisco como seja a procissão de Quarta-feira de Cinzas, Razoulas e acompanhamentos de irmãos defuntos e não os tendo não serão a eles admitidos”.
Nota: Não encontramos o significado da palavra «razoulas» em nenhum dos dicionários consultados. No entanto, no Elucidário das palavras de Viterbo, surge o verbo «razoar», significando relatar alguma coisa. Assim, somos levados a concluir que, no contexto, «razoulas» deverá referir-se à Celebração da Paixão que na igreja católica tem lugar na tarde da Sexta-feira Santa.
Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.
A bela Capela de São Miguel – planeada e dirigida pelo arquiteto-pedreiro Marco Pires entre 1517 e 1522, e ainda com o belíssimo portal de estilo manuelino – oferece ao olhar do visitante, além do órgão barroco com «chinoiserie» (1737) e outras preciosidades de arte móvel, um dos melhores retábulos portugueses da «Contra-Maniera».
Universidade. Capela de S. Miguel, retábulo. Imagem acervo RA.
Universidade. Capela de S. Miguel, portal estilo manuelino. Imagem acervo RA.
Universidade. Capela de S. Miguel, órgão. Imagem acervo RA.
A documentação remonta a 4 de Agosto de 1612, quando a Reitoria encomenda a Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão a pintura do «Retabollo novo que ora a Univ.de mãda fazer na sua capella». Uma das recomendações especificadas respeita ao retábulo do Mosteiro de Santa Cruz, ao pedir-se que «as quaes pinturas elles farão com toda a perfeição e industria posivel de muito bons óleos & tintas tudo muito fino & de muito espírito de tal maneira que eiscedam as pinturas do retabollo de stª Cruz que ora fizerão».
…. Existe no Museu de Arte Sacra da Universidade de Coimbra, procedente do Colégio da Companhia de Jesus, onde deu entrada por oferta sua, um ciclo de oito tábuas da transição do século XVI para o XVII com a História de Tobias, de alto interesse iconográfico: a viagem de Tobias à Terra dos Medos (no ano 705 a C. segundo a tradição) constitui tema fascinante do maravilhoso bíblico.
Vida de Tobias 1. Op. cit., pg. 37
Vida de Tobias 2. Op. cit., pg. 38
Vida de Tobias 3. Op. cit., pg. 39
…. Neste ciclo da Vida de Tobias, pintado acaso por Mateus Coronato, o seu criado pintor. As razões que levaram a escolher tema tão complexo, afastado dos ditames tridentinos de decoro e clareza, revelam-se no seu simbolismo, que se prestava a cor relações na retoma do maravilhoso pré-cristão e a fórmulas gratulatórias ligadas a ex-votos propiciatórios de boas viagens.
…. A obra que encomenda em fim do século XVI com passos do Livro de Tobias seguiu um esquema de narração contínua, ciclo narrativo didascálico em sucessivos desdobramentos, apto a contar uma história de imagens em sequência, com acúmulo de detalhes que se distribuem em subtemas necessários à compreensão.
Serrão. V. A Universidade de Coimbra e as Artes. Uma dimensão do sublime. Acedido em:
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.