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Conheci Regina Anacleto nos idos dos anos 80, do século passado, quando, após a feliz iniciativa do Dr. Mendes Silva – a Operação Chiado – o edifício passou à posse do Município e me coube, por força das funções então desempenhadas, ser o responsável pelo programa de animação daquele novo espaço municipal.
Um dos primeiros problemas a resolver decorreu do exagerado número de propostas de exposições destinadas a ali serem apresentadas. A conjuntura tornou evidente a necessidade de nos socorrermos de pessoas competentes, capazes de colmatar as insuficiências que sentíamos, a fim de elaborar um programa de eventos adequados à Cidade e ao espaço.
Neste contexto, entre outros, solicitamos ajuda ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra que designou a então assistente estagiária Regina Anacleto para desempenhar essa função. A sua boa vontade e empenho rapidamente se manifestaram.
Voltei a reencontrar a então já Professora Regina Anacleto, quando deixei de lecionar na Universidade Lusófona e regressei definitivamente a Coimbra, dedicando-me, a partir de 11 de maio de 2015, à criação e manutenção do blogue “A’Cerca de Coimbra”, onde a sua ajuda tem funcionado, ao longo do tempo, e sempre que solicitada, como suporte.
Professora Doutora Regina Anacleto
Numa viagem a Espanha, planejada por um grupo de amigos, tive ocasião de me aperceber da estima que esta investigadora portuguesa ali soubera granjear.
A obra ora publicada em Salvador da Bahia, Gabinete Português de Leitura. 160 anos de história evidencia que a autora é também reconhecida no País Irmão.
Tanto a Universidade, como a cidade de Coimbra, terra que adotou como sua, se podem sentir agradadas por esta publicação, no Brasil, pela Editora Quarteto/Gabinete Português de Leitura e que vem juntar-se à sua bibliografia.
Op. cit., capa
No livro, ora colocado em letra de forma, a autora debruça-se, assentando numa investigação profunda baseada na documentação existente, sobre a história da instituição desde o momento fundacional (1863) até à inauguração do edifício-sede (1918). Procura, ainda que de forma sucinta, explicar as razões do surgimento da arquitetura neomanuelina em Terras de Santa Cruz, a origem e a difusão dos chamados “Cabinets de Lecture”, bem como os motivos do surto migratório português em direção àquela então Colónia. Termina com uma minuciosa cronologia relacionada com o edifício estudado e com imagens fotográficas ilustrativas.
Estátua de Camões executada pelo escultor italiano Bellando Bellandi. Op. cit., pg. 153

Painel frontal das escadas com quadros pintados por Carlo de Servi. Op. cit., pg. 156

Salão nobre (vista parcial). Op. cit., pg. 162
Refira-se que, aos 82 anos, viu reconhecido o trabalho realizado ao longo da vida, ao ser nomeada, pelos seus pares, Académica de Mérito da Academia Portuguesa da História.
Apesar de limitada pela idade, continua, na medida do possível, a investigar e a escrever, como o comprova o livro aqui citado.
Respigamos desse livro o que se encontra escrito nas badanas.
(…) Como quer que fosse, em Terras de Santa Cruz, simultaneamente com médicos, advogados e jornalistas, conviviam também roceiros e negociantes, que sentiam a necessidade de se juntar, a fim de mitigar as saudades da pátria, de manter e ampliar uma cultura eminentemente nacional e de socorrer os compatriotas menos protegidos.
Foi para responder a estes anseios que nasceu a ideia de fundar associações onde, se, por um lado, concretizaram tantas e tão admiráveis iniciativas de benemerência, por outro lado, consubstanciaram, através de uma ação espiritual notável, o prestígio da cultura; em suma, conseguiram afirmar aquilo a que, genericamente, era hábito chamar de “virtudes lusas”. Assim nasceram os gabinetes de leitura.
“(…) Como acontecia um pouco por todo o ‘continente’ (os brasileiros, por vezes, quando se referem ao seu país, apelidam-no assim), também aqui, na primeira capital de Terras de Santa Cruz, os imigrantes lusos se agruparam e fundaram associações com carater beneficente, cultural ou lúdico.
Em S. Salvador, nos meados de oitocentos, já existia uma coletividade que se ajustava ao primeiro cenário apontado, ou seja, ao filantrópico. Com efeito, no dia 1 de janeiro de 1857, tendo como objetivo assistirem aos emigrantes lusitanos radicados em terras salvadorenhas, “por iniciativa do estimado português Marco José dos Santos”, foi fundada a Sociedade Portuguesa Dezasseis de Setembro, assim denominada pelo facto de o monarca português, D. Pedro V, festejar o seu aniversário nessa data.
A 3 de setembro de 1857 formou-se a Sociedade Portuguesa de Beneficência.
As duas instituições, numa assembleia geral realizada a 14 de julho de 1858, presidida pelo “pai do heroico Serpa Pinto”, Dr. José da Rocha Figueiredo, resolveram unificar-se e passarem a girar sob o nome de Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezasseis de Setembro.
(…) Urgia o aparecimento de uma outra que abarcasse a componente cultural.
A fim de responder a este requisito, um conjunto de portugueses com “prestigio e acendrado patriotismo”, reuniu-se a 2 de março de 1863, justamente na sala das sessões da Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezasseis de Setembro e resolveu “unanimemente instalar [naquela] cidade [de Salvador] uma sociedade literária com o nome de Gabinete Português de Leitura”.
Anacleto, R. Gabinete português de leitura de Salvador da Bahia. Capa e ilustrações de Abel Travassos. 2024. Salvador Bahia, edição do Gabinete Português de Leitura de Salvador.
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