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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 05.09.24

Coimbra: Vestígios romanos subjacentes ao anfiteatro da Faculdade de Direito

Tivemos, recentemente, acesso a um conjunto de documentos que permitiram conhecer a existência de vestígios arqueológicos romanos relevantes para a história da nossa Cidade. No entanto, mais uma vez, o camartelo do “progresso”, a fim de construir o anfiteatro da Faculdade de Direito, sumiu-os e reduziu-os a meros documentos, mais ou menos amarelecidos pelo tempo, que jazem inertes, apenas vivos para quem os pretenda consultar, num dos inúmeros arquivos estatais.

  Relatório das escavações de emergência realizada nas imediações da alcáçova de Coimbra 1997 (finais de junho e julho de 1997) 

... As sondagens praticadas pontualmente revelaram níveis amplamente remexidos, observação confirmada pelos sequentes trabalhos arqueológicos.

Na fase terminal dos trabalhos mecânicos, o empreiteiro resolveu dar um arranjo um pouco mais cuidado à zona concretizado numa limpeza geral, no aplainamento das superfícies, e nas barreiras limítrofes ao fosso destinado a receber o anfiteatro.

…. Este tipo de trabalho foi determinante no revelar ocasional de estruturas da ocupação romana - muros e pavimento de opus signinum.

Embora imprevisível, não foi surpresa. Inexplicável seria se nada de romano existisse a poucos metros da cintura do que foi a acrópole romana.

A ocorrência de vestígios romanos verificou-se em dois locais no corte oblíquo do lado oeste, quando os trabalhos de remoção de terras se encontravam no seu termo.

….

O edifício do séc. XVI

No séc. XVI, a zona conheceu uma fase de desenvolvimento urbano. Pelas estruturas existentes à superfície e muros que surgiram após a decapagem mecânica da área do futuro anfiteatro de Direito é possível apreender a evolução do sector. Confirma-se que, nalguns pontos, nomeadamente até à rocha, as construções anteriores são arrasadas.

Um grande edifício aparece então (Fig. 3) com uma sólida construção.

Vestigios romanos subjacente anfiteatro de DireitoFig. 3. Op. cit.

… O edifício, que conservava uma altura de cerca de 10m, foi agora arrasado com exceção do muro meridional, hoje parcialmente encoberto pela rampa que descai para a R. Guilherme Moreira;

…. Assim o edifício afeto a um plano retangular fecha a poente a área que … revela ser um espaço essencialmente aberto para o interior.

As evidências arquitetónicas, a fachada contrafortada … levam a aparentá-lo cronologicamente com a imponente colunata levantada a Este, que o contexto convida a pôr em relação com as transformações efetuadas na zona no séc. XVI.

ObraAnfiteatroDireito25Jul1997.JPGFotografia anexa ao documento transcrito

O edifício foi a certa altura parcialmente abandonado ou melhor, transformado em instalações para a Faculdade de Farmácia, em data que não podemos precisar. Estas instalações viriam a ser demolidas no plano de trabalhos da cidade universitária.

As estruturas romanas

Analisemos as estruturas que se identificam com a época romana.

A zona compreendida entre o grande edifício e a arcada quinhentista, a meia encosta, sobre o afloramento rochoso, revelou a presença de estruturas romanas, que, após a remoção da terra até ao aparecimento do nível do muro 6, foram objeto de “escavação”.

ObraAnfiteatroDireitoFotografia2.JPGFotografia anexa ao documento transcrito

…. Três muros perpendiculares ao muro 6, com dimensões mais reduzidas, dirigem-se para ocidente. O primeiro muro, 9, determina o canto nordeste e termina sobre o afloramento rochoso com pouco mais de 2,00 metros de comprimento.

Forma com o muro 8, uma pequena divisão, apontada como D5, parcialmente talhada na rocha, de pavimento térreo. O segundo muro, 8, forma o angulo nordeste da divisão D4, com 8,30m de comprimento e 4,9m de largura. A partir de 3m, testemunha algumas transformações no tipo de construção, passa a ser construído de pedras soltas dispostas muito irregularmente, provavelmente impostas como acrescentos ou transformações efetuadas em época tardia. O terceiro muro, 7, também de boa qualidade, com 0,5m de largura, mediano das divisões D4 e D3 apresenta um pavimento de opus signinum reduzido a uma pequena porção danificada pelo muro 4.

…. Pelo tipo construtivo da canalização poder-se-á definir a sua funcionalidade? Destinar-se-ia a evacuar as águas pluviais ou teria servido de alimentação a fontenário ou tanque? Na primeira hipótese é preciso supor que a recolha das águas pluviais, nesta situação à profundidade de 1m, se fazia por um sistema de caixas de esgoto das quais não se notam quaisquer vestígios e com este fim não parece lógico o acabamento do fundo da canalização em opus signinum com ligeira elevação do lado direito, tipo meia cana. O género de acabamento pressupõe uma conduta de águas limpas para alimentar qualquer reservatório.

…. O vestígio mais significativo é o opus signinum muito bem conservado com uma área aproximada de 20m2 e com 0,12m de espessura.

…. O conjunto de estruturas é muito pouco significativo, pelo que os dados cronológicos recolhidos na zona ocidental da alcáçova são raros. Apenas o elenco dos fragmentos do mobiliário cerâmico em confronto com as diversas concordâncias estratigráficas confinadas às prospeções e “escavações”, são elementos suscetíveis de abordar, com alguma reserva, a sua cronologia.

…. A destruição das estruturas romanas deve ter sido efetuada no séc. XVI com a implantação, nesta época, do outro imóvel descrito.

Auditório Direito 1.webpAuditório da Faculdade de Direito. Foto de José Manuel Alvarez Ilarri. Acedida em: https://www.google.pt/search?q=coimbra&sca_esv=2a19a3414e05e997&sxsrf...

Pinto. A.N. Relatório das escavações de emergência realizada nas imediações da alcáçova de Coimbra 1997.

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:52


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